Fuga

815 Words
Laura Já passava da meia noite quando cheguei no meu apartamento. Bolota miava freneticamente como se não tivesse comido o dia inteiro. Fiquei durante algumas horas com minha mãe e irmã. As coisas que minha mãe falou ficaram rodando na minha cabeça. Além do luto do meu pai eu teria que ser forte para aguentar a melancolia da minha mãe e irmã, e além disso nós três estávamos com medo do que viria a seguir. Lembranças: _ Eles já sabem de vocês. Vocês viram a cara que o Capo nos olhou? Certamente ele vai nos punir. Minha mãe não parava de falar sobre punições que a Mafia aplicava, sobre casamentos que levaram à morte de muitas mulheres e de como o Capo nos olhou com raiva. Me senti tonta com tanta informação. Minha irmã mais nova chorava copiosamente. Lucy nunca foi uma criança muito corajosa, e hoje com seus 19 anos parece que nada mudou. _ Mana, você viu o tamanho daquele homem? Ele estava muito bravo.. _ Para com isso Lucy, ele nem nos conhece, nem sabe quem somos ! Usei minha melhor cara de paisagem e fingi que tudo estava bem. Era óbvio que eles sabiam quem éramos e provavelmente não demoraria muito para irem atrás de nós. _ Vou para casa. Fiquem bem vocês duas, e qualquer coisa me liguem. Eu vou dar um jeito em tudo, eu prometo. ************************************ O dia amanheceu. Entrei em contato com o consultório e pedi que desmarcassem as consultas do dia. Eu não tinha pregado o olho a noite toda, mil pensamentos vieram na minha cabeça, a hipótese deles castigarem minha mãe me deixava nervosa. E a minha irmã? Lucy não seria capaz de matar nem uma mosca quanto mais se defender de um homem violento. Tomei a decisão mais louca que eu poderia. Eu tinha um dinheiro guardado, tínhamos parentes brasileiros e passaportes em dia. Era loucura ? Óbvio! Mas eu nunca poderia deixar fazerem algo de mau com a minha família sem ao menos lutar. Comecei a arrumar minha mala com documentos, não iria ligar pra elas, apenas iria passar lá e buscá-las. Bolota parecia sentir a minha tensão e me observava atentamente enquanto eu socava tudo oque conseguia naquela bolsa que parecia menor agora que eu necessitava que fosse grande. Ouvi o barulho da campainha e meus pelos se arrepiaram. Não tinha como serem tão rápidos assim, teria ? Fui em direção à porta com passos vacilantes, parecia que do outro lado eu encontraria o bicho papão, era ridículo o meu medo sem ao menos saber quem era. E se fosse o vizinho i****a da frente querendo mais uma vez açúcar? Eu sabia que todas as vezes era só uma maneira de encher meu saco e tentar flertar comigo mas mesmo assim eu sempre enchia o copo dele. Ou se fosse o cara sa Internet que eu pedi manutenção a mais de uma semana e eles nem se quer me deram retorno? Eu estava sofrendo em antecipação. Tomei coragem e abri a porta com tudo. Eu estava ciente que estava de pantufas e um pijama de coelhinhos, meu cabelo estava um ninho de pássaros e minha cara amassada devido à noite que meus olhos ficaram arregalados, mas com toda a certeza do mundo, eu não estava preparada para oque tinha do outro lado da porta. De repente eu não me senti tão i****a por sofrer em antecipação ou pensar que talvez fosse o bicho papão. Na verdade até preferia. Engoli o choro que começava a se formar na minha garganta, tomei coragem e ergui a cabeça. Meu pai foi forte até o final e eu também seria. _ O que você quer ? Falei com voz firme, uma firmeza que eu não tinha, estava com medo mas não demonstraria. Não para ele. _ Você sabe oque eu quero. Mas vejo que já arrumou sua mala. Pretende ir a algum lugar ? Pro Japão, certamente lá eu estaria melhor. _ Não é da sua conta. Tentei fechar a porta mas ele simplesmente entrou com tudo. Eu sabia que não teria chance mas iria permanecer com minha pose de corajosa. _ Você está tentando fugir ? _ Fugir de quem? Seja mais específico. No sei treinamento não lhe ensinaram como se interroga alguém? Acredito que meu ego me fez ter falta de noção. _ Me ensinaram sim, só que no interrogatório convencional eu cortaria alguns dedos seus. Mais uma vez meus pelos se arrepiaram, parecia que tudo ficava cada vez pior. Minha língua afiada não parava dentro da boca e a cada palavra dita minha morte ficava mais certa. _ Vou perguntar mais uma vez, oque você quer ? Não veio tomar café, veio? Porque não gosto de receber estranhos na minha casa a essa hora da manhã. Ele sorriu, um sorriso nada sedutor. Era a própria maldade encarnada e eu soube que estava encrencada.
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