A face do amor

Ana Beatriz nasceu em uma família de políticos. Seu pai e seu avô eram influentes na política do país. Sua mãe estava sempre ocupada com assuntos do partido. E ela cresceu nesse meio, mas nunca foi pega por ele. Uma menina sonhadora, Ana Beatriz queria viajar e conhecer o mundo. Loira, de olhos azuis, em seus 1 metro e 80 centímetros, chamava a atenção por onde passava. Já havia recebido inúmeros convites para participar de programas de TV, realitys e novelas, mas nada disso nunca lhe interessava. É que ela não gostava de aparecer. Ana queria amar e ser amada. Mas pelo status de sua família, só apareciam meninos ricos e mimados, que amam o próprio umbigo e mais nada. Quando Ana completou seus dezoito anos, ela resolveu fazer faculdade. Sua mãe queria que ela cursasse moda. Seu pai queria que Ana cursasse ciências políticas. Mas ela resolveu fazer Direito. No começo, todos foram contra. Mas com o tempo, o pai de Ana começou a achar útil a filha ser advogada. Afinal, nunca se sabe quando ele iria precisar. Mas a condição era que Ana estudasse na cidade de São Paulo, perto de onde moravam. Ela aceitou e foi rapidamente arrumar suas coisas. Seu pai lhe comprou um apartamento perto da faculdade e cuidou pessoalmente de sua matrícula. Sua mãe, toda pomposa, foi cuidar da decoração do apartamento. Ana assistia aquilo tudo e m*l podia acreditar que ficaria sozinha, longe desses dois que faziam de tudo para serem clicados em um site ou revista de fofoca. Assim, no primeiro dia de aula, com toda a ansiedade que estava, Ana fez o possível para não atrasar. Deixou seu material separado desde o dia anterior. Sua roupa, cuidadosamente escolhida, estava passada pela empregada que seu pai lhe contratou. Ela tomou um banho, se vestiu, comeu e foi correndo para a faculdade, morrendo de medo de se atrasar. Ao chegar na escadaria do local, Ana estava tão afoita que tropeçou e seus livros e cadernos caíram todos. Ela desequilibrou e quase caiu também. Um jovem que aparentava ser um pouco mais velho que ela, a amparou para que Ana não caísse. _ Cuidado! Você pode se machucar feio! Está tudo bem? Não machucou nada? Ana estava tão envergonhada que não havia olhado direito para o rapaz. Apenas quando ele falou que ela foi olhar, pronta para lhe responder que não havia se machucado e que ela sabia bem como se cuidar mas... Seus lindos olhos azuis encontraram aqueles novos olhos castanhos amêndoa. A pele morena e muito cheirosa daquele moço, hipnotizou Ana. O cabelo afro, cuidadosamente bagunçado, deixavam ele ainda mais lindo. Seus traços de menino travesso, alinhados com sua boca carnuda, convidavam para se perder em um beijo daqueles. Ana demorou alguns minutos para responder a pergunta do rapaz. Ela m*l podia acreditar no que estava vendo. Ele era lindo. _ Oi moça! Você está bem? Meu nome é Luiz Felipe. Só então, Ana voltou a si. _ Ah, oi. É... Eu sou Ana, prazer. Obrigada pela ajuda. Ana não havia percebido o quanto estava vermelha com vergonha por ter ficado tanto tempo observando aquele rapaz. Luiz Felipe. Mal sabia ela que Luiz Felipe a estava observando desde o instante que a viu atravessar a rua. Vindo de família humilde, Luiz Felipe ganhou bolsa integral para cursar Direito. Um sonho desde menino, mas que seus pais jamais poderiam pagar. Muito estudioso, Luiz nunca falta às aulas. Mas todos os dias, depois da escola, pegava sua bolsa e ia vender geladinho nas ruas de São Paulo, para ajudar no sustento da família. Seus outros dois irmãos morreram ainda muito jovens. O mais velho, se envolveu no tráfico e acabou perdendo a vida num tiroteio. E o menor, esse morreu atropelado enquanto brincava nas ruas. Sua mãe acabou ficando com problemas de cabeça quando isso aconteceu. Luiz é quem cuidava dela e a alimentava. Seu pai, um homem muito bom, trabalhador e honesto, trabalhava em uma oficina mecânica. Ele lhe ensinou o valor de ganhar seu dinheiro com o suor do próprio corpo. Luiz jamais havia visto, em toda a cidade, uma moça tão bela, cheirosa e encantadora. Ele sabia que ela nunca se aproximaria dele, mas não podia deixar que ela se machucasse caindo na escada da faculdade. Então correu para lhe ajudar. Por sorte ele chegou a tempo. E, tão de perto, ela era ainda mais linda e encantadora. Quando ficou vermelha observando ele, ela ficou ainda mais linda aos seus olhos. Mas por dentro, Luiz Felipe estava se segurando. Sabia que a jovem loira jamais se apaixonaria pelo moreno. Muito menos se ela for de família rica, o que suas roupas denunciam que é de família muito rica. Na cabeça dele, ele seria para ela apenas um objeto de desejo ou de afronta aos pais. Quando ela se cansasse, ele seria descartado como nada. Mas para Ana não era assim. Ela nunca via status ou dinheiro. Ela enxergava o coração. Ver Luiz lhe ajudar dessa maneira tão desprendida e desinteressada, mexeu com ela. Ele não estava olhando para a menina linda, mas para a moça que precisava de ajuda. _ Vem, eu te ajudo com esses livros. Só uma dica, não precisa trazer todos, apenas esse aqui. Os outros você vai ler mais em casa que aqui. - Luiz Felipe falou, enquanto levava Ana para dentro da faculdade. _ Ah é, e como sabe disso? _ A julgar pelos livros que carrega você está começando o curso de Direito. Primeiro semestre? Ana balançou a cabeça afirmando sem tirar os olhos de Luiz Felipe. Era como se ele a guiasse sem que ela precisasse olhar onde estava indo. _ Então, eu curso o quinto semestre. Já passei por tudo isso. Veja, aquela é sua sala. Seus livros estão aqui. Boa aula! Ela nem percebeu que ele estava carregando os livros dela. Com um aceno e um sorriso muito lindo que fez o coração de Ana quase saltar, Luiz Felipe se despediu e saiu pelo corredor.