Entre ciúmes, feridas e faíscas

1203 Words
Senti o corpo dele ficar rígido, o beijo que antes era urgente e cheio de paixão começou a perder o ritmo. Franzi a testa e me afastei levemente, encarando os olhos dele. — Que foi, Playboy? Tá tudo bem? — perguntei, sentindo um nó no estômago. Ele tentou disfarçar com aquele sorriso de canto, mas era forçado. — Tá suave, gata. Nada que eu não aguente. — Ele levantou uma mão até a barriga, como se quisesse se distrair. Meu olhar seguiu o movimento, e foi aí que percebi. A camisa dele tinha uma mancha de sangue crescendo bem ali, no lado esquerdo. Meu coração disparou. — c*****o, Playboy! Cê tá sangrando! — gritei, o desespero começando a tomar conta. Ele ainda tentou manter a pose, aquele ar desleixado que fazia parte dele. Deu um sorriso curto, de canto, que não convenceu nem a ele mesmo. — Relaxa, linda, nem tá doendo. — A voz dele tinha um tom calmo, mas o suor que escorria pela testa contava outra história. Me aproximei, sem conseguir segurar o impulso de encarar ele mais de perto. — Como não? Então me explica essa cara de b***a que você tá fazendo. Ele abriu a boca pra responder, mas hesitou. O rosto dele tava mais pálido do que deveria, e aquele sorriso cínico tava murchando aos poucos. Com a mão, ele tentou apertar o corte, como se isso fosse impedir o sangue de escorrer mais. — É só cansaço, linda. Tô firme. — Apesar das palavras, a respiração dele tava mais pesada, e por um segundo, ele desviou o olhar, como se não quisesse me deixar ver a dor que tava escondendo. Revirei os olhos, tentando disfarçar o medo que fazia minha garganta fechar. — Firme uma p***a! Anda logo, vamo pra dentro deixa eu cuidar disso. Peguei ele pelo braço e praticamente arrastei pra dentro de casa, ignorando qualquer resistência que ele pudesse tentar oferecer. Chegando na sala, fiz ele se sentar no sofá e comecei a procurar o kit de primeiros socorros. Minhas mãos tremiam enquanto revirava as gavetas, xingando mentalmente pela bagunça. — Ei, calma aí, linda. Tá se estressando à toa. Isso não é nada. — a voz dele era baixa, tranquila, mas carregada de cansaço. — Nada? Você tá sangrando, p***a! Como cê quer que eu fique calma? — retruquei, irritada. Ele deu um suspiro, encostando a cabeça no sofá, e então falou: — Me passa o rádio, vai. Vou chamar o Baiano pra pedir pra enfermeira vir até aqui. Larguei a gaveta e peguei o rádio que tava em cima da estante. Entreguei na mão dele, sem paciência. — Tá aqui. Resolve logo isso, então. Ele pegou o rádio e apertou o botão, a voz saindo firme apesar do cansaço: — Baiano, tá na escuta? Depois de uns segundos, a resposta veio, meio chiada: — Fala, chefe. Tô aqui. — Chama a enfermeira. Tô precisando que ela faça outro curativo. — Demorou, chefe. Playboy largou o rádio na mesinha de centro e olhou pra mim, aquele sorriso torto voltando pro rosto. — Pronto, agora cê pode parar de surtar. Cruzei os braços, ainda irritada, mas com o alívio começando a tomar conta. — Você podia pelo menos ter avisado antes, em vez de ficar bancando o fodão. Ele deu uma risada baixa, me puxando pelo braço pra sentar ao lado dele no sofá. — E perder a chance de sentir tua preocupação por mim? Nem fodendo. Revirei os olhos, mas não consegui segurar o sorriso que escapou. Ele podia ser um i****a, mas era o meu i****a. O clima na sala tava pesado, misturando meu nervosismo com a tranquilidade irritante do Playboy. Eu andava de um lado pro outro, tentando esconder o quanto tava preocupada. Ele, largado no sofá, olhava pra mim com aquele sorriso de canto que só ele tinha, achando graça na minha inquietação. — Relaxa, linda. Do jeito que tu tá, vai abrir um buraco no chão já, já — ele soltou, dando uma risada baixa. Parei e encarei ele, a paciência se esgotando. — Para de gracinha, Playboy! Eu tô preocupada, cê não tá vendo? Ele riu de novo, ajeitando o corpo no sofá. — Juliana, tu sabe o ditado: vaso r**m não quebra, e eu sou o próprio, né? — disse, piscando pra mim. Respirei fundo, cruzando os braços. — Cala a boca, Playboy. Se continuar com essa palhaçada, quem vai te m***r sou eu. — apesar das p************s, meu tom era cheio de preocupação. Antes que ele pudesse responder, ouvimos três batidas firmes na porta. Saí disparada pra atender, a ansiedade dominando. Quando abri, dei de cara com o Baiano, sempre com aquela cara séria, e ao seu lado, uma garota. Jovem, bem arrumada, mas com uma postura que não me agradou de imediato. Meus olhos foram direto para ela, analisando dos pés à cabeça. A blusa decotada e a calça legging sob o jaleco branco. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Baiano esboçou um sorriso quase imperceptível e falou: — Iai, Juliana, cadê o chefe? — Tá lá dentro — respondi, apontando com a cabeça. Meu olhar voltou para a garota, agora mais afiado. — É você que é a enfermeira? Ela deu um passo à frente, sem hesitar, e respondeu com firmeza: — Sou eu mesma. Cruzei os braços, avaliando sua atitude. — Você costuma atender os pacientes com esse tipo de roupa? A expressão dela vacilou por um instante. Sem graça, tentou fechar o jaleco, mas o decote ainda chamava atenção. Antes que ela respondesse, a voz do Playboy ecoou da sala: — Tá demorando aí por quê? Deixei os dois entrarem e fechei a porta. Baiano veio logo atrás, sempre atento. Quando entrei na sala, lá estava ela, já toda sorridente, falando com o Playboy como se fossem velhos conhecidos. Ela puxava assunto, fazia piadas de duplo sentido eu não tava acreditando que aquela v*******a tava dando em cima do meu homem bem na minha frente Cruzei os braços e fiquei parada, observando cada movimento. — Pode tirar a camisa, vamos cuidar desse ferimento — ela disse, com um tom de voz exageradamente doce. Ela se posicionou entre as pernas dele, com uma proximidade que me deixou fervendo. Quando ele tirou a camisa, ela começou a mexer na maleta, se abaixando bem no meio das pernas dele. Aquilo foi a gota d’água. — Tá confortável aí, p*****a? — soltei, com a voz carregada de ironia. Ela parou por um instante, claramente surpresa, mas logo se recompôs. — Só tô fazendo meu trabalho — respondeu, com um sorriso que mais parecia um desafio. Playboy tentou intervir, rindo baixo para amenizar a tensão. — Relaxa, amor. A moça só tá fazendo o trabalho dela. Dei um passo à frente, estreitando os olhos. — Pelo que eu tô vendo, ela tá confundindo as coisas. A enfermeira continuou limpando o ferimento, tentando ignorar a situação. — Não tô confundindo nada. Só tô cuidando do paciente. O tom profissional dela era falso, e eu sabia disso. Playboy fez uma careta quando o antisséptico ardeu, mas disfarçou com um sorriso irritante. — Amor, relaxa. Eu não respondi, mas meu olhar falou mais do que qualquer palavra.
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