Capítulo 07

547 Words
Victoria Oliveira Não sabia que minha mãe tinha tantas amigas até hoje, que acabei conhecendo todas elas. Aparentemente, uma delas acabou perdendo o filho de maneira triste. Ouvi-la dizer que já tinha o perdido a anos e que agora era apenas uma confirmação me destruiu. Franco era usuário. Não o conheci, nunca pude sair de casa, mas estou triste por sua mãe e por todas as coisas que aconteceram. Ela parece uma senhora simples e trabalhadora, era claro em seus olhos como ela amava o filho e como ela fez tudo para que ele pudesse melhorar. Dadinho e João Guilherme estavam organizando as coisas, tentando colocar tudo em ordem para que ele fosse entrrrado de maneira digna. Achava bonito da parte dele que, mesmo que não fossem mais tão próximos do garoto, fizessem o possível para que ele tivesse um bom final. Vejo vários pontos nesse lugar que precisam ser mudados e estou disposta a conversar sobre isso com João Guilherme. É muito claro que essas crianças não tem cultura ou uma educação adequada. Depois da escola, a maior parte delas acaba ficando dentro de casa — quando são como eu —, fazendo sabe se lá Deus o que é a outra metade fica na rua, adorando babados. Sinto que, a cada passo para trás na educação dessas crianças que damos, é mais uma para que aconteça o mesmo que com Franco e sinceramente? Franco teve uma educação de qualidade. As histórias que ouvi dele me dão uma imagem completamente diferente do homem que vi na televisão pela manhã. Um jovem bonito, musculoso, que adorava se cuidar. Seu cabelo era impecável e sua educação transpassava por todos os lugares e por todas as pessoas. Ele se transformou em um homem magrelo, com cabelos sujos e um pouco duros — pela sujeira acumulada de meses —, com dentes podres e olhos vazios. Não gostei do jeito que o mostraram na televisão. Não gostei do jeito que eles não contaram a história completa e como tudo não passou de um pequeno assalto “que deu errado”. Mas, acho que estou me sensibilizando por ser próxima a ele. Ninguém, em sã consciência, iria querer saber a história de um assaltante. Grande parte das pessoas agradecem por ter sido um a menos. Eu não consigo porque vejo o sofrimento dessa mãe, o sofrimento de uma família, de amigos, de pessoas que conheciam e amavam um homem como Franco era. A imagem do que ele foi e do que ele seria. De um sonho vivo e destruído. Eu estava mexendo meus dedos nervosamente. Não gostava de entrar em assuntos como esse, achava dolorido demais e eu sempre pensava na hipótese de algo assim acontecer com alguém muito próximo a mim. Agora, eu me pergunto se João Guilherme vai ser importante assim algum dia para mim. Sinto que vou ter que passar grande parte da minha vida no mesmo lugar que ele, aturando-o. Eu não sabia que as coisas seriam assim. Eu não sabia porque as coisas tinham que ser assim, mas tentava compreender. O mundo é injusto e ponto. Não tinha muito mais o que fazer após isso. Estar ao lado de uma mãe que perdeu seu filho me fez refletir sobre como o sistema é estupidamente falho.
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