Capítulo 2

3007 Words
Gabriela    Acordo com o sol entrando por uma pequena a******a na cortina que não devo ter fechado direito. Estava tão cansada que nem apareci para jantar na noite passada. Dormi como uma pedra. Sento na cama e noto que estou coberta e sem meus sapatos. Busco pela memória, mas não me lembro de tê-los tirado ontem. Esfrego os olhos e sem outra opção levanto e vou tomar um banho para despertar completamente. Visto algo confortável e quentinho para ir trabalhar. Prendo o meu cabelo em um r**o de cavalo e passo um gloss para dar um pouco de cor aos meus lábios e dar um ar de saúde. Calço uma sapatilha preta que é bem confortável e deixo o quarto seguindo para a cozinha.    _ Bom dia. – Cumprimento o casal ao encontra-los sentados a mesa tomando o seu café da manhã.     _ Bom dia, minha flor. – Cida fala de forma carinhosa. – Senta para comer um pouco. Aposto que está morrendo de fome. Nem jantou ontem de tão cansada. – Ela diz me entregando uma xícara de café preto forte e Dante me serve uma fatia de bolo de fubá. – Fui até o seu quarto ontem para te chamar e estava dormindo tão pesado que tive pena de acorda-la. Tirei o seus sapatos para que ficasse mais confortável e te cobri por causa do frio.    _ Obrigada. – Agradeço um tanto sem graça por estar dando trabalho a eles. - Não precisava disso. - Ela faz um sinal de que não foi nada com a mão e beberica um pouco do liquido fumegando em sua xícara.    _ Vou deixar vocês aqui terminando o café e vou correr para encontrar com o menino André nas baias. - Dante fala deixando sua xícara sobre a mesa e pega seu chapéu de peão. - Ficamos de ver como estão os cavalos e o veterinário vem para vacinar alguns e consultar as éguas que estão prenhas. – Diz beijando o topo da cabeça da mulher. - Tenham um bom dia de trabalho. - Deseja me acenando antes de deixar a casa.    _ Bem. - Cida suspira levando a louça suja do marido para a pia. - Eu já servi o café da manhã na casa grande. Eles costumam comer bem cedo. A dona Camila vai passar o dia junto com a dona Bruna, a esposa do seu André, lá no escritório organizando questões da casa. As crianças já devem ter saido para a escola e só vão chegar ao meio dia. O seu Antônio, o menino André e o menino Giovanni ficam no galpão trabalhando e m*l aparecem no decorrer do dia e só aparecem no horário do almoço. Eles estão trabando muito por causa da colheira que está bem perto. – Ela explica e afirmo. – Sua função hoje vai ser arrumar os quartos do andar de cima e quando terminar vai me ajudar a preparar e servir o almoço para os patrões. – Afirmo mais uma vez deixando a xícara sobre a mesa.    Termino de comer e ajudo a retirar a mesa. Então sigo Cida até a casa grande. Antes de começar a cumprir minhas funções ela faz um pequeno tour pela casa. Passando rapidamente pelos cômodos bem decorados. Depois pego os materiais de limpeza na área de serviço e vou primeiro para o quarto das gêmeas e fico simplesmente encantada com o que vejo.    O quarto parece ter saído de uma revista . O lugar é todo decorado nas cores rosa e lilás. Tem uma cama de cada lado com cobertas nas cores lilás e rosa que acredito ser para diferenciar as coisas das gêmeas. Paro de reparar nos detalhes e começo a limpar e organizar tudo. Faço as camas, guardo alguns brinquedos que estavam espalhados e por fim abro as janelas para o ar puro entrar. Depois vou para o quarto do filho mais velho do senhor André. Aqui a decoração já é toda em azul marinho e vermelho. Tem prateleiras com carros de corrida em miniatura e algumas bolas de futebol no chão. Além de alguns troféus de pequenos torneios de futebol enfeitando a estante. Também faço sua cama, guardo as bolas no canto, arrumo a escrivaninha e abro a janela para entrar ar.    Faço o mesmo no quarto do seu Antônio e da dona Camila. Me prendo um instante olhando uma foto do casal com toda família. Eles formam uma linda família. Com um suspiro devolvo o porta retrato ao seu lugar e vou até o quarto o seu André e da dona Bruna e arrumo tudo. Deixo o quarto do seu Giovanni por último. Entro sem bater. Porque, segundo a Cida, todos estavam fora e só iriam volta na hora do almoço. Mas não é bem o quarto vazio que encontro. Dou de cara com um homem usando apenas a calça e sapatos deixando o abdômen definido a mostra. Ele para de secar os cabelos quando nota minha presença.    _ Desculpe, s-senhor. – Gaguejo um pouco dando um passo para trás. Sinto meu rosto queimar enquanto ele ri da minha cara de susto. – Pensei que não tivesse ninguém no quarto. Desculpe. Eu volto quando o quarto estiver vazio. - Falo nervosa deixando as coisas cairem no chão.    _ Tudo bem. – Ele fala vestindo a camisa ainda sorrindo. Devo estar realmente bem engraçada. – Pode ficar à vontade. Já estava de saída. – Diz ao passar por mim e sinto o perfume amadeirado no ar. Fico procurando um lugar para me esconder depois dessa cena constrangedora. Não acredito que acabei de passar por isso no primeiro dia de trabalho. Tomara que isso não me prejudique.    _ Se concentra, Gabriela. - Digo em voz alta. A imagem dele sem camisa me vem novamente a cabeça e devo admitir que ele é muito bonito. – Foco. – Peço a mim mesma quando percebo onde os meus pensamentos querem me levar. – Você veio aqui para trabalhar e não ficar de olho no corpo de um dos seus chefes. – Me ponho a trabalhar com um suspiro.    Termino de arrumar todo o andar de cima e vou para a cozinha ajudar Cida com os preparativos do almoço. As doze em ponto arrumo a mesa. Assim que termino de arrumar os talheres ouço os passos paressados das crianças e logo elas estão na sala de jantar. As primeiras a entrar são as gêmeas. Elas são lindas e idênticas. Estão usando o uniforme do colégio e o mesmo penteado. Não sei como os pais conseguem diferenciar quem é quem. Já o mais velho não se parece muito com elas. Imagino que seja porque ele foi adotado. Mas também é muito bonito. Em seguida entram uma senhora de meia idade de cabelos claros e uma jovem loira. As duas riem uma para a outra. Parecem ter muita afinidade.    _ Mamãe! Vovó! – As gêmeas falam juntas e acho uma graça. Acho que nunca estive tão próxima a pares de gêmeos identicos. - Estava com saudades. - Uma delas fala ainda envolvendo a cintura da mais velha.    _ Oi, meus amores. – A mais jovem, que acredito ser a dona Bruna, fala beijando as meninas e faz o mesmo com o garoto. Dá para notar que ela não faz diferença entre ele e as irmães mesmo não sendo seu filho biológico. – Como foi o seu dia, querido? – Pergunta o abraçando.    _ Legal. Nada diferente do normal. – Responde com um dar de ombros. – Estou com fome, mamãe. – Fala tirando a mochila das costas e largando em uma das poltronas da sala de estar. - O almoço vai demorar muito.    _ Também quero saber, filho. – Um homem alto aparece acompanhado do que encontrei seminu a umas horas atrás. Ele me lança um sorriso ao me ver parada na sala de estar e desvio os olhos sentindo o rosto começar a queimar novamente. Cida parece não notar o meu constrangimento e agradeço. Junto a eles estava também um homem mais velho que imagino que seja o seu Antônio. Os três têm os olhos claros parecidos. Mas o tom dos cabelos é castanho igual o da mãe. André e Giovanni parecem ser cópias dos seus pais.    _ Já pode servir o almoço Cida. – A senhora fala com simpatia. Deve ser a matriarca da família.    Estava assistindo tudo isso em um canto da sala de jantar esperando as ordens de Cida. Ela faz um sinal para que a ajude a servir os mais velhos enquanto as crianças correm para lavar as mãos. Não demora e o pequeno batalhão está de volta e se acomoda em seus lugares.    _ Quem é essa mocinha linda, Cida? – Dona Camila pergunta quando começo a servir suco de maçã nas taças.    _ Mas que cabeça essa minha. – Diz dando um leve tapa na testa. – Essa é a Gabriela. - Fala passando o braço sobre meu ombro. - Ela veio de Florianópolis me ajudar por indicação do meu sobrinho. Comentei com a senhora que precisava de alguém para me ajudar e a senhora me deu liberdade para contratar uma ajudante.     _ Agora me lembro. - Fala me sorrindo. - Que bom que conseguiu alguém tão rápido. – Diz a Cida que afirma e voltra a sua função de servir as crianças. – Seja bem-vinda Gabriela. – Dona Camila me fala simpática. Apenas maneio a cabeça em resposta e volto para o meu trabalho. Logo as crianças começam a falar ao mesmo tempo sobre sue dia na esconla e fico feliz de não ser mais o foco da conversa. Odeio quando sou o centro das atenções.     Quando todos terminam retiro a mesa com a ajuda de Cida. Fico encarregada de lavar toda a louça e Cida seca e guarda em seus devidos lugares. E só depois que tudo está em ordem é a nossa vez de comer. Como tudo já estava adiantado aproveito para dar uma pequena caminhada para arejar um pouco, mas tudo o que consigo é reviver o que passei nos últimos dois dias. Fecho os olhos e quase posso sentir as mãos de Damião em torno do meu braço tentando me bater e seus gritos parecem ecoar em minha cabeça. Estava em uma parte tão profunda dos meus piores pensamentos que quando o celular vibra em meu bolso quase salto para trás de susto. Pego o mesmo tentando regular a respiração e vejo que se trata de uma mensagem. Abro apressada ao ver que é de Hélio. Minhas mãos estão trêmulas e o coração acelerado com as mil hipóteses que se formam em minha mente sobre o motivo da mensagem.   Hélio: Só estou mandando essa mensagem para avisar que seus tios estão colocando fotos suas em jornais locais e na internet. Não entendo o porquê de tanto esforço. Mas não desconfiam que te ajudei e não fazem ideia de para onde você fugiu. Se alguma coisa mudar te aviso. Por favor continue mandando notícias.    _ Meu Deus! - Exclamo passando as mãos no rosto tentando manter a calma. - Por que será que eles ainda estão me procurando? - Sussurro com as mãos na cabeça.     Não os entendo. A vontade deles sempre foi se livrar de mim. E então quando conseguiram sem fazer o mínimo esforço ficam atrás de mim. Isso não faz o menor sentido. Sou tirada de meus pensamentos quando escuto as vozes das crianças vindo em minha direção. Junto com elas vem o tio bonitão. Meu coração chega a errar uma batida ao vê-lo e isso me assusta. Nunca sentir algo parecido antes. Respiro fundo e tento não demonstrar meu nevorsismo.    _ Vocês meninas são muito fracas para a gente. – Matheus diz para a irmãs que parecem revoltadas com o discusso machista do irmão mais velho.    _ A gente sabe jogar melhor do que você. – Acho que é Maia a falar usando as mãos para enfatizar sua revolta. – Acontece que sempre joga com o tio e ele é maior e mais forte. O que torna o jogo injusto. – Argumenta com certa razão.    _ Apoiada. – Marina fala cruzando os braços parando ao lado da irmã. – Se a gente tivesse outra garota maior no nosso time vocês iam comer poeira.    _ Já chega dessa briga. – Giovanni fala enérgico e depois sorri ao me encontrar olhando para eles. No mesmo instante sinto meu rosto queimar com o contato visual. – Senhorita Gabriela. Sabe joga futebol? – Pergunta me pegando de surpresa ao se aproximar de onde estou.    _ Só joguei quando tinha aula de educação física na escola porque era meio que obrigatório. – Respondo meio confusa com a pergunta.    _ Problema resolvido. – Diz passando a mão por meu ombro com um largo sorriso e por um segundo sinto minhas pernas bambas. O que está acontecendo comigo?! – A Gabriela vai fazer parte do time das meninas. – Fala de forma simples. - Assim o jogo fica mais equilibrado.    _ Mas acontece que estou em horário de trabalho, senhor Giovanni. – Tento me livrar usando uma desculpa. Não quero correr o risco de ser despedida justo no primeiro dia por estar brincando quando deveria estar fazendo algo dentro da casa. Mas as carinhas tristes das duas meninas me fazem mudar de ideia. – Está bem. Mas tem que ser rápido. Tenho que voltar para ajudar a Cida com os preparativos do jantar. – Aceito e as meninas comemoram trocando um toque que acho engraçado.    _ Ok. – Matheus fala colocando a bola no centro imaginário do campo improvisado nos fundos da casa grande. Enquanto isso o tio arruma as barras improvisadas com algumas pedras. – Quem chegar a três primeiro ganha. – Me informa e afirmo. Tiro a sapatilha para não correr o risco de me machucar e me junto a eles.    As garotas já tinham um plano de jogo armado e apenas o sigo. Depois de tirar a sorte e ganhar no par ou ímpar ficamos com a bola e escolhemos o lado. A partida logo começa e quase sofremos um gol. Maia é muito boa e rápida. Não demora muito a tomar a bola e faz o nosso primeiro gol.     _ Vamos reagir moleque. – Giovanni fala bagunçando o cabelo do sobrinho. O jogo recomeça e em ums pequena distração eles empatão conosco.    A disputa é acirrada e termina em três a dois para nós. As meninas gritam e comemoram a vitória. Me abraçam e pela primeira vez em muitos anos me sinto estranhamente em casa. Sento um pouco para respirar e calçar os sapatos. Meu peito sobe e desce depressa pelo recente esforço e alguns fios de cabelos grudam em meu pescoço por causa do suor. Giovanni senta ao meu lado todo suado e vermelho por conta da corrida.    _ Você joga bem. – Diz secando o rosto com as costas da mão. – Está oficialmente convocada para a próxima partida. Dessa vez vamos acabar com vocês. – Sorrio desfazendo o r**o de cavalo do cabelo e faço um coque.    _ Meninos vamos lanchar! – Cida grita da varanda. Me levanto em um pulo me dando conta de que preciso trabalhar. – Gabriela me ajuda, por favor.    _ Claro. – Sorrio sem graça e sigo para a cozinha com as crianças e ele. Mesmo sem olha-lo diretamente sei que está me olhando.    Depois do lanche Giovanni sobe para tomar um banho. As crianças vão fazer as suas lições de casa e eu fico na cozinha junto com Cida preparando o jantar. As oito em ponto servimos a refeição. As crianças me sorriem e apenas retribuo simpática. Não preciso de muito para saber que são boas pessoas. Logo se vê que não são meninos mimados como iumaginei que seriam.    _ Mamãe. Sabia que a Gabriela joga muito bem? – Marina fala e fico vermelha ao ganhar os olhares de todos. Detesto ser o centro das atenções. Passei tanto tempo fingindo ser invisível que é estranho ser notada por todos a minha volta. – Ela nos ajudou a ganhar do tio e do Matheus.    _ Pois é. Mas não vai ficar assim. – Giovanni diz trocando um toque com o sobrinho e ganha os olhares de toda a mesa. – Amanhã teremos uma revanche no mesmo horário, senhorita Gabriela. – Fico estática pelo convite. Pensei que ele estava brincando sobre a tal revanche.    _ Ninguém nunca ganhou desses meninos. Queria estar aqui para ver mais essa derrota. – André fala e recebe uma careta em resposta do irmão. Todos da mesa riem da pequena implicancia entre irmãos.    _ Não sabia que era uma atleta, Gabriela. – Dona Camila comenta devolvendo a taça de vinho a mesa.    _ E não sou. – Digo sem graça unindo as mãos em frente ao corpo. – Foi apenas uma... – Começo a me justificar, mas sou interrompida.    _ Grande partida. – Maia toma a frente animada. – Agora sim o nosso time está completo. – Também troca um toque com a irmã e todos me sorriem. - Nós formamos um time imbatível.    _ Quero assistir a próxima partida. – Bruna diz diretamente para mim e afirmo sem graça com um movimento de cabeça. Eles ainda comentam um pouco mais sobre o pequeno jogo dessa tarde enquanto voltam a comer. Então a conversar se perde com comentários sobre o vinho e os preparativos da colheita.    Recolho e organizo tudo após todos terminarem. Depois que tudo está devidamente arrumado volto para casa com Cida. Tomo um banho rápido e belisco alguma coisa antes de deitar. A tosse começa a me atacar e procuro o meu remédio na bolsa. Mas não o encontro em nenhuma parte. Na certa o deixei para trás por conta da pressa da fuga. Também, fazia tempo que não ficava cansadae tinha uma crise de bronquite. Provavelmente isso é o resultado da mudança de clima e da partida dessa tarde. Sem o remédio o jeito é tentar dormir assim e pedir que a crise não piore ou terei que ir ao médico e não quero dar trabalho a essas pessoas.
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