Entro na sala e encontro o agente 35 sentado em uma cadeira, ao lado o 02 e o 07, eles são mentores, eles são os responsáveis pelos soldados de cada esquadrão.
Não pense que somos desorganizados, pois, não somos, sem ordem não tem crescimento e seria uma cobra comendo outra aqui dentro.
Eu era um vermelho, era bom no que fazia, por isso fui escolhido pelo meu chefe e estou onde estou. No cargo mais alto da organização.
O corvo não é eterno, mas muitos nem sabem quando um vai e outro vem, pois, somos treinados para ser quem somos e isso às vezes é horrível, pois sei que quando chegar a hora eu terei de escolher um, e passarei a ele a máscara e todos os ensinamentos que o meu antigo chefe me passou.
Acendo um cigarro o levando a boca, não gosto de fumar, mas o corvo fuma e isso eu não pude discordar. Acabei tendo de aprender a me virar com essa sporcizia (porcaria) na boca.
Apoio meu corpo na minha mesa, cruzando as pernas uma sobre a outra enquanto dou um trago naquilo. Dou duas batidas com o cigarro entre os dedos e o coloco no cinzeiro, me virando para o agente 35. Outra coisa que aprendi é a não ter sentimentos pelos meus agentes, hoje eles estão vivos, amanhã eu posso ter de matá-los, então não tenho amigos isso é algo tirado do meu vocabulário. O Corvo é uma alma solitária que vaga sem um passado. Mas o meu passado me persegue me fazendo ter pesadelos, com aquela cena maledetta de meus pais sem vida e a mulher que mais amei na vida com a arma apontada em minha direção. Eu não sei o que é ter um sonho, não sei o que é dormir direito a um bom tempo. Tudo culpa dela.
Tudo culpa daquela mulher do diavolo.
_ Agente 35 você sabe as regras.
_ Sim, chefe.
_ Eu não dei a ordem de execução e mesmo assim você a executou.
_ Ele mereceu. — sua voz é ríspida, mas ele sabe o que vai acontecer.
_ Ainda estava em investigação agente 35. Você tinha de esperar. — ele abre um sorriso de lado e me olha firme nos olhos.
_ Já faz um mês essa investigação chefe. E sabemos que não ia dar em nada. 57 tinha as costas quentes, ele já fez muita merda, e mesmo assim continuava respirando. Até parece que o chefe não sabia... — não deixo ele terminar de falar, seguro em seu colarinho o erguendo com apenas uma mão.
_ Eu sei de tudo que acontece aqui 35, e se ele estava vivo era por um motivo. E você sabe disso. — cada palavra sai da minha boca entre dentes, falo como um cachorro raivoso, cuspindo cada palavra na sua cara. Ele desfaz o rosto de surpresa e abaixa a cabeça, o solto com força e ele cai sentado na cadeira.
_ Perdão chefe. Eu passei dos limites.
_ Agora é tarde 35.
Saco minha arma e atiro na sua cabeça, sem piedade, sem segunda chance, ele errou tomando a frente de algo que era maior que ele.
A alguns dias estavam investigando o 57, fontes afirmavam que ele era um agente duplo, e por isso deixamos passar aquele problema entre os dois.
Agora com ele morto voltamos a estaca zero, se tinha um agente duplo, poderia ter mais e eles querer a minha cabeça. Ou apenas descobrir os alvos da minha lista e tentar passar a perna em mim.
_ 02 providencie dois novatos para assumir o lugar do 35 e do 57.
_ Sim, chefe.
_ Quero eles treinados essa semana, sem atrasos. — não espero ele responder e saio.
Volto para casa já passando das três horas da manhã, passo em meu escritório tomo duas doses de uísque Blanton's, preciso para conseguir dormir, sei que não vou conseguir porque aquela maledetta vai invadir os meus sonhos, e a cena se repeti todas às vezes, ela tentando me matar e eu a mato.
Subo as escadas indo em direção ao meu quarto, mas assim que passo pela porta do quarto da senhorita Giordano escuto algo que me chama atenção.
Abro a porta a vendo se mexer na cama de um lado para o outro, sua pele está suada e ofegante, parece estar tendo um pesadelo.
Me aproximo para a chamar, odeio pesadelos e sei como são terríveis.
Não sei sobre o que ela sonha, mas está em sono profundo, a chamo e mexo em seu braço, mas nada adianta.
Então ela me puxa para a cama e acabo caindo do seu lado, apoio para não cair sobre seu corpo, ela se agarra em meu braço e tento sair dali, o que eu não preciso agora é uma estérica ao meu lado. Eu só quero descansar e dormir um pouco.
Ela para de se mexer e me segura forte, eu puxo meu braço, mas ela não solta, parece um chiclete grudado nos fios de cabelo do meu braço.
Depois de insistir em tirar meu braço dali, acabei desistindo e me dando por vencido, ela me segurava com tanta força, que se eu força-se para soltar a machucaria. Me deitei melhor naquela cama e fechei meus olhos, eu dormia pouco mesmo e logo ia acordar e sair dali, ela não ia nem saber que me usou como escudo protetor de seus pesadelos.
Acordei com o sol batendo em meu rosto, assim que abri os olhos prendi a minha respiração, o rosto dela próximo ao meu, de um jeito íntimo demais, sua boca no tom rosa avermelhado, perto da minha, me fez engolir seco, eu não tocava a boca de uma mulher a vinte anos.
Sua mão jogada sobre meu peito, e sua perna entre as minhas, passei a mão em meu telefone e vi que faltava cinco minutos para às sete da manhã. Eu havia dormido e nem percebi, dormi de uma forma profunda que aquela maledetta não entrou em meus sonhos, me deixando em paz.
Puxo meu corpo devagar e levanto sua mão para conseguir sair dali, e assim que me levantei apressei em me retirar daquele quarto, fechando a porta sou surpreendido com Angela me olhando e com um sorriso no rosto.
_ Dormiu no quarto da moça senhor? — tinha um tom de malícia em sua voz, mas Angela era a única que eu podia falar a verdade nessa casa.
_ Não como você pensa Angela. Cheguei do trabalho e a escutei resmungando, quando abri a porta vi que estava tendo um pesadelo. Me aproximei para a acordar, mas ela me puxou pelo braço e cai na cama. Ela me agarrou como um chiclete mascado, e não consegui me soltar. Acabei dormindo e sim acordei agora.
_ E como foi?
_ Como foi oque?
_ A noite. Dormiu bem, ou... O senhor sabe. — solto um suspiro, pois só ela sabe o meu tormento.
_ Dormi. E não sonhei com nada, na verdade, nem me lembro de ter sonhado. Dormi feito uma pedra.
_ Fico feliz chefe. Quem sabe ela seja a moça para o senhor?
_ Não Angela. Não existe ninguém para mim, e não crie esperanças já disse mais de uma vez. Não quero ninguém ao meu lado. Nem hoje e nem nunca.