Eu havia combinado com Carol, que as 06:30 ela deveria estar lá em casa, e assim que ela chegou, pontualmente, eu passei as instruções e enviei uma mensagem para Lemos, avisando que eu logo estaria por lá e dirigi rapidamente em direção ao condomínio onde ele morava.
- Bom dia - eu disse assim que ele abriu a porta.
- Bom dia - ele sorriu, vestia calças de moletom e meias, sem camisa e logo estava me abraçando apertado - não faz ideia do quanto eu estou feliz que esteja aqui ele diz pegando minha bolsa da minha mão e largando sobre o sofá.
- Eu também estou feliz de estar aqui - tirei os sapatos de salto e logo estava pendurada em seu pescoço, beijando-o, parecia que todas as minhas inseguranças dissipavam-se no abraço dele.
Logo eu entrei e estava sentada e uma das banquetas da cozinha, enquanto ele caminhava de um lado para o outro preparando o nosso café da manhã:
- Como as meninas reagiram à mudança? - ele perguntou de repente.
- Bem - eu respondo - melhor do que eu imaginei que seria, sabe? Parece que sabiam que algo não estava bem.
- Deve ser complicado - ele diz - quando os meus pais se separaram, eu não sabia o porque e ai, por um tempo, fiquei pensando que eu tinha um pouco de culpa.
- Eu não sabia que os seus pais eram separados - falei distraída.
- Sim - ele riu - eu tinha uns sete anos... Minha mãe pediu o divórcio e saímos de casa, eu só via meu pai às vezes, e somente com dezesseis anos que eu soube o que aconteceu de fato.
- Nossa, deve ter sido difícil...
- Bastante, mas eu era bocó - ele riu - as meninas são espertas...
- E sabem bem o que aconteceu - eu digo - espero que elas consigam digerir isso.
- Vão conseguir - ele aproximou-se e me abraçou - e você? Já está legal com isso?
- Minha mãe, bebendo Jack Daniels, diria "o que não tem remédio, remediado está" - eu respondo, mas penso que talvez, eu poderia ter dado uma resposta mais sensível, tendo em vista que era o cara com quem eu andava dividindo a cama nos últimos dias.
- Concordo com ela - ele beija minha testa - sabe, eu fiquei pensando ontem, enquanto estava tratando o pulso...
- No que? - a pergunta saiu sem que eu pensasse, eu não queria pensar no que estava acontecendo.
- Tem certeza de que é isso o que você quer? O divórcio? - ele me encara nos olhos.
- Sim - eu respondo - eu estava decidida a me divorciar desde que eu soube da gravidez da amante dele, acho que nada que ele possa fazer ou falar muda isso - eu sorrio - não estou usando você para passar meu tempo ou me divertir, bonitão...
- Só fico com medo de estarmos curtindo e eu cuidando de você, e você voltar para ele - ele me beija - acho que eu aceito que você encontre outro cara, que você queira ficar sozinha... Mas não sei se eu aceito te ver voltando para quem te fez m*l.
- Você é fofo demais - eu beijo suas bochechas - estamos bem, certo? Eu só não sei se eu quero pensar sobre isso...
- Eu não quero que pense! - ele ri - Quero que aproveite, quero que deixe eu cuidar de você...
Aproveitamos cada segundo do nosso curto tempo juntos. Eu o deixei no CT, e segui para a Future, e quando olhei no relógio, estava atrasada, eram oito e trinta e nove. Corri o mais rápido que eu pude pelo corredor, e acho que meu semblante leve e satisfeito denunciava os motivos de meu atraso.
- Bom dia - Marcelo salta de sua sala assim que me vê passar e começa a me seguir - seleção de novos estagiários às dezesseis - ele diz - a cozinha está pronta, e está ótima, Henrique telefonou e disse que vai se atrasar uns dez minutos.
- Obrigada, Marcelo - agradeço sorrindo - não sei o que seria de mim sem você.
- Tudo certo com as meninas? - ele pergunta - Vicente está esperando por você tem uns quinze minutos...
- Perfeito, elas estão ótimas, obrigada - eu caminho para a minha sala - Bom dia - digo assim que entro e meu sócio me encara sorrindo - desculpe pelo atraso.
- Eu não marquei hora - ele ri - excelente dia, pelo visto.
- Maravilhoso - brinco.
- Motivo do atraso... Contratempo ou tem outro nome? - ele pergunta.
- Tem nome e sobrenome - eu respondo - mas eu não posso falar disso no momento.
- Devo me preocupar? - ele aproxima-se - Sei que teve mais um encontro com nosso parceiro comercial...
- Não precisa se preocupar - eu respondo - não tem nada a ver com o Henrique.
- Perfeito - ele suspira - vai estar onde na véspera da nossa viagem?
- Aqui, as meninas vão estar com o Pedro...
- Tudo certo? - ele questiona.
- Aparentemente estava, mas um advogado amigo do advogado dele esteve aqui - eu reviro os olhos - aparentemente havia uma cláusula no contrato que ele assinou que permitia uma investigação detalhada dos bens e direitos, afim de compreender se o acordo era conveniente... - só tenho medo de com isso, perder parte das minhas ações...
- Então, eu e Menphis acabaremos por vender parte das nossas, afim de que você esteja em uma posição confortável e de decisão, mesmo que Pedro resolva ser um indigesto, encontraremos uma saída.
- Tem certeza? - pergunto.
- Sim - ele responde - eu e o velhote conversamos naquele dia que o Pedro chegou alteradinho, ele está inclusive disposto a vender mais da metade do que tem, apenas para garantir que você consiga manter a sua posição, e ai, eu vendo o suficiente para que você e eu tenhamos a mesma quantidade...
- Perfeito - eu respiro aliviada - muito obrigada.
- Não agradeça - ele sorri - Henrique vai chegar em alguns minutos, falei com ele há pouco.
- Sim - eu coço a cabeça, preciso trabalhar - conversamos ontem à noite.
- Eu soube, soube por ele, que falou "ela está okay com tudo, então eu tenho que estar" - ele da ombros - acho que nosso rapaz pode estar confuso.
- Ele está - eu digo e esfrego o rosto com as mãos - não vou negar, eu estou também... Estive... Mas não existe, Vicente, nenhuma possibilidade, eu conheci uma pessoa.
- Nossa - ele bateu palmas.
- E eu estou bem com isso, nunca pensei que eu estaria, mas eu estou.
- Isso para mim é suficiente - ele sorri - vou te deixar trabalhar, o Armando vai subir em breve.
Minha manhã parecia que não renderia em nada, mas o atraso de Armando seguido de um atraso de Henrique fizeram com que boa parte do meu trabalho acumulado sumisse da mesa, e quando Henrique chegou, quase as dez horas, com um semblante digno de pena, consegui trabalhar com ele e adiantar diversos pontos importantes para definirmos nossa rotina e método de trabalho, o que era importante. Ao fim da reunião, preciso perguntar o que está havendo:
- Tudo bem? - eu pergunto já recolhendo o material da mesa.
- Não muito - ele suspira - Sabrina e eu...
- Sinto muito - sem nem mesmo saber o que é.
- Complicado - ele diz - mas vamos nos acertar, vai ficar tudo bem - ele aproxima-se e me abraça - vejo você na sexta, na sede da HC.
Nos despedimos e corri para cara, peguei as meninas para que elas conhecessem o novo apartamento e pudessem começar a pensar sobre seus móveis e cores do quarto. Pedi que escolhessem cores e o projeto moveleiro ainda naquele dia, para que eu desse o okay para a empresa e a montagem fosse feita o quanto antes, eu queria ir para a minha nova casa, o pequeno apartamento ainda estava muito carregado de lembranças.
Durante a tarde, as meninas encontraram-se com primas por parte do pai em um dos shoppings e eu fui para a sede da Future realizar as entrevistas com os aspirantes a meus estagiários. No fim das contas, selecionei uma moça, Hellen, vinte e dois anos, estudante de administração, muito séria e aparentemente comprometida, a julgar pelo seu currículo e indicações de professores conhecidos.
Eu não via a hora do meu expediente chegar ao fim, minha cabeça começava a doer, a conversa com Henrique na noite anterior não me saia da cabeça e apesar de saber que eu ainda tinha muito o que fazer, o fato de poder fazer em casa, vestindo pijama me parecia realmente reconfortante, e assim que juntei meus pertences, percebi meu telefone celular tocando, Lemos:
- Oi - ele disse assim que eu atendi - tudo bem?
- Tudo bem e com você? - respondo, mesmo podendo dizer mil coisas eu consigo me ater ao que era necessário.
- Estou com saudades - ele diz - e a pé...
- Nossa - eu lembro que o deixei no CT pela manhã - quer uma carona?
- Não pela carona - ele ri - mas se você tiver uns minutinhos para a gente poder aproveitar juntos, melhor.
- Uhm - eu ronrono - uns vinte minutinhos eu tenho - lembrei do horário que terminaria a sessão de cinema das meninas.
- Para mim, é suficiente - ele diz - te espero.
E lá estava eu, minutos depois, aos beijos e amassos com Lucas, como se não precisasse me preocupar com nada como se minhas filhas não estivessem me esperando, como se nada mais importasse. Tudo era maravilhoso com ele, e os vinte minutos viraram quarenta e levantei da cama apressada quando percebi:
- Preciso ir buscar as meninas - eu disse procurando minhas roupas pelo quarto.
- No shopping? - ele pergunta.
- Sim - respondo - quer ir junto?
- Será? - ele me encara.
- Sei lá - dou ombros - vou comer algo por lá com elas e depois vamos passar no apartamento novo, podia ir conosco, como amigos - eu ri.
- Tudo bem - ele suspira e levanta da cama - mas é como amigos por que você está dizendo.
- É assim porque é tudo muito recente - eu respondo.
- Eu sei - ele passar por mim e me beija, pegando um jeans no closet para vestir.
- Eu já disse que você é bonito demais? - eu pergunto.
- Demais quanto? - ele devolve a pergunta rindo.
- Para me dar trabalho - eu respondo rindo: aquilo era o que meninos bonitos faziam, eles davam trabalho e eu sabia.