Amor. Quatro letras que podem mudar tudo na vida de alguém. Na minha, mudou. Como o líder do quarto batalhão de arcanjos eu sempre fui alguém respeitado, admirado. Tinha algo em mim que se destacava perante os outros líderes, a compaixão e justiça, o que é certo, é certo. Era uma frase que me identificava, algo que tinha adotado como uma marca. Dentre os anos comandando arcanjos eu nunca tive o interesse de viver entre os humanos, até um dos meus irmãos solicitar isso. Envolvido pela curiosidade eu também desci a terra, e foi quando eu encontrei o amor, ou pensei ter encontrado.
Emma era uma linda humana, sensível e doce, o tipo de mulher que encanta homens metidos a heróis, e foi o que ocorreu comigo. Me apaixonei por ela e nos casamos, passamos anos lindos juntos até que minha posição no céu afetou minha vida na terra, inimigos vieram atrás de mim e nos mataram. Sim, eu também fui morto naquele dia e por mais incrível que pareça não houve caminho para a luz ou as trevas, algo me prendeu aqui, e foi nessa dimensão sobrenatural que eu a conheci. Nyssa, uma deusa das trevas e gelo capaz de conversar com fantasmas cruzou meu caminho, eu estava desesperado, foi uma experiência que quase me levou a loucura, mas ela me impediu. Seu jeito de me convencer que tudo ficaria bem era diferente, como se apenas a sua voz tivesse o poder de me acalmar. Eu acreditei nela... eu me apaixonei por ela... por seu jeito forte, independente, a forma como ela me fazia entender que apesar de não parecer agora as coisas iriam melhorar.
Ela me trouxe de volta a vida, ela me deu uma nova chance de ser feliz e quando menos esperava eu estava totalmente entregue a ela, sem perceber eu dependia do seu bom dia, do seu sorriso, eu dependia daquele olhar n***o brilhoso e profundo, dos seus dedos pequenos contra a minha pele, de acariciar seus cabelos escuros enquanto ela dormia... Eu tinha prometido não deixa-la sofrer mais com seu passado e sua maldição, mas se tornou muito mais do que um afeto, do que uma promessa, meu coração necessitava vê-la feliz o tempo todo e ser o motivo dessa felicidade. Então eu deixei aquele sentimento me mudar, me moldar e assumir tudo em mim... nunca fui tão feliz em minha existência. Até aquela noite.
Eu tinha prometido chegar cedo, queria muito ficar com ela e nossos filhos, conforme o final do ano ia chegando o tempo que eu tinha com eles ia diminuindo por causa das reuniões frequentes e demoradas. Eu estava estressado, mas sabia que ao chegar e abrir a porta de casa seria recebido com o cheiro delicioso dos nossos filhos pela casa, talvez a encontrasse os amamentando no quarto, ou brincando sobre a nossa cama. Um sorriso sempre brotava quando lembrava dessas cenas.
Quando abri a porta de casa o silêncio me saudou, um cheiro forte tomava conta dos ambientes e corri desesperado escada acima, largando a pasta no chão da sala. Ao abrir a porta do quarto meu coração parecia ter sido golpeado, os corpos espalhados, minha família destruída... assassinada...
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O amor me deu tudo que eu sempre quis e não sabia, mas quando foi retirado de mim ele me modificou de uma forma que nem eu consegui me reconhecer. Cacei os assassinos, matei um a um lembrando do corpo de Nyssa, Bela e Rael nos meus braços. Eu tinha o direito de vingança e o tomei em um líquido quente e amargo. Justiça, era o que minha cabeça gritava, e eu queria acreditar que era realmente isso o que estava fazendo, justiça por minha família.
Eu acreditei no sussurrar da sua alma, acreditei que ela voltaria pra mim um dia, não importava quando ou onde, nossas almas se encontrariam novamente e dessa vez eu iria concertar meu erro, ninguém tornaria a retira-la de mim, nunca mais.
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Olhar para os cantos e não vê-la doía, embora os anos passassem rapidamente as lembranças teimavam em permanecer diante dos meus olhos. Eu mudei de cidade diversas vezes, achando que a saudade iria diminuir, pensando que a dor aliviaria. Mesmo que ela não tenha estado em nenhuma dessas casas era como se a visse no sofá embalando um dos gêmeos, e sorrindo para mim. Meu inferno particular.
Hoje, além de comandante de um batalhão de arcanjos, sou o prefeito de Seattle. Não tenho idéia de como conseguiram me convencer à isso, mas cá estou eu assumindo um cargo político. Seattle foi a última cidade da lista de lugares que queríamos visitar, e depois daqui eu não faço idéia do que vou fazer, viver dia após dia durante quase setenta anos já não fazia mais sentido, e a cada momento os outros oficiais me pediam para voltar ao plano celestial. Apenas as palavras dela me prendiam aqui, a esperança de que o único amor da minha vida voltaria para mim. Era difícil se sustentar apenas com palavras, as vezes eu queria simplesmente desistir, tentar esquece-la e fazer de conta que a dor no peito era meramente passageira, mas eu já tinha tentado isso antes e senti que a qualquer momento iria perder minha sanidade. Minha vida já não era mais vida sem ela.