Confronto de Vontades

1063 Words
O almoço havia sido agradável. Bruna e Marcos conversavam sobre trivialidades enquanto saboreavam a refeição que ela preparara. Mas assim que terminaram, a atmosfera mudou. Marcos levantou-se da mesa e começou a ajudar Bruna a tirar os pratos e talheres. "Deixe que eu lavo a louça", ofereceu-se Marcos, dirigindo-se para a pia. Bruna observou enquanto ele começava a ensaboar os pratos, apesar de poder ter simplesmente colocado tudo na máquina de lavar. Uma sutil barreira parecia separá-los naquele momento, e Bruna decidiu rompê-la de uma vez por todas. Sentando-se à mesa, ela observou Marcos trabalhando na pia por um momento antes de finalmente decidir abordar o assunto delicado que pairava entre eles como um elefante branco na sala. "Garotão", começou Bruna, escolhendo suas palavras com cuidado, "sobre eu querer ter filhos." Marcos ficou tenso, embora já estivesse meio esperando que Bruna tocasse no assunto. Ele permaneceu em silêncio, aguardando o que ela diria em seguida. "Vamos deixar esse assunto para depois", continuou Bruna, percebendo a tensão no ar, "afinal, nos casamos há menos de um ano. Não temos por que ter pressa." Ela quase pulou quando Marcos bateu um copo na pia, quebrando-o em pedaços e cortando a mão no processo. Ignorando o ferimento e a expressão assustada de Bruna, ele se virou para ela com uma intensidade que a fez recuar. "p***a, você está se fazendo de surda ou o quê?", ele disparou, sua voz carregada de frustração. "Eu não quero ser pai, e isso não vai mudar daqui a um tempo. Inclusive, te falei isso antes de casar. Cadê aquele papo de que só eu bastava?" Bruna ficou atônita diante da explosão de Marcos. Ela tinha pensado que ele aceitaria adiar o assunto, mas claramente estava errada. Xingando, Marcos se afastou de volta para o escritório, deixando Bruna com os olhos cheios de lágrimas e um turbilhão de emoções em seu coração. Bruna se sentiu como se estivesse flutuando em um mar de emoções turbulentas. A explosão de Marcos a atingiu como uma onda poderosa, deixando-a tonta e desorientada. Levaria algum tempo para se recuperar, para processar completamente o que acabara de acontecer. Enquanto lutava para controlar as lágrimas que ameaçavam transbordar, Bruna tentava racionalizar a situação. Era como se ela tivesse se dado conta que a recusa de Marcos em ter filhos era algo sério, algo que não podia ser ignorado. A ideia de nunca ter filhos, de nunca experimentar a alegria da maternidade, era avassaladora. Mas ela se recusava a acreditar que essa recusa seria o fim de tudo. Eles tinham que encontrar uma maneira de resolver isso juntos. No entanto, para resolver qualquer coisa, Bruna sabia que teria que ceder inicialmente. Ela teria que pelo menos mostrar a Marcos que estava disposta a considerar suas preocupações, caso contrário, o abismo entre eles só aumentaria. Enquanto esses pensamentos tumultuavam em sua mente, Bruna percebeu as gotas de sangue no chão. A visão a sacudiu de seus devaneios, trazendo-a de volta à realidade. Ela não podia se dar ao luxo de se perder em sua própria angústia quando Marcos estava claramente ferido. Com determinação renovada, Bruna correu para o andar de cima em busca da caixa de primeiros socorros. Ela a encontrou rapidamente e a segurou com firmeza antes de se dirigir de volta ao escritório. Ao entrar na sala, o coração de Bruna apertou ao ver Marcos andando de um lado para o outro, ignorando o sangue que escorria de sua mão ferida. Ele parecia uma fera enjaulada, cheio de tensão e raiva contida. Os olhos de Marcos encontraram os dela e Bruna se viu capturada por sua intensidade. Ela sentiu como se estivesse sendo acusada, como se todos os problemas entre eles fossem sua culpa. Bruna sentiu um aperto no peito ao se aproximar de Marcos, sua expressão carregada de raiva e frustração. Ela se aproximou devagar, segurando a caixa de primeiros socorros com firmeza, pronta para ajudá-lo, mesmo que ele parecesse não querer. As gotas de sangue que ele deixava pelo caminho pareciam marcar cada passo de sua agonia interna. "Marcos, deixe-me cuidar disso", Bruna disse com firmeza, tentando manter a calma enquanto observava a expressão tumultuada em seu rosto. Ele a encarou com olhos que pareciam perfurá-la: "Não preciso da sua ajuda, Bruna", respondeu ele, sua voz carregada de ressentimento. Bruna se aproximou mais, ignorando sua resistência: "Você está machucado. Deixe-me ajudá-lo", insistiu ela, mantendo sua voz suave e reconfortante. Marcos recuou, desviando o olhar: "Eu disse que não preciso da sua ajuda", murmurou ele, sua voz carregada de frustração. Sem desistir, Bruna se aproximou e segurou sua mão ferida com delicadeza, ignorando o gesto de recuo dele. Ela começou a limpar o corte com cuidado, ignorando o sangue que manchava suas mãos. Com mãos trêmulas, Bruna começou a limpar o ferimento de Marcos, tentando não pensar no abismo que se abria entre eles. Ela podia sentir o peso do silêncio entre eles, carregado com tudo o que não estavam dizendo. Marcos olhou para ela, seus olhos cheios de uma mistura de emoções conflitantes: "Por que você está fazendo isso?", ele perguntou finalmente, sua voz mais suave agora, tingida de confusão. Bruna olhou nos olhos dele, sem vacilar: "Porque somos um time, Marcos. Não importa o que aconteça, estamos nisso juntos", respondeu ela, sua voz firme e determinada. Uma tensão silenciosa pairou no ar por um momento, antes que Marcos finalmente cedesse, permitindo que Bruna cuidasse de sua mão ferida. Enquanto ela trabalhava, os dois permaneceram em um silêncio carregado, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Quando Bruna finalmente terminou de tratar do ferimento de Marcos, ele olhou para ela com gratidão em seus olhos. "Obrigado", murmurou ele, sua voz suave carregada de emoção. Bruna sorriu suavemente, sentindo um peso sendo levantado de seus ombros: "Sempre, Marcos. Sempre estarei aqui para você", respondeu ela, sabendo que, apesar dos desafios que enfrentavam, eles encontrariam uma maneira de superá-los juntos. Bruna fechou a caixa de primeiros socorros e se levantou lentamente. Ela olhou nos olhos de Marcos, vendo a dor e a confusão que se refletiam neles. "Eu sinto muito", murmurou ela, sabendo que suas palavras não seriam suficientes para consertar tudo o que estava quebrado entre eles. Marcos não respondeu, apenas olhou para ela com olhos cansados e cheios de tristeza. E, por um momento, Bruna se viu perdida em um oceano de arrependimento e incerteza.
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