Na casa de Jorge, Bárbara perdeu completamente o controle ao receber a notícia do cancelamento do noivado. Ela gritou com todas as suas forças, derrubando objetos e ameaçando quebrar tudo à sua volta. Antes que pudesse ir mais longe, foi sacudida pelo pai, que a segurou com força.
— Você devia ter sido mais convincente _ Ele rugiu. __ Se deitou com outros homens e deixou que Bartolomeo descobrisse. Devia ter esperado até depois do casamento para se deitar com o seu noivo. Quando ele soubesse que não era v.irgem. , já seria tarde demais
Bárbara, furiosa, rebateu:
— A culpa é sua! Me mandava seduzir homens em busca de acordos e me forçou a tentar seduzir Bartolomeo. Mas ele não pode ser seduzido! Eu te avisei, e agora não vou me casar com ele!
Enquanto isso, Willow, sentada na poltrona, observava a cena com calma, pintando as unhas de vermelho. A cor era a sua preferida. Bárbara a encarou com desprezo.
— Você deve estar se divertindo com isso, sua sonsa. Nunca vai se casar com alguém rico vestida com essas camisetas largas e com esse cabelo sempre bagunçado. Por que não ficou onde estava?
Willow suspirou, sem levantar os olhos das unhas.
— Porque minha casa é aqui, Bárbara. . E quem disse que quero me casar com um homem rico? Eu tenho uma boa profissão e posso trabalhar..E eu não fiz nada contra você, pare..
— Você existe! Isso já é o suficiente. Você é filha ilegítima, filha da amante do meu pai. Nem devia estar aqui! Bastarda..
Willow permaneceu calma, mas seus olhos brilharam de tristeza. Ela respondeu com a mesma tranquilidade de sempre.
— Eu não tenho culpa, Bárbara. Não tenho culpa de o papai ter tido uma amante. Não tenho culpa de a mulher que me deu à luz ter me entregado a ele. Eu só estou aqui, simplesmente estou aqui e a culpa não é minha, devia culpa o nosso pai, foi ele que traiu a sua mãe e ainda não usou prote.ção.
___ Se não calar a boca, Willow, vou lhe dar um surr.a__ o pai rugiu.
Sem mais uma palavra, Willow subiu as escadas para o seu quarto. Toda vez que um problema surgia naquela casa, ela era maltratada, julgada, e de alguma forma, a culpa sempre recaía sobre ela. A esposa de seu pai a odiava, e Willow entendia o motivo. Ela era a prova viva da traição, e isso doía na esposa de Jorge. Willow ficava ressentida, mas sabia que não havia nada que pudesse fazer.
Sozinha no quarto, ela respirou fundo, tentando afastar a sensação de ser sempre o alvo da raiva dos outros. Ela havia se acostumado com o peso de carregar a culpa por algo que nunca foi sua escolha, foi dormir..Mas depois, Willow desceu as escadas em silêncio, com uma única ideia na cabeça: pegar o doce de leite com coco que havia preparado na noite anterior. Tinha feito com cuidado, lembrando das receitas que aprendeu sozinha, como um pequeno consolo em meio ao caos que vivia naquela casa. Sabia que ninguém mais ali apreciava as coisas simples que ela gostava, então o doce era para ela mesma.
Ao abrir a geladeira, encontrou a vasilha onde o havia guardado. Sorriu ao pegá-la, mas antes que pudesse dar mais um passo, Bárbara surgiu como uma sombra, arrancando a vasilha de suas mãos com um gesto brusco.
—Esse doce é meu! — disse Bárbara, a voz cheia de veneno.
Willow tentou manter a calma.
— Eu fiz o doce, Bárbara.
— Fez com os ingredientes da minha mãe __ retrucou Bárbara, segurando a vasilha firmemente.
Willow respirou fundo, mantendo o tom sereno, mas firme.
— Não. Eu comprei os ingredientes com o meu próprio dinheiro. Dinheiro que consegui trabalhando na clínica de idosos.
Bárbara deu uma risada amarga e sarcástica.
— Mas usou o fogão, o gás e as panelas da minha mãe. Saia daqui, Willow.
Willow podia ter respondido, mas antes que pudesse dizer algo, a madrasta, a mãe de Bárbara, entrou na cozinha, atraída pela discussão. Dona Clarissa, sempre ficava do lado da filha, olhou para Willow com desprezo.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou com um tom cortante.
— Ela está tentando roubar o doce que eu fiz__ disse Bárbara, rapidamente assumindo o papel de vítima.
Clarissa se aproximou, seu olhar gelado fixo em Willow.
— Esse doce foi feito com as coisas da casa, Willow. Você não tem direito a nada aqui. Saia da cozinha. Agora.
Antes que Willow pudesse responder, Jorge, o pai, apareceu na porta, atraído pela confusão. Ele olhou de Willow para Clarissa e depois para Bárbara, e como sempre, ficou do lado delas.
— Willow, obedeça a sua madrasta. Não cause problemas por algo tão trivial.
Willow olhou para o pai, sentindo uma profunda tristeza no peito. Ele nunca ficava do seu lado. Para ele, ela era apenas a filha ilegítima, sempre menos importante que a família "legítima". Com lágrimas se formando nos olhos, ela se virou e subiu as escadas, sem uma palavra. Tinha perdido o doce que preparou com tanto cuidado. Mas, pi.or do que isso, perdeu mais uma pequena batalha pela dignidade dentro daquela casa.
Ao chegar em seu quarto, fechou a porta com força, mas se recusou a chorar. Já havia chorado demais naquele lugar. Queria o doce que fez com tanto carinho, mas ali, era apenas uma intrusa. Um peso. Bárbara e sua mãe sempre a faziam sentir isso. Sentada na cama, ela pensou como teria sido melhor se tivesse ficado na cidade vizinha, trabalhando e pagando seu próprio aluguel. Ali, ao menos, tinha um pouco de controle sobre a própria vida.
Mas o pai a trouxe de volta para aquela casa, e ela aceitou. Talvez tivesse que ter resistido, mas Jorge tinha conseguido que ela fosse demitida dos dois empregos que tinha, praticamente forçando-a a voltar. Ele sabia manipular as coisas ao seu favor. E agora, Willow vivia ali, presa, sem poder se sentar à mesa, sem poder viver em paz.
Ela olhou pela janela, lutando para conter as lágrimas que queriam descer. Mas não. Não choraria. Não daria esse gosto a eles.