Eu ainda estava confusa com a dor em meu coração ao imaginar o Alfa sendo íntimo com outra fêmea. Não era uma dor emocional, era física. Levei a mão ao peito, massageando a área do coração que batia descompassado.
Me lembro de Rebecca dizer que era a natureza da nossa espécie a libido a flor da pele. Lobos amam sexo e poder, aliás, sexo, muitas vezes, se transformava em uma expressão de domínio e poder, como faziam os machos da tribo que nos manteve cativas por tantos anos.
Era normal, após um duelo por cargo, o macho vencedor forçar o perdedor na frente de todos os outros.
Eu vi acontecer uma vez, fiquei paralisada com a violência, o cheiro de sangue, suor, excitação e excremento. Ninguém ajudou, nem os amigos dele, riam e diziam que ele merecia por ser um perdedor….
Ela disse também, que uma vez que uma fêmea encontra o seu companheiro, a urgência de ambos para copularem e se marcarem mutualmente aumenta a cada dia. A atração é desencadeada na primeira troca de olhares, ambas naturezas se reconhecendo. Após se unirem e marcarem, as almas se tornam inseparáveis.
Creio que ela estava apenas tentando me fazer menos pessimista. Tudo sobre a natureza de nossa espécie é violento. Ouvi dizer que do outro lado, em um mundo paralelo, existem seres que não se transformam, cujas almas são completas e as pessoas escolhem seus companheiros.
Humanos.
Muitas noites desejei ser humana, o mundo desse povo deve ser muito feliz e livre…
— Hm… Luna eu…. Eu acho melhor que Alfa Dérik te explique quem é Hira.
Apenas acenei com a cabeça e ela sorriu mais uma vez. Essa fêmea sorri toda hora, em alguns momentos quase acreditei que ela era feliz, mas não é possível para uma fêmea ser feliz em um mundo onde os mais fortes podem fazer o que quiserem com os mais fracos.
A porta dupla de madeira a nossa frente parecia maciça e pesada, mas a Beta abriu com facilidade. Ainda mostrando seus alvos dentes num sorriso duvidoso, ela gesticulou para eu passar.
A mudança de ambiente foi surreal, saímos de uma construção escura, com paredes de pedra, mas um ambiente ao ar livre, e a vista para um jardim central de flores coloridas. Era como um sonho infantil em um pesadelo.
Seguimos o caminho de pedrinhas brancas que circundava o jardim, indo de encontro a três fêmeas que conversavam animadamente. Eram bonitas e vestiam túnicas de cores claras adornadas co um tecido transparente e avoaçante. Nunca tinha visto roupas assim, que passavam a ideia de leveza e sensualidade, no entanto, nada práticas para o trabalho braças.
Seus rostos tinham traços de tinta nos lábios e olhos que realçava a beleza delas. A parte inferior da roupa tinha fendas que deixavam as belas pernas a mostra quando se moviam.
Uma estranha emoção, que nunca tinha sentido antes, se apossou de mim. Elas tinham curvas em seus corpos, s***s volumosos e quanto mais me aproximava delas, mais desejava esconder o meu corpo. Me senti inferiorizada pela aparência delas. Quando estava no cativeiro anterior, agradecia aos deuses por não chamar a atenção de machos. Rebecca me dizia que era melhor assim, que amadurecesse somente após escapar de lá. No entanto, diante das fêmeas do harém do Alfa Dérik desejei ser mais bonita do que elas…
O que estava acontecendo com minha mente? Por que diabos desejaria chamar mais atenção do que elas?
Precisava me esconder, passar incógnita para poder escapar e não chamar a atenção de um Alfa tão assustador!
— Boa tarde, meninas!
Tabita as cumprimentou com a mão sobre o meu ombro direito.
— Boa tarde, Beta fêmea! Estávamos aqui aguardando a chegada de vocês ansiosamente! — Disse uma delas empolgada, a de cabelos cor de fogo.
Elas eram altivas e sorridentes, diferentes das prisioneiras da antiga tribo. Talvez sejam menos cruéis com as escravas por aqui…
— É verdade que ela é uma Luna de nascença? — Disse outra ruiva, porém mais baixa e com o rosto salpicado de manchinhas marrons que a faziam mais bonita.
— Uma Luna assim tão…— A de cabelos castanhos, que caiam em ondas sobre os ombros, disse em tom de deboche. — Como pode? Ela mais parece um menino!
Ela me olhou de cima para baixo, a perfeita e arqueada sobrancelha erguida em desdém. As palavras entremeadas com risadinhas. Instintivamente me encolhi atrás de Tabita. Aquela fêmea, o que tinha de bonita, tinha de maldosa.
Creio que ela desejava me magoar, sem nem ao menos me conhecer. A Beta fêmea segurou a minha mão e disse para ela:
— Coloque-se no seu lugar, Eda, está falando de uma Luna!
Eda, um nome bonito para uma fêmea atraente e c***l. Eu conheço aquele brilho nos olhos, havia maldade neles. O brilho dos guardas antes de atirar água gelada em nós, ou quando ordenaram que trocássemos de roupa na frente deles…
Fiquei surpresa quando ela de ombros, jogou os cabelos para trás e respondeu a Beta com arrogância.
— Não falei nada de mais, além disso, não é MINHA Luna, nem é do nosso clã!
Eu estava certa, fêmeas nunca são respeitadas, o título era do macho, dela, nem outras fêmeas a respeitavam.
— Então respeite a mim, antes que mande raspar a sua cabeça! — Retrucou como se tivesse ouvido meus pensamentos.
Pude notar autoridade na voz dela, mas seu comando não me afetou. No entanto, as três fêmeas abaixaram a cabeça rapidamente e a tal de Eda se apressou em se desculpar com palavras repetidas e sem valor.
— Já chega! Não tenho tempo para os seus descabimentos! Alfa Dérik ordenou que sirvam comida e preparam Luna Nadja para a cerimônia de aceitação.
— O quê? O Alfa vai aceitá-la no meso dia que chegou? Mas o conselho não vai- — A tal de Eda levantou a cabeça com os olhos arregalados.
— Teremos uma Luna em nossas terras, isso é maravilhoso! — A pequena ruiva sorriu para mim.
— Já temos uma luna! Hira não vai gostar nada dessas ordens sem que a consultem!
— Isso é problema dela, Eda! — A Beta respondeu com um sorriso no rosto que mostrava os caninos salientes.
Ela estava zangada…
— Não deveria falar comigo desse jeito, Beta, ainda mais na frente de estranhos.
— Eda, eu penso que você deveria correr para contar a Hira, talvez ela te atire um osso.
Eda encarou Tabita por alguns segundos, mas não aguentou a pressão da autoridade da Beta e baixou a cabeça. Ela olhou mais uma vez para mim com desprezo antes de se retirar. As duas supostas irmãos ficaram caladas durante a altercação, mas percebi que a mais nova mordia os lábios para esconder o sorriso cada vez que a Beta colocava Eda em seu lugar.
Talvez haja, sim, autoridade entre as fêmeas…
— Não se estresse com ela, Beta, sabe como ela é… — Disse a ruiva mais alta em tom apaziguador.
— Desrespeito e cretinice não são parte de personalidade, mas de falta de caráter. — Ripostou a Beta. — Vocês não sabiam da cerimônia?
— Alfa ordenou que preparamos um banquete, os ômegas já foram ordenados, não sabíamos que era para a integração da jovem una. Prazer recebê-la em nosso clã, Luna Nadja, me chamo Hadit, e essa é minha irmã caçula Sunna.
— Obrigada, desejo que tenhamos um bom relacionamento. — Não pude pensar em nada melhor para dizer enquanto as três me olhavam.
Sunna era tímida e tinha um sorriso encantador, e por alguma razão, me senti bem perto dela. Ela se aproximou hesitante.
— Qual a sua idade, Luna?
— Eu… eu não sei…
— Oh... — Sunna olhou receosa para a Beta, mas ela estava conversando com Hadit e não parecia estar prestando atenção em nossa conversa. Creio que era fingimento.
— Estou quase completando dezesseis ciclos. Posso te ajudar a se vestir? É tão bom ter alguém com a idade parecida com a minha, quer dizer, acho que você deve ter…. O velho curandeiro vai te ajudar, não se preocupe e todo o clã vai ficar feliz com a sua presença.
Ela falava muito e rapidamente, o que era confortável para mim, visto não ter a menos vontade de falar algo. Caminhando em direção ao templo de Hecate, eu descobri em seguida ser a sede do Harém. Podia sentir o aroma de comida fresca e carne assada. Meu estômago roncou e a Beta encerrou a conversa, me levando as pressas para a cozinha.