O caminho foi no mais absoluto silêncio até chegarem ao escritório. Ao entrarem, Steven e Dominique já estavam acomodados em duas das três cadeiras que haviam frente a grande mesa e uma cadeira giratória.
Assim que Claire passou pela porta, Chloe que estava com a mão sobre a maçaneta a fechou para que pudessem ficar mais a vontade para tudo o que iriam falar.
Olhando para trás, viu a amiga passar por ela e sinalizar com seus olhos a cadeira vaga. Claire suspirou e seguiu logo atrás sentando na cadeira da ponta enquanto Chloe se sentava na cadeira giratória detrás da grande mesa de madeira preta.
Abrindo a gaveta ao seu lado, a loira retirou uma pasta azul e colocou-a sobre a mesa. Deslizou na direção a ruiva que franziu o cenho ao ver o quanto de papel continha ali dentro. Engoliu em seco e arqueou a sobrancelha em interrogativa. Suspirando, Chloe forçou um sorriso e ao recostar na cadeira, apoiou os cotovelos sobre os braços da mesma e uniu as mãos depositando os indicadores nos lábios dando algumas leves batidinhas e disparou.
- A Clara como pode ver está viva. O menino lindo que me confundiu com a minha irmã é o Lucca, seu filho e biologicamente daquele infeliz. – Ao falar a última parte, seu maxilar se travou e havia raiva nas palavras.
- Mas ela não havia morrido. Quer dizer, esses anos todos, como? – Estava em choque ao indaga-la.
Direcionando seu olhar para Steven, Chloe balançou a cabeça para que ele narrasse essa parte.
- Bom, quando a Clara se jogou, um rapaz que havia ligado avisando que tinha visto o que aconteceu, pulou em seguida para tentar tira-la de lá enquanto o resgate não vinha. Com muito custo mesmo ele sendo um surfista profissional, conseguiu encontrá-la e a tirou da água tirando o casaco que estava muito pesado e preso em uma planta marinha.
- E como você não falou nada para ninguém sobre isso? – Seus olhos vermelhos o encaram em descrença.
Steven apenas a encarou de volta sem demonstrar nenhuma reação. Na verdade, o bombeiro sempre soube que Clara estava viva e só então quando a mesma estava num hospital, é que avisou a Debby. Depois disso, Chloe e seguido do seu pai Karl. Dominique só ficou sabendo da existência da irmã que estava viva, mas com sequelas, quando a loira o levou para conhece-la. Até o pequeno Lucca que ainda não o conhecia, não fazia muito tempo a descoberta.
O peito se apertava em dor, por tantos anos não terem ficado sabendo, mas o que a deixava enraivecida, era a traição que sofrera. Claire não conseguia entender quando fez a pergunta à Steven e o mesmo não ficar envergonhado ou até mesmo cabisbaixo por algo que acreditava ter feito errado. Ou seja, aquela reação só lhe confirmava que todos naquele escritório, sempre souberam desde o início que Clara estava viva, menos ela.
Por mais que Claire não tenha a certeza de que Debby não saiba de nada, a ruiva não era boba. Unindo como 1+1=2, sabia bem que a loira com as pontas dos cabelos rosa, vinha em ligações estranhas, quando pressionada por Chloe na época, ficavam sempre de segredinhos e cochichos pelos cantos. Olhando para Steven, esperava saber a verdade. Agora que começaram a falar, que cheguem ao fim com todo aquele segredo. E dependendo o quanto Dominique está envolvido nessa história, mesmo com a noite incrível que tiveram, nem continuaria com o que começaram a viver juntos.
A mágoa estava ali no seu coração por todos aqueles que ama, mas a vontade abrupta de saber o que houve com a sua amiga e como ela está viva, a fazia continuar naquela sala em que até mesmo o ar estava sendo sufocante.
- Primeiro, quando eu descobri o paradeiro da Clara, ela estava em coma e com um volume no baixo ventre. Por um milagre, não só ela sobreviveu, como o bebê, no caso o Lucca, estava ali, crescendo forte e saudável. E como esse surfista passou por um acidente ao qual ficou entre a vida e morte, a levou para a mesma aldeia de uma tribo de xamãs que cuidaram dela, fazendo o mesmo que fizeram com ele.
Os olhos de Claire estavam inundados de lágrimas, a mesma pressionava os lábios para não as derramá-las por seu rosto. Estava emocionada e sensibilizada com tudo o que sua amiga passou e todos que estavam naquele escritório não estavam diferentes. Cada um com suas emoções complexas.
Dando uma fungada e esfregada em seu nariz, Steven suspira e continua.
- Bom, eu conheço a Debby há muitos anos. Antes dela morar no alojamento em que vocês três se conheceram e dividiam o quarto do dormitório, eu a salvei de um incêndio ao qual ela saiu praticamente ilesa, mas os demais familiares dela, não tiveram a mesma sorte. – Sentindo aquela dor em seu peito, Steven abaixou a cabeça.
Aquele dia foi bem traumático não só para ele que era a primeira vez que fazia um grande salvamento, mas para a loira com as pontas dos cabelos rosa. Por causa do seu pai que era um alcoólatra e que não admitia que a filha fizesse faculdade, já que na visão dele, era para sua filha trabalhar como garçonete levando o dinheiro para casa como sempre fez desde os 14 anos.
E, justamente naquele dia, o homem chegou tão bêbado, que ao ver as malas da filha e a mesma se despedindo dos irmãos e da mãe, a agrediu pela primeira vez. Após a agressão, a trancou no quarto desacordada e era o único lugar que não havia grades na janela. Dali por diante, era um borrão na mente de Debby. Não se lembrava o quê e como aconteceu o incêndio. Só lembrava após acordar na manhã seguinte no hospital com ataduras nas costas e coxas por ter queimaduras de 2º grau.
Todos ao saberem que aquela mulher cheia de alegria e completamente doida muitas vezes, escondia uma grande dor e tristeza, que as meninas sabiam superficialmente o que ela carregava em seu coração.
Ao levantar seus olhos, havia uma grande tristeza no olhar de Steven. Chloe, ao ver que todos estavam abalados, resolveu encerrar por hora aquela conversa. E mentalmente agradeceu, antes de falar o que veio a mente, as batidas na porta do escritório, quebrando aquele clima mais do que tenso que pairava ali.
“Toc, toc”
- Sim, pode entrar! – A voz de Chloe reverberou.
A maçaneta girou e a porta se abriu, revelando uma pessoa conhecida. Era Ellen Consuelo que colocou somente a cabeça para dentro da sala.
- Senhora... quer dizer, Chloe e senhor Steven. Ela acordou.
Ao ouvirem aquelas palavras, era como um elixir de magia que os deixaram sorrindo. Claire, ficou eufórica ao perceber que se tratava da sua amiga. O coração estava transbordando de felicidade. m*l podia acreditar que estaria frente a pessoa que tanto sentiu falta.
- Obrigada Consul. Fique com ela e o Lucca por enquanto. Já estamos indo. – Disse Chloe enquanto Ellen Consuelo assente fechando a porta.
Claire se levantou elétrica mas, logo foi interrompida por sua amiga que ainda precisava deixar algo claro que não foi dito ainda.
- Vamos logo gente. Quero muito abraçar minha amiga.
- Claire. Preciso te falar uma coisa.
O sorriso largo em seus lábios, parecia não querer abandonar o seu rosto. A indagou ansiosa.
- O que Chloe? Diga logo por favor!
Saindo de trás da mesa, Chloe caminha até Claire que ainda mantinha o seu imenso sorriso. Não queria estragar aquele momento, mas era preciso. Suspirou pesadamente e disparou.
- A Clara ainda não está 100% e é preciso que você não crie expectativa.
Desfazendo aquele imenso sorriso, a encara com o cenho franzido.
- Como assim? O que você quer dizer com isso?
Apertou os lábios e olhou para Steven que assentiu. Ao encarar Claire, forçou um sorriso e suspirou.
- A Clara está cega e sem os movimentos das pernas. – Respirou aliviada por ter conseguido falar parcialmente o que aconteceu com a sua irmã.
Engolindo em seco, Claire ficou boquiaberta com a revelação. Abriu a boca para falar, mas foram interrompidos com a porta abrindo num só rompante. Todos simultaneamente olharam para trás, e lá estava Ellen Consuelo com Lucca nos braços...
Continua...
Sei que vão ficar bravas ou chateadas comigo por duas consequências que Clara ficou após sua tentativa de suicídio, mas logo ela ficará boa e quero apenas mostrar que toda ação, tem uma reação.