Capítulo Cinco

1526 Words
Chegando à casa de Anna Silver, Regina estacionou e abraçou Savannah rapidamente antes de soltá-la. A criança de nove anos sorriu antes de olhar para seus irmãos no banco de trás. "Vejo vocês mais tarde. Lembrem-se de não dar trabalho para a mamãe e ajudem a cuidar da Gaby." "Nós vamos!" os meninos responderam em coro. "Gaby, não se esforce muito, especialmente se a mamãe te levar para o parquinho." "Eu prometo!" a pequena disse com um sorriso. "Tchau, mamãe. Vejo você depois da escola." "Tchau, meu amor", Regina sorriu vendo Savannah sair do carro, pegar sua mochila e lancheira antes de se juntar à multidão de crianças que entravam. Regina colocou o carro em marcha e partiu para que o próximo pai na fila pudesse deixar seu filho. Os trigêmeos conversavam animadamente entre si enquanto ela dirigia pela cidade até a casa de sua irmã. Assim como Regina, sua irmã morava em um apartamento de dois quartos, embora fosse em um bairro mais agradável e também tivesse um elevador, que Regina agradecidamente utilizava. Renata os recebeu com um sorriso, oferecendo deliciosos coyotas caseiros recheados com jamoncillo como lanche. Os trigêmeos se acomodaram na sala de estar com seus cookies e leite enquanto sua mãe e tia conversavam na cozinha. Tentando não chamar muita atenção das crianças, Renata discretamente preencheu o cheque de pagamento de Regina. Regina aceitou com uma careta. Ela odiava ter que pegar dinheiro emprestado com sua irmã. Não deveria ser assim. Pelo menos era isso que ela ficava repetindo para si mesma. Olhando para a irmã do outro lado da mesa era como olhar para um espelho: os mesmos cabelos pretos e sedosos, olhos castanhos escuros e pele dourada; o mesmo nariz delicado, lábios cheios e bochechas redondas. Por fora, eram idênticas em todos os aspectos, mas aí eram onde as semelhanças paravam. Renata construiu e manteve um negócio de sucesso. Ela tinha um noivo que se importava com ela e a apoiava. Ela ainda tinha o amor e consideração do pai deles. Regina não tinha nada disso. Regina era a decepção. Ela era a que engravidou na adolescência. Era a que tinha a cabeça nas nuvens e não conseguia manter um emprego estável. Era a que lutava para cuidar de quatro filhos sem um marido, noivo ou sequer um namorado à vista. Se ela pensasse nisso por muito tempo, teria que lutar contra as lágrimas. "Regina, você está bem?" Renata perguntou, percebendo a inquietação de sua irmã. "Sim, estou bem", Regina forçou um sorriso, dobrando o cheque e o colocando em sua carteira. "Está tudo bem." "Se não for suficiente..." "Está tudo bem. Eu já disse antes. Sem tratamentos especiais. Sou apenas mais uma funcionária." Renata franzia o cenho. Não importava quantas vezes sua irmã dissesse essas palavras, não era verdade. Regina nunca poderia ser apenas mais uma funcionária. Elas eram irmãs. Na infância, elas sempre estavam juntas. Conheciam os desejos, sonhos e segredos uma da outra, mas em algum momento tudo mudou. Embora parecessem idênticas, suas personalidades eram muito diferentes. Renata era introvertida e preferia ficar em casa, ler e cozinhar. Regina era extrovertida, sempre procurando por sua plateia. Mas ainda se amavam e confidenciavam tudo uma para a outra. Então Regina engravidou e foi abandonada pelo namorado. Seu pai a declarou uma decepção e, a partir de então, praticamente ignorou todas as conquistas de Regina. Ele não se importava com suas notas e nunca compareceu a nenhuma de suas peças de teatro ou recitais de dança. Não importava o quanto ela se esforçasse, Regina nunca mais recebeu reconhecimento dele. Pior ainda, sua decepção se estendia também para Savannah, sua neta. Ele nunca segurou a neta nos braços ou reconheceu sua presença. Savannah não dizia nada, mas ficava claro que ela sentia o distanciamento de seu avô. Renata não conseguia se lembrar da última vez que Savannah sequer perguntou sobre seu avô, embora ela frequentemente perguntasse sobre sua avó. Parecia que os trigêmeos também já haviam percebido esse fato. Carlos e Anthony sempre corriam para a avó, mas nem sequer olhavam na direção do avô. Apenas Gabriella ainda tentava falar com o avô. Renata se perguntava até onde sua pequena sobrinha poderia suportar tanto rejeição antes de desistir de uma causa perdida. Ela odiava pensar nisso. A menininha de quatro anos tinha um coração tão sensível e queria que todos se dessem bem e se amassem. Seria devastador se ela percebesse que seu avô não queria fazer parte de sua vida. Olhando para sua irmã, Renata não pôde deixar de se perguntar a mesma coisa sobre Regina. Embora sua irmã gêmea não quisesse admitir, Renata sabia que ela também ansiava por aquela conexão próxima que tinham com o pai. "Então... a nossa reunião do ensino médio está chegando", Renata decidiu mudar de assunto. "Recebi meu convite, então sei que você também recebeu o seu."           Regina gemeu. A última coisa que ela queria pensar era em sua época de escola, especialmente uma reunião. Ela só conseguia imaginar os olhares e risadinhas que todos dariam a ela. "Ah, vamos lá. Vai ser divertido." "Não tenho certeza se minha ideia de diversão é a mesma que a sua", Regina fez uma careta. "De qualquer forma, tenho um grande trabalho chegando neste fim de semana", Renata suspirou. Ela teria que convencer Regina se quisesse que ela concordasse em ir para a reunião. Ainda havia muito tempo. "Oh? Alguns ricaços comemorando um aniversário?" "Quase isso. Marcus Avery está voltando e sua família está organizando uma festa de boas-vindas." Regina ficou tensa ao ouvir o nome. Mecanicamente, ela tomou um gole de café, tentando parecer despreocupada, mas por dentro estava entrando em pânico. Vários anos atrás, Miles Avery finalmente havia se cansado do estilo de vida despreocupado de seu neto e o enviara para a Europa para estagiar em uma empresa e aprender negócios, para que ele estivesse pronto para assumir depois dele. Regina não se importou muito com a notícia, exceto pelo fato de que isso significava que ela estava segura. Com Marcus Avery na Europa, não havia como eles se encontrarem novamente, nem mesmo por acidente. Os trigêmeos nasceram em segurança e ela os criou sem medo de ser descoberta. Mas agora ele estava voltando e sua rede de segurança tinha desaparecido.  "Ah, desculpe. Não posso ir", Regina balançou a cabeça. Renata ergueu uma sobrancelha. Não era do feitio de Regina recusar um trabalho, mesmo que ela odiasse trabalhar para sua irmã. Regina não perdia nenhuma oportunidade de ganhar dinheiro extra. "Meu outro trabalho. Eu meio que já prometi a eles que estaria lá." "Ah", Renata assentiu. Isso fazia sentido. Dois anos atrás, Regina anunciou que finalmente havia encontrado outro emprego estável. Embora ela não desse muitos detalhes, ela disse que era um novo restaurante que oferecia entretenimento ao vivo para os clientes. Trabalhar lá finalmente permitia que Regina exercitasse seu talento natural, embora estivesse longe de seu sonho de Broadway. Desde que Renata se lembrava, sua irmã sonhava em estar no palco. Cantar em um restaurante estava longe de ser Broadway, mas era um emprego remunerado. Até agora, Renata não havia sido convidada para vê-la se apresentar e ela também não pressionava Regina a respeito. Sem dúvida, sua irmã estava envergonhada por um palco tão pequeno, mas com as contas médicas pesadas de Gabriella, cada centavo que ela pudesse ganhar valia a pena. "Bom, vamos sentir falta das mãos extras, mas sem problemas", Renata disse: "Fico feliz que esse emprego esteja dando certo para você." "Sim... eu também", Regina murmurou, olhando para baixo em sua xícara de café.  "Deixe-me encher isso de novo." Regina suspirou cansadamente enquanto sua irmã recolhia as xícaras. Ela lançou um olhar fugaz para a sala de estar. Seus bebês riam facilmente dos desenhos animados na tela, inconscientes da aflição interna de sua mãe. Ironicamente, a família Avery se tornou a maior cliente de Renata, contratando seu serviço de buffet para todos os eventos que eles patrocinavam. Para acomodá-los, ela até criou um quarto menu com aperitivos e opções exclusivas como lagosta e caviar para paladares sofisticados. Enquanto Marcus estava fora, Regina tinha pouco medo de ser descoberta, então ela não pensava muito na família. Ela evitava Elizabeth Quenn e Cybil Avery simplesmente porque ambas eram insuportáveis e exigentes. O patriarca governante, Miles Avery, no entanto, era bastante agradável e de bom coração. Algumas vezes ele convenceu Regina a falar sobre sua família e a ouviu gabar-se do incrível desempenho acadêmico de Savannah, bem como das habilidades de futebol emergentes de Carlos e Tony. Como o patriarca Avery não tinha ideia da noite que ela passou com seu neto, Regina não tinha motivos para temê-lo. Contanto que ela continuasse mantendo a verdade para si mesma, sua família e, o mais importante, seus bebês estariam seguros. Tudo havia mudado agora que Marcus havia retornado. Dado seu estado embriagado, era improvável que ele a reconhecesse, se é que se lembrava daquela noite. Mas ela não queria correr nenhum risco. Era uma pena que ela não pudesse ajudar sua irmã, mas a segurança de seus filhos vinha em primeiro lugar. Ela não permitiria que a família Avery se aproximasse de seus filhos.
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