Matheus
Terça
18 de fevereiro
Noite
Como eu pude esquecer do aniversário do Hobi? Eu sabia e planejava esse dia desde o ano passado e esqueço de olhar o calendário na semana do grande dia.
Reservei seu presente em novembro e vou buscar hoje, uma hora antes do ensaio da banda. O presente é uma corrente com o símbolo da música; quero que ele me veja ao lado dele em seu sonho. No nosso sonho. Um dia, ainda vamos dividir o palco algumas centenas de vezes. Bom, esse é o plano.
Estou no shopping todo engomadinho e com meu presente numa sacola em um dos meus braços, quando vejo uma cena que nunca pensei que fosse possível. Era Jin. Ele não estava sozinho. É o garoto da cantina? É o garoto da cantina! Depois de hoje, achei que ele iria querer fugir de contato humano e locais públicos. Me surpreende vê-lo aqui, com ele e longe da amiguinha, na fila do cinema. Quando vi a garota nova e o Jin saindo de mãos dadas do refeitório hoje de manhã, pensei que os dois tinham alguma coisa. Séria estranho, já que os dois são ômegas, mas não sairia do padrão falando do Jin.
Os dois estão de frente um pro outro, Jin segura a pipoca e o garoto da cantina conduz a conversa. Jin ri. Os dois são fofos demais, sem muito a oferecer. É um relacionamento morno. Perco a vontade de olhá-los em menos de dois minutos, mas seria completamente desonesto se dissesse que tudo neles era r**m. Há neles algo que falta em mim e Aidan. Eles parecem sinceros.
A caminho do carro percebo que fiquei sem vontade de ir ao ensaio. Aidan provavelmente nem notaria a minha falta. Suspiro. As vezes eu acho que esse grupo é falso. Não imagino nenhum deles vindo até a minha casa com sorvete por um fim de relacionamento. Mas vou deixando os dias passarem como se alguma coisa fosse mudar.
Nathan
18 de fevereiro
Terça
Noite
O ensaio estava perto do fim. Hoje nós cantamos algumas músicas famosas e acompanhamos com um violão. Hobi estava animado. Falando demais e mais alto do que normalmente, se é que é possível.
A porta da garagem se escancara e Matheus entra com seu sorriso quadrado a mostra. Ele pula em Hobi e entrega seu presente, depois abre a boca com entusiasmo.
-A Princesa está namorando!- Ele fala com a voz brincalhona e se joga em um dos sofás ao lado de Ivan. Eu quase me engasguei com a minha própria baba e falei antes de que eu pudesse pensar.
-Com quem?- Precisei controlar a raiva na minha voz.
-O cara da cantina.-Falou e riu em seguida.
-Aigoo, sério?- Ivan fala e ri.
-Como você sabe?- Perguntei sem pensar de novo e Levi me olha com um meio sorriso aberto, enquanto afinava um violão. Eu não sei como mudei de humor tão depressa. Eu estava animado em sair com os meus amigos. Agora eu quero bater em alguma coisa; a imagem de Jin não sai da minha cabeça, namorando? Isso não pode ser possível. Alguma coisa se contraiu dentro de mim. Meu coração parece apertar e minha respiração fica pesada. Consigo vê-lo. Mil coisas se passam na minha cabeça como um flashback. Eu não o mereço. Ele me odeia. E ele tem motivos para isso.
-Eu os vi no cinema.
-Eles podem ser amigos!- Falei. Eu precisava que isso fosse verdade. Por um momento fingi acreditar.
-Ah, eles se beijaram... Amigos não se beijam, não é?- Ele riu e olhou para Ivan com um olhar malicioso. Isso doeu mais do que um soco. Eu queria vomitar.
-O Nathane a Lauani se beijam e são só amigos...- Ivan falou olhando para Tae. Os dois me encararam depois disso. Precisei fingir que estava constrangido com o comentário repetitivo de Ivan, isso não era novidade. Mas não acho que minha expressão tenha sido convincente. Acho que estou sério, com um leve bico emburrado.
- Hyung, está indo muito bem no violão agora!- Aidan falou e Ivan concordou com um sorriso. Suga sorriu para os dois e depois deu de ombros. Esse era o jeito tímido dele de dizer obrigado. Por que essa declaração repentina de Tae só parece ter afetado a mim?
-E depois?
-Depois o que, Hyung?
-O cara da cantina e o Jin... e depois?- falei meio desesperado.
-É só uma fofoca, Nathan. Por que está tão irritado?- Levi diz me encarando. A sala parece ficar mais silenciosa, embora suga ainda esteja tocando violão e errando razoavelmente.
-Não estou. –Falei rápido e Levi continuou me encarando. Ele sabe demais. Já houveram muitos momentos eu-Levi-e-Jin.
- O nome dele é Sehun, gente!-Aidan diz em meio a um riso.
-Nome de quem?- Lauani de repente põe a cabeça para dentro da garagem e os ômegas sorriem. –Layla está com o carro ligado, vamos logo.
-Do namorado do Jin.- Matheus diz.
-O que? Aquele projeto de ômega tem namorado?- Ally diz entrando na garagem também. Eles riem.
-Se ele é um projeto de ômega, o que você é?!- No momento que falei me arrependi. Tudo bem que pra mim, Jin é melhor até do que o Ivan, ou a Normani, mas eu não deveria ter dito isso. Levi agora deve ter certeza.
-Aish, Nam!- Ally recuou e me olhou com olhar de cachorrinho.
-Desculpe, você é linda também!- Demoro dois segundos para me lembrar que não devo estar nervoso. Eu sou um alfa lúpus, não?! Estou acima de Levi e definitivamente, acima do cara da cantina. Ele não vai ficar com o Jin. Ele vai se arrepender de ter tocado no Jin.
-Também? Desde quando você acha a Princesa bonito?- Lauani falou séria e me encarou. Minha testa está franzida, sinto minhas garras arranhando a palma da minha mão e percebo que elas estavam fechadas em punho. Eu preciso me acalmar.
-Mas o Jin é bonito.- Aidan fala como se fosse óbvio e eu lembro que ainda estou na garagem da casa do Ivan.
-Ele só é esquisito, mas tem um corpo legal também!- Ivan falou e me olhou de soslaio. Ele queria que eu confirmasse?
-O Jin tem a minha altura! – Ally falou como se fosse uma ofensa, mas no fundo ela sabe que os alfas gostam de ômegas pequenos. Jin é bem mais baixo do que eu.
-Por que a gente ainda está falando do Jin?- Matheus revirou os olhos e se levantou do sofá. As vezes ele parece ter ciúmes do Jin, mesmo a vida do Jin sendo como é. Lauani deu de ombros.
-Layla está com o carro ligado!- Lauani fala alto e pega na minha mão para sairmos juntos. Os meninos e Ally vêem subindo as escadas apertadas atrás da gente. Não estou com vontade de ir mais. Não quero sair para beber, falar besteira e ficar com um qualquer no final da noite. Eu quero Jin. Eu quero ir para casa e ficar um pouco sozinho. Eu mereço sofrer um pouco.
-Eu não estou me sentindo muito bem.- Falei quando chegamos no estacionamento. O grupo olhou para mim com as sobrancelha arqueadas. Menos Levi. Ele parecia saber que eu estava mentindo. –Eu vou para casa, a gente se vê amanhã.
Sinto Lauani buscar fôlego para insistir, Aidan também. Mas eu não iria ceder. Eu realmente precisava ir para casa.
Jin
18 de fevereiro
Terça
Noite
O Sehun é ótimo. Eu não esperava que o dia de hoje pudesse terminar tão bem. Ele é doce e carinhoso. Não me deixou entediado em nenhum momento e me deixou a vontade. Nos despedimos com um abraço apertado e prometi um segundo encontro. Ele sorriu.
Entrei em casa com um sorriso no rosto e já vejo Camila dar um pulo do sofá.
-Como foi?- Ela falou meio alto. Ri e abracei a garota.
-Ele é tão fofo!!- Ela franzi as sobrancelhas.
-Ihhh... Fofo é a primeira característica que você consegue pensar?-Ela ri e me dá um t**a no braço.
-O que?
-Ele beijou você?- Camila me balança, mas eu n**o com a cebeça.
-Claro que não! Esse foi o nosso primeiro encontro!- Eu ri me sentindo bobo, não consigo me imaginar beijando o Sehun. Não sei. Não pensei nisso a noite inteira. A presença dele parecia ser suficiente, não senti nada que me fizesse querer ele assim. A verdade, é que tentei eu não pensar muito a noite toda. Eu sabia que se pensasse, me lembraria de Nathan. E eu não queria pensar nele.
-Mas você quis, não quis?- Ela me cutucou com um riso malicioso.
-Eu não sei...- Ri baixinho e fui caminhando devagar para o meu quarto. Nem tínhamos notado que estávamos conversando na porta de casa. Eu sei que é loucura, mas sinto como se traísse alguém. Não alguém, Nathan. Isso me deixa um pouco irritado. Por que estou pensando nisso? Eu deveria pensar em Sehun e em como o meu dia foi bom, mas minha mente parecia sempre voltar a Nathan.
Minha casa tinha uma mobília moderna, em tons pasteis. As cortinas eram cinzas como as de escritório, o piso era de porcelanato e haviam detalhes em vermelho e amarelo. Eu gosto. É uma decoração feliz e arrumada. Como a de uma família de empresários, mas que ri no jantar.
-Você não sabe se quis beijá-lo? Pensou em que o encontro todo? Não estava prestando atenção nele?-Ela falou rápido, enquanto subíamos as escadas para o segundo andar.
-É claro que eu estava prestando atenção nele! Mas estávamos conversando!
-Essa carinha de anjo não me convence, Jin, você está longe de ser santo!- Nós rimos e entramos no meu quarto. Meu quarto é um pouco preto demais. Eu não acho isso. Meu pai acha. Tem um mesa grande de estudos, com um computador. O resto do quarto são os livros, meus milhares de desenhos, os jogos de videogame e minha cama de casal no meio.
Eu não quero falar sobre hoje; tenho a sensação de que, se falar posso mudar de idéia. Não tenho certeza do que quero que Sehun seja para mim. Eu gosto da idéia de gostar de alguém, mas não sei se Sehun poderá ser esse alguém. Foi morno. Não tivemos um melhor momento, ou pior momento. Todos foram bons, ou... Mais ou menos.
Eu teria que falar de qualquer maneira. Camila não iria se calar se eu não contasse tudo e agora que moramos debaixo do mesmo teto... fomos dormir por volta das duas da manhã, mesmo tendo aula no dia seguinte.
Jin
19 de fevereiro
Quarta
Manhã
Três minutos antes do toque, eu saio da sala e ando apressado até o telhado. Eu deveria passar no refeitório para ver Sehun, mas não vou entrar naquele lugar sozinho, mesmo mais cedo, principalmente numa quarta-feira. Eu terei que esperar mais um pouco para vê-lo. Não que eu estivesse tão ansioso assim.
-Jin!- Ouço uma voz chamar, por um segundo penso que é Sehun, mas não. É Nathan. É claramente Nathan.