Formada

1007 Words
São Paulo - Capital Isadora com 23 anos tinha acabado de receber seu canudo. Era enfim auxiliar e técnica de enfermagem como o pai sonhou por ela. Por causa da grana curta, ia começar a faculdade só no ano seguinte, e isso se Wesley permitisse ela continuar estudando! Sentiu o bebê mexer enquanto ela ajeitava suas coisas pra ir pra casa. Morava na zona sul de São Paulo, e enquanto dirigia pra casa, pensava no dia em que o pai morreu e como tudo se transformou mais uma vez! Lembrou que com 17 anos, estava chegando da igreja quando o pai a esperava pra conversarem. A discussão com a mãe (de novo) naquela manhã devia ser o motivo. Estava meio que preparada para o pai a cercar, pois naquele dia, foi o mais violento possível a argumentação da mãe, e Isadora achava que ia acabar perdendo a paciência com ela! Tereza estava diferente, não era mais a mãe bondosa e carinhosa de quando viviam no interior do Rio. Era relaxada, começou a fumar, não ligava mais para as crianças e todas as obrigações da casa ficavam com Isadora. Ela dizia que tinha a vida perfeita e toda as desgraças da vida dela se deviam a Isa, então era justo Isadora compensar ela de alguma forma. Também culpava Gonçalo por ter levado a família para o morro. Mas a verdade que Isadora sabia e que lutava a todo custo pra evitar que os irmãos descobrissem, era que a mãe estava envolvida com drogas. Ela não sabia até que ponto a mãe estava viciada, mas que estava usando, isso era claro. Ela estava no último ano do ensino médio, e mesmo que não concordasse com o que o pai fazia pra sustentar a casa, já que ele era contador do crime organizado no morro, também não podia de todo culpa-lo. Ele conseguiu manter todos em escola particular no asfalto, e enquanto era o homem de confiança de Urubu, ninguém mexia com ele nem com as crianças, estavam protegidos! A mãe era outra história. Ficou m*l humorada, seca, perdeu o amor pela família. Isadora preparava as crianças pra escola, lancheiras, entregava no transporte escolar e depois cuidava da casa toda. As vezes fazia almoço e a mãe ainda não tinha levantado, aí ela arrumava todo o resto e acordava a mãe para quando as crianças chegassem, todos almoçarem juntos para que eles pensassem que a mãe quem cuidou de tudo. Então ia pra escola e quando voltava ajudava as crianças com o dever, os obrigava a fazer suas orações antes de dormir. Respeitava a decisão de cada um de não seguir nenhuma religião, mas explicava que a fé não tinha nada a ver com religião e seu momento de conversar com Deus e entregar sua vida a Ele, era diário e pra cada ser humano dessa terra, independe de religião! As crianças aprenderam a respeitá-la. Mesmo que ela os enganasse para acreditar que a mãe quem fazia as coisas, era ela que eles viam cuidando toda vez. Patrícia era mais complicada. Desde pequena tinha um gênio forte. Os pequenos, os gêmeos Miguel e Pedro, que estavam com 9 anos e Sarah, com 5 anos, ainda acompanhavam ela na igreja muitas vezes, acatavam as ordens e a respeitavam. Patrícia, com 13, fugia pra ir aos bailes funks, usava as roupas conforme as meninas do morro, shorts muito curtos, tops que não cobriam nada, falava na gíria e não aceitava comando de ninguém. Era rebelde desde sempre! E as discussões com a mãe começaram justamente por causa dela. Tereza jogava a responsabilidade pra cima da filha mais velha e também queria que Isa controlasse Patrícia. Mas toda vez que Isa ia falar alguma coisa, a resposta era a mesma: você não é minha mãe! Então Isa pedia pra mãe resolver e a mãe mandava ela se virar. Nessas horas, Isa tinha vontade de mandar o primeiro mandamento com promessa a merda e dar um boxe na mãe. Sim, Isadora era humana. As pessoas tem o costume de achar que evangélica tem que ser boba e só falar de Deus, mas não entendem que a calma espiritual é buscada diariamente em oração e contato com Deus. Mas a humanidade está ali, a raiva, a fome, as frustrações, todas as emoções estão ali. A rebeldia de adolescente, graças a Deus, era controlada e Isadora não tinha o direito de ser adolescente. Por ter estragado a vida dos pais ao revelar seu sonho, a mãe a obrigou a assumir seu papel. E ela se sentia responsável por cuidar de todos. E tentar manter a normalidade! No dia anterior, não teve a última aula, então dispensou o transporte e pegou um Uber pra casa. Ela era sempre a última a ser entregue, então normalmente chegava em casa depois do pai. Como naquele dia chegou umas duas horas adiantada, descobriu Patrícia se pegando com um bandidinho, daqueles metidos a bandido mas que são uns idiotas. Usam réplica m*l feita do jacaré, as calças lá embaixo parecendo que tem um troço de bosta nos fundos, mostrando a faixa da cueca “Kevin Clain” que são vendidas de bacião a dois reais no chão da feirinha e andam parecendo que estão espantando mosquito do traseiro. Quando Patrícia a viu, o sangue fugiu de seu rosto e antes que ela pudesse armar o escândalo, correu pra dentro. E o bandidinho, frouxo do jeito que Isadora tinha certeza que era, correu pro outro lado, sem nem saber porque estava correndo! Ela entrou e encontrou o cenário que nem imaginava! A mãe estava jogada no sofá, uma garrafa de vodka do lado e Isa não viu copo, então imaginou que ela tomasse direto no gargalo. Estava adormecida. Os gêmeos estavam jogando vídeo game, gritando um com o outro como sempre e ela não viu Sarah. Ela chamou os irmãos pra perguntar da caçula e eles estavam na vibe deles e não lhe davam atenção. Ela ouviu o chuveiro ligado e imaginou que a frouxa da Patrícia correu para dar banho nela!
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