Entre a Escuridão e a Alma Despedaçada

1056 Words
O sol mergulhava lentamente no horizonte, pintando o céu de tons quentes de laranja e rosa, enquanto Marcos e Bruna estavam deitados em uma praia deserta, cercados pela natureza exuberante de sua ilha particular. O suave sussurro das ondas quebrando se misturava ao canto dos pássaros e ao farfalhar das folhas das palmeiras. No entanto, nem mesmo esse idílico cenário podia ocultar o quase grito de surpresa que escapou dos lábios de Marcos quando Bruna pronunciou as palavras que ecoaram como trovões em sua mente. "Você quer o que?", perguntou ele, seus olhos arregalados, enquanto o coração batia descompassado no peito. Por um segundo, pareceu como se todo o som da natureza naquela ilha tivesse desaparecido, como se as ondas não quebrassem mais a poucos metros de distância. Bruna ainda estava deitada sobre Marcos, e por pouco ele não a empurrou para longe, como se precisasse de espaço para processar o que acabara de ouvir. Naquele momento, o único som que preenchia a ilha era a respiração acelerada dos dois, como se a atmosfera tivesse mudado instantaneamente. Os olhares de Bruna perfuravam Marcos, deixando-o em pânico. Ele se sentia como se estivesse em um beco sem saída, cercado por uma realidade que não estava disposto a enfrentar. Enquanto Bruna continuava encarando-o, a mente de Marcos trabalhava freneticamente. Ele se perguntava se ela estaria brincando, se aquelas palavras eram apenas uma espécie de teste. No entanto, uma fria sensação de desespero começou a se instalar em seu peito quando ele percebeu que Bruna falava sério. Recusava-se a acreditar que ela tinha acabado de lhe dizer que queria ter filhos. Marcos, por outro lado, tinha uma convicção inabalável: ele não queria ser pai. Essa era a única coisa no mundo que ele não faria, nem mesmo por Bruna, por mais profundo que fosse o amor entre eles. Ele não estava disposto a ceder nesse assunto, e a ideia de paternidade era como uma fronteira intransponível para ele. Os segundos se arrastavam como horas, e no silêncio tenso que pairava sobre a ilha, Marcos finalmente quebrou o vazio com uma voz firme, carregada de incredulidade e determinação. "Você não pode estar falando sério, Bruna. Isso está fora de cogitação para mim." O crepúsculo pintava o céu com tons de roxo enquanto a brisa noturna sussurrava entre as folhas das palmeiras, testemunhando a tempestade que se desencadeava entre Marcos e Bruna. "Garotão", sussurrou Bruna com um tom magoado, seus olhos refletindo uma mistura de tristeza e frustração. No entanto, Marcos, agora decidido, cuidadosamente a afastou dele, e com olhos ardendo de intensidade, disparou: "Garotão é o c*****o. Que p***a é essa agora, Bruna? Eu sempre deixei claro que não queria ser pai." Os olhares trocados entre eles eram como flechas envenenadas, e Marcos sentiu os já conhecidos sinais de uma crise de pânico. Pela primeira vez desde que conheceu Bruna, ele ansiava por distância para se recuperar. Sem dizer mais nada, ele se afastou para o outro lado da ilha, deixando para trás a mulher que até então compartilhava seus dias e noites. Bruna permaneceu sentada onde horas antes haviam feito amor e jurado amor eterno. A brisa marinha entrelaçava seus cabelos soltos enquanto ela tentava assimilar a rápida mudança de atmosfera. Lágrimas escorriam por seu rosto, e a dor em seu peito parecia esmagadora. Ela sabia que Marcos sempre deixara claro que não queria ser pai, ainda antes do casamento. Ele havia perguntado, na época, se ela conseguiria viver assim, e Bruna, confiante em seu amor, tinha dito que sim. No entanto, naquele momento, algo dentro dela se transformou. Imaginar uma miniatura de Marcos a fazia suspirar. Era um sentimento engraçado e poderoso, pois essa criança sequer existia, mas Bruna já a amava com todas as suas forças. A oposição entre o amor que sentia por Marcos e o desejo latente de ser mãe era como um nó apertado em seu coração. Enquanto a ilha permanecia mergulhada na penumbra da noite, Bruna se questionava sobre as escolhas que estavam diante dela. A distância entre eles se ampliava como um abismo, e a dor da separação era palpável. No silêncio, as ondas continuavam a quebrar, como se a natureza também compartilhasse da tristeza que pairava sobre aquele pequeno paraíso. Marcos caminhava para o mais longe possível, como se estivesse fugindo do próprio d***o que o atormentava. Em sua mente, o caos reinava, e ele se sentia como um fugitivo de si mesmo. A ilha, que antes era um paraíso, agora se tornava um labirinto sombrio, refletindo os recantos escuros de sua alma. O sol havia se posto completamente, e a escuridão da noite envolvia a paisagem, mas Marcos continuava a caminhar, sem rumo, como se quisesse se perder na escuridão para escapar de suas próprias tormentas. Em sua mente, a batalha era intensa. Ele sabia que Bruna seria uma mãe excepcional, mas a ideia de trazer uma criança ao mundo o assombrava. Marcos, até pouco tempo atrás, m*l conseguia amar uma mulher, pois se via como um ser quebrado, com defeitos na alma e no coração. Sentia como se nada de bom pudesse vir dele, como se estivesse marcado pela sujeira do lugar onde foi criado. Os exemplos de seu passado o assombravam. Ele e Hellen, filhos de Cross e Helena, carregavam consigo uma herança genética carregada de sombras. Na mente de Marcos, tanto ele quanto Hellen eram dois monstros capazes de crueldades para alcançar seus objetivos. Ele não queria perpetuar essa carga genética, mesmo que as pessoas ao seu redor insistissem em dizer o quão bom ele era. Profundamente imerso em seus próprios pensamentos sombrios, Marcos profere um monte de palavrões, expressando a frustração que o sufocava. Ele se dá conta de que já é noite e as luzes da casa se destacam na escuridão da ilha. Olhando para a morada que compartilhava com Bruna, ele sente um peso no peito, um misto de amor e pesar. Ele ama Bruna mais do que a si mesmo, mas sabe que há partes de si mesmo que não pode oferecer a ela. A tristeza envolve Marcos enquanto ele encara a distância entre a casa iluminada e o lugar escuro onde ele permanece. Era como se, mesmo amando Bruna com todo o seu ser, houvesse algo irremediavelmente quebrado dentro dele, algo que o impedia de se entregar completamente à mulher que amava.
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