Capítulo 5

1036 Words
_ Mãe e pai eu posso saber exatamente o que foi isso? _ Nós é que perguntamos? - A mãe de Ana falou. - Que história é essa de namorar esse pé rapado que ainda por cima é de cor? _ Com a expressão "de cor" a senhora quer dizer n***o? Pois saiba que eu tenho o maior orgulho do homem que ele é. Nessa hora um tapa em seu rosto. Ana, com a face vermelha, marcada pela mão de sua mãe, a olhava com ódio e desprezo. _ Eu nunca pensei que fosse levar um tapa da senhora, principalmente por falar a verdade! _ E eu nunca pensei que iria ver minha filha, com um futuro brilhante pela frente, se esfregando com um qualquer dentro do apartamento que compramos. _ Se é pelo apartamento, pode pegar as chaves. Eu não ligo com nada disso! _ Cale-se! Já chega Ana Beatriz Brandão! - Seu pai esbravejou. - Você vai terminar com esse rapaz imediatamente. Ele não é para você e sabe disso. Aliás, é para nos afrontar que começou esse namoro, não é? _ Tenha a santa paciência pai. Acha mesmo que é tão importante pra mim assim afrontar vocês? Oras, eu amo o Luiz, amo! Seu pai lhe olhou com raiva e desprezo. Ela imaginou se iria levar outro tapa nesse momento. Sua mãe, que estava chorando encostada na mesa, não pronunciou uma só palavra. _ Você vai terminar esse namoro. Vai se casar com o homem que eu escolher para você. _ Pai, por favor, já estamos bem à frente disso! _ Seu pai já disse, Ana Beatriz! Esse rapaz não é para alguém como você! - Foi a vez de sua mãe abrir a boca. _ Posso saber por que ele não serve para mim? Seria por ele ser pobre? Ou quem sabe pela cor da sua pele? Ou tudo isso junto! Ana Beatriz estava tão nervosa que soltou em voz alta o que estava pensando. Seu pai se aproximou dela novamente com a mão levantada. Ana se encolheu esperando o tapa, mas esse não veio. Ao invés disso, um barulho alto de algo se quebrando. A garrafa de vinho foi atirada e agora estava em vários pedaços. _ Não interessa o motivo. Ou termina o namoro ou tiramos você dessa faculdade e te mandamos para o exterior. Dito isso, seu pai virou as costas e saiu. Sua mãe ainda ficou olhando para a filha com cara de nojo e desprezo, como se ela estivesse suja. Ana Beatriz, envergonhada pela cena dos pais, virou suas costas e foi em direção a sua lavanderia pegar a vassoura e outras coisas que precisaria para limpar aquela bagunça. Quando voltou sua mãe não estava mais lá. Ana então deixou as lágrimas saírem descontroladas de seu rosto enquanto se sentava no chão em meio ao vinho e aos cacos da garrafa. Ela enfim havia encontrado a felicidade e o amor nos braços de um homem. Não queria dizer aos pais porque sabia que eles iriam contra o namoro. Mas, Ana jamais pensou que reagiriam dessa forma. Nunca passou por sua cabeça que seus pais amados a tratariam feito uma mulher dessas que sai com qualquer homem. Menos ainda que tratariam seu namorado por um qualquer. Seu pai sendo político, não poderia demonstrar tamanho desprezo por pobres e nem o preconceito que existia em seu coração, pela cor da pele de outra pessoa. Vai ver que por isso ela jamais imaginou que passaria por tudo o que acabou de passar. Mesmo que fossem contra, ela nunca pensou que eles a tratariam assim. Após recobrar as forças, Ana se levantou e terminou de limpar tudo. Depois, ela entrou no chuveiro e deixou que a água levasse embora para o ralo todo aquele sentimento de raiva e mágoa que estava dentro dela. Ela sabia que não poderia nutrir esses sentimentos pelos próprios pais, mas não se importou de cultivar eles, mesmo que por pouco tempo, dentro de si. Exausta, ela saiu do banho e foi dormir. Não queria ver ou falar com ninguém, então desligou o seu celular. Já não importava mais a aula de amanhã. Já não importava mais a própria faculdade. A única coisa que estava em sua mente era o rosto do seu amado. No dia seguinte, Ana foi despertada pelo barulho da campainha tocando. Só poderia ser alguém que o porteiro estava acostumado pois ele não deixaria qualquer pessoa subir. Pensando que talvez pudesse ser Luiz, ela deu uma ajeitada em seu cabelo que estava todo bagunçado e correu até a porta. Olhou através do olho mágico, mas, para sua tristeza, não era o Luiz Felipe. _ O que você quer mãe? - Ana disse abrindo a porta e deixando transparente todo o seu m*l humor. _ Eu vou passar uns dias aqui com você. E não precisa usar esse tom comigo mocinha. Foi você quem procurou pelo que aconteceu aqui. _ O papai colocou esse apartamento no meu nome não foi? _ Foi sim. _ Então pode pegar essa sua mala e fora daqui! _ Ana Beatriz! Isso é jeito de tratar a sua mãe? _ Desde que me tratou como uma qualquer, é sim! Fora! Eu não quero a senhora, nem meu pai aqui. Querer que eu termine o namoro é uma coisa, agora ter de aguentar um de vocês me vigiando para garantir que isso aconteça é outra bem diferente. _ Ana Beatriz Bran... _ Nem termine meu sobrenome senhora. Eu sei bem qual é. Mas pra mim já chega de tudo o que aconteceu. Estou exausta e esgotada. Quero a minha privacidade. Portanto, a porta da rua é serventia da casa. Ana ficou parada na porta apontando para fora. Sua mãe, com cara de poucos amigos, saiu batendo os saltos. Ana sabia que aquilo não ficaria barato. Mas que, pelo menos por enquanto, ela teria um pouco de paz para pensar no que fazer. Mas uma coisa era certa. Ana amava Luiz de um jeito que jamais pensou amar alguém em sua vida. E, para ela, não importava a opinião dos pais, ela sabia do homem que ele era e do seu caráter. E do mais importante, o seu amor por ela.
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