Capítulo 1: Como tudo aconteceu. POV. Clara

2683 Words
Toronto, Canadá. O dia hoje está de pura neve e um frio daqueles que chega a latejar os ossos e alma parecendo sair do corpo pela temperatura abaixo de zero nesta manhã. Eu sou Clara, tenho 25 anos e faço faculdade de jornalismo. Sempre me vi envolta aos livros e as notícias. Meu sonho, sempre foi ser como aquelas repórteres que apresentam o telejornal no horário nobre, mas infelizmente, a minha timidez me faz congelar até mesmo frente a uma turma para uma simples apresentação, o que dirá comandar um telejornal. Enfim, sonhar não custa nada e nem paga aluguel. Estudar, sempre foi algo que me senti bem. Sempre fui tida pelo grupo dos populares como a nerd esquisita ou até mesmo o patinho feio da turma. Mas, na hora que precisavam da esquisita ou patinho feio aqui para um trabalho ou aulas particulares para terem boas notas, eu era a Clara CDF. Lógico, que com pais que sempre tentaram nos dar do bom e do melhor dentro das condições financeiras deles, nunca vi problemas em usar da minha inteligência como a minha irmã gêmea sempre me incentivou, a “ganhar um extra”. Sim, eu tenho uma irmã gêmea chamada Chloe. Mais velha que eu 15 segundos. Totalmente iguais, mas o oposto na personalidade. O que sou introspectiva, minha irmã é a mais extrovertida e uma garota que possui um QI avançado assim como o meu. Só que minha irmã, se dá melhor com a moda e atualmente, mora em Paris, onde trabalha para uma renomada e famosa marca Beauty da família de uma amiga que, pelos seus talentos, minha irmã conseguiu uma bolsa integral. Facilitando para nossos pais, já que o custo seria bem alto. Consegui passar numa das maiores e melhores universidades do Canadá e tive méritos dos quais, consegui uma bolsa parcial. Por isso, faço esses meus trabalhos e aulas particulares, complementando o que os meus pais me dão para pagar as mensalidades e até livros ou outros materiais que precisar. Moro em um alojamento com mais duas garotas incríveis que se tornaram minhas amigas, assim que nos conhecemos. Debby e Claire. Duas amigas bem doidinhas que sempre tentam me fazer ir à festas, mas infelizmente não curto muito esse tipo de badalação, então, por saberem como sou, não insistem, respeitando meu jeito e meu espaço. Apesar que Claire, dizendo ela, que irá conseguir me levar numa das festas nas irmandades do campus, ou até mesmo num dos bares que tem nas proximidades. Só faço rir. Não dou a muita trela para o que minha amiga maluquinha diz. Hoje, mesmo com o tempo frio, deixei meus longos cabelos loiros com alguns cachos nas pontas soltos. Resolvi aderir por causa da Chloe que me mandou pelo correio para deixar meus cabelos assim. Até que gostei. Não sou muito de ficar me emperiquitando como minhas amigas e minha irmã que só tenho fisicamente igual a mim, porque de resto, somos diferentes. Mas, até que me acho bonita e mesmo não me vestindo como uma top model ou até mesmo uma garota descolada, eu me sinto bem como sou. Só tem algo que me impulsiona muitas vezes a querer mudar, Pedro. Sim, o gato mais lindo e agora mais atencioso que conheço. Quando nos conhecemos, para mim, foi amor à primeira vista, já para ele, bem... eu sinceramente, acho que não gostou muito do encontrão que demos no corredor que dá a biblioteca. Afinal, o sujei de suco de uva e bem a camisa branca e cara dele. Na hora fiquei desesperada, mas confesso, que foi até engraçado depois de todo o sufoco que passei. Mas enfim, desde esse dia, me apaixonei. Só que como alegria de pobre dura pouco, percebi que aquele belo homem de pele moreno claro, cabelos pretos e olhos verdes penetrantes sobre um corpo esculpido pelos Deuses, tinha que haver um defeito, mulherengo! Cada dia uma garota diferente e sem ao menos me notar. Eu sei que se ele me olhasse uma única vez, acredito que poderia ser àquela que o tiraria dessa vida. Mas, meu coração cada dia que o via com uma mulher diferente, despedaçava meu coração. Mas, acredito que esse dia chegou! E se tornou o dia mais feliz da minha vida. Finalmente, seus olhos verdes após um debate caloroso na sala de aula entre mim, ele e o professor, seus olhos sedutores encontraram-se aos meus. Talvez seja por isso que resolvi me arrumar um pouco mais. O que naquele olhar tinha de enigmático e intenso, acabou se tornando o meu mundo inteiro. Após a saída de mais um dia de aula e daquele debate, Pedro me procurou e com isso, começamos a conversar. Era incrível como tudo fluía bem e sempre estávamos em momentos livres conversando, rindo e até mesmo trocamos números de telefone e ficamos algumas vezes altas horas conversando por mensagens. O impressionante de tudo, era que Pedro não era como eu pensava. O via sempre de um jeito esnobe e quando em algumas vezes, o vi agir indiferente a pessoas que destratam de outras por causa de status social, etc., mas, quando começamos a nossa amizade, percebi que aquele cara tão arrogante, estava se tornando alguém digamos, mais humano. Um dia como outro qualquer, fui surpreendida. Pedro ao dar aquele lindo sorriso após fazermos um trabalho que aquele mesmo professor que havia feito o debate, tiramos a nota máxima. Nos abraçamos comemorando e ao me olhar com aquelas belas esferas verdes e todos aqueles dentes brancos e alinhados naquela boca carnuda e rosada, e fixamente nos entreolhávamos, até que aconteceu! Sim, meu primeiro beijo de amor. Claro que já beijei antes, mas não foi a mesma coisa que agora. Nos beijamos e senti naquele entrelaçar de línguas, bailar ritmado de bocas se tocando e se correspondendo, o amor e algo entre as minhas entranhas por entre as pernas se encharcar. Eu estava excitada só de sentir os seus lábios ao meu. Nos afastamos por falta de ar e parecia que o tempo havia parado naquele momento. Só existia nós dois ali e não me importava se alguém presenciou a mágica e química que existia entre nós. Seus olhos se abriram e parecia que em sincronia. Nossos olhos se encontraram e com as testas encostadas, sorrimos. Por alguns segundos, mesmo que pudesse ser impressão minha, seu olhar ao mesmo tempo que mostrava amor, tinha um Q de mistério. Não conseguia identificar o que havia, mas era estranho. Porém, espantei esses pensamentos, já que dizem, “quanto mais pensamos negativo, atraímos o que há de r**m’, então... prefiro viver o momento. Naquele mesmo dia, Pedro se declarou me pedindo em namoro e óbvio, aceitei. Foi o dia mais feliz da minha vida. Tudo está perfeito entre nós, tanto que há dois meses estamos saindo. Tenho tentado estar à altura do meu gatinho. Eu posso chama-lo assim, afinal, todos os dias ficamos juntos e toda a Universidade sabe que somos namorados. Só tem algo que tem me incomodando um pouco. Pedro, tem insistido ultimamente para darmos um passo à mais na nossa relação. E, por mais que esteja completamente apaixonada, não me sinto preparada. Por mais que ele me cause aquela quentura entre as pernas, não sinto ainda o momento. Quero que seja especial e decidi. Iria me entregar à ele num dia que será eterno em nossas mentes. Conversei com minha irmã que me incentivou a dar esse passo. Até mesmo minhas amigas que não acreditavam muito no início nessa mudança do Pedro quando começamos a namorar, viram que o meu amor está mudado e isso foi o maior incentivo que tive para dar mais esse passo. Numa noite em que comprei o meu melhor vestido com ajuda da minha irmã Chloe que, mesmo à distância, a levei comigo numa chamada de vídeo e juntas, escolhemos um vestido que era fashion como ela diz, porém, a minha cara. Fiz uma surpresa para Pedro naquela noite e mais do que especial, foi a primeira vez. Não podia estar mais feliz! Seus toques sobre a minha pele, seu cuidado e carinho ao me reivindicar como sua, não podia ser mais do que maravilhoso. Naquela noite, foi mais do que podia querer ou imaginar. Só que nem todo o conto de fadas é como imaginamos. Dois dias depois da nossa noite de amor, Pedro já não era mais o mesmo de quando iniciamos nossa relação e foi ali que percebi que aquele duelo que travava internamente que acabava refletindo no seu olhar, se aflorou. Pedro, voltou a ser o mesmo mulherengo de sempre. terminou por mensagem e como se não bastasse, esfregava cada dia uma garota diferente e às vezes até a mesma que ele dizia ser sua amiga na minha cara e ainda dava sorrisos cínicos na minha direção, demonstrando o quanto aquilo parecia ser prazeroso para ele me ver sofrer. Contudo, minhas notas e meu rendimento na Universidade estavam evidentes. Minhas notas, faltas e até mesmo minha concentração nas aulas decaíram de uma forma que meus pais foram chamados para o Reitor saber o que acontecia comigo. Mesmo sendo maior de idade, ainda sim, o reitor achou prudente chama-los até a Universidade, já que nem mesmo a psicóloga conseguiu arrancar de mim o que tanto num piscar de olhos, minha vida promissora havia ido por água abaixo. Até mesmo minha irmã estava preocupada e pensando seriamente em voltar para Toronto. Por mais que era visível parecer estar depressiva o que constatou a psicóloga da Universidade, meus pais tentaram de tudo me fazer sair daquela escuridão e sob as suas ameaças em me levar de volta para casa me tirando do alojamento, parecia que algo havia despertado e aparentemente estava melhorando, até numa bela manhã um mês depois, após mais uma vez colocar todo o café da manhã para fora, acreditava estar voltando tudo de novo e o medo me atingiu em cheio, já que estava começando a pôr minha vida de volta nos trilhos com ajuda dos meus pais, irmã e amigas. Essas que, quando souberam o que Pedro havia feito após perder a minha pureza com ele e começar a desfilar com mulheres para me machucar, quase que a mais doida de todas, Debby quebrou todo o belo carro do “escroto”, como ela o apelidou. Chloe estava disposta até mesmo a se transferir para ficarmos mais perto, só que eu não aceitei. Não ia levar minha irmã para o buraco sem fim no qual eu me encontrava e estava tentando a todo custo voltar a pelo menos a mesma CDF que sempre fui. Não cheguei a contar a minha irmã que o motivo de estar assim nessa depressão fosse Pedro. Inventei qualquer desculpa, só para não a preocupar, mais do que já estava. Com aquele enjoo que vinha acontecendo há uma semana sempre pela manhã após o café, que Claire me vendo daquele jeito, parecia saber algo. Me olhou desconfiada e saiu após me ajudar a chegar até a minha cama. Agora, estava até tonta e com certeza, era por estar me sentindo fraca, já que malmente me alimento direito. Minutos depois o que pareciam ser uma eternidade, minha amiga retorna e estende uma sacola da farmácia em minha direção. Sentando-me na cama, encaro a sacola e ela em interrogativa. - O que é isso Claire? – Ela agita a sacola na minha frente e séria, praticamente me obriga. - Vai ao banheiro e faz. Tenho a certeza que está grávida! Num só pulo da cama e assustada, passando a mão por meus cabelos n**o veemente. Não! Sinceramente não pode ser! Me n**o a aceitar que esteja nessa situação, mas... Um sorriso surgiu, uma emoção tomou conta do meu coração. E se? Com certeza, se eu estiver, Pedro vai amar saber que teremos um bebê e quem sabe agora, ficaremos juntos, afinal, não entendo até hoje porque tudo ruiu daquela forma. Por mais que esteja feliz, não posso ficar tão certa assim, já que ultimamente minha vida tem sido tão negativa, que temo estar doente. Olhando para a minha amiga que me encara com aquela sacola estendida na minha direção, a pego e rapidamente corro até o banheiro trancando a porta em seguida. Foram os cinco minutos mais demorados da minha vida quando retirei aquela embalagem da caixa e fiz tudo conforme as instruções mandavam. “Toc, toc, toc” As batidas estavam insistentes. E eu só fixava meus olhos e me concentrava naquele bendito palito na minha frente sobre a bancada da pia. O coração estava tão acelerado, que podia jurar que havia uma banda de rock fazendo um show naquele banheiro. - Clara! Está tudo bem amiga? Abre a porta amiga por favor. – O barulho da maçaneta me trouxe a realidade e com ela, o resultado que me fez errar as batidas do meu coração. - Já estou saindo Claire. – Respiro fundo pegando o resultado e após um breve silêncio sendo rompido pelo destrancar da porta, me deparo com minha amiga me encarando assim que a abri. - E então? – Seu olhar me analisa. Respirando fundo, mostro o teste a minha amiga e assim que vê o resultado, sua boca está aberta. Está tão surpresa quanto eu. - Amiga, você está... - Grávida! Eu sei Claire. Estou tão assustada quanto você. Caminhamos até a minha cama e nos sentamos lado a lado. Até que ela diz. - Amiga, estou aqui sempre para te apoiar no que decidir. E sinceramente, não sei se lhe dou os parabéns ou pêsames. Franzo a sobrancelha e não sei se entendi bem. Porque pêsames? - Como assim Claire, porque diz isso? Um suspiro profundo, Claire dá e parece ponderar o que vai me dizer já que a conheço bem quando está pensando se diz ou não. Mas antes, não tivesse falado nada. - Amiga você tá grávida daquele lá. E, talvez seria uma boa... – A interrompo indignada pois, já sei o que ela vai dizer. - Nem termina Claire. Sei bem o que vai me dizer, mas em hipótese nenhuma vou tirar meu filho. E nem pretendo esconder do Pedro que estou grávida. – Me altero com raiva. - Calma amiga. Desculpa por ter pensado nessa hipótese. Mas, você pretende mesmo falar para ele que está grávida? Assinto consentindo de cabeça mordendo o lábio e ela suspira me abraçando de lado. - Tudo bem amiga. Eu vou te ajudar a falar com ele. De repente, a porta do meu quarto se abre abruptamente e uma Debby ofegante se escora entre a porta e batente tentando recuperar o fôlego. Nos olhamos e rimos daquela nossa amiga maluquinha. Mas, o seu olhar estava estranho e logo, senti um frio percorrer pela espinha de que havia algo muito grave a estar por vir. - Debby?! – A indaguei como em um sussurro. Claire me olhou e voltou-se para observar nossa amiga que agora, parecia ter recuperado um pouco seu fôlego e se aproximou com seus olhos castanhos arregalados e aquela imensa cabeleira loira esvoaçante. - Amigas, vocês já estão sabendo? Eu e Claire nos entreolhamos e estranhamos aquela pergunta, até que, quebrei aquele contato com minha amiga, encarando Debby, a indagando. - O que aconteceu Debby? Ajoelhando-se em nossa frente, nossa amiga me encara com olhos marejados e dispara. - Eu já sei porque o Pedro estava todo carinhoso com você e depois da noite que tiveram, terminou tudo por mensagem. Senti meu coração se apertar e algo me dizia que não iria gostar do que iria ouvir. Senti a mão de Claire sobre a minha dando um leve aperto para dizer que estava ali e sorri fraco. Respirei fundo e encarei Debby. - O que foi Debby? Se entreolhando com Claire e percebendo de relance que a mesma balança em afirmativo, Debby soltou o que parecia precisar de uma autorização da minha amiga ao meu lado e falou. - Você foi uma aposta entre os amigos idiotas dele. - O quê?! – Em uníssono com Claire, foi a única coisa que consegui falar antes de me derramar em lágrimas. Continua...
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