Maxim durante muitos anos foi um ímã de confusão.
Confusões suas, do seu irmão Dmitry, dos alunos perseguidos por valentões da sua escola, dos garotos mais franzinos da sua rua que apanhavam dos maiores...
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Um dia, aos oito anos, Maxim saiu de casa para comprar ovos para fazer o café da manhã dele e do seu irmão, e quando voltou, foi direto para o banheiro lavar o dorso da sua mão completamente sujo do sangue de três garotos que estavam batendo covardemente em um outro que estava sozinho.
Maxim gostou da sensação, seu corpo ainda sentia a adrenalina, um sorriso estava estampado no seu rosto ao olhar-se pelo reflexo no espelho de frente a pia, e daí por diante, situações como essas foram se tornando frequentes.
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Maxim e seu irmão Dmitry foram um para o outro a vida inteira. Eles não tinham mais ninguém por eles, o pai e a mãe estavam sempre muito ocupados brigando e se drogando, e não tinham tempo nem sobriedade para serem os pais que Maxim e Dmitry precisavam.
O pai deles era italiano e a mãe russa, por isso eles tinham cidadania nos dois países.
Maxim e Dmitry nasceram e moraram boa parte da infância na Rússia, até que a família decidiu se mudar para a Itália, depois do pai deles ser ameaçado por dever uma quantia alta a traficante locais.
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Um ano depois, os irmãos viram a mãe começar a espumar pela boca até morrer de overdose.
O pai, apesar de morar na mesma casa com eles por anos, aparecia apenas para dormir e espanca-los. O homem se afundava cada vez mais nas drogas e no álcool, até que saiu pela porta e nunca mais voltou.
Maxim sempre foi muito esperto, negociava como poucos, então comprava e vendia coisas para conseguir algum dinheiro para as necessidades dele e do irmão desde que a mãe ainda era viva.
Aos quatorze anos, recebeu uma boa proposta de trabalho depois de ser visto em uma briga na saída da escola. Maxim iria começar a lutar em ringues clandestinos.
Como ele era muito maior do que os garotos da sua idade, no ringue, ele lutava com homens de até vinte e três anos.
Nunca deixou que soubessem sua real idade e vivia atento com seus olhos de águia para não cair em armadilhas ou ser roubado, já que começou a ganhar um bom dinheiro com as lutas.
Quando Dmitry completou dezessete anos, Maxim deixou que ele começasse a lutar.
Dimitry estava fora de controle, vivia chegando com escoriações em casa, e Maxim achou que canalizando toda aquela raiva que ele tinha dentro dele nas lutas dos ringues clandestinos, ele ficaria longe do álcool e das drogas.
Funcionou por um bom tempo, mas os bares começaram a ser uma constante companhia para Dmitry depois de uma desilusão amorosa.
Se Maxim gostava de confusão, Dmitry era duas vezes pior e ultrapassava todos os limites do aceitável.
Ele sempre descontava suas revoltas e frustrações na primeira pessoa que olhasse torto para ele e repetia constantemente para o seu irmão que não chegaria aos vinte e cinco anos.
Infelizmente, Dmitry estava certo. Ele foi assassinado depois de uma briga de bar com o irmão do chefe de um dos clãs da máfia albanesa.
A confusão iniciou quando Dmitry viu o tal homem dando um soco no olho da mulher que o acompanhava. Ele não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas, mas detestava covardia.
Ao contrário da maioria das vezes, Dimitry dessa vez só estava defendendo uma mulher que estava sendo agredida por um homem que tinha três vezes a sua força.
Durante a briga, a princípio, a covardia do albanês foi apenas pegar um canivete acertando o braço de Dmitry quando percebeu que estava em desvantagem, mas depois de ver o seu canivete parar longe com um chute que o irmão de Maxim deu em sua mão, o albanês pegou a sua arma que estava presa no cós da sua calça nas costas e peneirou o corpo de Dmitry na frente de vários frequentadores do local, que se abaixaram assustados com medo que alguma daquelas balas o acertassem.
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Maxim estava saindo de uma das suas lutas quando recebeu uma ligação do celular do seu irmão.
— Por que não apareceu no ringue hoje? — Maxim perguntou achando que era Dmitry no outro lado da linha.
— Sr. Maxim, aqui é a policial Beatrice — nesse momento as pernas de Maxim perderam as forças. Ele já previa o que tinha acontecido.
— O que aconteceu com o meu irmão?
— Senhor, o seu irmão foi assassinado.
[...]
A polícia tentou descobrir informações que levassem ao autor do crime através de depoimentos, mas as respostas eram todas as mesmas: "eu não vi nada".
Três dias depois, após enterrar o seu irmão, Maxim voltou até aquele bar. Todos os funcionários do estabelecimento responderam o mesmo que nos seus depoimentos.
Depois de puxar o dono do bar pelo colarinho, e ainda assim não conseguir arrancar nenhuma informação, Maxim foi embora frustrado, mas não tinha desistido, não descansaria até descobrir quem tinha feito aquilo com o seu irmão.
Ele já tinha andado alguns metros quando uma mulher o chamou.
— Ei... Você... — a mulher apressou os passos para se aproximar de Maxim.
Ele virou o rosto olhando para ela, e quando viu que era com ele, parou a encarando.
A mulher contou com detalhes para Maxim tudo que havia acontecido, inclusive o nome do autor do crime e a sua ligação com a máfia.
"Arjan Alvanel, então esse é o nome do assassino do meu irmão?"
Após descobrir de quem se tratava, Maxim começou a investigar e descobriu que os albaneses e os sicilianos tinham várias conflitos.
O russo, que morava em Palermo, se mudou para a Sicília.
Ele descobriu um evento que estava tendo para membros do conselho da máfia siciliana e ficou na espreita esperando que alguém saísse.
Os primeiros a sair do local foram Federico e Vittorio Lombardi, o Don e o Sottocapo de uma das famílias mais influentes da organização Siciliana.
Maxim os seguiu no seu carro, mas quando estava passando por uma estrada escura e com pouca movimentação, foi surpreendido com uma freada brusca do carro da frente e armas apontadas em sua direção.
Ele saiu do seu carro com as mãos para o alto e logo foi imobilizado.
— Senhor, ele não está armado — quem falou foi o soldado que havia revistado Maxim depois de imobiliza-lo.
— Por que estava nos seguindo? — Federico Lombardi perguntou.
— Eu queria conversar durante cinco minutos com o senhor, em particular — Maxim falou o encarando.
Federico parecia ponderar.
— Eu vou junto — Vittorio falou e Maxim assentiu.
***
A conversa de Maxim com os dois homens foi em uma lanchonete com armas apontadas na direção dele por baixo da mesa.
Maxim resumiu a sua vida e o que aconteceu com o seu irmão para aqueles homens em uma conversa que não ultrapassou dez minutos.
Vittorio ficou tocado, mas os irmãos Lombardi compartilhavam da mesma opinião.
— Você não vai entrar para a organização, não funciona dessa forma, mas vou ajuda-lo com a sua vingança — Federico falou fazendo Maxim ficar satisfeito.