atrás das grades
Ruan Marco de Medeiros, mais conhecido como Don, era o dono do Morro da Babilônia, no Rio de Janeiro. Ele era um homem com olhos penetrantes e cabelos escuros que, sob a luz fraca das ruas da favela, pareciam quase negros. Sua expressão costumava ser fria e calculista, características que o ajudavam a manter o controle do morro. Ele era muito minucioso em suas empreitadas, mas em um pequeno deslize, acabou sendo detido pela polícia.
Karina, uma advogada criminalista experiente, havia sido contatada para solucionar o caso. Ela era uma mulher de traços delicados, cabelos castanhos e um olhar doce e ao mesmo tempo perspicaz.
— Ruan Marco de Medeiros, vinte e oito anos, residente no Morro da Babilônia, comerciante no ramo da moda. — disse Karina, fazendo um gesto de aspas na última parte de sua descrição, Don lançou um olhar divertido para Karina e disse.
— Mas conhecido como Don, Don Ruan, sacou? — Ele sorriu de leve, fazendo um trocadilho com seu próprio apelido. Karina teve que se esforçar para não rir daquele trocadilho bobo, mantendo uma expressão séria.
— Houve uma denúncia em seu nome, e em seu carro foi encontrado uma quantia em dinheiro e um cigarro de maconha. — Don suspirou, sua expressão mudou ligeiramente para uma mistura de irritação e resignação.
— Claro, eu havia acabado de sair de uma de minhas lojas e o cigarro de maconha, bom... eu precisava relaxar.
— A pergunta é: você vende entorpecentes? — Karina olhou fixamente para ele, tentando decifrar suas verdadeiras intenções.
— Jamais, senhorita. — Seu tom era firme, mas havia uma sombra de preocupação em seus olhos, Karina assentiu, mas sabia bem a resposta.
— Não vai ser difícil derrubar a acusação, claro, se não aparecer nenhuma prova mais. — Ela o olhou através das grades da cela, avaliando suas reações.
— Então eu posso ir embora? — Don questionou, esperançoso.
— Vou conversar com o delegado, ter entorpecentes para consumo não é motivo para prisão.
— Se me tirar daqui ainda hoje, eu te levo pra jantar. — disse ele sorrindo de forma sugestiva, Karina arqueou uma sobrancelha de forma desafiadora e disse.
— Quem disse que quero sair com você?
— Por que não iria querer? Olha pra mim. — Ele era um homem muito bonito, costumava se gabava por sua aparência, e Karina não pôde deixar de soltar uma risadinha, antes de responder.
— Daqui a pouco volto com notícias.
Cerca de duas horas haviam se passado, e Don já estava impaciente, ele segurava as grades da cela com força e se esticava para ver se Karina aparecia. Foi então que a viu vindo pelo corredor, acompanhada por um guarda.
— o delegado quer conversar com você. — disse Karina, e o guarda abriu a cela, junto com eles, Don foi até a sala do delegado.
A sala do delegado era simples, com móveis de madeira desgastada e as paredes decoradas com retratos de autoridades passadas. Don sentiu o desconforto do ambiente, contrastando com a esperança de sua possível liberação, o delegado, um homem de meia-idade com olhar experiente, estava sentado atrás de uma mesa de madeira maciça.
— Ao que parece é só mais um trabalhador que gosta de fumar um baseado — o delegado começou a conversa e Don encolheu os ombros, tentando parecer indiferente.
— De vez em quando é bom pra desestressar. — O delegado assentiu, olhando para Karina.
— Você vai ser solto por falta de provas, mas ficará sob investigação, preciso que preencha essa ficha, para que possamos entrar em contato caso seja necessário. — Don concordou e começou a preencher a ficha, enquanto Karina permanecia ao seu lado, observando a situação de perto. A sensação de alívio estava misturada com a preocupação de estar sob investigação.
Quando Don terminou de preencher a ficha, ele saiu da sala do delegado ao lado de Karina, então a seguiu até o estacionamento onde estava o carro dela.
— poderia me dar uma carona? — ele pediu.
— carona?
— sim, estou a pé, sem dinheiro e sem celular, apenas com meus documentos.
— tá, te dou uma carona, coloca seu endereço no GPS.
— Se não aparecer nenhuma prova, ou caso não me peguem com drogas, não serei mais preso, não é? — Don perguntou enquanto entrava no carro de Karina.
— Você está sob investigação, pois houve uma denúncia, mas as leis aqui no Brasil são bem falhas, logo eles esquecem do caso e param até de investigar, mas é bom você ficar esperto, hoje você teve sorte. — mas Don sabia que não era apenas sorte que o mantinha a salvo, ele era meticuloso em seu trabalho, não deixando pontas soltas, nem que para isso tivesse que eliminar alguém que ousasse ameaçar seu império criminoso.
Karina estacionou o carro na entrada da favela, atendendo ao pedido de Don. Antes de sair do carro, ele a encarou com um olhar sugestivo.
— E aí, quando vamos sair? — Ele perguntou, mantendo o clima leve, Karina suspirou, balançando a cabeça e perguntou.
— Ainda está com essa ideia?
— Claro.
— Não, não vamos sair. — disse ela de forma direta, Don sorriu e se aproximou dela, tentando beijar seus lábios, no entanto, ela virou o rosto, deixando apenas a bochecha a seu alcance, ele aproveitou a oportunidade e a beijou ali mesmo.
— Obrigado pela carona. — Disse Don, antes de sair do carro e seguir seu caminho, subindo o morro.
Don era uma figura imponente na comunidade, as pessoas o respeitavam, mesmo que com uma pitada de medo, por onde passava lhe acenavam com a cabeça e o cumprimentavam. Ao chegar em sua casa, sem cerimônia, ele entrou, surpreendendo seus amigos que estavam sentados na sala jogando conversa fora.
— Bonito, eu preso e vocês fumando no sofá da minha casa. — Don brincou, tentando aliviar a tensão do momento, Diego, um de seus amigos, respondeu com um sorriso.
— porr@ cara, por que não ligou? Eu ia te buscar.
— Deus me livre de chegar perto de uma delegacia. — Completou Jeff, outro amigo, então Don os tranquilizou.
— Relaxem, ganhei uma carona gostosa, com cheiro de perfume floral.
— Como foi lá, tá de boas? — Diego perguntou.
— Não tinham provas, então tiveram que me soltar, mas estou sob investigação, uma pergunta, quem arrumou aquela gata pra ir lá me soltar?
— Um amigo me indicou ela, disse que era muito boa. — Diego compartilhou o crédito.
— E bota boa nisso. — Disse Don que fez um gesto com as mãos, desenhando as curvas da advogada no ar, Jeff, com seu cigarro aceso, interveio de maneira descontraída.
— Se aquieta que não é para o teu bico. — Don sorriu, mas logo lembrou de um detalhe importante.
— Que droga, esqueci de falar sobre o p*******o.
— Preocupa não, eu acertei com ela antes dela ir lá na delegacia.
— Valeu, cara. — disse Don em agradecimento a Diego.
Enquanto isso, Karina chegou a sua casa e encontrou sua irmã gêmea, Karol, isso não acontecia com frequência, já que Karol era médica e costumava fazer muitos plantões no hospital.
— Que milagre você em casa — Karina comentou, surpresa, karol suspirou, aliviada por estar em casa por um tempo e disse.
— Tenho trabalhado feito uma condenada, mas está dando resultado, mês que vem, pagamos a última parcela da casa e do carro também. —Karina sorriu e comentou.
— Vamos ter mais um tempinho para ficar juntas e curtir um pouco, desde que nos formamos, é só trabalho, trabalho e mais trabalho. — Ela encostou a cabeça no ombro da irmã, buscando conforto na presença dela, Karol concordou com um aceno e com uma única palavra.
— Sim.
— Hoje me chamaram para resolver um caso, coisa rápida, mas o p*******o foi muito bom, e o cliente, um homem lindo, de tirar o fôlego. — Karol respirou fundo, temendo pela empolgação da irmã.
— Eu até ficaria feliz por você ter conhecido um gato no trabalho, mas você é advogada criminalista... já basta aquele seu amigo bandidinho.
— Não fala assim do Eduardo, ele é gente boa.
— Até que é, não quer dizer que ele seja uma boa pessoa, se é que me entende.
— Vou pedir uma pizza, quem paga hoje? — disse Karina, pra mudar daquele assunto que claramente causava incômodo a irmã.
— Melhor um japonês, eu p**o.