ARTHUR
Eu não consigo medir o tamanho da minha raiva ao sair daquela sala, maldita hora que eu entrei naquele lugar. A Vanda está mesmo tentando testar meus limites, ela não tem vergonha de ficar aos beijos com o Brandon no local de trabalho. Onde ela acha que vai chegar agindo assim? Eu dou um soco na parede assim que fecho a porta atrás de mim. Eu vou até meu consultório e pego minha bolsa, estou com tanta raiva que até esbarrei no pote de canetas que fica sobre a minha mesa, só de olhar pra aquele pote com desenhos de animes minha raiva aumentou, foi a Vanda quem me deu esse negócio ridículo. Eu recolho as canetas e deixo o pote lá, amanhã vou jogar isso no lixo.
Eu cheguei em casa e fui direto pra minha casa, tudo que eu preciso é um bom banho e dormir, dormir muito para esquecer aquela maldita cena. Ah, mas a Vanda não perde por esperar, ela vai ouvir. Depois de um banho frio para esfriar a cabeça eu vou até a cozinha pegar algo para comer. Pra minha sorte e azar da Vanda, ela está chegando no exato momento em que eu entrei na cozinha. Ela sabe que fez errado, tanto que está tentando fugir para se trancar no quarto, mas ela está muito enganada se acha que vai escapar.
—Porque está com tanta pressa, Vanda? —falo atrás dela, assim que o José se afasta.
—Estou cansada —ela responde sem olhar pra mim.
—Cansada? Vanda você não tem mesmo nenhum senso né!
—Arthur, o que você está reclamando agora? —se faz de desentendida.
—Vanda, você vai mesmo fingir que nada aconteceu? Você estava quase trepando com o Brandon na sala de descanso —quase grito as palavras, de tanta raiva que estou.
Ela finalmente se vira e olha pra mim, sua cara tem uma mistura de raiva e vergonha.
—Não exagera, Arthur, era só um beijo. Nada demais —responde e dá de ombros.
—Nada demais?! Vanda, você acha mesmo que ficar daquele jeito no local de trabalho, não é nada demais?
—Claro que não é —ela fala e revira os olhos —Arthur, eu estava apenas trocando um carinho, um beijinho. Você se cansou de fazer isso com a Débora ou não?
Ela pergunta me desafiando, minha vontade é esganar essa baixinha encrenqueira. Eu respiro fundo algumas vezes para controlar minha irritação ou vou acabar ultrapassando o limite. Essa mulher consegue me tirar totalmente do sério.
—Vanda, primeiro, vocês não tem nada a ver com o que eu fiz ou não com a Débora, segundo, isso já é passado, não deve ser imitado. Eu não quero ver uma cena daquela novamente, ou eu…
—Ou você o que, Doutor Arthur? —ela me interrompe — você vai me demitir por causa de um beijo?
Ela empina aquele nariz e fala com certa petulância, mas dessa vez não vou deixar barato. Eu dou alguns passos em sua direção e ela se afasta.
—O que vai fazer? —pergunta me encarando, eu gosto de ver ela recuando receosa.
— O que você acha que eu vou fazer, Vanda?
—Não faço ideia, mas seja lá o que for, lembre-se que você tem mais a perder do que eu —ela tenta argumentar, sua voz está uma mistura de ansiedade e medo.
—O que foi, Vanda, está com medo? —pergunto olhando fixamente no rosto dela.
Eu estou parado na sua frente agora, estamos tão perto um do outro que posso sentir sua respiração acelerada tocando minha pele. Eu até queria jogar com ela para assustá-la e só depois de descontar minhas frustrações a deixaria em paz. Mas quando eu senti o cheiro do seu corpo e sua respiração tocando em mim eu tive que sair dali o mais rápido possível ou iria fazer uma grande besteira. Ela levanta o rosto me encarando nos olhos, eu desfaço o contato visual rapidamente, não dá pra ficar olhando aqueles enormes olhos azuis por muito tempo.
—Olha aqui, Vanda, eu vou avisar só dessa vez. Não faça mais uma cena daquela no hospital —falo entre os dentes.
—Tudo bem, tem lugares melhores pra beijar. Isso não vai mais acontecer.
Tem lugares melhores pra beijar? É sério isso? Eu fecho os punhos e saio de perto da Vanda ou não vai ter autocontrole que me impeça de enforcar essa mulher. Eu chego no meu quarto e bato a porta com força, não é possível que a Vanda não veja que o Brandon não quer nada sério com ela. Essa i****a vai acabar se iludindo e vai sofrer depois. O resto da semana eu fiz todo o possível para evitar cruzar com aqueles dois pelos corredores, ou melhor fiz o possível para não cruzar com o Brandon, porque a Vanda mora na minha casa. Na quinta-feira a Débora pediu uma folga, eu achei estranho ela pedir folga sem um motivo relevante, mas como ela tem dobrado muitos plantões nos últimos meses eu concedi a folga.
Eu estou um pouco preocupado com a Débora, tem alguma coisa acontecendo e mesmo ela negando é visível que ela está com algum problema. Hoje a Vanda também não parece muito bem, ela está muito calada e isso não combina com a vitrola descontrolada que ela é. Já no final do expediente eu a chamo no meu consultório.
—Entre — respondi assim que ouvi as batidas na porta.
—O que foi, Arthur? Olha só, dessa vez eu não fiz nada, estou falando sério.
Me dá vontade de rir quando ela fala com uma certa impaciência. Ela está aprontando tanto que já acha que todas as vezes que é chamada é pra levar bronca.
—Eu nem comecei a falar, você já está se defendendo? —Olho pra ela que revira os olhos.
—É que você só me chama pra brigar. É compreensível que eu esteja traumatizada —fala séria e eu dou uma gargalhada.
—Vanda, você não tem solução.
—Tá vendo aí, olha só você querendo me ofender.
—Não é nada disso, ok —digo, colocando um fim à discussão —só te chamei aqui para saber o aconteceu com você.
—Como? —pergunta confusa.
—Eu perguntei o que aconteceu com você? Ficou surda por acaso?
—Não. Eu não estou surda e nem aconteceu nada comigo.
—Vanda, eu conheço você bem o suficiente para saber quando você está com problemas e hoje alguma coisa aconteceu com você.
—Não é nada demais, quero dizer, não é nada comigo.
—E com quem é? É daqui do hospital? —,perguntei já sentindo minha irritação surgir. Só de pensar que pode ser por causa do rolo dela com o Brandon, já fico nervoso — Anda, responde!
—É daqui do hospital a pessoa, mas eu não sei bem o que está acontecendo e quando eu fui falar com o Brandon, ele nem ligou —ela está realmente chateada com o Brandon, mas isso pode ser bom.
—Você está falando da Débora? —pergunto e ela confirma.
—É sim. Arthur, eu sei que ela está passando por momento complicado, mas ela sempre n**a minha ajuda, mesmo quando eu posso fazer algo por ela —fala triste.
—Vanda, eu sei que é difícil ficar quieta em uma situação assim, mas se ela não quer, você não pode obrigá-la. A Débora é adulta e quando ela se sentir à vontade ela vai falar.
Ela concorda com a cabeça, mas se mantém emburrada.
—Você vai à inauguração na Devon 's, esse fim de semana?
—Não sei ainda. Você vai ? —pergunto já sabendo a resposta.
—Sim, eu vou. Vamos Arthur, vai ser muito divertido, você parece um velho gagá não vai a lugar nenhum.
—Do que você me chamou, Vanda? —ela não responde —pois fique sabendo que eu vou e você vai me acompanhar! —falo irritado. Ela vai ver só quem parece velho gagá.
Continuar…