Mark Stone
Chego em casa me sentindo acabado fisicamente e mentalmente de um jeito que nunca fiquei na minha vida. Estou me condenando a cada segundo que passa desde que eu literalmente esqueci o meu filho no banco ao lado do meu naquele avião.
Porrä, eu esqueci o meu filho. O meu filho que acabou de nascer.
Cacetë! Como eu pude fazer algo desse tipo? É normal esquecer a chave, uma caneta, onde deixou o celular pela última vez que usou ou um compromisso. Isso é normal, mas um filho? Nunca que vou me perdoar por isso. Não consigo esquecer esse feito e além de me condenar, eu estou envergonhado.
Não sei como seria as coisas se não fosse aquela mulher e mais uma vez, eu esqueci o nome dela.
Não era assim que eu imaginava voltar para Washington. Os planos era voltar com eles dois comigo.
— Senhor Stone! — Margarida, a governanta da casa se aproxima. — Estou surpresa por vê-lo aqui antes da data prevista.
— É..., eu imaginei! — Sou recebido por ela bem na sala.
— Ah, esse é nosso novo membrö da família Stone? — Ela chega mais perto e começa a olhar. — Olha só você, criança! É tão lindo e perfeito... — Deixo-a olhar bem. — Uma perfeição, mas..., o senhor parece exausto! Onde está a senhora Miranda? — Eu não respondo e lhe dou as costas.
Miranda se foi no pior momento.
Fomos casados por quase dois anos e éramos felizes. Eu a conheci numa festa da empresa através de amigos em comum e não demorou para começarmos a sair e a nos conhecermos. Eu a amava, quer dizer ainda a amo. Planejamos a gravidez e decidimos cada detalhe juntos e tinhamos milhares de planos.
Por algum motivo, durante a gestação, ela sempre falava que se algo acontecesse eu não devia criar rancor com nada e nem colocar culpa em algo. Caso algo acontecesse, eu deveria seguir em frente e cuidar do nosso filho sem barreira alguma. Eu a perdi e nunca na vida me senti tão perdido como estou agora. Estou há dias sem dormir, eu não consigo comer e pelo susto eu não consegui contar nada a ninguém ainda.
Nós estávamos no Canadá porque ela tinha assuntos a resolver por lá. Ela perdeu os pais pouco antes de descobrirmos a gravidez e ela precisava ver e decidir sobre as coisas que eles deixaram para ela. Tinha casa, terremos e dinheiro no meio da herança. Ou seja, a gravidez veio no momento mais sensível para ela. Decidimos morar por lá por um tempo e tentei contornar a situação. Mas não foi fácil.
Ela não estava conseguindo superar a perda dos pais.
— E-eu sinto muito, senhor... — Margarida, quebra o silêncio. — Ela era uma mulher adorável.
— Sim, ela era! — Concordo sem hesitar.
— Do que o senhor precisa agora? Posso ajudar em algo? — Aceno antes de falar.
— Eu não durmo há dias, não lembro a última vez que comi alguma coisa, eu estou com uma dor de cabeça e... — Não finalizo a frase pela cabeça em confusão.
— Eu entendi! Bom, eu posso ficar com ele enquanto o senhor se banha, come algo e dorme um pouco. Não será problema algum! — Ela se oferece e aceno. — Todos estão aqui em peso e tudo está sob controle.
— Obrigado, Margarida! — Eu lhe entrego o meu filho. — Amanhã será o enterro! O hospital trará o corpo. — Ela acena. — Peça para o seu auxiliar organizar as minhas coisas que virão e por hoje, eu não quero falar com ninguém ainda.
— Sim, senhor! Descanse que não será incomodado. — Eu olho para o meu filho por alguns segundos e me afasto para subir.
Piso em cada degrau da escada completamente perdido e ainda não consigo acreditar nessa avalanche de acontecimentos repentinos. Era para ser um momento importante no meu casamento, mas estou vendo tudo desmoronar. Entrar nesse quarto só me faz lembrar dela, porque ainda tem os seus pertences. Tem roupas, cremes, calçados e diversos objetos.
Quando nos casamos, foi aqui que começamos a nossa vida!
O closet ainda é dela aqui e tem algumas coisas. Sem forças para ficar olhando, eu pego apenas uma roupa minha qualquer e saio do quarto indo para qualquer outro de hóspedes para pelo menos por hoje. Começo a retirar a minha roupa com tudo e entro no banheiro para um banho. A minha cabeça lateja por uma enxaqueca infernal e o meu corpo está pesado pela tensão.
Nem o banho quente me dá algum alívio!
O meu banho é o mais demorado que já tive e depois, me seco de frente ao espelho do banheiro. Nunca fiquei nesse estado antes e por isso, eu não me reconheço. Os meus olhos estão fundos e marcados, os meus olhos estão vermelhos, a minha barba está horrenda e desigual e, tenho cara de estar doente.
Eu visto apenas uma calça moletom para dormir, mas ouço batidas na porta.
— Com licença, senhor! — É Frederick, auxiliar da Margarida. — Vim trazer a sua refeição. Tem também um calmante que a Margarida colocou aqui.
— Obrigado! — Recebo a bandeja. — Como sabia que eu estava aqui?
— A porta do quarto principal estava aberta e procurei pelo senhor. — Aceno e lhe vejo afastar.
Fecho a porta do quarto e me acomodo na poltrona para comer alguma coisa. Não sinto fome, mas sinto que se eu não comer eu não vou me sustentar de pé. Tudo fica repassando na minha cabeça num filme insistente. Todos os meus momentos com a Miranda ainda estão vivos em mim, mas fico maluco ao lembrar que ela não pode ver Michael.
Foi tudo muito rápido e completamente desesperador!
Por mais cansado que eu esteja, eu sinto que não vou dormir facilmente e por isso, assim que acabo de comer, eu pego o remédio que veio com a comida e deixo tudo no canto.
Não estou nada preparado para os próximos dias, mas antes de pensar nisso eu preciso dormir.