Laura
E lá estava eu. Vivendo a vida que eu tanto queria. Formada a pouco tempo em odontologia estava atuando em um consultório procurado de Roma. A minha vida deveria ser totalmente diferente se não fosse pelo meu pai. A essa hora eu deveria estar casada e provavelmente com filho(s) mas graças a ele eu consegui ter um destino diferente e espero que minha irmã também consiga. Fazemos parte de uma família que serve a uma organização criminosa, mais conhecida como Mafia. E não é aquela mafia cheia de homens bonitos e mulheres elegantes, a maioria dos homens desse meio são cruéis e agridem suas mulheres durante anos e quando não querem mais eles simplesmente forjam um acidente doméstico e logo em seguida casam com meninas mais novas, e não demora muito o ciclo se repete. Não temos para quem correr, é às regras, ninguém pode se meter no casamento, nem mesmo o próprio chefe, que é chamado de Capo.
Meu pai não escondeu de ninguém que tinha filhas, quando nascemos fomos apresentadas ao Capo assim como qualquer outro integrante, porém meu pai só não nos casou. Nos deixou livre temporariamente, ele disse que não mencionava que tinha filhas adultas e ninguém nunca fez questão de perguntar. Ele era apenas um guarda, mas sempre foi muito leal.
Eu estava no meio de uma cirurgia quando meu celular não parava de vibrar, fiquei um pouco envergonhada e pedi desculpa ao paciente. Quando terminei o procedimento tinha 14 chamadas não atendidas da minha irmã. Meu sangue gelou. Liguei pra ela e logo recebi a pior notícia da minha vida. Meu pai havia partido. Tentaram invadir a casa do Capo e meu pai defendeu com unhas e dentes aquele maldito lugar. Morreu como um verdadeiro homem, lutando sua batalha. Meu chão desabou, não por medo de descobrirem minha idade e sim por não ter mais ele comigo. Era ele que sempre me apoiava e apesar do jeito duro eu o amava muito. Nos informaram que quem vai arcar com as despesas do funeral será a mafia, nada mais justo não é?
Dirigi até meu apartamento um pouco desnorteada. Minha cabeça doía devido as lágrimas que escorriam involuntariamente. Era uma dor imensa no meu peito. Minha mãe era dependente dele, estavam juntos a 25 anos e apesar do casamento ter sido arranjado eles se respeitaram e se amaram até o fim.
_ Oi bolota.
Meu gato gordo veio me recepcionar, ele é a única companhia que tenho, não sou muito sociável e ele tem sido um bom amigo nos últimos anos.
_ Está com fome ?
Ele mia desesperado quando pego o pote de ração. Servi bastante, o suficiente para ele ficar satisfeito o resto do dia. Vesti uma roupa preta qualquer que tinha no guarda roupa, coloquei um casaco comprido pois hoje está frio.
Quando cheguei na cerimônia minha mãe já estava lá. Debruçada sobre o caixão fechado, fiquei me perguntando da tamanha violência que teria sido o embate para não podermos nem se quer vê-lo. Notei que muitos soldados estão presentes e o Capo tambem. Fiquei com a cabeça baixa, meus cabelos cobriam parcialmente meu rosto, meus fios estão curtos mas consegue esconder um pouco. Ao lado do Capo tem um soldado, ele é enorme e tem uma cicatriz no rosto, ele é bem intimidador mas cara feia pra mim é fome. Ele ficou a cerimônia inteira me encarando, tenho certeza que ele notou minha idade e a idade da minha irmã. Todos os meus medos vieram a tona. O medo de viver reclusa em uma casa sendo obrigada a servir um homem pelo resto da vida seria o próprio inferno na terra. Quando encarei ele de volta fiz questão de olhar dentro dos olhos dele, não vou ser intimidada por homem nenhum, e se for pra viver uma vida como as outras mulheres da mafia vivem eu prefiro a morte.