Depois que os pais foram pra casa, Rosângela ficou pensando na mudança de caráter que Ronaldo vinha demonstrando.
Durante os primeiros anos de casamento, o marido era um homem carinhoso e companheiro.
Se um dos meninos chorasse durante a noite, ele era o primeiro a verificar se precisava de troca de fralda e acalentava o bebê até ele dormir de novo.
Nós finais de semana que estava em casa, dividia com ela todos os serviços domésticos, e fazia tudo com dedicação e carinho. Tinha aprendido até a cozinhar para ajudar ela.
Como uma pessoa pode mudar tanto a ponto de negar contribuir para o sustento dos próprios filhos?
Será que uma paixão, muda tanto assim uma pessoa?
De repente, passou a implicar com as crianças. Isso começou logo depois do nascimento de Regina.
Quando eram só os meninos, ele atendia os choros sem reclamar, mas depois que a menina nasceu, ficava irritado quando era acordado durante a noite.
Rosângela nunca queria saber o s**o do bebê quando fazia os exames, preferia esperar a surpresa na hora que nascesse.
Mas Ronaldo tinha se dito feliz por ter vindo uma menina. Na época, falou que agora a família estava completa, com o nascimento de Regina.
Porém, logo depois, começou a chegar tarde em casa, dando a desculpa que precisava fazer horas extras, para sustentar três crianças. Passou a ficar mau humorado e qualquer ruído era o suficiente para colocar os meninos de castigo.
O caso com a outra, deve ter começado desde o nascimento de Regina.
Apesar de ter recebido um grande golpe com a saída do marido de casa, o que mais lhe doía, era a rejeição do pai com as crianças. Já tinha alguns meses que estavam separados e até agora, Ronaldo não tinha vindo ver os filhos nenhuma vez.
Como aquele pai amoroso tinha se tornado um pai distante?
Teve que interromper os pensamentos para atender Regina que chorava.
O tratamento já tinha terminado, e ela estava comendo bem de novo. Devia estar molhada.
Trocou a criança e colocou para dormir novamente.
Resolveu ir se deitar também. No dia seguinte tinha que dar aulas para seus alunos e precisava descansar.
Custou a pegar no sono. Essas perguntas, estavam martelando em sua cabeça.
Telma tocou a campainha logo cedo:
- Bom dia. Vim saber se você quer alguma coisa do mercado. Vou lá comprar umas coisinhas.
- Bom dia. Obrigada, mas não preciso de nada. Já fiz as compras de mês, e o resto eu tenho de tudo.
- Você tá legal?
- Estou, porquê?
- Está um pouco abatida.
- Não dormi muito bem essa noite. Custei a pegar no sono.
- Ficou pensando nos problemas? Está preocupada com a ameaça do Ronaldo?
- Fiquei pensando em como uma pessoa pode mudar tanto de uma hora pra outra. De pai amoroso e marido companheiro, para essa pessoa que não procura ver os filhos e se n**a a ajudar no sustento deles.
- É verdade. Ninguém esperava isso dele. Vocês vinham brigando ultimamente?
- Não. Ele que foi se afastando. Chegava tarde e quando estava em casa, já não procurava ver as crianças e nem perguntava por elas.
- Era só com as crianças?
- Comigo também se tornou frio e distante.
- Você tem idéia de quando começou a mudar?
- Foi logo depois do nascimento da Regina.
- Será que ele não gosta de meninas?
- Quando ela nasceu, ele se disse feliz. Que a família estava completa.
- Então deve ter começado o romance com a outra durante o teu resguardo, e mudou por causa dela.
- Pode ser.
- Outra opção é coisa feita.
- Como assim?
- Você sabe de onde o Ronaldo conhece essa mulher? Será alguma colega de trabalho?
- Colega, não é não. Porque ele falou que ela nunca trabalhou.
- Ele mudou demais. Tá parecendo coisa feita.
- Será?
- É o que dá pra pensar. Se não fosse isso, ele mesmo separando de você por estar apaixonado por outra pessoa, ia pelo menos visitar os filhos.
- Você pode ter razão. Mas não se pode fazer nada. Agora seja porque motivo for, o m*l está feito.
- Mas se fizeram alguma coisa pra ele, ele não tem culpa.
- Se fizeram, foi porque ele deu brecha.
- De repente, conheceu uma fulana qualquer, em algum barzinho e deu uma escorregada durante o teu resguardo e a mulher grudou nele e fez alguma coisa para separar vocês.
- Eu não entendo disso.
- Você confia em mim?
- Claro que confio. Saio e deixo a minha casa e meus filhos na tua mão!
- Então me dá o nome completo de vocês que eu vou levar no centro que eu frequento e perguntar.
- Você é macumbeira?
- Não. Sou espírita.
- É a mesma coisa.
- Não. Macumbeiro é aquele que faz m*l para os outros para conseguir benefícios e espírita é estudioso, que estuda a vida após a morte e o porquê de certas experiências que a vida nos prepara.
- Não sabia que tinha diferença. Eu vou dar os nomes a você.
Escreveu os dois nomes no papel e entregou a Telma, que disse:
- Quarta-feira eu vou na seção e pergunto se foi feito alguma coisa.
- Mas mesmo que tenha sido, não vai ter volta. Talvez seja melhor deixar pra lá.
- Sempre é melhor saber. Ficar na ignorância, não ajuda em nada.
Telma foi embora e Rosângela foi arrumar o material da aula que ia começar em poucos minutos. Logo os alunos estavam chegando.
Rosângela conseguiu se concentrar no trabalho e só depois da última aula do dia, é que voltou a pensar no assunto.
Será que Telma tinha razão? Se tivesse e Ronaldo estivesse agindo dessa maneira, impulsionado por forças do m*l, não seria tão culpado assim, mas o estrago já estava feito.
O máximo que poderia acontecer era ele trocar de mulher de novo, porquê pra ela não teria volta. Foi muito humilhada por ele. Primeiro, quando arrumou suas coisas na surdina e apenas lhe informou que estava indo embora para viver com a mulher que amava, pegando ela de surpresa; depois quando mandou ela trabalhar para sustentar os filhos como se fossem só dela e por último pondo em dúvida a paternidade das crianças.
Mesmo que ele tivesse sendo usado por forças do m*l, alguma dúvida ele tinha antes do resultado dos exames e ela nunca tinha lhe dado motivos para duvidar de sua honestidade.
Resolveu deixar de pensar no assunto e seguir com a vida adiante, mas as palavras de Telma, voltavam a sua cabeça toda hora.
Ligou para a mãe e contou a conversa que tinha tido com Telma.
A mãe respondeu:
- É possível que isso tenha acontecido, mas agora acho besteira tentar descobrir. Pra quê?
- Eu disse isso a ela. Mas ela respondeu que a verdade sempre é melhor do que ignorar um fato.
- Nesse ponto, ela tem razão. Mas se for verdade, você está pensando em perdoar ele?
- Não. Mas ele pode encontrar outra mulher que não use esse tipo de coisas para arrancar o marido das outras. Eu acho esse negócio de amarração uma coisa nojenta e errada. As pessoas tem que se unir por amor e afinidade, não por trabalho feito.
- Estou achando que você está com pena dele e vai acabar aceitando ele de volta.
- Sem chance. Ele me humilhou muito.