O meu atraso tem nome e sobrenome

1814 Words
            Eu havia combinado com Carol, que as 06:30 ela deveria estar lá em casa, e assim que ela chegou, pontualmente, eu passei as instruções e enviei uma mensagem para Lemos, avisando que eu logo estaria por lá e dirigi rapidamente em direção ao condomínio onde ele morava.  - Bom dia - eu disse assim que ele abriu a porta.  - Bom dia - ele sorriu, vestia calças de moletom e meias, sem camisa e logo estava me abraçando apertado - não faz ideia do quanto eu estou feliz que esteja aqui ele diz pegando minha bolsa da minha mão e largando sobre o sofá.  - Eu também estou feliz de estar aqui - tirei os sapatos de salto e logo estava pendurada em seu pescoço, beijando-o, parecia que todas as minhas inseguranças dissipavam-se no abraço dele.             Logo eu entrei e estava sentada e uma das banquetas da cozinha, enquanto ele caminhava de um lado para o outro preparando o nosso café da manhã: - Como as meninas reagiram à mudança? - ele perguntou de repente.  - Bem - eu respondo - melhor do que eu imaginei que seria, sabe? Parece que sabiam que algo não estava bem.  - Deve ser complicado - ele diz - quando os meus pais se separaram, eu não sabia o porque e ai, por um tempo, fiquei pensando que eu tinha um pouco de culpa.  - Eu não sabia que os seus pais eram separados - falei distraída. - Sim - ele riu - eu tinha uns sete anos... Minha mãe pediu o divórcio e saímos de casa, eu só via meu pai às vezes, e somente com dezesseis anos que eu soube o que aconteceu de fato.  - Nossa, deve ter sido difícil...  - Bastante, mas eu era bocó - ele riu - as meninas são espertas... - E sabem bem o que aconteceu - eu digo - espero que elas consigam digerir isso.  - Vão conseguir - ele aproximou-se e me abraçou - e você? Já está legal com isso? - Minha mãe, bebendo Jack Daniels, diria "o que não tem remédio, remediado está" - eu respondo, mas penso que talvez, eu poderia ter dado uma resposta mais sensível, tendo em vista que era o cara com quem eu andava dividindo a cama nos últimos dias.  - Concordo com ela - ele beija minha testa - sabe, eu fiquei pensando ontem, enquanto estava tratando o pulso...  - No que? - a pergunta saiu sem que eu pensasse, eu não queria pensar no que estava acontecendo. - Tem certeza de que é isso o que você quer? O divórcio? - ele me encara nos olhos.  - Sim - eu respondo - eu estava decidida a me divorciar desde que eu soube da gravidez da amante dele, acho que nada que ele possa fazer ou falar muda isso - eu sorrio - não estou usando você para passar meu tempo ou me divertir, bonitão...  - Só fico com medo de estarmos curtindo e eu cuidando de você, e você voltar para ele - ele me beija - acho que eu aceito que você encontre outro cara, que você queira ficar sozinha... Mas não sei se eu aceito te ver voltando para quem te fez m*l.  - Você é fofo demais - eu beijo suas bochechas - estamos bem, certo? Eu só não sei se eu quero pensar sobre isso...  - Eu não quero que pense! - ele ri - Quero que aproveite, quero que deixe eu cuidar de você...              Aproveitamos cada segundo do nosso curto tempo juntos. Eu o deixei no CT, e segui para a Future, e quando olhei no relógio, estava atrasada, eram oito e trinta e nove. Corri o mais rápido que eu pude pelo corredor, e acho que meu semblante leve e satisfeito denunciava os motivos de meu atraso.  - Bom dia - Marcelo salta de sua sala assim que me vê passar e começa a me seguir - seleção de novos estagiários às dezesseis - ele diz - a cozinha está pronta, e está ótima, Henrique telefonou e disse que vai se atrasar uns dez minutos.  - Obrigada, Marcelo - agradeço sorrindo - não sei o que seria de mim sem você. - Tudo certo com as meninas? - ele pergunta - Vicente está esperando por você tem uns quinze minutos...  - Perfeito, elas estão ótimas, obrigada - eu caminho para a minha sala - Bom dia - digo assim que entro e meu sócio me encara sorrindo - desculpe pelo atraso.  - Eu não marquei hora - ele ri - excelente dia, pelo visto.  - Maravilhoso - brinco.  - Motivo do atraso... Contratempo ou tem outro nome? - ele pergunta.  - Tem nome e sobrenome - eu respondo - mas eu não posso falar disso no momento.  - Devo me preocupar? - ele aproxima-se - Sei que teve mais um encontro com nosso parceiro comercial...  - Não precisa se preocupar - eu respondo - não tem nada a ver com o Henrique.  - Perfeito - ele suspira - vai estar onde na véspera da nossa viagem? - Aqui, as meninas vão estar com o Pedro...  - Tudo certo? - ele questiona.  - Aparentemente estava, mas um advogado amigo do advogado dele esteve aqui - eu reviro os olhos - aparentemente havia uma cláusula no contrato que ele assinou que permitia uma investigação detalhada dos bens e direitos, afim de compreender se o acordo era conveniente... - só tenho medo de com isso, perder parte das minhas ações...  - Então, eu e Menphis acabaremos por vender parte das nossas, afim de que você esteja em uma posição confortável e de decisão, mesmo que Pedro resolva ser um indigesto, encontraremos uma saída.  - Tem certeza? - pergunto.  - Sim - ele responde - eu e o velhote conversamos naquele dia que o Pedro chegou alteradinho, ele está inclusive disposto a vender mais da metade do que tem, apenas para garantir que você consiga manter a sua posição, e ai, eu vendo o suficiente para que você e eu tenhamos a mesma quantidade...  - Perfeito - eu respiro aliviada - muito obrigada.  - Não agradeça - ele sorri - Henrique vai chegar em alguns minutos, falei com ele há pouco.  - Sim - eu coço a cabeça, preciso trabalhar - conversamos ontem à noite.  - Eu soube, soube por ele, que falou "ela está okay com tudo, então eu tenho que estar" - ele da ombros - acho que nosso rapaz pode estar confuso.  - Ele está - eu digo e esfrego o rosto com as mãos - não vou negar, eu estou também... Estive... Mas não existe, Vicente, nenhuma possibilidade, eu conheci uma pessoa. - Nossa - ele bateu palmas.  - E eu estou bem com isso, nunca pensei que eu estaria, mas eu estou.  - Isso para mim é suficiente - ele sorri - vou te deixar trabalhar, o Armando vai subir em breve.              Minha manhã parecia que não renderia em nada, mas o atraso de Armando seguido de um atraso de Henrique fizeram com que boa parte do meu trabalho acumulado sumisse da mesa, e quando Henrique chegou, quase as dez horas, com um semblante digno de pena, consegui trabalhar com ele e adiantar diversos pontos importantes para definirmos nossa rotina e método de trabalho, o que era importante. Ao fim da reunião, preciso perguntar o que está havendo: - Tudo bem? - eu pergunto já recolhendo o material da mesa. - Não muito - ele suspira - Sabrina e eu...  - Sinto muito - sem nem mesmo saber o que é.  - Complicado  - ele diz - mas vamos nos acertar, vai ficar tudo bem - ele aproxima-se e me abraça - vejo você na sexta, na sede da HC.                  Nos despedimos e corri para cara, peguei as meninas para que elas conhecessem o novo apartamento e pudessem começar a pensar sobre seus móveis e cores do quarto. Pedi que escolhessem cores e o projeto moveleiro ainda naquele dia, para que eu desse o okay para a empresa e a montagem fosse feita  o quanto antes, eu queria ir para a minha nova casa, o pequeno apartamento ainda estava muito carregado de lembranças.                  Durante a tarde, as meninas encontraram-se com primas por parte do pai em um dos shoppings e eu fui para a sede da Future realizar as entrevistas com os aspirantes a meus estagiários. No fim das contas, selecionei uma moça, Hellen, vinte e dois anos,  estudante de administração, muito séria e aparentemente comprometida, a julgar pelo seu currículo e indicações de professores conhecidos.              Eu não via a hora do meu expediente chegar ao fim, minha cabeça começava a doer, a conversa com Henrique na noite anterior não me saia da cabeça e apesar de saber que eu ainda tinha muito o que fazer, o fato de poder fazer em casa, vestindo pijama me parecia realmente reconfortante, e assim que juntei meus pertences, percebi meu telefone celular tocando, Lemos: - Oi - ele disse assim que eu atendi - tudo bem? - Tudo bem e com você? - respondo, mesmo podendo dizer mil coisas eu consigo me ater ao que era necessário.  - Estou com saudades - ele diz - e a pé...  - Nossa - eu lembro que o deixei no CT pela manhã - quer uma carona? - Não pela carona - ele ri - mas se você tiver uns minutinhos para a gente poder aproveitar juntos, melhor.  - Uhm - eu ronrono - uns vinte minutinhos eu tenho - lembrei do horário que terminaria a sessão de cinema das meninas.  - Para mim, é suficiente - ele diz - te espero.                 E lá estava eu, minutos depois, aos beijos e amassos com Lucas, como se não precisasse me preocupar com nada como se minhas filhas não estivessem me esperando, como se nada mais importasse. Tudo era maravilhoso com ele, e os vinte minutos viraram quarenta e levantei da cama apressada quando percebi: - Preciso ir buscar as meninas - eu disse procurando minhas roupas pelo quarto.  - No shopping? - ele pergunta. - Sim - respondo - quer ir junto?  - Será? - ele me encara. - Sei lá - dou ombros - vou comer algo por lá com elas e depois vamos passar no apartamento novo, podia ir conosco, como amigos - eu ri.  - Tudo bem - ele suspira  e levanta da cama - mas é como amigos por que você está dizendo.  - É assim porque é tudo muito recente - eu respondo.  - Eu sei - ele passar por mim e me beija, pegando um jeans no closet para vestir.  - Eu já disse que você é bonito demais? - eu pergunto.  - Demais quanto? - ele devolve a pergunta rindo.  - Para me dar trabalho - eu respondo rindo: aquilo era o que meninos bonitos faziam, eles davam trabalho e eu sabia.  
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