BERNARDO

1837 Words
Eu nunca poderia imaginar que esses bandos de trouxas iriam me escolher para narrar. Tenho certeza de que fizeram isso só para saber do viadinho do Kyle, ou qualquer outro viadinho que passa por mim. Mas, como não tenho outra alternativa, vou contar um pouco da minha vida perturbada e talvez vocês entendam o que se passa em minha mente. Caso contrário, não estou nem aí. Não nasci para agradar a todos. Sou Bernardo, tenho 16 anos e faço o segundo ano. Sou sagitariano, mas não ligo para essas porras de signos. Eu vim de Nova Jersey para cá, tentar a vida, já que a minha era um desastre. Meu pai, meu herói, morreu quando eu tinha apenas sete anos e minha mãe, que já o traía a muito tempo, não sentiu a sua falta. Encontrou um alcoólatra que veio viver conosco. Comer da nossa comida e não ajudar com nada a não ser gastar o dinheiro que o salário da minha mãe que trabalhava como enfermeira e passava muito tempo fora de casa. Giulio, era seu nome. Giulio, meu padrasto, batia na minha mãe quando chegava embriagado. Quando completei dez anos, ele abusou sexualmente de mim e desde então, eu passei a ter nojo de homens. Comecei a sofrer maus tratos também durante quatro longos anos, até largar minha mãe para vir morar com alguns "colegas" que fiz pela internet em Beverlly Hills. No início, precisei de tratamento psicológico. Como não achei, busquei isso nas drogas. Na bebida e na violência. Foram tempos conturbados e quase perdi a minha vida quando tive um ataque de overdose. Após isso, fui internado em uma clínica de reabilitação e consegui largar essas desgraças. Às vezes, ainda uso alguma coisa, mas, não como antes. A verdade é que, não teve amigos ou ninguém que pudesse me ajudar quando precisei. Podem me chamar de revoltado, não me importo. Mas, cada um de vocês que leem sabe que, quando o negócio aperta, não existe amigos. Tudo gira em torno de interesse. Então, simplesmente mandei se f***r e fui viver como eu queria. Consegui milagrosamente uma bolsa no colégio de intercambistas, porque eu comi a organizadora em cima da mesa de onde ela trabalha e agora estou aqui. Sobrevivendo. Hoje é mais um dia em que não vejo nada de interessante para fazer. Mas, por via das dúvidas, levantei-me. Coçando o saco e bocejando, não me agradava ver que o flat em que eu morava, estava desarrumado com pedaço de pizza no canto e cheio de baratas. Uma garrafa de cerveja de dois dias e roupas por todos os lados. Ignorei. É o que eu faço de melhor. Entrei no banheiro e tomei uma boa ducha, coloquei uma roupa qualquer e fui correr. Aquilo me ajudava a pôr a cabeça no lugar. Fechei a porta, deixei o fone no ouvido e comecei. Havia um parque ali por perto que era deserto, mas, que uma trilha cortava as matas e fazia contornos por todo o perímetro. Eram mais de duas longas horas de corrida e eu sempre voltava encharcado. Ofegante. E para meu azar, mais uma vez, esqueci minha garrafa de água. Eu senti meu rim gritar. Parei no meio de algum lugar, próximo a um riacho numa clareira, me abaixei pingando e escutei algo. — Parece com sede. — Uma garota aleatória. Jurei já tê-la visto em algum lugar. Morena, cabelos longos e lisos. Uma deliciosa e bem-feita mulata. Sua raba bem definida na calça de malha e um top deixando os s***s em evidência. — Bernardo, não é? — Sim. — Disse desconfiado, me levantei e vi quando me ofereceu uma garrafa d'água. Eu segurei de sua mão e tomei. — E você é? — Após secar por completo, a entreguei de volta. — Luana, eu estudo com... — Ela pausou e continuou. — Você. — Oh sim! Lembrei! — Não, não lembrava de nenhuma Luana. Deve ser porque dormia nas aulas ou ignorava todos. — A gostosa Luana. — Mordi meu lábio e fui me aproximando. — Ah... Nem tanto. — Ela era tímida. Minhas preferidas. — Não vou saber se não provar. — Olhei para os lados, queria me certificar se estávamos sozinhos. — Não é? — Toquei sua cintura e a virei de costas. Dei-lhe uma boa encoxada por trás para que sentisse o que eu tinha de melhor. — Bernardo, eu tenho namorado! — Ela me disse. — Não tem problema. Eu não sou ciumento e... — Sussurrei em seu ouvido enquanto esfregava a barba malfeita em sua pele só para deixa-la arrepiada. — Eu tenho experiência com mulheres comprometidas. — Sussurrei no seu ouvido. Ela tremeu. Amoleceu. Tinha ganhado meu dia logo cedo. Eu a fiz minha ali mesmo, no meio do mato. Uma das melhores aventuras que já tive. E só me senti satisfeito, quando a vi perder as forças. Com certeza, não iria mais lembrar do seu namorado. Saí completamente ensopado. De todas as maneiras! O lado bom, era que voltaria para casa com o cheiro daquela mulata que eu havia me divertido. *** Após uma manhã deveras deliciosa e matar mais uma aula, eu me levantei de outra soneca. Tomei outro banho, coloquei novas roupas. Não tinha muito o que fazer ou para onde ir. Hoje não havia treino de hockey. Nenhuma festa ou convite para beber. Olhava da janela de cima, enquanto tragava um cigarro e bebia uma cerveja qualquer. Estava nublado. Não demorou e começou a chover. Continuei observando. Muitas pessoas corriam na rua, tentavam escapar do aguaceiro que caía, mas, uma delas me chamou atenção. Até estreitei os olhos para ter certeza. Era Kyle. Corria com um leque aberto, a bolsa por trás. Estava encharcado. Joguei meu cigarro rapidamente para fora da janela, terminei de beber a cerveja e aproveitei para sair por ali mesmo. Onde havia uma escadaria de incêndio. Se fosse rápido, eu chegaria a tempo. E como era insistente, eu com certeza cheguei. Desci e nem me importei com a chuva. Faltava ainda um andar e o viadinho sairía antes de me ver. Olhei para os lados, não resisti e saltei daquela altura. Num mortal eu já estava lá, com os pés fixos no chão, tentando me equilibrar e ele correndo até meu corpo, se chocando e nos jogando contra o chão molhado. — HEHEHE. OPA, OPA OPA! — Gritei no meio da chuva, rindo alto. — Quer tanto assim me ver? — Viado, desde quando deixou de ser a mulher maravilha para fazer bico de homem aranha? — Aquelas frases dele eram as melhores, tinha que confessar. Eu o ajudei a levantar e ele desistiu de correr já que estava ensopado. Entretanto, estava frustrado. — Agora estou molhado e não é pela xoxota. — Você tem xoxota? — Perguntei curioso. E interessado também. — Querido, se a lagarta vira borboleta, porque meu r**o não pode virar uma...? — Um caminhão passou buzinando e não pude escutar o resto da rima. Infelizmente. Numa naturalidade, ele abriu o leque junto com o trovão que ecoou perto. Em seguida gritou assustado e se jogou em cima de mim. — O viadinho tem medo de trovão é? — Apertei ele contra mim e tentei investir contra o viado. Não sabia o que acontecia bem. Nem explicar direito. Talvez fosse apenas t***o. Só sei que, toda vez que ele negava, mais louco eu ficava. — Você não tem medo de outro chute no saco, não é? — Ele era afrontoso, ele. — Qual é. — Eu ri, mas ainda o tinha nos braços e olhei para os lados. — Quer subir comigo? — Subir? E eu sou pomba gira para subir, viado? — Uma atrás da outra. — Pro meu quarto. — Fui direto. Quase não via nada. Ele tremia nos meus braços de frio e a chuva continuava a nos banhar. — Fazer o que lá? — Me perguntou confuso. — Para ficar seco. — Fui até seu ouvido e sussurrei. — Te f***r bem gostoso também. Abaixo da minha coberta. Só nós dois. Hm? — Mordi sua orelha devagar e puxei. Eu até que estava gostando disso. Meu coração por alguma razão batia mais rápido. — SOCORRO, POLÍCIA! — Ele gritou. Gritou alto e tive sorte de estarmos sozinhos no meio da rua chuvosa. — O que você está fazendo?! — Kyle se debatia nos meus braços, tentando sair. Os gritos continuaram e eu fiquei preocupado. Segurei na sua nuca e deixei ela parada, até que abri bem meus lábios e juntamente com a língua, lhe dei aquela chupada gostosa na boca, introduzindo no fundo de sua garganta e sentindo como ele retribuiu. Os lábios carnudos e negros do viado sabiam bem como chupar. Fiquei a todo vapor só de imaginá-lo os usando em mim de outra forma. Não existia mais frio entre nós. Kyle, toda vez que mamava em minha boca, ele gemia ao sentir a minha barba lhe furar um pouco, mas não me incomodei. Ele também não pareceu reclamar. Fui caminhando sem soltá-lo enquanto o beijo se mantinha até ficarmos embaixo da escada e meu corpo pressionando o dele, ofegando e enlaçando-nos num duelo em busca por espaço. Não paramos. Por incrível que pareça, não paramos. Buscávamos ar um na boca do outro, arfando quente e suspirando pesado. Mas, infelizmente, quando menos percebi, eu fui empurrado e ele encostou as mãos nos lábios como se não tivesse acreditado naquilo que acabara de fazer. — O que foi? — Perguntei. Meus lábios e os dele estavam ofegantes. O coração batia forte e fora só depois de três longos minutos de beijo, sem cessar, que ele havia surtado. — Viado... Eu... Não acredito que... — Olhava para mim, eu vi em seus olhos que ele queria mais. Só que ao mesmo tempo, estava confuso. Eu não entendia isso nos viados! Que frescura da p***a. — Já sei... — Comecei a rir de modo irônico. Eu sabia que ele iria acabar falando algo, ou saindo correndo como sempre. Isso me irritava. Não tinha paciência nem saco para tanto cu doce. — Está confuso por quê é a primeira vez na vida que alguém como eu, tem olhos para alguém como você. Se não quiser aproveitar a chance, que seja, f**a-se... — Bernardo eu... — Não quero saber! Vai tomar no cu! Cansei! Não precisa correr. Dessa vez quem vai sou eu! — E dei as costas e comecei a subir as escadas em direção ao meu quarto. Precisava esfriar a minha cabeça ou tirar ele de dentro dela. Beber, fumar, pegar outra garota. Qualquer coisa. Só precisava afastar Kyle da minha mente, ou, eu quem acabaria fodido e não ele. — Eu só ia dizer que molhei a p***a do meu telefone! — Retirou o celular que não ligava mais. Infelizmente, eu não estava ali para escutar que havíamos passado por um m*l-entendido. E Kyle muito menos ia subir comigo estressado. Ele resolveu apenas virar as costas e ir embora. Amanhã, iriamos para o Texas. Quem sabe algo pudesse mudar.

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