Rafaela Sánchez
Estar em Paris é a uma grande realização, aceitar trabalhar com Tommáz Walker foi algo que abriu ainda mais as portas para mim, estava recebendo ofertas de trabalho para grandes profissionais do esporte, que estão lesionados ou já em recuperação.
Porém, gosto de trabalhar com tranquilidade com um paciente por vez, sem estipular tempo de recuperação para nenhum dos pacientes que tenho sob minha responsabilidade.
Acordar na mansão Miller tem se tornado a minha rotina nos últimos meses e estou quase para dar alta para o Tommáz, principalmente agora que eles podem respirar aliviados com todas as situações que eles estavam passando.
Minha única tristeza é ter que voltar para Chicago e para o mesmo lugar onde teria que voltar a ver meu ex-namorado com a sua atual noiva. Ser a mulher traída que volta para o antigo trabalho pode parecer provocação. Enquanto, na verdade, quero apenas distância.
Desço para o café da manhã e sou recebida por Amélie com o seu barrigão dos gêmeos que ela escolheu não saber o sexo, a vovó Enora e tia Noely, todas prontas para a aula de alongamento que dou para a família, antes de forçar o Tom a ficar de pé sem ter que usar a bengala.
Sorrio para todas e me divirto com a barriga enorme e mexilhona da esposa do meu cliente.
Acho que nunca encontrarei um homem que me agracie com a dádiva da maternidade, estou no auge dos meus vinte e nove anos e minha janela de tempo estava se fechando. Quero gestar, quero ter um filho saindo de mim, sentir as dores do parto, desejo essa experiencia.
Não que não adotaria, mas seria uma opção em último caso, primeiro quero gerar uma pessoa.
Sorrio para todas e antes de ser levada para a área que foi criada para Tom ter a suas sessões desligo o celular que estava tocando sem parar. Já que não tenho mais pais vivos e nenhum parente que se importe comigo. Caminho ao lado da Amélie para dar um pouco de apoio já que seu ponto de gravidade estava meio fora de lugar.
— Sei que quer rir, espero que quando engravidar seja quatro dentro de você! — Reviro os olhos e seguro um pouco a tristeza pelo que ela diz.
— Se você e o Tom não apagarem esse fogo de vocês, não divido nada que em um ano esteja gravida novamente. — Digo com ironia.
Mantenho a nossa conversa e coloco todas elas para fazer exercícios para melhorar um pouco a elasticidade dos seus músculos. Sento um pouco depois de quase duas horas preparando uma gestante para o parto que se aproxima e nosso espaço é invadido.
O susto faz com que me aproxime da Amélie e fique na frente dela e da vovó Enora, não que seja treinada ou qualquer coisa, mas são as pessoas mais frágeis que tenho sob a minha responsabilidade.
O salão é invadido por quarto homens de terno e com um olhar tão perverso que temo por nossas vidas, seguro na mão de Amélie que estava se tremendo de medo assim como estava. Quando um quinto homem, um pouco mais de idade, com cabelos grisalhos e um olho azul tão cristalino e a presença tão marcante que faz qualquer mulher desejar que ele a imprense na parede com uma boa pegada.
— Que entrada tão dramática é essa, senhor Spanos. — Olhamos para Noely que sai do meu lado e cumprimenta o visitante.
— Perdoe-me! — Ele põe a mão no peito e curva a cabeça em direção de Noely e vovó Enora. — Se a senhorita Sánchez atendesse o telefone não seria necessário.
— Agora tenho culpa do senhor ser inconveniente? — Não faço ideia de quem seja, mas eu que não vou levar a culpa de que ele seja m*l-educado.
O vejo estreitar os olhos e abrir o termo, noto que ele estava vestindo um conjunto Armani, mas o que chama atenção mesmo é as duas pistolas escondidas abaixo do seu terno.
Mas não será isso que vai segurar a minha língua, nunca tive medo de homem e não vai ser agora que terei, ele está muito engano se acha que vai me amedrontar por conta de duas pistolas.
— Você tem quinze minutos para arrumar suas coisas, estou levando você para Santorini! — Arregalo os meus olhos com a audácia do homem.
Começo a gargalhar do homem que até ainda pouco havia achado charmoso, se ele acha que vai me tirar daqui contra a minha vontade ele está redondamente enganado.
— Acho que deve estar acontecendo alguma confusão, senhor Spanos! — Noely intercede entrando na nossa frente, enquanto mantemos uma briga com o olhar.
— Meu filho precisa de ajuda, estou dando a opção de que ela escolha ir, mas de uma forma ou outra a levarei dessa casa, nem que seja desmaiada! — Amélie passa por mim e se põe na minha frente.
— Senhor, mas Rafaela é a fisioterapeuta do meu marido... — Amélie é interrompida quando ele ergue a mão.
— Tom já está bem e tenho certeza que ele não irá se impor. — O homem fala com certa autoridade. — Então estou perguntando a você senhorita Sánchez, vai por vontade própria ou devo ordenar que eles a levem?
Observo quando os homens começam a se aproximar ainda mais, sei que não conseguirei convencer o homem de me deixar em paz, temia pela segurança da Amélie e principalmente da vovó Enora.
Seguro na mão de Amélie e sorrio para ela com carinho, olho para as três mulheres que me receberam no meio delas com muito carinho e nos tornamos amigas, sei que onde quer que eu vá elas sempre iram se preocupar comigo. Me viro em direção ao homem que aguardava a minha resposta e empino meu queixo.
— Sou uma prisoneira ou algo do tipo? — O vejo negar com a cabeça. — Posso manter contato com elas para saber a evolução do senhor Walker?
— Pode manter contato! — Ele me responde.
Me viro em direção a Amélie e sorrio com carinho para ela e deixo que a respiração que estava segurando sai de meus pulmões. Deixo um beijo nas três mulheres e agradeço por tudo o que elas fizeram por mim nos últimos meses.
— Faça-o trabalhar cada um dos exercícios, não o deixe fazer corpo mole, nenhuma de vocês, ouviram. — Digo com um aperto no peito.
Por algum motivo sentia que não as veria por um bom tempo, minha pulsação estava acelerada e não queria que nada acontecesse com a Amélie não me perdoaria se a sua gravidez fosse prejudicada.
— Não se preocupe, mantenha sempre o celular por perto, vou te manter informada. — Ela passa as mãos por sua barriga enorme.
Me abaixo e ponho a mão naquelas duas pestinhas que não paravam quietos.
— Vocês se comportem, assim que nascerem a tia Rafa foge e vem para o batizado de vocês, eu amo vocês. — Me ergo do chão e me afasto para pegar o celular.
Passo pelo homem dos olhos azuis e sacudo celular mostrando que estava silencioso, ao sair da academia ouço alguém falar.
— Ela tem um jeito tão parecido da Bonnie... — Não me dou trabalho de continuar ali.
Subo correndo para o meu quarto para organizar as minhas coisas e sou surpreendida pela governanta da casa fechando a minha mala em cima da cama.
Começo a rir e dou um abraço na doce senhora que também cuidou de mim aqui. Pega a mala da cama e desço novamente e assim que saio da escada a porta da entrada se abre, um dos homens pega a minha mala e leva em direção ao carro que estava na frente da entrada da mansão.
— Rafaela! — Olho para o corredor que dá acesso à garagem e Tommáz surge quase correndo sem a bengala.
— Então estou aqui perdendo meu tempo? — Pergunto abrindo os braços para me despedir do meu cliente e amigo.
— Sinto muito, mas com eles não posso lutar contra. — Ele diz me apertando com carinho. — Obrigado por tudo.
Sorrio para ele e aperto a sua mão e mais uma vez me despeço da família Miller e Walker, pedindo ao universo que volte a vê-los o mais rápido possível.
Sou direcionada para o último carro, me impressiono em saber que o senhor Spanos estava ali com uma fisionomia bem mais fechada de ainda pouco. Agora é hora de entender o que realmente esse homem espera que eu faça.
— Meu filho, no atentado, ainda não se recuperou e estou aqui apenas para levá-la até ele. — Ele pega um envelope com o motorista e entrega nas minhas mãos.
Abro o envelope e retiro as diversas folhas que estava lá. Olho para o prontuário de Apollo Spanos, dezenove anos, com uma lesão na L5, devido uma projetil retirado com sucesso na cirurgia.
No pós-operatório notaram a perda da sensibilidade, mas com fisioterapia e muito esforço ele poderia voltar a andar. Havia as diversas imagens de ressonâncias e outros exames complementares.
— Por que eu? — Pergunto segurando o prontuário no colo.
— Porque sou pai e quero o melhor para o meu filho. — Ele fala olhando em meus olhos.
— Não precisa da melhor, seu filho voltará a andar assim que concluir o tratamento. — Digo de queixo erguido.
— Olhe de mais perto e tente, nenhum dos que já contratei conseguiu passar mais que dois dias. — O olhar dele estava um tanto irritado.
— Se você fosse um pai severo e mais duro, tenho certeza que os outros ainda estariam trabalhando com o seu filho... — Sou interrompida assim que a porta ao meu lado se abre e vejo o jatinho preparado para decolar.
— Espero que ele mantenha a sua língua, estou gostando de você. — Reviro os olhos e saio do carro.
Não tenho para onde fugir.
Mando uma última mensagem para a Amélie e Laura, de longe vejo a Torre Eiffel e me despeço da cidade luz.