Capítulo 1

1254 Words
Olhando pela imensa janela do prédio mais alto da cidade do Rio de Janeiro, tive a resposta para todas as minhas dúvidas, elas foram sanadas, mas com rigor. Realmente necessitaria de um laço matrimonial para enfim conseguir o empréstimo que salvaria a empresa da família Andrade, da eminente ruína. Durante anos eu ouvia que esse maldito dia chegaria, todavia não achava que justo na vez de assumir sozinho os negócios da indústria ferroviária, aquela que já foi conhecida nacionalmente, acumulando tantos prestígios ao longo dos anos que sucedeu a liderança do meu bisavô, fosse um dia chegar a beira da falência total. Aconteceu que depois de cair nas mãos dele, acarretou em inúmeros prejuízos, nos trazendo à beirada do abismo. Tantas famílias dependiam disso aqui para sobreviver... No entanto, a brilhante advogada dessa empresa que m*l cheguei a gerenciar, me diz exatamente o que a sua capacidade mental conseguiu arrumar. Joice vinculou nossos interesses a uma partida arriscada. O magnata das empresas alimentícias foi convencido por esta, aqui presente, a juntar nossos patrimônios. Com tudo, ele somente fazia negócios com homens seriamente casados. A Advogada bem que tentou fazê-lo mudar de postura, mas o cara era muito antiquado. E quando recorriam a sua ajuda, tinham que dançar conforme a música, por assim tocada. Nem mesmo quis ouvir quando foi informado que eu sou um homem de trinta e cinco anos, viúvo, tendo uma filha de cinco aninhos pra criar. Isso não foi capaz de comover o velhote que pagaria por cada centavo emprestado. Porém ele é o único nessa cidade que pode me ajudar, não tinha mais a quem recorrer. Enquanto analisava categoricamente a magnitude dessa condição estapafúrdia, bolava um plano silenciosamente em minha cabeça. — Até quando terei que ficar aqui ouvindo as engrenagens do seu cérebro tentando arrumar uma solução lógica para isso? Salvador. Disse-me sem uma gota de compreensão. A mulher de terninho era casca grossa, tão gélida que isso era mostrado até em quatro paredes. Fomos pra cama uma única vez. Um erro grave, que só fui capaz de cometer pela carência deixada pela minha Deise. Este pecado ocorreu assim que cheguei a sentar na poltrona da presidência. Depois da morte daquele ser tirano que me pôs na terra. Seu falecimento não foi sentido pelos seus empregados, pois ao chegar aqui fui recebido com festa. Éramos opostos, puxei mais o lado da minha mãe, e a do meu avô adquiri todo o conhecimento necessário para comandar, se preciso for, duramente. Por isso, antes de partir deixou o legado de levar o negócio da família de volta ao topo, negócio esse que seu próprio filho tentou destruir com as próprias mãos. Levando o nome da nossa família, e o prestígio, diretamente para o desgaste na sociedade carioca. Nossos amigos viraram as costas para nós. O pai de família viajava, gastava horrores com prostitutas e ainda por cima desviava dinheiro. Era um cretino, sua morte foi um castigo por ter se achado com o rei na barriga. — Bom... Se te serve de consolo... — Pela visão periférica notei que ela se levantou ajeitando a peça de cima, como se o seu decote fosse algo tentador pra mim. — Nem. Tente. Se. Aproximar. Não estou pra safadeza! Joice. — Que chato, o CEO, nunca está. Não é mesmo? Salvador. — Sua voz melosa me irritava. No entanto acatou minha vontade. — Precisa relaxar mais, está muito tenso. Posso ver o peso dos seus ombros daqui... Me virei totalmente pondo as mãos nos bolsos da calça social. — Não é pra menos, queria o quê? — Soltei minha insatisfação. — Gostaria que eu dançasse e sapateasse feito um boco diante de um problemão que o meu antecessor me deixou de presente?! — Calma. — Sentou na beirada da mesa, acomodando sua generosa nádega nela. — Só desejo te fazer feliz. Duvidei disso. — Aposto que tem um plano nessa sua cabecinha doente. Ela estreitou os olhos, esboçando aquele sorriso triunfante nos cantos dos lábios. A mulher sabia ser sensual até quando era uma peste no meu pé. Mas tantas tentativas de sedução não fizeram-me cair na sua armadilha novamente. — Te trouxe a salvação da sua empresa de família, chefe. Agora te trago uma esperança para que todas as suas dores de cabeça sumam. — Ergueu um dedo. — De vez. — Completou. Inquieto apoio meu peso numa só perna, revezando a cada segundo entre eles. Nossos olhos travam uma batalha silenciosa. Joice se divertia enquanto arrumava a coluna, jogando os p****s pra frente para melhorar, segundo ela, minha visão. Essa mulher não entendia que eu não sentia t***o por ela, mas sempre dava um jeitinho sacana de me fazer olha-la. — Vai demorar pra responder ou tá difícil? — Gosto de te deixar nervoso. — Deu umas risadinhas. — Pois bem. É simples resolvermos essa pendência, Salvador. Casa-se comigo, sou a mulher perfeita pra você chefinho. Ela não era a mulher ideal, e tinha plena convicção disso. — Esqueceu que a Celinha te odeia com todas as forças? Lembra quando te levei pra minha mansão para efetuarmos aquele último contrato? A advogada ficou nitidamente zangada pelo meu comentário. p***a, aquele dia foi um desastre, e ela precisou sair da minha casa usando roupas masculinas... enquanto minha linda diabinha ria debaixo da escada. Teria rido junto dela, se não fosse tão grave o ocorrido. — Sua criança é uma peste! Salvador. — Falou olhando dentro dos meus olhos. Embora reconhecesse que Célia Andrade havia sido criada por boas babás, nunca chegaram a ser como uma mãe para ela. Uma que ela nunca teve o prazer de ter. Sua matriarca foi assim que ela nasceu. O coração foi fraco demais para suportar uma gestação tão complicada. Eu amava minha esposa, como jamais havia amado outra mulher antes. Perdê-la foi muito doloroso pra mim. — Por favor, não fale assim da pequena. Sabe o motivo dela ser assim. — Justifiquei-a. — Para de se enganar Salvador, aquela puxou o avô... — Retira o que você disse! — Avancei nervoso, pegando-a pelos braços, fazendo a mulher rígida esbugalhar os olhos pintados de rímel bem forte. — Está louco? Quer tomar processo no r**o? Na hora caiu a ficha... A soltei de imediato. Afinal, as pessoas possuíam dois lados: o bom e o perverso. Essa, acho que no fundo só tinha uma versão. Pensei. — Desculpe. — Dei dois passos para trás, olhando-a se divertindo às minhas custas novamente. — Tá vendo Salvador? Você precisa de mim da mesma forma que eu... — Deu um salto da mesa, vindo ao meu encontro. E do nada andou dando voltas em torno da minha pessoa. Seu olhar frio e calculista não me abandonou. — Vamos lá, sem mais delongas porque preciso revisar umas papeladas. Aceita se casar comigo? Respirei fundo antes de vê-la parando bem diante de mim. — É... — Isso! — Pegou na minha gravata, exibindo o rosto de predadora. — Não. Vou. Me. Casar. Com. Você. Sua expressão de vencedora murchou na hora, soltou meu acessório explodindo de raiva. — Mas... Cheguei perto, obtendo mais da sua fúria. Era perigoso mexer com um tipo dela, mas eu adorava brincar com fogo. — Prefiro mil vezes me casar com a p**a mais devassa desta cidade, do que me unir a uma cobrinha feito você. — Sua boca se abriu de espanto. Me afastei arrumando a gravata que ela tinha desarrumado. Totalmente satisfeito desse embate, a deixo ali, remoendo seus planos frustrados. Enquanto os meus se renovaram... Talvez.
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