— Mas que inferno! — vociferou o loiro.
Alex sentiu vontade de rir pois a voz do chefe não era assim tão grave e era até engraçado vê-lo tentando engrossar a voz pela raiva. Arrependeu-se imediatamente quando os olhos do chefe pousaram sobre ele.
As feições bonitas muito sérias, os lábios grossos espremidos numa linha fina.
— Alex! Ligue agora pra esses idiotas! Eu quero uma reunião o mais rápido possível! No máximo amanhã de manhã!
— Sim, senhor — disse baixo.
— Que?! — exasperou-se.
— Marcarei imediatamente, senhor Taylor.
Ele o olhou com as mãos na cintura.
— Certo, então por que diabos ainda não está discando?!
Alex fez uma reverência desajeitada e saiu da sala do chefe quase correndo. Ao fechar a porta, ouviu os gritos raivosos do mais velho e não ousou rir.
Nunca foi medroso, sempre encarava tudo de frente, mas Taylor era o tipo de homem que conseguia tudo o que queria e tinha tudo aos seus pés. Ele era o tipo de homem que Alex queria ser e isso lhe deixava estranho, de alguma forma que ele ainda não compreendia.
Suspirou e coçou a nuca. Não queria pensar nisso, mas era inegável o quanto a personalidade do chefe o afetava. Ridículo. Sentiu-se ridículo. Estalou a língua e abriu a agenda no tablet em busca do número que precisava.
A porta à sua frente se abriu num baque e o chefe saiu pisando duro e bufando por ela.
— Conseguiu?
— Ainda não, senhor . Eu estou procurando o número e-
— Quantos anos você demora pra achar um simples número de telefone?! — disse com a voz aguda, porém impaciente.
— Se eu pudesse fazer meu trabalho sem ser interrompido a todo momento, talvez fosse mais rápido! — Alex despejou sem pensar.
Os olhos do chefe se estreitaram e os lábios se contraíram. Ele passou as mãos pelos cabelos e soltou o ar numa lufada.
— Vou fingir que não ouvi isso. — Olhou para o garoto à sua frente, ele parecia rebelde demais para seu gosto. — Eu vou tomar um ar. Espero que o problema já esteja solucionado quando eu voltar.
Não esperou resposta, muito menos outro afronte. Saiu dali sacudindo o terno caro a fim de se refrescar, pois estava queimando de raiva.
Alex soltou o ar que até então estava segurando. Sentou-se na cadeira e voltou a buscar o número de que precisava, repensando se seria tão r**m assim comer só macarrão instantâneo por mais alguns meses. Teria que falar com Nam e brigar com o mesmo por tê-lo colocado nessa furada, mas imediatamente afastou o pensamento, o Kim havia ajudado. Não tinha culpa se seu chefe era um filho da p**a mimado que não pode esperar cinco minutos.
Conseguiu marcar a reunião que o chefe exigiu e orgulhoso de si mesmo, fez questão de avisar imediatamente, para mostrar proatividade.
Secretário:
Resolvido, marcada para às 9h.
Park Escroto chefe:
Desmarque.
Marque um vôo para Busan, amanhã antes das 6h.
Olhou para a tela do celular incrédulo. O loiro havia feito todo aquele show para pedir que desmarcasse a reunião para viajar?
Conteve a vontade de jogar algo na parede, respirou fundo. “Manter o emprego, Alex, estamos aqui pelo salário.” Pelo menos teria um dia livre do chefe.
Entrou na internet, comprou a passagem o mais rápido que pôde e relaxou na cadeira. Ainda teria que desmarcar a reunião e só de lembrar lhe dava nos nervos. Um mês nesse emprego e nem precisaria descolorir os cabelos, eles já nasceriam brancos.
[...]
Chegou em casa bastante cansado depois de vir apertado e em pé no metrô. Deixou os sapatos na entrada e andou quase se arrastando pela sala pequena do apartamento.
Jogou-se no sofá e adormeceu ali mesmo.
O telefone vibrava e zumbia perto de seu rosto no sofá velho. Piscou os olhos algumas vezes e ainda era cedo. Muito cedo. O relógio na tela do celular mostrava que ainda eram quatro e meia da manhã.
Destravou o telefone e ficou mais pálido do que já era normalmente.
35. Exatas 35 ligações do seu chefe.
Sentou-se de supetão e retornou a chamada. Ouviu o primeiro toque.
— Classe econômica — disse a voz seca do outro lado.
— Sr Taylor, eu pensei-
— Pensar? Você não pensou, Alex! — Podia quase ver o rosto do chefe irritado olhando para si.
— Achei que era uma passagem comum, sinto muito. — Sua voz rouca saiu baixa e ele estava realmente sentido por estar errando tanto.
O silêncio reinou por alguns segundos e pôde ouvir a respiração pesada do chefe.
— Marque a minha volta para amanhã às 19h. Não faça nenhuma bobagem!
— Senhor… — disse incerto.
— O quê?
— Qual classe eu compro? — perguntou coçando a cabeça.
— A primeira, Alex!
— Tá, tá! Também não precisa esse drama todo, é uma viagem de menos de duas horas!
ele tapou a própria boca. Seria demitido e ia ser agora.
— O que disse? — Depois de um silêncio de segundos, a voz do chefe sibilou baixa.
— Me desculpe, senhor. Vou comprar a passagem certa.
Ouviu um riso soprado do outro lado da linha.
— Aproveite para organizar minha agenda da semana e a viagem para Hong Kong. Quando chegar, vamos ter uma conversinha.
Alex engoliu em seco. Passou as mãos pelo rosto assim que ouviu a ligação desconectar. Olhou em volta para seu singelo — e apertado — apartamento.
Em menos de uma semana, estaria de volta à sua vida de miséria.
[…]
Não conseguiu dormir mais depois da ligação. Fez um café, tomou um banho e sentou na frente do computador para comprar as passagens de volta do Park.
Pegou a agenda e pensou se deveria arrumar aquilo se seria demitido assim que o chefe chegasse.
Quase dez da manhã a campainha tocou. Levantou resmungando do sofá e checou o olho mágico.
— Oi, Kim — disse quando abriu a porta. — Não esperava te ver hoje.
— Tive que buscar meu meio irmão na rodoviária, pensei em tentar a sorte e passar aqui. — Entrou e tirou os sapatos.
Alex já andava para dentro do apartamento novamente, indo em direção à pequena cozinha.
— Tassio está vindo? Faz tempo que não o vejo. — Serviu café numa xícara e entregou a Nam
— Sim, sim. Aquele louco. — Pegou a xícara da mão do mais velho. — Só me avisou hoje, acredita? No meio da madrugada!
— É meio estranho mesmo, mas gosto dele.
Os amigos voltaram para o sofá e Alex deu um longo suspiro.
— Eu acho que vou ser demitido, Nam.
— Que?! Não faz uma semana, hyung… –—disse preocupado.
— Ele é um mimado! — Desabafou. — Eu não sirvo pra isso, não mesmo! — Colocou a caneca na mesa de centro. — Ele age como se eu fosse escravo dele e não faz nem uma semana!
Nam suspirou e ponderou. Lembrava-se bem de quando trabalhava nessa empresa. taylor andava sempre de nariz em pé, mas nunca teve contato direto com o homem.
— Bom, você deve pensar, hyung.
— Eu tenho pensado.
— É uma ótima empresa, tem muito reconhecimento. — Virou para o amigo. — Fora que o salário…
— Tsc! — Estalou a língua. — Eu sei! Mas esse desgraçado vai me deixar doido!
— Ele não tem porquê te demitir, pra início de conversa.
— Na verdade… —Alex se encolheu no sofá.
Ele contou o que havia acontecido com as passagens que comprou para o chefe. E o amigo tentou tranquilizá-lo dizendo que não era tão r**m assim e sugeriu que ele controlasse mais a língua perto do chefe. Depois que Nam saiu para buscar Tassio na rodoviária, Alex voltou a verificar a agenda do chefe.
Secretário Problemático:
Senhor, desculpe o incômodo, só queria avisar que está tudo pronto para sua viagem à Hong Kong.
Chefe Escroto Taylor:
Certo.
Não esqueça de fazer as reservas do hotel. Quero no The Langham.
Secretário Problemático:
Reservas?
Devo fazer mais de uma?
Chefe Escroto Taylor::
Sim, garoto.
A minha e a sua.
Mas se quiser ficar na rua, não me importo.
Secretário Problemático:
Espera, eu vou também??
Alex olhou para a tela do celular e depois para a agenda do chefe. É óbvio que ele não iria em uma viagem de negócios sozinho. Era óbvio! Mas isso significava que ele teria que passar dois dias inteirinha com o chefe sem descanso!
Engoliu em seco e ligou para Nam.
— Kim... você teria uma mala pra me emprestar?!
Até que a conversa com o chefe não tinha sido tão r**m quanto esperava. Quando o chefe voltou de Busan no dia seguinte, parecia até mais tranquilo, não sabia porquê, mas o loiro estava menos aborrecido e carrancudo.
— Alex! — Sua voz se fez presente e ele levantou desajeitado de sua cadeira — Na minha sala.
Quase gemeu de frustração quando viu o chefe passar por ele e ir direto para a grande sala que lhe pertencia. Não adiantaria em nada tentar adiar o que já sabia que ia acontecer, então andou até a sala onde ele já o aguardava.
Sentado em sua imponente cadeira, o chefe via algo no celular e sorria para a tela.
Alex pode notar o jeito que as bochechas do outro subiam fazendo os olhos pequenos fecharem quase totalmente. Despertou quando o loiro o viu parado e pediu para ele sentar.
— Secretário, — disse enquanto se ajeitava na cadeira. — Eu sei que é a sua primeira vez trabalhando como secretário de alguém. — "Babá, na verdade", Alex cogitou falar, mas apenas continuou ouvindo. Era cedo e ele tinha sono. — Mas pelo menos, tente ser mais responsável, sim? — sugeriu, olhando firme para ele. A voz do chefe era fofa apesar dele tentar fazê-la soar mais grave. — Se houver algo que você não saiba como resolver, pergunte à secretária Jessy, ela já foi minha assistente.
Alex concordou, confuso, e umedeceu os lábios antes de perguntar o que queria.
— O senhor não vai me demitir? — Ele tinha percebido agora que o chefe aparentemente tinha deixado seus erros passarem, mas precisava ouvir com clareza se ainda tinha ou não o trabalho.
— Não dessa vez — falou se recostando na cadeira. — Mas só dessa vez. Eu sei que precisa de um emprego. — Alex tinha os olhos fixos no rosto do homem que ergueu uma sobrancelha ao olhar para o secretário. — E bem, eu preciso de um secretário.
— Mas tem outras pessoas mais qualificadas para esse cargo. Com certeza bem mais qualificadas do que eu. — Levou a mão à frente da boca assim que se tocou de que estava falando contra ele mesmo.
— Na verdade, tem sim. — O olhar do loiro vagueou pela sala, lembrando de algo, muitas vezes acabou por sofrer tentativas de golpes por parte de seus funcionários. — E bem m*l intencionadas também.
Ele pensou rápido sobre aquela frase. Como o chefe saberia, então, se ele era alguém m*l intencionado ou não? Mas esse questionamento ficaria para outra hora.
— Então... eu ainda tenho um emprego? — perguntou novamente e se repreendeu por passar tanta insegurança frente aquele homem.
Mas ele riu, sem humor, mas riu. Passou o dedo indicador e o dedo médio pelos lábios cheios, olhando atentamente para o mais jovem.
— Sim, Alex, mas atente-se ao trabalho, e obedeça quando for mandado. Sou seu chefe, não esqueça disso. — ele assentiu rapidamente. — Estamos acertados, então?
— Sim, senhor Taylor. — Tratou de responder.
— Ótimo, continue com os preparativos para a viagem. Pode ir — falou sinalizando a direção da porta.
Alex levantou e fez uma pequena reverência, logo saindo da sala.
Taylor ligou o notebook e olhou novamente o histórico de Alex. Se havia algo que o intrigava, era o que tinha levado o garoto a aceitar um emprego como aquele.
Ele cursava música, o que não tinha nem um pouco a ver com o ramo de Taylor. Ele era desobediente e não entendia nada do trabalho de um secretário. E, principalmente, haviam duas ocorrências policiais registradas.
A primeira, briga de rua. A segunda, agressão física, registrada pelo próprio pai.
Em qualquer outra situação, Park não aceitaria o garoto. Mas, como fazia algum tempo desde as queixas policiais e ele sentia que Alex estava diferente, então por que não lhe dar uma chance?
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