O Rei Leão, parte I

1857 Words
— Erm... — Pausei um tanto sem graça, coloquei a mecha atrás da orelha e continuei. — Oi? Vocês devem estar se perguntando onde estou. Se não estão, vou contar do mesmo jeito. Era uma espécie de sala abandonada, empoeirada que ficava no final do corredor dos perdedores. Tal nome era dado devido aos grupos que ali se estabeleciam. Nerds, músicos, artistas, asiáticos, dentre outros não populares. Incrível como a sala de teatro conseguia ser a última. O Subsolo. O Pré-Sal, o núcleo da terra. Enfim, muito baixo. — Hey... — Num tom um pouco animado, mas, ainda entristecida, Rebecca parou o que estava fazendo para se virar e me receber com um sorriso singelo e sem graça. — Entra. — E aos poucos foi mudando o semblante à medida que me encarava. — Pensei que não viesse... — Disse. — Nem eu... — Revirei os olhos, entrei e disfarcei. Alguns armários estavam espalhados pelos cantos com fantasias, acessórios e tudo que vocês possam ou não imaginar. Obra prima eles tinham. Só faltava talento ou, um empurrãozinho para que brilhassem. Porém, eu estava ali para terminar de acabar com a pouca esperança que lhes restavam ou talvez apagar de uma vez por todas o que lhes restava de luz. — Quero que conheça a turma! — Rebecca me puxou e me colocou de frente para eles. Existia um palco onde Rebecca estava e desceu para me receber. Em frente a ele, várias cadeiras como uma espécie de plateia improvisada. A iluminação não era tão boa e as pequenas janelas de vidro lá no alto não ajudavam. Estavam cobertas de poeira e teias de aranha. Pude contar míseras três pessoas. Quatro com ela. — Essa é Yumi. — Apontou. Uma garota branca quase amarelada de olhos puxados. Asiática. Japonesa, pelo que parecia. Magrinha e de cabelos curtos até os ombros em Chanel. Era meio tímida, delicada, mas confesso que o liso daquelas madeixas me deixou com inveja. — Ohayo! — Ela se curvou com as mãos juntas. — Esse é o Kyle. — Apontou dessa vez para um garoto moreno de pele escura. n***o. Cabelos curtinhos e encaracolados, sempre na máquina um. Lábios carnudos, físico atlético, mas, um pouco mais magro que o meu. — ARRASOU VIADO! — Bateu palmas, seguiu até a mim e me abraçou forte. — Bicha, que menina gostosa é essa no teatro agora? Vamos lacrar, manas! — Deu alguns saltos de euforia e comemorou. Até o momento eu só disfarçava que aquilo me incomodava. — E essa é Valentina. — Essa me chamou atenção. Cabelos roxos, estilo punk, curtos e com tanto laquê os sustentando que as partes pontiagudas da franja me furavam só de olhar. Vestia preto com muitas caveiras, pulseiras com espinhos... Na verdade, espinhos por todo lugar, até numa espécie de colar ou coleira. Usava um piercing na sobrancelha esquerda, uma argola na narina direita e um outro redondo na língua. — Não precisa me cumprimentar. — Disse seca, séria, fria. Ela era capricorniana. — Eu nem sei o que estou fazendo aqui nessa droga com esses fracassados. Tomara que uma epidemia de lepra leve todos embora em uma semana. — Suspirou. — Nada me faria mais feliz. Eu arregalei os olhos. — Ela é emocionada, não liga não, no fundo ela nos ama. A única do terceiro ano. Acho que não conseguiu se enquadrar bem nos outros grupos e aqui está! — Rebecca colocou a mão sobre os lábios e sussurrou para mim. — E gente. — Olhou para os demais. — Essa é Ariana! Ela chegou aqui como nós, cursa primeiro ano, é novata, porém, gente boa. Ela é minha... — Ficou receosa em dizer, mas, virou de frente para mim, me encarou e terminou. — ....amiga? — E riu sem graça. — Sim, claro... — Dei alguns passos para trás, pensei em fugir, mas, meu telefone tocou. Uma mensagem. "Todos estão aqui fora esperando. Não demora, v***a. – Ashley." — Algum problema? — Rebecca perguntou. — Não, não, nada. — Disfarcei. — Bem... Como a aula acabou, por que não vamos tomar um sorvete? Eu pago! — Sugeri. Todos acharam uma ótima ideia e comemoraram. Exceto Valentina. Partimos em direção ao corredor que levava a saída. Durante aquele curto trajeto eles falavam sobre suas vidas. Eram intercambistas como eu. Yumi veio do Japão. Kyle veio da angola. Rebecca da Escócia e Valentina da Alemanha. Todos tinham uma vida meio difícil e conturbada. As garotas residiam nos quartos que a faculdade disponibilizava e Kyle também. Embora ficasse na ala masculina, sempre fugia para a feminina, onde se encontrava com as garotas e fazia festas do pijama. Devia ser uma loucura. Enquanto isso... O portão se aproximava. Estava fechado. Aquele sem sombra de dúvidas estava parecendo o corredor da morte para mim. Eu era a única, fora Valentina, que não conversava muito. Estava monossilábica. Só acenava. — Bem, e então eu espero me formar como cientista. É o meu sonho! — Murmurou Rebecca, me acordando de um pequeno transe. Sua mão rodou a maçaneta e aquilo fez meu coração palpitar mais forte. Popularidade... Rebecca falava, os lábios se mexiam e eu não escutava nada a não ser... Popularidade... P-o-p-u-l-a-r-i-d-a-d-e... E a porta se abriu. Rebecca deu o primeiro passo para fora com a luz solar encadeando. Mal dava para ver todo o time de Hockey, Líderes, Rappers e outros grupos de populares, formando uma fileira para assistir ao espetáculo como se aquilo fosse um show da Broadway. Uns ficavam com as câmeras ligadas prontos para registrar aquele momento vergonhoso e ao mesmo tempo histórico. — Popularidade de cu é rola! — Gritei. Puxei rapidamente Rebecca para dentro e tropecei três vezes para fora do colégio. Balançava os braços como se buscasse equilíbrio e aquele banho de gosma verde veio sobre minha cabeça. Não precisam rir, eu já sabia que isso ia acontecer. Tomava o SENHOR banho de tinta verde. E todos ficavam estupefatos! Principalmente o grupo de teatro. — Você mirou errado Jéssica! — Gritou Layla de cima da janela do primeiro andar. — Ela que entrou na frente! Não era o combinado de ser na cabeça dos fracassados do teatro? — Jéssica como sempre, discreta. — Do que elas estão falando, Ariana? — Rebecca apoiada na parede, quase caída no chão devido meu impulso, porém, LIMPA, me questionou. No momento, virei de costas, coloquei os cabelos para trás e retirei o excesso de tinta do rosto. Eu encarei a galera no gramado que estavam calados, confusos. Não sabiam se riam ou se respeitavam. Estavam entre a cruz e a espada, uma vez que, me viram andando com as líderes de torcida e sabiam que eu fazia parte do plano. Olhei para eles, em seguida para Rebecca e respirei fundo. — Muitos aqui pensam que têm certa vantagem uns sobre os outros. Status, popularidade. — Suspirei. — E por isso se acham no direito de pisar em vocês e se julgarem superiores. — Abri os braços e continuei a explicar. — Para pagar o preço da minha popularidade, eu tinha de fazer vocês estarem aqui no meu lugar. — Confessei e apontei para mim mesma. — E... E por que não continuou? — Rebecca perguntou, confusa. — Porque acho que uma popularidade, status, ou os caralhos não valem a pena se forem algo superficial. — E dei um passo à frente, ignorando todos ao meu redor, como se houvesse apenas aquele pequeno grupo tímido na porta e continuei. — Principalmente se tiver de passar por cima de pessoas tão talentosas e especiais para conseguir isso. — Sorri boba no final. Todos continuaram quietos. Mas Rebecca veio correndo na minha direção, me abraçou e os outros também! Exceto Valentina, que continuou dentro, revirando os olhos. — Sim Rebecca, com certeza, somos amigas! — Confirmei com certeza. — Bicha a senhora é destruidora mesmo, viu?! — Kyle comentou. — Arigato! — Yumi sorria. — Você só fala japonês, desgraça? Já não basta eu estar nessa droga de escola de gringo? — Resmunguei para ela. — Desculpa, é que só tinha isso no roteiro... — Confusa, Yumi deu de ombros. — Acho que o sorvete era só pretexto, não é? Você está lisa. — Rebecca comentou meio decepcionada, delicada como uma Ariana. — Sim! — Gargalhei, soltei eles do abraço e os vi um pouco melados de tinta verde, mas, não pareceram se importar. Me virei de frente para aquela muralha de homenzarrões e garotas mimadas que me encararam azedas, segurei no centro da minha camiseta de botões e empinei o queixo. — Meu corpo pode estar melado de tinta. — E arranquei a blusa de vez, a abri no meio. Os s***s saltaram bem decotados e chegaram a balançar de pesados, porém, durinhos, em forma, como eu, cobertos pelo sutiã. — Mas, meus p****s continuam sendo maiores que o ego e a reputação de vocês, vagabundas. — Bati cabelo, me virei e sai desfilando. Os garotos abriram tanto a boca, que o queixo chegou no corredor dos perdedores! Principalmente Bradley. A maioria deles vaiaram as garotas que ficaram enfezadas na hora! Elas reviravam os olhos e entortaram os lábios. Caras e bocas. E então... Estava declarado! Eu, uma fracassada, porém, uma fracassada gostosa, era a pior inimiga e agora alvo principal das líderes de torcidas e seu grupinho mesquinho. Quanto ao grupo de teatro, que ficaram onde não deviam... Jéssica e Layla terminaram de jogar o balde de tinta verde sobre a cabeça deles e em seguida as penas. Todos riram deles, exceto de Valentina que ficou dentro do corredor e mais uma vez, o trote fora feito para os novatos do primeiro ano. A essa altura, eu estava a metros dali! Ninguém a não ser ele mesmo sabia o tamanho da sua fúria. Enrico se corroía por dentro como se fosse explodir. Bufava feito uma máquina a vapor. Mesmo seu rosto avermelhou-se num tom tão rubro que se assemelhava a um tomate. Segurou nos próprios cabelos entrelaçando em seus dedos e caminhou em torno de si mesmo querendo arrancá-los. Jamais pensou que o seu fiel escudeiro e amigo pudesse lhe fazer perder a maior oportunidade de ganhar uma batalha como aquela. O Gallucci perdeu. Perdeu por dois. Tanto o britânico que escorregou por entre seus dedos, quanto a própria irmã que jamais havia visto em toda a sua vida, mas, claro... Iria recuperar o tempo perdido. O tigre não admitiria uma derrota tão fácil. — Cara, me desculp... Bastou Lorenzo abrir a boca, para que Enrico se virasse de vez e lhe acertasse uma de esquerda na maçã do rosto e o fizesse cair sangrando, cambaleando no asfalto. Até sua mão doeu e ele coçou a mesma, estalando o pescoço, esticando os ombros e suspirando firmemente esvaindo toda aquela fúria em um único golpe. — Eu estou ficando mole. Muito mole. — E cuspiu no chão. — Deixei de matar a irmãzinha e agora você. — E para finalizar deu um chute no estômago do parceiro. — QUE ÓDIO! — Esbravejou. — Aquele leão vai me pagar muito caro. Oh se vai! — Disse o maior em cólera.
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