Untitled 1

1541 Words
Alex suspirou mais uma vez naquela noite, ao chegar do supermercado e colocar no seu armário antigo os potes e potes de macarrão instantâneo. Sua dieta estava resumida a isso ultimamente.Coçou a cabeça e se arrastou a passos lentos para o outro pequeno cômodo de sua kitnet, pensando se seria melhor tomar banho e ir dormir ou só dormir mesmo. Passou as mãos pelos cabelos, um pouco irritado. Só queria ter dinheiro suficiente para pagar suas contas em dia e se alimentar direito, nem de longe comer sopa de pote todo dia era uma dieta saudável. Gostaria de poder dizer que depois de sair da casa dos pais estava vivendo bem e tranquilo mas as coisas não estavam saindo tão bem assim. Na verdade, nada estava indo bem. Suas notas na faculdade estavam caindo por ele não ter tempo de estudar e chegar sempre atrasado por causa do cansaço. Arranjava alguns empregos de meio período mas nunca parava muito tempo neles, muito menos recebia bem por eles. O dinheiro que ganhava m*l dava para bancar a mensalidade da faculdade, mesmo tendo uma bolsa por ter tirado uma boa nota na prova de admissão. O que sobrava, era para pagar energia, gás, água e as compras do mês. Mas agora estava realmente duro. E não era do jeito bom.Teria que andar até a faculdade, pois ou ia de metrô ou comia. A conta de energia atrasaria. E só saberia o que comeria na outra semana quando a mesma chegasse.Decidiu só dormir mesmo. Tinha que levantar cedo se quisesse chegar na aula no horário certo....Quando chegou aos portões da faculdade, algumas gotas de suor molhavam a franja do cabelo descolorido. Arrumou-a para trás e colocou o boné para segurar os fios.- Hey, Alex hyung! – ouviu a voz grave o chamar. Não demorou a sentir o ombro sendo segurado por uma mão num aperto mais forte que o necessário. Era Nam, amigo de longa data e companheiro nas noites de Seul, quando ele saía, é claro. O garoto tinha cabelos roxos e uma grande diferença de altura com relação a Alex. - Oi, Nam. Tão animado a essa hora? – perguntou num bocejo.- E você? Tão desanimado como sempre? Os dois riam enquanto andavam para dentro. Nam era muito inteligente. Mas não era um inteligente normal, era inteligente mesmo. O rapaz era mais novo que Alex mas conseguiu uma bolsa integral na prova de admissão. Tinha as melhores notas de sua turma, administração, sem dificuldade nenhuma; enquanto Alex precisava virar noites estudando para conseguir ficar ao menos dentro da média. Não que o ele fosse desprovido de inteligência, o que ele não tinha era tempo. E ele tinha plena consciência de que estava a um passo de se dar m*l no curso de música. Sua cabeça não parava de pensar em um jeito de resolver sua situação financeira mas nada vinha em mente! Esperou as aulas passarem até a hora do almoço e foi para a biblioteca pesquisar e enviar mais currículos que pudessem ajudar a conseguir um novo emprego. Relaxou na cadeira e coçou os olhos, agora teria que esperar e torcer para conseguir algo. Tentou ao máximo se concentrar nas aulas seguintes, mas era quase impossível. Suspirou ao ouvir o professor anunciar o final da aula, queria checar logo, estava ansioso. Encontrou com Nam de novo, na saída. - Alex, eu sei que você tá preocupado, fica mais ranzinza e calado que o normal – esperou o mais velho contestar, mas sem resposta, prosseguiu – Então, tudo bem se não quiser me falar, mas me diga se eu posso ajudar, hm? - Tsc, eu fui demitido de novo, Nam. Eu só preciso de um emprego novo – falou exausto.Nam parou por um momento para pensar e segurou Alex pelos dois ombros enquanto sorria. - Então eu posso ajudar, Alex! Quer dizer... posso te indicar um - disse um pouco mais baixo. - O que tá esperando pra abrir o bico? - seus olhos fixados nos do mais novo.- É que na verdade, Alex, é na empresa que eu trabalhava, eles pagam muito bem! - É claro que eu topo! Sorriu tão grande que suas gengivas apareceram. Enfim, um pouco de alívio.💲💲💲 Alex não podia esconder o alívio em seu peito. Se anjos existissem, Nam com certeza era um. O garoto não havia só indicado ele como também fizera uma ótima recomendação do mesmo. Ao que parecia, o estágio era em um banco e o trabalho dele era secretariar o gerente. Alex não entendia nada de contabilidade mas segundo Nam, ele poderia ficar tranquilo, pois apenas cuidaria da agenda de seu chefe. Respirou aliviado pela terceira vez naquele dia, deixando o corpo magro relaxar no sofá velho de seu apartamento. Olhou a carteira quase vazia e sorriu sem graça, esperava que logo estivesse estufada com notas de wons. Ergueu-se gemendo baixo ao sentir as articulações cansadas estalarem, pegou o casaco no cabideiro perto da porta e saiu decidido a tomar um bom lámen, nutritivo e gostoso, para acordar bem para seu primeiro dia de trabalho.[...]A noite estava agradável, assim como a caminhada que fazia até o restaurante duas esquinas antes de seu pequeno prédio. Não sabia dizer se era a felicidade de ter conseguido o emprego novo ou o cheiro de algo quente e saboroso invadindo suas narinas. Alex já via as luzes da frente do restaurante e as pernas quase corriam, mas parou receoso quando algo chamou sua atenção. Do outro lado da rua, num beco m*l iluminado, pensou ter visto uma silhueta, mas ignorou e continuou seu caminho. Chegou ao restaurante e sentou-se, fazendo seu pedido logo em seguida ao ser atendido por uma garçonete atenciosa. Não demorou muito para estar com sua tigela fumegante à sua frente. Inalou o cheiro bom que nem se lembrava mais de tanto macarrão industrializado que comia. Comeu com calma, se deliciando com cada parte que comia, queria aproveitar ao máximo aquela refeição que há tempos não fazia. Quase gemeu em satisfação ao tomar o último gole do caldo. Estava tão cheio que poderia morrer ali que morreria feliz. Pagou e agradeceu pela refeição, curvando-se à senhorinha que preparava a comida. Colocou as mãos no bolso do casaco e saiu em direção à sua casa. Faltando cerca de um quarteirão até a entrada de seu prédio, ouviu passos rápidos atrás de si e tentou checar quem era pela visão periférica, mas nem foi preciso. - Agust! Quanto tempo! - o homem alto de rosto conhecido surgiu em sua frente, o sobressaltando. Alex ficou estático. De todas as pessoas no mundo, aquele homem era quem ele menos esperava encontrar no momento.- O que foi? O gato comeu sua língua? - zombou.- O que faz aqui? - sentiu mais pessoas se aproximando pelas suas costas.- O que eu faço? - sorriu debochado. - Vim cobrar o que você fez.O rosto do homem fechou-se numa carranca e Alex sentiu os dois braços serem segurados, impossibilitado de socar. - Achou mesmo que se livraria de mim apenas mudando de bairro, seu e******o?! Alex arquejou ao sentir um soco preciso no estômago que levou embora todo seu ar. Tentou voltar a respirar mas o agressor estava muito motivado a destruir seu abdôme à base de pancada. Perdeu a conta de quantos socos e chutes já tinha levado quando sentiu o impacto de cheio em seu rosto, o primeiro de muitos outros.Depois de minutos batendo, o homem parou, ofegante. Ele cuspia sangue, manchando a camisa branca que usava. - Precisou trazer mais dois caras pra conseguir me bater, seu filho da p**a desgraçado?! Sorriu zombeteiro, uma pancada por trás na cabeça e sua mente apagou.[...] O ouvido zumbia, a cabeça martelava de dor. Alex tentou se mexer mas não conseguiu, gemeu de dor. Tentou abrir os olhos, mas sentia-os pesados. Piscou algumas vezes e olhou ao redor com dificuldade. Estava no mesmo lugar onde tomara a surra, jogado na sarjeta. O dia começava a clarear. Lembrou-se do trabalho, não poderia faltar no primeiro dia. Levantou com dificuldade e andou com mais dificuldade ainda, se arrastou. Nunca amaldiçoou tanto seu prédio não ter elevador, aquele era o pior dia dos piores dias para se subir uma escada. Entrou em casa e agradeceu por ter deixado o celular em casa, senão não receberia as instruções que Nam ficou de mandar. Foi até o banheiro e se apoiou na pia olhando o reflexo deplorável que ele mostrava. Ali as dores que sentia estavam bem justificadas. Tirou a roupa e se enfiou no box para uma chuveirada fria, talvez assim amenizasse o incômodo que sentia. S ecou-se com dificuldade pois nem conseguia se abaixar sem sentir dor no abdôme, vestiu a única calça jeans preta que não era rasgada nos joelhos, estava guardando para a formatura, e a única camisa social que possuía, que havia usado uma única vez no baile de formatura da escola. Tinha certeza que o Nike SB Check que calçava era o mais próximo de um "sapato social" que ele tinha em casa. Tentou arrumar o cabelo, mas optou por deixar a franja na testa mesmo para esconder o corte na sobrancelha machucada, não teria como esconder o corte da boca nem o olho roxo, mas era isso. Precisava ir.[...]
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