IV

1732 Words
A princípio Luce estava a contra gosto de ir para a festa. Não suportava a ideia de reencontrar certas pessoas naquele lugar e se ver em mais uma de suas crises sem poder contar com a ajuda de quem quer que fosse, pois não tinha coragem o suficiente de se abrir nem com a própria sombra. Mas com a insistência da parte de sua amiga, não teve outra alternativa senão a de ir e se fazer presente naquele lugar. Tiveram de pedir um táxi para chegar até o local que era bem isolado, mas o barulho de toda algazarra já se faziam presentes ali e era notório a alguns metros de distância de que toda aquela bagunça não se findaria tão cedo. O local mais se parecia com um casebre abandonado de dois andares. O motorista do Táxi até teria as questionado se era realmente aquele lugar e se estaria tudo bem ficarem por ali. Sarah havia jurado de pés juntos que estava tudo bem e que era somente uma reunião de amigos e colegas para comemorarem a data juntos. Depois de pagarem pela corrida desceram do carro e seguiram juntas rumo a festa. Luce não conseguiu deixar de notar o quão peculiar tinha sido o local escolhido para tal comemoração. Embora fosse perfeito para a data em si. Também abusaram da imaginação espalhando pelo lugar ossos falsos de esqueleto e alguns bichos entalhados espalhados pela área, que eram de arrepiar. Não demorou muito pra que outro de seus amigos viesse as cumprimentar lhes oferendo bebida. [•••] Tudo parecia ir bem, mesmo que Luce ainda se mostrasse bem relutante no início, acabou se soltando e distraindo entre amigos e colegas os quais seguiam bebendo e comendo boa parte da festa. Também haviam aqueles poucos que queriam mais "privacidade" seguindo para os quartos no andar de cima. E somente não eram ouvidos gemidos e ranger de cama velha graças ao som alto de "Thriller". Um clássico que não poderia faltar naquela data e que fez com que todos, inclusive Luce, se juntassem para dançar. A garota nunca sorriu e se divertiu tanto em seu próprio aniversário como este. Quando a música se findou, alguns seguiram rindo e se afastando enquanto que seu grupinho de amigos (Sarah, Diego e Samantha) se aproximavam com um sorrisinho nada inocente nos lábios. ── Hm, o que foi? vocês tão' com cara de quem vai aprontar... ── Diego (um jovem rapaz de lábios carnudos, olhos verdes como folha seca e pele morena com vitiligo presente desde o seu nascimento fazendo com que uma mecha branca em seus belos cabelos negros se destacasse, não somente em seu cabelo mas as manchas esbranquiçadas eram bem notórias pelo corpo também) foi o primeiro a soltar o tudo que segurava pra si dando um leve balançar negativo com a cabeça. ── Nada... acredite. Samy que teve uma ideia um tanto "boba" pro momento. ── Também foi o primeiro a responder ao que sentia um leve incômodo no ombro por ter sido atingido por um soquinho' da mesma ali. ── Hei! Não é uma ideia boba. ── o moreno murmurou um "aí" enquanto que levava a mão sobre o local massageando o mesmo. ── Só... nós poderíamos brincar, o que acha? ── Brincar? ── Luce arqueou um das sobrancelhas enquanto cruzava os braços, já se preparando pro que quer que fosse vir daquilo. Já sentindo não ser algo nada bom. ── Quanta enrolação, fala logo Samy. Ou eu falo. ── Sarah a apressou impacientemente. Definitivamente ela era a "pavio curto" do grupo. ── Nossa, ok. Lucezinha... nós podíamos brincar com o além, talvez? Chamar o nosso próprio demônio, que tal? A garota de longas madeixas loiras por um momento sentiu um arrepio na espinha ao ponto de transparecer em sua face a surpresa e "espanto" com a sugestão da de cabelos roxo pastel. ── Vamos Luce, não há nada de mais. É só uma brincadeira i****a, todos nós sabemos que essa coisas de fantasmas, demônios e tudo mais não existem. ── Completou Sarah ao notar o quão drástica tinha sido a mudança da amiga. Poderia até ser uma brincadeira i****a e s*******o. Mas para Luce era algo muito sério. Desde sempre ouvia sua avó dizer: "Jamais mexa com o que está quieto nem ouse brincar com obscuro e o além. São coisas as quais deve manter distância. Humanos não foram criados para manter contato com eles". Eram sempre repreensões severas ainda mais quando se via sendo pega em alguma de suas brincadeiras onde tentava imitar a própria avó com seus rituais e "receitas" as quais jurava ser para proteção delas. Mas seus amigos continuaram a pedir até vencerem Luce pela pura insistência. Agora estavam no porão daquele casebre, o local parecia bem mais abandonado do que todo o restante da casa; com apenas uma pequena janela retangular que se estendia a um metro de largura e vinte centímetros de altura bem próximo ao teto do porão que dava visão ao solo ao lado de fora do casebre, também podendo ser a única forma de clarear aquele lugar durante o dia já que não viram nenhum interruptor ou coisa do tipo, sendo forçados a pegar velas e lâmpadas da decoração da festa para iluminar e ter uma visão melhor do local. Ali tinham várias madeiras escoradas aos cantos das paredes, cordas, ferramentas enferrujadas e móveis velhos caindo aos pedaços cujas teias de aranha e poeira os cobriam. E o chão ainda era solo de terra coberto apenas por madeira fina. ── Quem tiver rinite por aqui tá lascado. ── Brincou Diego ao passar a ponta dos dedos sobre uma velha cômoda ali vendo o acúmulo da poeira nos móveis. As garotas sorrindo soltaram um risinho. ── Deixa de ser bobo e nos ajude a afastar essas coisas. Precisamos de espaço. ── Samantha lhe repreendeu e logo os três ali se puseram a arrastar os móveis que estavam mais no centro, para os cantos. Também foi Samantha que teve a liberdade de desenhar no chão um pentagrama que havia visto em um de seus livros. Com algumas runas que Luce jurava já ter visto em algum lugar. No fundo a garota sabia muito bem de que nada deveria fazer naquele momento e se fosse feito preferiria simplesmente apenas observar, afinal, não era feita de ferro e curiosidade era seu nome do meio. Contudo, quando seus amigos a fizeram permanecer no centro do círculo com a simples desculpa dela ser a aniversariante no momento, a fazendo atoar algumas palavras que Samy também teria achado em seu livro, Luce e os demais se sobressaltaram com o surto que tiveram quando um corvo apareceu bicando a janela e olhando para dentro do porão ao que crocitava desesperadamente. ── Certo, não quero mais fazer isso. ── Esclareceu Luce ao entregar a folha de papel amarelada para a amiga de cabelo colorido. ── Poxa, Luce! É só um pássaro. Ele deve estar com fome ou... sei lá. Só, termina logo isso ou está com medo que realmente possa aparecer um demônio pra gente? Luce engoliu em seco direcionando as íris azuladas rumo a janela onde o pássaro ainda estava ali. Sim, estava morrendo de medo. Não pelo fato de estar no meio de um ritual ridículo mas pelo pássaro em si. Não era a primeira vez que via um a seguindo quer onde estivesse, também sendo eles presentes em sonhos. E naquele momento nada parecia estar cheirando bem pra garota. Era mais como se fosse um alerta, um aviso pra que parasse o que quer que estivesse fazendo, desse meia volta e saísse correndo dali. Mas não o fez. Assim que Samy puxou a folha da mão de Luce, o papel fino lhe cortou a pele fazendo com que o líquido carmesim gotejasse no chão. Houve-se um tremor por todos os reinos e mundos enquanto os olhos dourados ainda sonolentos, preguiçosamente se abriam, algo mais "sútil", imperceptível para grande maioria. Mas haviam aqueles que já sentiam em seu âmago que algo muito r**m estava prestes a acontecer. Luce era uma dessas pessoas e que agora se via mais assustada ao ver que não havia apenas uma ave ali mas agora outra e mais outra e mais outra tendo um amontoado de aves negras crocitando e se juntando à janela e já não mais bicavam o vidro mas batiam a cabeça contra ele; fazendo os jovens ali se sobressaltarem novamente, arrepiados até a alma. ── Eh! Acho, acho que Luce tenha razão. É melhor pararmos por aqui, Samy... ── Pronunciou Sarah que agora se achegava mais perto de Diego, o segundando pelo braço. A de cabelos roxo engolindo a seco também acabou por assentir e então se virou para Luce a vendo segurar o pulso enquanto o sangue ainda escorria dali. A loira agora mantinha o olhar curioso ao chão onde o sangue escorria pelo vão da madeira, tendo sua atenção retomada somente por Samy que se aproximou e a segurou. ── Luce?! Céus!! O que houve? Venha, precisamos cuidar disso. [•••] Quando finalmente os olhos da b***a se abriram por completo, barulho de correntes grossas se arrastando ao chão ecoavam pelo vasto local o qual estava sendo preparado para seu confinamento de graphenium' (uma espécie de diamante n***o impermeável e até então "indestrutível") desde o primórdio e se seguiam até uma enorme parede. Com mais um gotejar do sangue da garota em contato ao solo fez com que a fera indomada se debatesse e rugisse em seu confinamento para se soltar de sua prisão. Ao mesmo tempo no mundo dos homens (este, mais afetado com o despertar) novamente houve-se um tremor aos quatro cantos da Terra simultaneamente. Nuvens escuras e carregadas já tomavam conta do vasto céu, rajadas de vento impetuoso seguidos de trovões e relâmpagos assustavam aqueles que corriam em busca de abrigo. Os garotos que já subiam as escadas do porão rumo ao primeiro piso, afim de fazerem o curativo na garota, sentiram o tremor mais forte e se apoiaram na parede. ── Mas que... merda que tá rolando? ── Não sabemos, só sobe logo. ── Apressou Luce. Quando chegaram no primeiro piso, todos estavam dentro da casa, atentos e temerosos com a tempestade forte que se formava ao lado de fora. Algo surreal e jamais presenciado por quem quer que estivesse ali presente. [•••]
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