Natureza Pervertida

1196 Words
Eu corria pela floresta, os pés descalços e ensanguentados doíam muito, mas a dor no peito era maior. Eu precisava fugir do monstro, precisava escapar das garras dele antes que de devorasse, mas cada passo para longe dele fazia meu coração sangrar. Eu morreria longe dele, ou morreria pelas mãos dele? A floresta ficava cada vez mais escura, ele estava tão perto que o calor de seu hálito voraz alcançava a minha nuca. Estava tão cansada, tão fraca, mas não podia parar, ou ele me machucaria ainda mais. Meu coração sangrava e a agonia me fazia querer gritar o mais alto possível para escapar daquela angústia. — Luna, se acalme! Respira devagar, por favor! A voz dela estava mais alta, me chamando, mas não conseguia vê-la, a floresta estava tão escura… Não havia estrelas, nem luar…. — Oh, deusa mãe, o que eu faço? Luna, abre os olhos, está tudo bem, não precisa ter medo! Eu queria abrir os olhos, não tinha intenção de desobedecer à ordem de uma Beta, porém, meu próprio não me obedecia, estava paralisado de medo. — Luna, me escute, precisa se acalmar. Imagine que está um lugar bonito, cheio de flores, onde está segura e protegida. Respire devagar, vai ficar tudo bem… Eu fiz o que ela me pedia, imaginei que estava em um grande jardim de rosas-amarelas, lindas como a luz do sol, perfumadas e encantadoras. Minha respiração se acalmou gradualmente, minhas mãos pararam de tremer, e como um passo de mágica, a dor no peito diminuiu. Não havia lobos no jardim, eu e as floremos. Eu estava livre e segura no jardim… “ Ele está aqui” Uma voz desconhecida invadiu a minha mente, interrompendo a imaginação. “ Ele está aqui” A voz repetiu, instigando-me a abrir os olhos. — O que está havendo aqui? Sua voz, grossa e autoritária, adentrou meus ouvidos e atingiu meu coração. A dor não mais existia, mas antecipação de algo que eu nem sabia o que poderia ser. Eu devia estar ficando louca, alguém dentro da minha mente me avisou de sua chegada antes que eu pudesse ouvi-lo. — Perdão, Alfa. Ela se desequilibrou e caiu da banheira. Foi culpa minha, não a segurei a tempo, não pensei que ficaria tão assutada ao ouvir seu nome. Eu não queria morrer, ainda que tivesse uma vida miserável no cativeiro, queria estar viva e conhecer as coisas das quais Rebecca contava histórias e habitavam meus melhores sonhos. Fez-se um silêncio, não sei por quanto tempo, mas a ansiedade em meu peito aumentava a cada segundo. Eu seria punida e a Beta também. Meu primeiro dia nesse lugar e eu já seria castigada…. Podia apenas implorar a deusa mãe para que sobrevivesse… *** O ritmo das batidas do meu coração era tão caótico quanto os grunhidos e rosnados da fera da minha natureza. A cada passo na direção do quarto, o perfume da pequena invasora se intensificava, ao ponto de me fazer salivar; Era uma Luna de nascimento, eu tinha conhecido outras. Lindas, perfeitas, atraentes, porém, nenhuma delas alcançava a minha natureza daquela maneira. Em algum lugar um Alfa sortudo aguardava por conhecê-la, e só de pensar nisso podia sentir a sede de sangue de minha terceira forma. A fera estava disposta a eliminar qualquer um que tentasse possuir aquela que ele havia escolhido como substituta de minha alma gêmea. “Minha” De todos os ruídos ininteligíveis que emitia, essa era a única palavra facilmente distinguível. “ Nossa companheira está morta!” Ela doloroso, mas precisava lembrar a fera de que nossa verdadeira Luna estava morta. Nunca haverá uma substituta! “ Minha!” Pare antes de entrar no quarto e bebi mais um gole da beberagem que o velho me oferece. Se não controlasse minha natureza, acabaria por machucar a pequena invasora. Ela era jovem demais, não muito mais do que uma criança. Podia deduzir pelo olfato que seu corpo ainda não estava maduro. Após alguns segundos o caos em meu interior se dissipou. Com a mente sã, segui meu caminho. A cena que se seguiu não era a que eu esperava encontrar. A pequena Luna estava encolhida na cama, enrolada em lençol, olhos fechados, rosto molhado pelas lágrimas. O fedor de medo entranhar todo o cômodo, e nem assim o perfume daquela fêmea teve efeito menor do que a mais viciante das drogas. — O que está havendo aqui? — Minha voz soava fria e desapegada, o contrário de como eu me sentia. Tabita abaixou a cabeça formalmente antes de responder. — Perdão, Alfa. Ela se desequilibrou e caiu da banheira. Foi culpa minha, não a segurei a tempo, não pensei que ficaria tão assutada ao ouvir seu nome. — Alfa não, por favor, não me leve para o alfa…. A primeira vez que ouvi a voz mais doce que poderia existir. Aquela pequena intrusa poderia ser uma sereia, tendo a voz como arma para seduzir pessoas. Eu acreditaria…. — Por que teme ser levada até mim? Cometeu algum crime além de invadir meu território? É uma espiã enviada por algum dos meus inimigos. Eu sei que ela estava amedrontada demais para captar o sarcasmo da minha fala. Aquela frágil criatura não faria m*l a uma mosca… Já sobre espiã, não seria impossível… Ela levantou a cabeça, balançando de um lado para o outro, negando enfaticamente minhas acusações. Havia algo nela como uma coelhinha assustada diante do predador, sabendo que vai ser devorada a qualquer momento. Quando seus olhos encontraram os meus, quase perdi a força das pernas. Dizem que os olhos são as janelas para alma… “Minha!” Dessa vez não foi a minha fera quem recitou tais palavras. Ela caiu de minha boca como um mantra, como uma oração silenciosa para a deusa mãe. Pude ouvir a expressão de surpresa que saiu da boca de Tabita, que olhava para mim com olhos arregalados de surpresa. Contra toda a lógica, tudo o que eu podia pensar e que aquela pequena Luna era minha. — Pode me dizer o seu nome, Luna? Ela abriu a boca devagar. Lábios perfeitos, rosados e carnudos, contrastando com a pele alva e os grandes olhos negros, escuros como a noite mais fria, mas que continham um fogo aprisionado que eu adoraria libertar. — Meu nome é Nadja, Alfa…. — Dérik, você vai dirigir a mim apenas como Dérik. — Mas…. Alfa, eu não quero ser punida por te desrespeitar…— Eu odiei o fato de ela temer a mim. Mas tudo o que ela dizia alcançava o lado mais pervertido a minha natureza. — Tem medo de ser punida por mim, Nadja? — Será que ela perceberia o duplo sentido da minha pergunta? Seu nome era mais doce do que mel na minha boca. — Sim, senhor, por favor, eu vou ser uma serva melhor. Serva? Quem trataria uma Luna de nascimento como uma escrava? Onde diabos ela esteve, quem se atreveu a maltratá-la? Eu queria assegurá-la de que não era uma serva no meu clã, mas, ainda que controlada pela beberagem do velho, a natureza pervertida foi mais rápida do que a razão. — Não se preocupe, Nadja, eu não vou te punir… por enquanto…
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