Olivia Fernandes
Fiquei estática por minutos. O mundo parecia girar ao meu redor enquanto eu tentava processar a nova e chocante revelação. Não conseguia fazer nada além de abrir e fechar minha boca, sem conseguir pronunciar uma única palavra.
Estava absorta em meus pensamentos, convicta de que aquilo tudo não passava de um terrível pesadelo, daqueles que a gente deseja acordar o quanto antes. Sentia um nó na garganta e uma sensação de desamparo, como se o chão tivesse se aberto sob meus pés.
Sabia que não tinha culpa por não saber que Dante era o pai de Lucas. Nunca tinha visto uma foto dele, e sempre ouvira todos chamarem-no apenas de Senhor Salvatore. Naquela noite, eu havia me deixado levar pelos sentimentos intensos que surgiram entre nós, sem imaginar que estava prestes a descobrir uma conexão tão inacreditável e devastadora.
Parecia praticamente impossível que aquilo estivesse acontecendo comigo, justamente com alguém que sempre estive apaixonada desde o primeiro ano da faculdade. Como era possível que Dante, o homem com quem eu passei uma noite intensa, fosse o pai de meu melhor amigo? Era um cenário que desafiava todas as probabilidades.
De repente, parecia que tudo estava desmoronando ao meu redor. Desde o momento em que encontrei Lucas com Luara, um novo e estranho sentimento me invadiu. A realidade parecia desmoronar quando descobri que Dante, o homem com quem tinha compartilhado momentos tão íntimos, era o pai de meu melhor amigo.
— Isso só pode ser um pesadelo! — Quase gritei dentro do carro abafado, minha voz ecoando no pequeno espaço, enquanto esperava Dante liberar Lucas da delegacia. As palavras saíram como um sussurro desesperado, uma tentativa de escapar da angústia que sentia.
A tensão no ar era palpável. O tempo parecia esticar infinitamente enquanto a realidade se tornava cada vez mais insuportável. Quando me dei conta de que a situação poderia piorar ainda mais, meu desespero aumentou. O pensamento de ter que encontrar uma desculpa convincente para estar no carro de Dante me consumia. Minha mente corria a mil, tentando inventar uma história plausível, mas nada parecia fazer sentido.
Diante da cena em que Dante e Lucas saíam da delegacia, com Lucas se afastando e indo para seu próprio carro, eu senti um alívio momentâneo. Soltei um suspiro profundo, como se finalmente pudesse respirar. Mas logo o medo e o desconforto retornaram com força total. A situação estava longe de ser resolvida, e eu sabia que precisava lidar com as consequências.
— Desculpe a demora, não queria deixar você esperando por tanto tempo. — Dante tocou minha mão ao se aproximar. Eu, em um impulso, desvencilhei-me do toque dele, como se sua presença fosse uma lembrança dolorosa.
Dante franziu o cenho, mostrando confusão e um leve desconcerto ao ver minha reação. Seu olhar procurava entender o que estava acontecendo.
— Está tudo bem? — Ele perguntou, sua voz cheia de preocupação genuína. Seu rosto refletia a mesma confusão que eu sentia.
— Está! — Respondi, tentando esconder o turbilhão interno que estava me consumindo. Minha voz saiu mais tremida do que eu gostaria.
Dante, percebendo que eu não iria dizer mais nada, colocou o cinto de segurança e deu partida no carro. O silêncio entre nós era denso e carregado de tensão, o tipo de silêncio que grita mais do que qualquer conversa poderia. Lucas seguiu à frente no carro dele, e eu me senti como uma estranha passageira na própria vida.
— Meu filho, Lucas, é uma pessoa muito tranquila. Não consigo imaginá-lo em uma briga de festa. — Dante comentou, com um sorriso que parecia meio forçado. A sua tentativa de manter o ambiente leve contrastava com a tensão que eu sentia.
Eu estava tentando me acalmar, mas a ideia de Lucas envolvido em uma briga parecia inconcebível. Algo estava claramente fora de lugar, e a ideia de que eu poderia ser a razão de uma briga envolvendo Lucas era aterrorizante.
— O que aconteceu para ele se envolver nessa briga? — Perguntei, tentando disfarçar a minha crescente inquietação.
— Pelo visto ele quis defender uma amiga. — Dante olhou para mim com um olhar que parecia compreender mais do que dizia. Eu temi que qualquer expressão minha pudesse entregar o quanto eu sabia sobre Lucas. — Ofenderam a colega de classe na frente dele, e ele partiu pra cima do moleque. Ela deve ser importante, mas ele não quis falar sobre isso.
Dante voltou os olhos para a estrada, alheio à inquietação crescente que eu sentia. A ideia de que eu pudesse ser a amiga pela qual Lucas brigou parecia uma c***l ironia. Eu me sentia perdida, como se estivesse presa em uma realidade que não conseguia controlar.
E foi então que, no meio da angústia e da confusão, o telefone de Dante tocou. O nome e a foto de Lucas piscavam na tela, e eu senti um frio na barriga ao ver aquele nome que agora parecia assombrar minha noite.
Eu precisava sair daquela situação o mais rápido possível. A realidade estava se desintegrando ao meu redor, e eu sabia que tinha que encontrar uma saída antes que tudo se tornasse ainda mais complicado.