Prólogo

877 Words
. Sarah Vanessa segura minha mão, sua expressão repleta de compreensão e solidariedade, como uma irmã que entende as dores do coração. — O que aconteceu, Sarah? Por favor, me conta — ela pede suavemente, com uma voz baixa e tranquila. — Houve um acidente com Pedro. Uma explosão na destilaria. Seu pai morreu e ele... ele está gravemente ferido. Queimaduras por todo o corpo e... e cego — minhas palavras saem entrecortadas pelo choro que não consigo conter. — Deus! — murmura ela, chocada com a notícia que acabo de revelar. — Rebeca disse que os médicos ainda não sabem se os danos na visão de Pedro são permanentes, e essa incerteza me consome por dentro. Vanessa parece chocada com a notícia, mas sua expressão também reflete uma profunda preocupação, como se o peso da situação estivesse sendo dividido entre nós. — Meu Deus, Sarah. Isso é terrível. Como você está lidando com tudo isso? — Desde que soube, m*l consigo me concentrar no trabalho. Meus pensamentos estão com ele o tempo todo. — Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que ameaçam transbordar novamente. — Estou arrasada... — admito, com a voz embargada e os sentimentos transbordando. Vanessa me olha, seus olhos transbordando empatia e compreensão. — Você ainda o ama, não é mesmo, amiga? Não consigo conter as lágrimas diante dessa simples pergunta. A dor da situação e a intensidade dos meus sentimentos por Pedro me consomem, como se um mar de lembranças e emoções estivesse me engolindo. — Sim... Na época, fui tão austera com ele. Agora... Agora eu só quero estar ao seu lado, ajudá-lo da maneira que puder, ser um apoio em sua recuperação. Vanessa me encara impressionada com meu relato, mas ainda não entendendo onde quero chegar com isso. m*l sabe ela da decisão que tomei, uma resolução que vem do fundo do meu coração. — Sarah. Ele vai te colocar para correr. Depois de tudo que aconteceu? E agora cego? Você sabe como eles ficam na fase de aceitação de uma difícil realidade. Você só irá se ferir se fizer isso. Um suspiro escapa dos meus lábios enquanto olho para Vanessa com determinação, a certeza do que quero fazer firme dentro de mim. — Você acha que não sei? Eu não tenho nenhuma ilusão de que Pedro aceite meus serviços. Ou me entenda, ou qualquer coisa do tipo. Eu irei como uma profissional, alguém que ele pode confiar sem interferências emocionais. — Sarah, você sabe no que está se metendo? Ele pode rejeitar sua ajuda. Homens são orgulhosos, especialmente quando estão enfrentando dificuldades. Vocês tiveram uma briga muito f**a. Com certeza ele vai achar que você está fazendo tudo por pena. Homens odeiam isso. — Aí é que está. Eu vou me aproveitar de sua cegueira e ajudá-lo sem ele saber quem está o ajudando. Usarei um nome falso, uma nova identidade que me permita estar perto dele sem que perceba — rebato com firmeza, sentindo a paixão por essa ideia crescer dentro de mim. Vanessa dá um riso nervoso, mas também preocupado. — Você está louca? Não é mais fácil pagar alguém para fazer esse serviço por ele? Uma enfermeira de verdade, alguém qualificado? — Não! Eu preciso vê-lo. Enquanto eu não vê-lo, acompanhar o caso dele, não ficarei sossegada, não poderei descansar. — Você realmente o ama. Eu choro novamente, a intensidade dos meus sentimentos se tornando avassaladora. — Sim. Na época eu era tão nova. Tudo era tão intenso. Acho que se fosse hoje eu o perdoaria. Tentaria entendê-lo, agiria diferente, mas agora, sinto que é meu dever estar ao seu lado. Vanessa ergue as sobrancelhas, surpresa e preocupada com o que eu estou propondo. — Sarah. Eu nem sei o que te dizer. E você não tem medo de que ele desconfie? A voz, por exemplo, ele pode reconhecer quem é você. — Eu pensei nisso. Vou precisar de ajuda. Vou ter que envolver mais uma pessoa na minha mentira. O amigo dele, o Marcos. Ele vai confirmar que sou uma mulher diferente. E vou melhorar as minhas falas. Você mesma disse que eu perdi bastante o sotaque gaúcho aqui em São Paulo — digo, secando as lágrimas que continuam a escorregar pelo meu rosto, pensando nele cego, sozinho num mundo que agora parece tão escuro. — Bem, isso é verdade. O garçon distribui tudo na mesa. Vanessa espera que ele saia e então me diz: — Mas ainda assim, acho arriscado. Você corre o risco de ser desmascarada, e isso pode machucar muito. Eu suspiro, lutando contra a dúvida que começa a crescer dentro de mim. — Com a ajuda de Marcos não. Se alguém lhe passar uma descrição diferente, e eu agir de um jeito profissional com ele, acho que ele pode desconfiar, mas não terá certeza. E nessa, eu vou ajudando-o. Eu não posso dar as costas para ele nesse momento. Pense, Vanessa! Queimado, cego e com seu pai morto. Ele precisa de alguém, e eu não posso ser uma estranha. — Tem certeza de que ele não tem ninguém? E se ele tiver uma namorada ciumenta, que não o deixaria ficar perto de outra mulher? Escrevi esse livro uma vez como SRP. Ele se chamava Recomeço. Contudo hoje fiz ele bem diferente.
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