Alice...
Rodrigo levanta a mão, chamando o garçom que estava à nossa disposição desde a hora em que chegamos. Ele veio na nossa direção anotando os pedidos. Percebi que ele era bem novo — e um gato, por sinal. Comecei a ficar meio envergonhada quando percebi que ele não tirava os olhos de mim nem por um minuto. E, quando olho de volta, recebo um grande sorriso da parte dele.
— Continua a guardare mia moglie in quel modo, giuro che hai lasciato questo ristorante in una bara. Puoi esserne certo... (Continua olhando pra minha mulher desse jeito e eu juro que você sai desse restaurante dentro de um caixão. Pode ter certeza...) — Rodrigo de repente se altera, falando em italiano com o rapaz à nossa frente. Me assusto quando ele bate na mesa com força.
— RODRIGO FERRARI, smettila subito! (Rodrigo Ferrari, para com isso agora mesmo!)
— CALADA, ou vai sobrar pra você, minha querida. — Ele coloca o dedo na minha boca, me deixando completamente estática, apenas observando aquela cena ridícula que ele estava fazendo.
— Esci di qui prima che ti ficchi una pallottola in testa, i****a! (Some daqui antes que eu meta uma bala na sua cabeça, i****a!)
Consigo sentir o medo do garoto. Assim que o brutamontes do meu noivo termina de falar — praticamente gritando — o rapaz sai correndo em direção à cozinha do outro lado do restaurante. Aposto que depois dessa ele vai pedir demissão!
— Ele não fez nada demais, Rodrigo! Apenas sorriu pra mim! Isso lá é motivo pra tratá-lo dessa forma? Você não conhece a palavra "educação", não, seu brutamontes?
— Acho melhor você ficar calada, garota! Minha paciência acabou de acabar com aquele bastardo, e eu preferiria que você ficasse quietinha no seu lugar, sem dizer uma palavra.
Ele fala num tom de ameaça, mas eu nem ligo. Hoje percebi que ele gosta de ver o medo estampado na cara das pessoas. Mas comigo, não vai ser assim. Não mais. Posso garantir.
Depois de um longo jantar em silêncio, cá estamos nós nos encarando sem dizer uma palavra. Apenas nos olhando de formas indecifráveis. Decido engolir o orgulho pela primeira vez e puxar assunto com esse d***o lindo.
— Então, querido... Me fala mais sobre você. — Bebo mais um gole de vinho, esperando a resposta.
— Alice, querida... Você realmente se interessa pela minha vida? Porque eu tenho certeza que não. — Ele me olha com um sorriso tosco de canto.
— E eu não me importo. — respondo com indiferença.
— Eu já sabia. Só respondi pra não parecer m*l-educado.
Tive que segurar pra não rir. Educação é algo que definitivamente passa longe dele.
— Tudo que eu precisava saber sobre você, já sei. Um assassino c***l, um dos mafiosos mais temidos de todos os tempos, essas coisas. — Falo friamente, sustentando o olhar dele. — Só estava tentando puxar conversa, mas como você pode ver, não deu certo. Uma pena.
— Poderia ter perguntado sobre o nosso casamento. Isso sim me interessa bastante, diabinha.
Ótimo. Agora até apelidinho eu tenho. Ele sorri de canto e isso me causa um arrepio. Droga, por que esse d***o tem que ser tão lindo?
— E por que essa droga de casamento te interessa tanto, Rodrigo?
— Você já deve imaginar. — Me olha com malícia. — Você é minha mais nova conquista, e eu quero usufruir de tudo que tenho direito.
— Sua conquista? — Começo a rir. — Eu sou um dos seus mais novos problemas, meu querido. Você estragou minha vida quando aceitou aquele maldito acordo com meu irmão. E agora... agora eu vou fazer pior.
— Isso é uma ameaça?
— Entenda como quiser. — Falo em tom irônico, notando que ele já não está tão calmo. — Cada um joga com as armas que tem, e eu vou jogar com as minhas. Pode ter certeza.
— Quando nos casarmos, depois de amanhã, vou fazer questão de apreciar cada uma dessas suas "armas", garota.
— Acho que até lá já pensei numa forma bem horrível de te matar. — Falo sem cerimônia. Nem sei de onde tirei tanta coragem. Mas não posso continuar demonstrando medo. Preciso enfrentá-lo de cabeça erguida.
— Não brinca comigo, sua demônia maldita. — Ele bate na mesa de novo e vejo a raiva nos olhos dele. — Você tá começando a testar todos os meus limites, garota!
— Ah, vai encher o saco de outro. — Me levanto e fico frente a frente com ele, apenas observando. Caralho... que homem lindo da p***a!
— Você é muito respondona, garota. Melhor começar a controlar essa sua língua.
— Se não... o quê, Don?
Começo a provocar, querendo ver até onde posso ir.
— Eu vou te mostrar...
Ele segura meu cabelo com força e me arrasta até a porta do restaurante.
— Você tá me machucando, me larga, seu i****a! — Seguro o braço dele com força, cravando minhas unhas.
— Sua cachorra! — Ele me empurra contra o carro, fazendo meu rosto bater nele.
— Diabo... — Abro a porta rindo e entro em seguida.
Furioso, ele dá um murro no vidro do carro bem em cima de mim. Por sorte, não quebrou. Podia ter quebrado a mão, esse imprestável.
— Se a margarida aí já terminou o showzinho, eu queria ir pra casa. Pode ser?
Ele bate a porta e, mesmo assim, ouço ele mandando o Fillipo me levar pra casa. Não falo nada. Apenas fico quieta, cansada de cutucar onça com vara curta. Passei o caminho inteiro admirando a paisagem. Uns trinta minutos depois, chegamos. Vou direto pro meu quarto tomar banho depois dessa noite agitada.
A partir de agora, estar ao lado desse homem vai ser um dos meus piores pesadelos. Ele é grosso, sem educação, violento... e ainda por cima tem uma amante. Uma droga! Se ele pensa que vai me tratar como uma cachorra, tá muito enganado. Eu não sou mulher de aceitar esse tipo de coisa calada.
Pela primeira vez desde que o conheci, não senti medo. Graças a Deus! Se isso tivesse acontecido minutos atrás, eu estaria perdida.
Vou até o banheiro da minha suíte, encho a banheira e mergulho na água morna. Me acomodo na beirada, tentando parar de pensar... mas é nele que penso. Rodrigo. Ao mesmo tempo que é bonito, se transforma num demônio. Grosso, m*l-encarado, idiota... mas ainda assim, lindo pra c*****o. Aqueles olhos azuis, cabelo castanho claro, barba por fazer... E quando fala italiano? Ai, meu Deus. Ainda bem que falo fluentemente.
Mas não posso me deixar levar por esses detalhes. Esse crápula é a encarnação da maldade.
Depois de um banho longo, saio e vou até minha mala jogada num canto. Ainda não tive tempo de arrumá-la. Pego uma blusa masculina grande que a Mari me deu.
Acordo no meio da madrugada com sede e desço até a cozinha. A casa está escura e ainda não sei onde fica cada coisa.
— Ancora sveglia, mia cara sposa. (Ainda acordada, minha querida noiva.)
Levo um susto ao ouvir a voz dele ecoando pela sala.
— p**a merda! Quer me matar do coração, seu i****a? — Coloco a mão no peito, sentindo o coração acelerar.
— Não... mas se continuar me afrontando como hoje, isso pode acontecer.
Mesmo sem vê-lo direito, sua voz causa arrepios com tantas ameaças.
— Me deixa em paz.
— Isso nunca.
— Vai pro inferno, vai...
Começo a andar, mas ele praticamente se materializa na minha frente.
— Onde você pensa que vai, garota?
— Na cozinha, beber água. Por quê?
— Não gostei do jeito que você falou comigo hoje. — Ele segura meu pescoço com força. — Espero que isso nunca mais aconteça, pelo seu próprio bem, sua demônia.
— Se você não me solta agora, eu juro que te mostro a verdadeira demônia aqui! — Ele aperta mais, me deixando sem ar... mas logo solta.
— Seu desgraçado... parece que sente prazer em me machucar, seu louco! — Passo a mão no pescoço, observando ele.
— Vai pro seu quarto. AGORA! — Ele grita, me assustando de novo.
— Ah, quer saber? Nem tô com vontade de discutir com você hoje. Tô cansada. Mas depois, a gente conversa direito. — Me aproximo, coloco as mãos no peito dele, olho no fundo dos olhos. — Não vou aceitar ser tratada como qualquer uma depois do nosso casamento. Ouviu?
— Sai daqui, garota. — Ele me empurra e vai em direção a algum cômodo, me deixando sozinha outra vez.
Estou sentada nessa cama faz uns trinta minutos pensando naquele maldito do Rodrigo. Estranho... hoje eu não senti o mesmo medo de antes. Melhor eu dormir logo. Senão, vou acordar amanhã só o pó da rabiola...