Capítulo I

1843 Words
Ane Eu me revirei na cama observando o quarto de hóspedes onde estava, fazia algum tempo já que estávamos ali trancadas naquela casa estranha, uma casa que me lembrava tanto onde eu cresci. Uma mansão grande e enorme, cheia de obras de arte, decoração cara, louça de todos os lugares do mundo e toda a futilidade que o dinheiro pode comprar. Mas essa não era tão vazia quanto a minha antiga casa, e não falo dos vários seguranças espalhados pela mansão Miller, me refiro ao sentimento que vejo entre Oliver e sua irmã, sentimento real de família. E se surpreendam ele é um gângster e tem mais coração do que meus pais! — Ane! — ouvir Mag gritar meu nome me fazia rir, ela era como uma irmã mais nova que eu nunca tive. Pulei da cama e corri ao seu encontro, com certeza passaríamos mais uma tarde no shopping, fazendo o que sabíamos fazer de melhor, gastar dinheiro. Eu tinha sido ensinada a gostar do caro, da ostentação, de mostrar ser de um alto nível desde as unhas dos pés ao último fio de cabelo. E sem saber meus pais me ensinaram a odiar tudo isso na mesma intensidade. — O que preparou pra hoje? — perguntei quando a alcancei já no fim do corredor. — Temos que correr, hoje temos uma super festa para ir, então vamos nos preparar pra isso! — ela falou com entusiasmo como sempre fazia. — Queria tanto que Gabriela viesse com a gente. — sua voz de repente ficando triste, coisa que não durava um segundo. — Se eu conheço ela, e eu a conheço bem, se que não vai de jeito nenhum. Minha amiga ali prefere ficar em casa, assistindo a vida passar por ela. Gabriela tinha sido a primeira pessoa a se aproximar de mim quando cheguei aquela cidadezinha e por mais que fizesse alguns anos que nós fossemos amigas, não ultrapassávamos os limites uma da outra. Ela sabia que eu não era quem fingia ser e eu sabia que aqueles olhos perturbados escondiam algo. Mas mantinhamos a amizade bem assim, cada uma com seus segredos guardados. — Que seja, vamos! A energia de Mag às vezes parecia ser capaz de iluminar uma casa inteira. Eu adorava toda a inocência e leveza que ela tinha apesar do mundo em que vivia, aquilo só me fazia sentir como uma irmã mais velha que precisava protegê-la. Fazer comprar em um dos shoppings de Oliver não era em nada r**m, todos nos tratavam bem até de mais, podíamos gastar sem nos preocupar, e ninguém esperava algo de mim em troca de tudo o que estavam me dando. Essa era sem dúvida a melhor parte, tudo o que Mag e Oliver vinham fazendo conosco não tinha uma conta para pagar, eles não esperavam nada de mim e Gabriela quando nos salvaram e nos abrigaram em casa. E a cada dia que passava Oliver parecia ainda menos interessado no que fazer conosco e sim em como manter Gabriela por perto. Ela ainda não tinha se dado conta, mas eu e Mag tínhamos notado isso há quilômetros de distância. Depois de comprar mais roupas do que usaríamos em uma semana Mag nos arrastou para o cabeleireiro, seu salão favorito que ficava no centro de Seattle. — E como vão as coisas entre você e Max? — questionei enquanto deixávamos que a manicure limpasse o esmalte, que era um tanto até recente, para aplicar a nova cor da semana. Mag já havia me confidenciado de seu romance com um dos seguranças, gato até, mas não muito meu tipo. O tipo de homem que costumo me envolver de verdade é o "vagabundo.com", existe aos montes por aí. Aqueles que não valem nada, tem pegada, beijam bem, são deuses na cama, mas que no final o nome já diz vagabundos. Com o tempo aprendi a ser mais esperta que eles e sair antes que eles fugissem de mim, seja a filha da p**a primeiro é uma ótima lição para a vida! Mas não era o tipo de homem que meus pais arrumavam para mim, não. Para a família só servia quantos dígitos a conta do querido tinha. — Ele ainda está fazendo de tudo para me ignorar, mas eu vou vencer ele pelo cansaço, você vai vê-lo ainda vai voltar correndo e pedindo perdão. — ela disse confiante. — Afinal o que ele queria que eu fizesse? Escondido estava perfeito, Max não tinha motivo pra fazer um show só porque eu não contei a Oliver. Eu não tinha medo do garotão, como o chamava, mas acredito que não tinha visto nenhum pouco do seu lado gangster. O seu segurança com certeza sabia do que o homem era capaz se pegasse alguém tentando engana-lo. — Seu irmão deve ser pior do que qualquer pai ciumento. — brinquei, mas parando para pensar eu gostaria que alguém tivesse me protegido do mundo do jeito que Oliver a protege. — Mas ele não é meu pai, e não pode me proibir de namorar! — Não, mas ele pode assustar todos os pretendentes. — soltei rindo de sua cara. Depois de mãos e pés feitos, partimos para os cabelos. Desde que sai de casa assumi os cabelos loiros que tanto gostava, mas que minha mãe achava que me deixavam com uma cara alegre, "ousada de mais" nas palavras dela, mas eu me sentia eu mesma com eles desse jeito. — Nós temos que arrumar um par pra você, Gabriela logo logo vai se acertar com Oliver e eu com Max, então precisamos achar alguém pra você. — Mag murmurou como se fosse uma conversa sobre o tempo. — Acho que tenho algumas opções para te apresentar hoje a noite, sabe caras legais, aposto que você vai gostar de algum. Eu duvidava disso. Os amigos dela, novamente, não eram em nada meu tipo. — Não estou procurando ninguém. Estou perfeitamente bem do jeito que estou, só quero tomar todas e dançar até meus pés doerem. — falei sendo sincera, era tudo o que eu podia esperar, viver o hoje. Encarei meu reflexo no espelho, tão diferente da garota que fazia tudo o que a mãe pedia. Durante toda minha adolescência eu tentei agradar meus pais. Mas finalmente quando minha mãe extrapolou todos os níveis da falta de humanidade eu juntei tudo o que tinha e parti para longe deles. Aprendi de forma dolorida a aproveitar o que tinha hoje, beber, t*****r, comer, dançar, tudo o que quisesse hoje. Pois não sabia quando tudo seria tirado de mim. — Ok, viva-la-vida. Vamos ver se vai pensar assina noite toda, o lugar para onde vamos é definitivamente seu lugar para encontrar homens. — ela tentou novamente me vender a ideia e seus olhos brilharam de repente mais do que o normal. — Aposto que Max vai querer morrer quando me ver lá. Eu ri, Mag estava fazendo a vida dele um inferno desde que o pobre terminou com ela. Depois de arrumadas e maquiadas, nós passamos confiantes no quarto de Gabriela, afim de tentar convencê-la, mas ela já tinha um programa marcado com Oliver. Seria um verdadeiro milagre se ele conseguisse entrar nas calças dela, já que em todos esses anos nunca a vi perto de nenhum homem. O lugar da balada que Mag nos levou era como eu esperava que fosse, cheio de pessoas tão ricas quanto ela, pessoas mais preocupadas em mostrar nas redes sociais que estavam curtindo a vida, do que realmente curtir. Sacudi minha cabeça, lamentando por eles, mas era a turma de Mag, e de certa forma ela estava mais segura aqui com esses babacas do que em outros lugares onde já estive. Circulei o lugar já procurando um lugar na área VIP para nos instalarmos e começarmos a noite. Mag estava irritada desde que saímos de casa, ela se recusava a acreditar que tinha feito toda a produção para que Max assistisse os outros homens babarem, mas tudo o que conseguiu foram outros dois seguranças de cara amarrada a acompanhado. Nem a sombra dele a pobre foi capaz de achar, mesmo tendo rodado toda a casa. — Hoje eu vou ficar muito louca. — ela disse me deixando atenta, a última coisa que eu precisava era ter que bancar a babá. Assim que seu nível de tolerância, que não era tão alto, batesse era hora de irmos. Começamos a beber e não demorou para que os amigos de Mag aparecessem, todos muito parecidos, desde o jeito de se vestir até os mesmos gostos. Sem dúvida era quase uma tortura ficar ali sentada entre eles, depois de tudo o que passei eu simplesmente não conseguia enxergar aquelas cenas como algo divertido e atraente, eu sabia bem na pele até onde esse tipo de vida poderia te levar. Graças a Deus Mag mostrava ser bem mais sensata que a trupe toda, ela nunca tinha se envolvido com drogas, tirando uns porres aqui ou ali nada mais grave ela já tinha feito. Cansada de me ver presa aquele cenário do meu passado, me levantei decidida a dançar até que os pés doessem. A pista de dança estava cheia, mas era justamente assim que eu gostava. Me esgueirei por entre várias pessoas, tentando achar um lugar mais ao centro. Assim que cheguei ao lugar desejado fechei os olhos e deixei a batida eletrônica me levar. Braços para o ar, quadris balançando, cabeça girando e jogando os cabelos em todas as direções diferentes, a batida da música tão alta e forte que parecia meus próprios batimentos cardíacos. Era nesses minutos que eu me sentia viva, livre. Quando as batidas mudaram eu já estava suada, e alegre o bastante para parecer ter usado algo. Qualquer outra pessoa que me visse diria isso. Mas eu continuei o DJ essa noite parecia tão animado quanto eu. Deitei minha cabeça por um instante para poder observar as luzes a cima de nós, voltando mais ligada e feliz. Mas assim que fechei meus olhos mãos me seguraram puxando meu corpo contra uma pessoa. Me sacudi irritada, tentando me soltar das mãos de quem quer que fosse, mas o aperto forte não me deixava. Todos a minha volta pareciam alheios ao que estava acontecendo, dançando, bebendo ou se pegando, tão distraidamente que não notaram. Meu desespero cresceu, eu havia jurado a mim mesma que ninguém me tocaria sem a minha permissão. E era exatamente isso o que ele estava fazendo. Em um ato de desespero joguei minha cabeça para trás com força, sabendo que nossa proximidade me faria acertar seu rosto. O homem guinchou de dor e desafrochou os braços a minha volta me dando a chance de me afastar rapidamente. Assim que me virei o avistei resmungando de dor e passando a mão pelo nariz, ele não tinha quebrado, mas estava com dor, dava para ver isso. — Você está bem? — um voz grossa soou ao meu lado. Lá estava ele, o cara que definitivamente era meu tipo, cabelo baixo, barba por fazer, uma cicatriz a cima da sobrancelha e a cara de m*l.
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