Já era tarde quando Kate acordou, olhou pelo quarto e não viu Tracy, provavelmente ela deveria ter ido ver o pai ou para a aula. Aliás, o pai de Tracy era a última pessoa em quem queria pensar. Ao mesmo tempo que sentia algo bom dentro do peito ao pensar nele, experimentava também uma raiva por ele a ter, praticamente, desprezado com aquelas mensagens.
Um vento frio entrou pela janela m*l fechada, fazendo com que ela estremecesse, foi só então notou que o aquecedor estava desligado, estranho, na noite anterior quando a energia havia voltado ele estava ligado. Ela olhou então para uma estante e percebeu que a televisão estava ligada, passava um noticiário sobre o desaparecimento de alguma professora, ela correu para aumentar o volume, mas quando alcançou os botões o noticiário já havia acabado.
Após desligar a tevê e foi para o banho, por sorte a aula do dia seria à tarde, o que dava bastante tempo para pensar em tudo que havia acontecido, ela se lembrou de Tracy ter falado algo sobre como era ser muito parecida com a falecida mãe dela, pelo menos em fotos, Tracy havia contado toda a história e verdadeiramente Kate havia sentido muito por aquilo. Tracy não conhecia a mãe, sabia dela apenas o que o pai havia contado.
De início, Kate não deu muita importância, mas depois de "conhecer" o pai de Tracy, ela estava certa de que os olhares dele eram por causa dessa semelhança com a falecida mulher e talvez o beijo tivesse sido apenas isso, uma memória dele.
Analisando friamente a noite anterior não parecia ser apenas isso, uma lembrança, uma carência. Thomas pareceu querer a aproximação com ela, em seus pensamentos, Kate não poderia ser tão parecida com sua falecida esposa, seria estranho demais. Tomou um banho tranquilo enquanto cantava It's time, do Imagine Dragons.
I don't ever want to let you down
Não quero nunca te decepcionar
I don't ever want to leave this town
Não quero nunca deixar essa cidade
'Cause after all
Porque, depois de tudo
This city never sleeps at night
Esta cidade nunca dorme à noite
Ela saiu do banheiro ainda cantando, enrolada apenas em uma toalha, o cabelo louro caia como cascata sobre os ombros. Caminhou de cabeça baixa até a cama e, de relance, percebeu que havia alguém no quarto. Virou-se devagar e o olhar dela encontrou o de Thomas, que estava sentado no sofá olhando fixamente para ela.
— Você não sabe bater na porta? — ela praticamente gritou por causa do susto.
— Eu bati, a culpa não é minha se você é s***a. — Ele parecia uma pessoa completamente diferente da pessoa do dia anterior, quando havia sido atencioso e educado e hoje parecia um completo ogro, ela odiava aquilo.
— Além de m*l-educado é grosso também — Kate bradou com raiva e ele apenas levantou-se e caminhou lentamente até onde ela estava. O homem conseguia ser irritantemente sexy e em menos de um dia já conseguia tirá-la do sério. — Sua filha não está aqui, então se fizer o favor de me deixar trocar de roupa, eu agradeço — disse ela, enquanto dava dois passos para trás, assustada com a proximidade, Kate não conseguia pensar direito.
— Eu não vim falar com ela — Thomas disse, aproximando-se novamente de Kate. — Vim falar com você. — Seu rosto agora estava ameaçadoramente perto do dela, que conseguia, até mesmo, sentir a respiração dele. Queria se afastar, mas as pernas se recusavam a responder às suas ordens.
— Comigo? — ela perguntou ainda encarando ele.
— Sim. Eu fiquei pensando sobre ontem. — Ela estava em expectativa pelo que ele falaria, seria burra de tentar resistir a um homem como aquele, não importava se foi o único homem que a beijou de verdade, não importava se ela nunca havia tido outro homem, ela era de longe o homem mais bonito que Kate já havia visto. — Eu... ah..b. — Ele parecia enrolado tentando falar algo, então como se recobrasse a memória, ela resolveu falar.
— Você tem que sair desse quarto imediatamente para eu me vestir e depois conversamos — ela disse. — Por favor.
Ele apenas concordou com a cabeça e virou-se para sair dali, Kate o levou até a porta e antes que ela pudesse abrir para que Thomas saísse, ela foi aberta, era Tracy e pela sua expressão ela estava mais do que surpresa.
— Okay, isso é muito estranho — disse Tracy. — Eu não esperava encontrar minha colega de quarto seminua com o meu pai — Tracy analisou Kate de cima abaixo e olhou com um olhar interrogativo para Thomas.
— Oh, Tracy, não e nada disso que você imaginou — ela suspirou. — Seu pai veio te procurar e como eu estava saindo do banho, pedi justamente para ele vir outra hora, mas já que você chegou podem conversar lá fora enquanto eu me arrumo, já estou de saída.
— Isso, filha vamos até o CoffeeStar — ele disse, puxando Tracy pelo braço. Antes que pudessem sair da vista de Kate, o olhar dela cruzou com o de Thomas.
Kate fechou a porta e deixou escapar um suspiro de alívio, enquanto escorregava até sentar no chão apoiada na porta, ela colocou as mãos na cabeça e se perguntou o que estava fazendo. Os pais não a haviam criado para que se jogasse em cima do primeiro cara que visse e ela com certeza não era esse tipo de mulher, mas com Thomas era diferente, mesmo sendo errado, parecia certo. Ela suspirou, uma grande confusão havia se formado em sua cabeça. Apenas levantou-se quando um bip indicando uma nova mensagem soou pelo quarto, ela caminhou até a cômoda e olhou o celular.
Ainda preciso conversar com você. — Era uma mensagem do número de Thomas e ela sabia o que deveria fazer. Evitaria ao máximo encontrá-lo para atrasar essa conversa, já bastava o fora por mensagem que havia ganho na noite passada, não precisava de mais um, só que dessa vez, pessoalmente. Seria duplamente humilhante.
Como se eu já não estivesse me sentindo v***a o suficiente. — Pensou e se jogou na cama, largando o celular de mão. — Esse homem só pode ser bipolar.
Kate até considerou a possibilidade de responder, mas achou melhor simplesmente evitá-lo. Levantou, com pouca coragem, e foi se arrumar, não demorou muito, pois tinha aula e ainda precisava almoçar em algum canto. Vestiu roupas grossas por causa do frio que fazia lá fora, pegou uma bolsa com seus cadernos e enfiou o celular dentro. Saiu do quarto, trancando a porta e foi andando pelos corredores de um modo apressado.
Depois que passou pelo portão da faculdade, caminhou pelo estacionamento até um caminho que levava a lanchonete mais próxima. Enquanto andava ela percebeu um carro todo preto, com vidros escuros, andando na rua à frente devagar, por um momento ficou preocupada, mas depois lembrou-se de que não havia com o que se preocupar, os sequestros eram bem específicos, apenas professoras, o carro continuou a andar devagar na estrada e depois acelerou sumindo pela neblina. Ela suspirou e acelerou o passo para poder chegar mais rápido.
Chegando à lanchonete, viu algumas meninas da sua turma de Medicina, que passaram por ela comentando algo sobre um novo professor gato. Isso não importava muito, ela já estava cheia de professores gatos, mais um em sua vida não seria algo bom. Ela pediu apenas um sanduíche com um suco e comeu rápido. Passou mais uns minutos na lanchonete e resolveu ir quando olhou para o relógio e percebeu que estava atrasada para aula.
Kate correu pelo caminho e quando olhou para o lado viu o mesmo carro preto passando diretamente por ela, isso a assustou, então correu ainda mais rápido. Passou pelo estacionamento praticamente voando e pelo hall da faculdade também alcançado logo as escadas. Subiu as escadas o mais rápido que pode e chegou a porta ofegante e olhando para baixo.
— Bem, senhorita Snow, acho que gostaria de me responder essa questão que eu passei no quadro já que está aqui na frente. — Era Thomas e ele estava com um olhar mortal para ela.
Não disse? Esse homem é bipolar e agora é eu professor. — Ela pensou e fez uma careta com isso.
Aquilo deveria ser um sonho muito bom ou um pesadelo dos piores, ela não fazia ideia do que ele estava passando no quadro, m*l conseguia enxergar o quadro de onde estava.
— Bem, eu... — Ela ficou sem palavras, ainda ofegante, olhou para o professor com um olhar de súplica como se pedisse para ele não fazer aquilo, mas claro que não adiantou.
— Imaginei que não saberia. Sente-se aqui na frente, para ver se aprende algo. — Ele foi terrivelmente ríspido, Kate passou por ele de cabeça baixa e deixou-se sussurrar um "i****a", ela queria voar no pescoço dele e o xingar de todos os nomes possíveis naquele momento.
O coração de Kate ainda estava acelerado e agora suas bochechas queimavam de vergonha. Como ele podia ser tão i****a em alguns momentos e tão fofo em outros momentos? Isso fez com que ela se amaldiçoasse mil vezes por sentir algo por aquele homem, justamente aquele homem. Um professor que apenas parecia querer humilhá-la, depois daquela cena, não estava conseguindo prestar atenção na aula, muito menos queria levantar o olhar para ele. Dane-se esse negócio de orgulho, ela não era o tipo de mulher que se vingaria o encarando com um olhar de ódio até o final da aula, só precisava sumir dali. A aula seguiu normal, ao término, todos já estavam recolhendo seus materiais para sair e Kate recolhia os dela rapidamente para fugir de Thomas, não queria ter "aquela conversa" com ele, não precisava ser mais humilhada. A dose de mortificação diária dela já havia sido tomada com o ocorrido do início da aula.
— Bom, pessoal podem ir, por hoje é só isso — ele falou em um tom de voz calmo e todos os alunos se levantaram saindo como uma manada de elefantes atropelando tudo. Kate levantou da cadeira, mas quando ia sair, ouviu a voz de Thomas. — Menos você, Katherine, você fica. — Ela se sentou novamente, mesmo contrariada. Pegou o celular e ficou mexendo nele para disfarçar, faculdade deveria ser sinônimo de liberdade, no entanto ele a estava tratando como se estivesse no jardim de infância.
Quando o último aluno saiu, Thomas parecia distraído, então Kate juntou toda a coragem e dignidade que ainda lhe restava e se levantou seguindo até a mesa dele, preparada para o confrontar.
— O que queria falar comigo, senhor Wolf? Será que não basta de humilhação por hoje?
— Por favor, Kate, chame-me de Thomas. Não respondeu a minha mensagem mais cedo. Sabe que não pode me evitar para sempre, não é? — Ele se levantou e deu a volta na mesa indo até ela. — Não quero te humilhar, Kate, muito pelo contrário.
— Uau! Que maneira de demostrar, hein? — ela falou ironicamente, no mesmo instante ele se aproximou dela do mesmo modo ameaçador que havia feito mais cedo.
— Não duvide de mim, Katherine, eu geralmente consigo o que quero — ele falou e sorriu de lado. Mesmo que aquilo soasse como ameaça, ela não conseguia ver dessa maneira, a única coisa que conseguiu pensar foi: “Ele me quer?”, ela parou de pensar nisso e deu um passo para trás para raciocinar direito.
— Não torne isso um joguinho — ela respondeu de um modo ríspido. — Qual é o seu problema? Uma hora me trata super bem, outra hora me destrata e age como se eu fosse uma qualquer insignificante que cruzou o seu magnífico caminho. Decida-se. — Ela precisou juntar toda a coragem que tinha para falar aquilo e ele parecia surpreso.
— Eu já me decidi e quero você Katherine, pelas razões óbvias que um homem quer uma mulher ou por outras razões que ainda não sei, mas quero — ele confessou e ela ficou congelada em um canto. Então era verdade, Thomas realmente a queria, mas seria apenas para diversão? Como um homem quer pegar em uma balada e no outro dia agir como se nada tivesse acontecido?
— Não sou esse tipo. Se você realmente pensa desse modo, não deveria estar me procurando — ela falou de modo decidido. Ele poderia ser o homem mais lindo do mundo, poderia ser o Christian Grey, mas ninguém a reduziria daquele modo.
— p***a! Você entendeu errado. Eu não sou esse tipo de homem, não quero me aproveitar de você. Eu te quero. Simples assim — ele falou com raiva e voltou a se aproximar dela. — Eu estou disposto a arriscar meu emprego, mas eu te quero.
— Não fale besteiras, Thomas, nós nos conhecemos a apenas, o quê, dois dias? Como pode me querer? — ela perguntou e se afastou novamente, parecia um tipo de perseguição em que ela tentava se afastar e ele se aproximava.
— Não há tempo para se sentir atração, Katherine. Diga-me que não te atraio também? — ele perguntou de um modo ameaçador. “Sim, você me atrai muito”. Ela pensou, mas não responderia isso.
— Eu preciso ir — ela apenas falou.
— Não pode fugir de mim para sempre, você também me quer e sabe como vejo isso? Basta eu me aproximar para você ficar nervosa, seus olhos brilham ao me ver. Não tente esconder — ele falou essa última parte ao ver que ela havia abaixado o rosto. Então tocou o rosto dela fazendo-a olhar para ele.
— Bem, posso tentar te evitar. — Ela afastou a mão dele, mesmo querendo que Thomas continuasse a acariciar seu rosto, a lógica dele estava certa, de um modo errado, mesmo que fosse difícil resistir a um homem como ele, o que convenhamos era como resistir a um irmão Salvatore da vida, Kate decidiu que resistiria não sabia se conseguiria por segundos, minutos, horas, dias ou meses, mas tentaria. — Você não sabe o que está falando — mentiu.
— Não vou me afastar de você e você sabe disso. — Ele deu um beijo na bochecha dela, perto demais da boca. — Não consigo me afastar e não quero me afastar. É a primeira vez em anos que consigo sentir uma atração como essa por alguém, não posso simplesmente ignorar isso. E você também não.
Ela suspirou sem saber o que falar, ainda perplexa pela sensação que o seu beijo causara nela.
— Pode ir — disse ele, não parecia satisfeito. — Eu vou continuar tentando. Eu te vejo mais tarde?
— Sim. — Aquilo saiu quase sem querer, ela pôs as mãos na boca e tratou de se corrigir logo. — Quer dizer, não. Não sei. — Estava confusa, como acontecia com frequência nesses dois últimos dias.
— Perfeito. — Ele sorriu cinicamente. — Pense em tudo o que eu te falei.
— Não há o que pensar — ela respondeu e tratou de sair o mais rápido possível da sala tentando não abrir um enorme sorriso, estava feliz e confusa ao mesmo tempo, uma proposta como a dele era realmente tentadora. O que havia de errado em ficar?
“Tudo Katherine, está tudo errado”, ela respondeu em pensamento.
Desceu as escadas praticamente correndo, precisava ir até um lugar bem longe dali e para poder pensar com mais clareza. Quando parou em frente ao estacionamento deu de cara com o misterioso carro preto novamente, sentiu todo o seu corpo se enrijecer e preparou-se para correr dali quando a porta se abriu revelando alguém que ela não esperava ver.