CAP 1

1316 Words
Mayla Fischer O despertador começa a tocar ao lado da minha cama e estico a minha mão para desligar o relógio. Sim, relógio normal de mesa, porque não posso ter celular. Sem demora, começo a me esticar para acordar de vez e já me levanto no pulo para organizar a cama e dobrar os cobertores. Deixo tudo organizado e de forma alinhada como se ninguém tivesse dormido aqui e isso, é para evitar reclamações. Ando em direção ao banheiro e já começo a lavar o rosto e a escovar os dentes. Com a toalha aqui, inicio o meu banho rápido como de costume e evito de molhar os cabelos. Por sorte, a água hoje está morna e bem gostosa! De banho tomado, organizo o banheiro para que tudo esteja no lugar e com o chão seco, depois, vou ao closet para me vestir. Antes de dormir, eu já separei o uniforme da escola como sempre faço e ele consta numa saia que vai até os joelhos na cor azul, uma blusa branca de botões e mangas cumpridas, com um blazer por cima também azul. Uso perfumes, cremes e deixo os cabelos soltos como gosto. Me vejo no espelho para ver se não falta nada e queria usar algo para me dar uma cor, mas retiro essa ideia da cabeça e eu pego os sapatos e as meias. Hoje eu tenho aulas bem puxadas, mas, por sorte sem nada de jogos ou educação física. Porém, tenho matemática avançada, física e linguagens e é bem cansativo. Ao pensar nisso, sinto uma certa tensão, porque faltam poucas semanas para eu me formar na escola e queria ter mais tempo. A escola é o único lugar que eu vou e quando acabar, terei que me prender aqui e ser dada em casamento como manda a lei. Lembrar que esse dia está chegando me dá um medo enorme, porque, para começar, eu não faço ideia de quem seja. Com os meus 17 anos agora, isso me torna visível aos olhos do meu pai e já notei o interesse. Já fui alertada de que eu serei praticamente vendida e além do meu pai se livrar de mim, ele vai receber um dinheiro alto. Palavras de Mabel, a sobrinha da governanta! Meu pai se chama Teodoro Fischer e confesso que, por mais que seja o meu pai, eu não sei muito sobre ele. Sei que é um homem importante na organização alemã, respeitado por onde passa, admirado por muitos membrös e tem um poder forte nas mãos. Sei também que ele tem contato direto com o chefe da máfia, mas não sei bem o grau. Moramos numa mansão enorme, luxuosa e isolada e pelo que me lembro, sempre moramos aqui. — Bom dia, Mayla! — Mabel me cumprimenta em sussurro na sala de jantar enquanto organiza a mesa. — Bom dia, Mabel! — Libero um sorriso para ela, mas logo me fecho e me sento, então ela saí. Tenho que tomar muita cautela aqui e me comportar como se o meu pai estivesse. Ele não suporta risos, conversas paralelas, passos fortes pela casa e eu aprendi a praticamente a andar de pontas de pés. Ao me sentar à mesa, estico o meu braço para pegar uma das xícaras, mas ouço passos de sapatos masculinos se aproximarem e me levanto imediatamente. É ele. Fico de pé ao lado da cadeira, de cabeça baixa, mãos para frente e encaro os meus pés sob o chão enquanto controlo a respiração. Jurava que ele não estava aqui e jurava mais ainda que teria um café da manhã tranquilo! — Bom dia! — A sua voz preenche o espaço e continuo imóvel. — Bom dia, senhor! — Respondo o ouvindo puxar a cadeira. Pelos sons dos movimentos, noto bem ele se sentar e continuo na mesma postura. É uma das normas dele e uma das principais. Ele nunca avisa quando está aqui e quando vai sair, e quando saí, não diz quando volta. Ele nunca dá explicação de nada, nunca explica nada e muito menos dá alguma brecha. Apenas manda. — Pode se sentar! — Ele dá a permissão quando menos espero. — Obrigada, senhor! — Com cautela, me sento na cadeira e deixo os braços no meu colo. Já ocorreu vezes em que ele não avisou que vinha e chegou no meio da minha refeição. Eu tive que largar tudo, deixar tudo à mesa e ficar de pé como ele prefere e tive que esperá-lo terminar toda a sua refeição para depois eu poder comer e só depois da sua liberação e saída da sala de jantar. Já perdi as contas disso! — Sirva-se e coma, Mayla! — Agradeço mais uma vez e começo a me servir de café. — Como estão as suas notas? — A pergunta me pega de surpresa e limpo a garganta. — Todas azuis e continuo sendo a primeira da turma, senhor! — Respondo o olhando com cuidado tentando ao máximo mostrar um leve sorriso de canto de boca. — Ótimo! Apesar da última confusão, você está conseguindo bem manter o nosso acordo. — Aceno em resposta por ter o seu olhar observador. A confusão em questão, foi que uma das meninas da escola conseguiu ver as minhas respostas de uma prova semestral que valia 30% da nota geral e ela foi pega. Nisso, fui acusada de facilitar e levei advertência, o que ocasionou numa ligação para ele feita pela coordenação da instituição. Ele nem estava na Alemanha e sim, viajando a trabalho, mas ao chegar, tive a pior sessão de surra da minha vida. Ele não me perguntou nada, não me deixou explicar e no fim, fiquei acamada por três dias. Isso faz poucos meses, mas me lembro como se fosse hoje e desde então, faço tudo em cuidado dobrado para não lhe irritar. — Tenho estudado bastante e farei as últimas provas ao lado da professora por ordem dela. — Respondo tentando usar o tom mais suave de voz para ele não se sentir contrariado ou afrontado. — Se eu souber de uma nota vermelha, já sabe o que acontece! — Engulo em seco perdendo o apetite, mas não posso mostrar isso. Bebo o café e mordo o bolo sem vontade alguma enquanto controlo as emoções. O que muitos não sabem, é que as escolas alemãs são umas das mais rígidas que existem e sendo da organização, então, fica pior. As professoras lhe humilham, fazem piadas, se sentem no direito de lhe dar lição de moral em qualquer situação e elas tem contato direto com os pais. Muitas delas fazem uma situação conforme querem e sofremos por isso. Desde aquela surra, eu tenho pisado em ovos a cada passo. Eu praticamente vivo calada tanto aqui como por lá e depois dos meus afazeres, eu dedico os restantes das horas em estudos. Estudo pela manhã cedo e chego para o almoço, depois eu faço as minhas obrigações no andar de cima que são as faxinas semanais e depois eu estudo. Porém, nas segundas eu tenho aulas de piano no fim da tarde, as terças eu tenho pintura, as quartas eu tenho aulas de matemática avançada, nas quintas natação e nas sextas eu tenho costura. Cada uma delas tem a duração de uma hora e depois eu corro para estudar até o jantar e depois, dormir. Na nossa tradição, a mulher precisa saber fazer muita coisa social e quanto mais ela dominar essas áreas básicas e outras, isso mostra a sua dedicação a casa e ao marido quando casar. Apesar de sofrermos humilhações e tudo mais, somos nós que lhes acompanhamos em eventos e precisamos mostrar que temos educação e conhecimento de algo e sim, é para apenas aumentar o ego do homem. Por isso o meu pai faz questão de que eu saiba de tudo e faça tudo. Para ele é só o que importa e eu, não tenho outra escolha.
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