Capítulo 6

1650 Words
Eu estava morrendo de medo do que poderia acontecer, eu tinha medo do quão longe poderia ir à quantidade de química que havia ficado na minha pele desde que Ethan me tocou. Aquilo era um crime. O meu marido ia para a guerra e não havia nada a ser feito nesse caso a não ser chorar compulsivamente sobre todas as coisas. - Meg, eu não disse que resolveria as coisas para você? eu já tomei as minhas decisões, já deixei tudo esquematizado! – disse Tommy olhando na minha cara como se eu fosse uma tremenda de uma maluca. - O que você deixou arrumado Tommy? Me diga! Acho que é mais fácil assim, onde estão os papéis do nosso seguro feito para funerais? – comecei a andar pelo cômodo mexendo em todas as gavetas, tentando fazer alguma coisa com a minha frustração. - Megan, para! Olha para mim! – disse ele segurando o meu braço bem forte, olhou nos meus olhos mais uma vez e sussurrou – se acalme! Respira fundo! Tommy levou mais 4 meses para partir para a guerra, Ethan levou apenas uma semana após esse dia para ir embora da pequena cidade. E levou apenas 6 meses para eu receber uma carta avisando o óbvio. Eu perdi o meu esposo em dois meses de guerra. O dia estava nublado e eu estava tomando um chá mais quente do que o normal, o meu coração apertado demais para eu me lembrar do momento de uma forma correta, mas a angústia que eu sentia transcendia todo o modo de pensar ou agir. Quando peguei os papéis avisando sobre o falecimento de Tommy após uma bomba ter acertado em cheio suas pernas e braços, ele não resistiu e nem eu. A primeira coisa que fiz foi deixar a xícara cair a segunda, foi tomada por uma apatia antes de uma tempestade foi pegar o telefone e chamar minha mãe, calmamente, como se eu soubesse que se eu pensasse demais eu poderia desmaiar. - O que houve Meg? Sua avó não estava boa no telefone! – disse ela ao chegar Eu apenas entreguei os papéis em suas mãos e a odiei o dobro quando ela disse “ele morreu um homem honrado”, mas eu não tinha forças para bater na minha própria mãe. Eu enfrentei uma sogra, eu enfrentei um funeral sem o corpo do meu marido, eles não conseguiram enviar o único pedaço dele que eu teria para chorar em cima. O caixão era branco, as flores eram brancas demais e a bandeira estirada em cima do caixão vazio me incomodava. O luto sempre é engraçado, ele te faz pensar em coisas que você nem notaria se fosse em outra ocasião, e eu estava tentando de tudo, tudo para esquecer o fato de que o meu marido estava morto. E nada, nem que eu notasse a posição de cada coisa iria trazê-lo de volta. E nada no mundo poderia mudar esse fato. - Megan, você quer falar algumas palavras? – disse minha sogra, dessa vez, tentando manter um pouco de educação com o meu luto. Eu aceitei sem jeito reparando em como as pessoas a minha volta pareciam se condoer das minhas dores, mas eu não ligava, ninguém ligou quando eu previ o futuro. Eu iniciei então o meu discurso para o caixão vazio contando que de todo o meu coração o meu marido morto estivesse escutando. Eu não fiz discurso para os vivos como em meu livro favorito, cada palavra, cada pequena palavrinha eu falei para o Tommy. Eu não me importei com as pessoas á minha volta, era a alma dele que eu precisava sentir por perto! - Grande amor, estrela cruzada da minha vida... – eu iniciei o meu discurso sentindo a minha alma pular de mim – Eu espero de todo o meu coração que você esteja me escutando, espero que você apareça mesmo que seja em formato de assombração, eu não ligo para a cara das nossas famílias religiosas enquanto eu blasfemo em cima do seu caixão vazio, isso pouco me importa, eu estou sendo sincera. Eu vou passar a vida magoada com você, você morreu e levou com você um pedaço da minha alma e eu jamais vou poder te perdoar por me levar contigo. Eu te amo tanto e vou sentir tanto a sua falta que eu vou morrer um pouco todos os dias e talvez, esse fosse o seu plano inicial. De qualquer forma, eu te encontro, pode não ser hoje, mas eu vou te ver de novo. Enquanto isso, eu sinto o seu cheiro no travesseiro que você deixou – eu me derreti de chorar, e talvez, aquelas fossem as palavras mais tristes que eu já havia falado em toda a minha vida. Ninguém gostou. Mas eu não liguei. Eu servi as pessoas, eu fingi que tinha alguma educação dentro do meu corpo, até eu decidir não fingir mais. Corri para o meu jardim e me sentei na balança tentando sentir todo o meu medo, a dor, todo o abandono de uma vez só. Na minha cabeça naquele momento... De alguma forma... eu poderia me livrar do luto se eu me permitisse senti-lo. - Oi... – disse a voz de um homem atrás de mim. Eu olhei e nem me mexi. - Ah, você. Obrigada por ter perdido o funeral do Tommy! – eu disse com o choro preso na minha garganta. - Funeral? Tommy estava ali? O que eu ia fazer diante de um caixão vazio? – disse Ethan se sentando na balança que sempre havia sido de Tommy. Me incomodou um pouco, mas eu passei por cima, não era dia de brigar, eu não conseguiria me defender. - Homenagem, você já ouviu falar disso Ethan? – eu falei um pouco rancorosa. - Eu não acredito em homenagem para uma pessoa que escolheu morrer! – ele disse sem meias palavras. - Você... pode por favor, p***a! Respeitar a vida do meu esposo? Pode... uma vez só não tentar ser desagradável com a memória dele! - Meg... – disse ele se levantando na mesma hora que eu me levantei - Eu já tenho raiva o suficiente por nós dois, tudo o que você vai falar sobre ele eu já sei, tudo o que você tem a dizer sobre ele ter escolhido morrer já passou pela minha cabeça nem que seja por um milésimo de segundo! – eu comecei a chorar desesperada. - MEG! – disse ele me puxando – eu não vou te pedir desculpas! – disse olhando nos meus olhos – eu estou com raiva, eu o amava! E você o amava também, então tem todo o direito de se desabar em lágrimas e ficar com muita, muita raiva! Dele, da vida, das pessoas que o apoiaram nessa enrascada terrível e de tudo! Eu me agarrei a ele como se ele fosse de fato uma tábua de salvação, eu chorei tanto encostada no peito de Ethan que eu encharquei toda a sua camiseta. - Chora... está tudo bem! – ele disse me puxando para mais perto, me segurando mais forte e me dando a chance de desabar pela primeira vez desde que li aquela p***a daquela carta a primeira vez. - Megan – disse minha sogra – onde estão os canapés? Preciso repor... Os convidados não podem ser m*l servidos, não hoje! – disse ela, talvez tentando lidar com sua dor com algum tipo de dignidade. - Eu já vou... – eu disse atordoada - Não! – respondeu Ethan – as pessoas podem esperar, fodam-se elas! Você perdeu o seu filho, eu perdi o meu irmão... E a Megan perdeu o esposo dela! Quem quiser comer tem duas opções, ou procura a p***a do canapé ou vão embora para passar em um restaurante! - Ethan – disse ela profundamente abalada também, eu conseguia enxergar através de sua maquiagem impecável o tamanho de suas olheiras que não sumiam a quatro dias. - Você tem toda a razão Ethan... – ela continuou – as pessoas que se fodam! – disse ela pela primeira vez um palavrão sonoro. - Sim, que se fodam! - Tommy teria gostado disso? – disse ela antes de sair do jardim – ele sempre... foi tão... - Certinho? – disse Ethan dando um sorriso melancólico – sinto muito mãe, só sobrou o seu filho com um parafuso a menos é pegar ou largar. Ela não respondeu, secou uma lágrima insistente em seu rosto virou as costas e saiu como se nunca tivesse entrado ali. - Eu queria muito beber! – eu disse em um rompante. - Vamos beber então! Quem liga? – disse Ethan - Por que parece que você não está dando a mínima para a morte do Tommy? – eu disse atordoada - Eu estou com dor, dor na alma, eu nunca mais vou ver o rosto do meu irmão e ele vai ser enterrado como um indigente, ele deixou uma esposa, uma mãe, um pai, uma cidade que o amava apenas pela emoção do nome em um broche? Eu não quero falar dos meus sentimentos, quero tomar um porre, você vem ou não comigo? – disse ele mexendo no cabelo pronto para sair andando pelos fundos da casa. - Não devemos avisar que estamos saindo? – eu disse - Sério? Teu marido morreu e você está preocupada com a p***a da opinião pública? Bom, avise se quiser, eu estou lá fora... de moto! – ele disse confiante. Ethan saiu sem nem olhar para trás e eu ouvi então o primeiro ronco da moto: Eu poderia ir avisar ou poderia apenas subir na garupa e torcer para me encontrar com Tommy. Entre as duas opções eu escolhi a mais sensata. - Avisou alguém? – disse ele me oferecendo um capacete assim que me viu sair pelo pequeno portão. - Não, que se f**a! – respondi colocando o capacete e subindo na garupa da moto.
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