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Juliana
A noite tava fresca, e a brisa leve trazia aquele cheiro de mato misturado com fumaça de churrasqueira. Eu tinha acabado de sair do banho e tava encostada na varanda, olhando a favela. Os becos iluminados, a molecada correndo, o som de funk vindo de algum barraco mais pra baixo.
Foi aí que ouvi o ronco de uma moto se aproximando. Levantei o olhar e vi Playboy. Tava com a mesma postura de sempre, confiante e perigosa. A moto parou, e ele tirou o capacete, revelando o cabelo bagunçado. Quando olhou pra cima, nossos olhares se encontraram. Ele ficou ali, parado por uns segundos, antes de subir as escadas.
Eu continuei na varanda, com a cabeça cheia de perguntas, até que ouvi os passos pesados dele no chão de madeira. Quando ele apareceu, a luz da varanda iluminou suas roupas sujas de sangue. O coração deu um pulo no peito, mas eu segurei a expressão, tentando parecer tranquila.
— Playboy, tá tudo bem? Esse sangue... é teu? — minha voz saiu firme, mas o nó na garganta não me deixava respirar direito.
Ele deu aquele sorriso de canto, o mesmo sorriso que sempre me deixava dividida entre querer bater nele e me render.
— Fica suave, linda. O sangue não é meu, é do verme do Sabiá.
O alívio foi instantâneo, mas só por um segundo. Sangue nunca era sinal de coisa boa, ainda mais quando se tratava dele. Cruzei os braços, encarando ele com mais intensidade.
— E o seu machucado? Como tá?
Ele deu de ombros, um gesto que parecia minimizar qualquer gravidade na situação, mas o olhar entregava que ele tava cansado.
— Tava sangrando, mas eu chamei uma enfermeira pra fazer um curativo. Até agora não sangrou mais não. Tá tudo sob controle.
Eu franzi o cenho, irritada com o tom despreocupado.
— Você devia ficar de repouso, se cuidar direito. Isso não é brincadeira, Playboy.
Ele riu, um riso baixo que parecia carregar mais cansaço do que humor.
— Repouso? Bandido não tem repouso, linda. O corre não para, cê sabe disso.
Antes que eu pudesse responder, ele deu um passo pra frente, me olhando de cima a baixo, daquele jeito que fazia meu rosto esquentar. Seus olhos percorreram o conjunto de dormir que eu tava usando, um short curto e uma blusa de alça, simples, mas que ele parecia apreciar demais.
— Vamos falar da gente... — disse ele, num tom que misturava cansaço e desejo.
Eu levantei a mão, interrompendo qualquer intenção que ele pudesse ter.
— Vai tomar banho, vai. A gente conversa depois. Não dá pra ficar assim, todo sujo de sangue na minha frente.
Por um momento, ele ficou parado, me encarando como se tentasse decidir se obedecia ou não. Mas então ele deu um suspiro e assentiu, levantando as mãos num gesto de rendição.
— Tá bom, tá bom, tô indo.
Ele se virou e desapareceu pra dentro. Permaneci na varanda, com os olhos fixos nas luzes da favela, mas minha mente já tava longe, perdida no turbilhão de pensamentos.
Memórias começaram a invadir, uma atrás da outra: os momentos bons que a gente viveu, os erros dele que marcaram fundo, as dores que ele me causou e o peso de tudo que eu tava prestes a decidir. Era como se cada lembrança disputasse espaço, puxando meu coração em direções opostas. Ficar ou ir embora? Perdoar ou seguir em frente?
Nem sei quanto tempo passou, mas fui trazida de volta quando senti os braços dele ao redor da minha cintura. O cheiro dele já não era mais de sangue e sujeira, mas de sabonete misturado com o perfume que eu tinha dado de presente. Ele me puxou pra perto e começou a beijar meu pescoço, devagar, como quem pede permissão sem usar palavras.
— Playboy... para, vamo conversar primeiro. — falei, me virando pra ele, mas sem afastar suas mãos que ainda seguravam minha cintura.
Ele me olhou com um misto de ansiedade e arrependimento nos olhos, como se tivesse esperando o veredito de um juiz. Peguei na mão dele e o puxei até o sofá da varanda, onde a gente se sentou, frente a frente. A luz amarelada do poste mais próximo iluminava só o suficiente pra gente enxergar os olhos um do outro.
— Playboy... — comecei, com a voz firme, mas o coração pesado. — Eu pensei muito, e não foi fácil tomar essa decisão. Tava na dúvida se você realmente merecia, se tinha mudado de verdade...
Ele ficou em silêncio, mas o jeito como ele me olhava dizia tudo. Ele tava nervoso, mas não queria pressionar. Só deixou que eu continuasse.
— Mas eu decidi que vou deixar o passado pra trás. Não dá pra viver presa nas mesmas mágoas pra sempre.
Por um momento, ele pareceu não acreditar no que ouviu. Piscou algumas vezes e, quando abriu a boca, a voz dele saiu carregada de emoção, um lado que ele raramente mostrava.
— Então você vai me perdoar, amor? Vai mesmo? — a voz dele era quase um sussurro, como se tivesse medo de ouvir outra coisa.
Eu assenti, segurando a mão dele com firmeza.
— Sim, Playboy. Você mostrou que se arrependeu, e eu acredito em você. Mas, ó, não pensa que isso vai apagar tudo que rolou. É uma nova chance, só isso. Não vai vacilar de novo, cê tá me entendendo?
Ele segurou minha mão com força, quase desesperado, e se aproximou mais.
— Eu te amo, Juliana. Amo de um jeito que eu nunca amei ninguém. E juro pela minha vida, gata, se eu pudesse voltar no tempo, eu faria tudo diferente. Tudo. Eu nunca teria te machucado. Nunca teria te perdido.
As palavras dele me atingiram de um jeito que eu não tava preparada. Era verdade, dava pra sentir. Ele não tava mentindo. Eu engoli em seco e respondi, com a voz mais baixa:
— Eu sei, amor. E é por isso que tô te dando essa chance. Mas cê vai ter que provar que merece, todo dia. Porque se vacilar de novo, Playboy, eu juro que dessa vez eu não volto atrás.
Ele não respondeu. Só me puxou pra perto e me beijou, com um misto de paixão e gratidão. Era o tipo de beijo que parecia selar um acordo, um pacto.
O beijo dele era quente, quase febril, e suas mãos sabiam exatamente onde tocar, onde apertar pra me fazer perder o fôlego. Ele me puxava pra mais perto, colando nossos corpos como se quisesse apagar qualquer distância entre nós. Mas então algo mudou.