Amélia Smith
Como sempre acontece algumas vezes por mês, aos sábados, meus sogros pegam Carlos. Eles levam meu filho para a casa deles e só o traz de volta à noite.
Vou aproveitar o dia e fazer compras no shopping, já que não tenho nada de melhor para fazer nessa casa.
Não quero passar o dia olhando para a cara de Madalena que tem me enfrentado, mas sempre a coloco no seu devido lugar.
Não sei o que se passa na cabeça dela para agir assim comigo desde o dia em que entrou nessa casa para ser minha empregada.
Resolvo me arrumar bem, pois, não é todo dia que posso sair para fazer compras.
Não é que James me proíba, mas é que Carlos toma todo meu tempo e faço questão de cuidar do meu filho. Mesmo tendo uma babá vinte e quatro horas a minha disposição.
Depois de pronta vou até à garagem, pois, já deixei avisado aos seguranças que irei sair.
Ao chegar no meu carro e estranho o homem que está no banco do motorista que não é o mesmo que costuma sair comigo.
James nunca permite que saia sem segurança.
Entro no carro, desconfiada e como se o homem lesse meus pensamentos, se apresenta.
— Boa tarde, senhora, me chamo Ricardo e vou ser seu novo segurança a partir de hoje.
Acho estranho essa mudança repentina, então pergunto pelo meu antigo segurança.
— O que aconteceu com Boris, meu antigo segurança?
— O senhor Smith nos trocou. Agora Boris trabalha como segurança do senhor James e passei a ser o segurança da senhora.
Resolvo aceitar, como é uma ordem dada pelo meu marido, não tenho muito o que fazer.
Fazemos a viagem até o shopping em silêncio, mas percebo que o segurança não tira os olhos de mim.
É difícil também não olhar para ele que é um homem extremamente bonito.
Quando chegamos ao estacionamento do shopping, ele abre a porta para que eu desça e logo se coloca atrás de mim, me seguindo como uma sombra, assim como Boris fazia.
A cada loja que entro, Ricardo faz questão de se aproximar e se oferecer para levar minhas sacolas de compras.
Com isso, passamos a conversar.
Ele é um homem bem simpático e não é difícil entrar em uma conversa agradável.
Posso dizer que até me sinto bem com isso.
Depois do casamento, não tive muitas amizades, as pessoas parecem sentir medo de mim, mas, na verdade, o único que dá medo é meu marido.
A tarde passou tão rápido que nem vi o avançar das horas.
Como não quero jantar mais uma vez sozinha, na mansão enorme, sob o olhar atento de Madalena, como se fizesse pouco da minha desgraça, resolvo jantar no shopping.
Procuro por um restaurante bem conhecido que tem uma comida excelente e entro.
Ricardo fica na porta me esperando.
Mas quando me sento à mesa, me sinto m*l por ver o pobre homem que passou a tarde inteira andando atrás de mim, carregando várias sacolas de compras, parado na porta como uma estátua.
Ee deve estar com fome assim como eu.
Chamo um garçom, peço para ele ir até meu segurança e que o mande entrar.
Sem perder tempo, Ricardo entra e para na minha frente, pronto para receber uma ordem minha.
— Sente-se e jante comigo.
O homem me olha como se eu fosse um bicho de sete cabeças.
— Desculpa, senhora, mas meu dever é protegê-la. Não posso jantar com a senhora.
— O seu dever é obedecer às minhas ordens. Estou mandando que se sente e jante comigo. Sei que deve estar com fome assim como eu, então não discuta comigo e faça o que estou mandando.
Como não dou muita opção, ele acaba obedecendo. O garçom se aproxima e fazemos o nosso pedido.
— O senhor James não vai gostar nada se ficar sabendo disso.
— Ele só ficará sabendo se você ou eu, contar. Posso garantir que pela minha boca ele não saberá de nada.
O homem à minha frente sorri do que falo e logo engatamos em outra conversa.
Percebo que gosto muito de conversar com ele.
Nosso pedido chega e peço uma garrafa de vinho.
Conversamos, comemos e bebemos.
Faz muito tempo que não tenho uma noite tão agradável como estou tendo agora.
— Senhora já está tarde, acho melhor voltarmos para casa.
Olho no relógio e vejo que realmente já é muito tarde, James com certeza já chegou do escritório e os meus sogros já devolveram Carlos.
Pago a conta do restaurante e apressados vamos para o estacionamento.
Ricardo sem perder tempo anda pelas ruas em alta velocidade e dou graças a Deus por ele ser um excelente motorista, porque em poucos minutos, chegamos na mansão.
Mas não vou deixar que meu atraso acabe com o excelente dia que tive.
Ricardo abre a porta para que eu desça e agradeço a excelente companhia.
— Obrigada, Ricardo, por ter passado a tarde inteira comigo. Apreciei muito a sua companhia.
Ele sorri.
— Fiz apenas meu trabalho, senhora, não precisa me agradecer.
— O seu trabalho era me proteger e não ficar carregando minhas sacolas de compra. Então, obrigada. Vou entrar enquanto você pega as compras e entrega para Madalena, ela vai saber o que fazer.
— Sim, senhora.
Saio da garagem de cabeça baixa quando topo em uma parede de músculos. Ao levantar as vistas, dou de cara com meu marido que alterna seu olhar entre meu segurança, o que está no carro tirando minhas compras do porta-malas, e eu.
— Vejo que se divertiu hoje gastando meu dinheiro que até se esqueceu do priprio filho.
Não vou deixá-lo acabar com meu bom humor, hoje ele não conseguirá fazer isso.
— Tem razão querido, me diverti como há muito tempo não fazia. Você não imagina o prazer que senti gastando o seu dinheiro, acho que vou fazer isso mais vezes. — Fico na ponta dos pés e dou um selinho rápido em seus lábios.
Saio passando a mão no seu peito, com certeza ele deve estar surpreso com meu gesto.
Entro em casa e escuto seus passos vindo atrás de mim. Com isso, começo a andar mais rápido, mas ao chegar no pé da escada, ele me alcança e me prensa na parede, segurando um punhado de cabelo da minha nuca, mas não coloca força.
— O que você quer James? Me solta, estou indo ver meu filho.
Debochado, ele fala, me encarando:
— Você não parecia estar preocupada com seu filho quando saiu de dentro daquele carro, cheia de sorrisos para o segurança.
Agora é a minha vez de sorrir.
— Está com ciúme, meu amor? Não deveria, afinal é essa a vida que você quer que eu tenha. Apenas aproveitei o dia para fazer compras ou agora vai passar a me negar isso também? Caso não queira mais me dar dinheiro, posso pedir para o meu pai. Esqueceu que também sou rica? Não preciso do seu dinheiro de merda para comprar nada para mim e nem para o meu filho.
Ele coloca um pouco de pressão nos fios que segura, mas não a ponto de me machucar.
— O que aconteceu com você? Perdeu a noção das coisas, Amélia?
— Cansei, James, me cansei de você. Não me dá atenção, não me dá carinho, chega em casa todo dia tarde, isso quando não chega de madrugada. Eu cansei de ser apenas uma boneca para você exibir em eventos sociais, mostrando para todos uma mentira.
Ele me olha intensamente e me solta de uma vez.
— Suba agora mesmo.
— Eu vou subir, mas não porque você está mandando. Quero ver meu filho.
— Você sabe que vou te colocar na linha de novo, não sabe?
— Vamos ver se consegue.
Ele ainda dá um passo na minha direção, mas subo a escada correndo.
Sinto uma felicidade imensa no peito porque pela primeira vez enfrentei a fera e tenho certeza de que ele não gostou nadinha disso.