Ricky
Já faz alguns anos que minha vida mudou pra melhor. Minha mãe está curada, eu estou longe do morro e sem nenhum ponto vermelho marcado na minha testa, Manu está trabalhando no que ela queria.
Hoje é o jantar de formatura da Manu. Ela terminou mais um curso que estava fazendo e contando com hoje já foram 5 jantares de formatura desde que moramos nesse apê. Hoje nem todo mundo que mora com a gente vai estar aqui. Só o Lipe e a Gabi que estarão, porque os outros estão viajando.
Mas vai ter gente nova a mesa também. Como o pai da Manu.
Já faz algum tempo que eles vem se reaproximando. Acho que depois que ela tratou aquele cara lá rico e ele conseguiu a residência dela de volta, as coisas começaram a mudar.
Eu acho legal. Ele parece ser um cara legal.
No começo ele não confiava muito em mim, eu também não confiava muito nele, mas depois de umas garrafas de piriguete e um churrasquinho bem feito a gente foi se acertando.
Ele anda procurando fazer parte de tudo da nossa vida. Está disposto a tudo e fez a atual mulher dele engolir a gente.
Ali é bostenta. Eita mulher chata do c*****o.
A mãe da Manu é gente fina demais. Mas a madrasta, essa entra nos livros de criança facinho.
— Pai amado!... Que dia você vai aprender a dar descarga no banheiro, Ricky?! — Manu gritou do banheiro.
Todo dia ela reclama disso. Eu já aprendi, mas faço de propósito, porque acho ela muito gata com raiva. Me lembra quando a gente se conheceu.
— Só dei uma mijada. Precisa de descarga não. — vesti uma camisa.
— Se você bebesse água, talvez seu xixi fosse transparente e não precisasse. Mas você não bebe! Parece gasolina congelada!
Gasolina congela?
Ela saiu do banheiro com toalha por todo o corpo.
— Desculpa, meu amor. — fui até ela, que revirava os olhos irritada e dei um selinho em seus lábios. — Você fica linda com raiva.
— Fique provocando e depois eu não te deixe f**o de tanto te socar na cara. Eu tenho muita raiva interior, sabia?
— Você tem que fazer alguma luta pra colocar isso pra fora. — a abracei.
— Se você fizer o que eu mando, não vamos precisar gastar um centavo.
— Eita mulher valente. — olhei pra sua cara emburrada.
Ela tentou manter a pose de durona, mas não conseguiu e logo estava sorrindo. — Você faz essas coisas de propósito, né?
Dei outro beijo nela. — Eu te amo, Manuela.
— Emanuelle! — se irritou de novo e eu gargalhei. Ela me acertou um t**a no peito e depois sorriu. — Porque eu ainda aguento as suas pirraças, heim?
— Porque você também me ama. — comecei um beijo mais longo, só que as coisas começaram a esquentar, então nos separamos o mais rápido possível.
— Bora se arrumar. Daqui a pouco são 7h da noite. — Manu se apressou.
— Eu já estou quase pronto, né. Só falta o cabelo, o sapato e um perfume.
— Ata.
[•••]
— Qual será o próximo? — o pai da Manu perguntou rindo.
— Não sei. Eu ainda estou vendo as possibilidades. — ela respondeu. — Cada curso que eu faço aumenta meu salário, então vocês aguentem mais alguns jantares de formatura.
— Se for para esse restaurante, pode se formar 1 vez no mês. — comentei. Eu amo comer nesse lugar. Só tem comida boa e pratos bonitos. Sem contar nas bebidas.
No jantar estava eu, Manu, Lipe e a filha, Gabi, minha mãe e a Beta, a mãe da Manu e o pai dela.
Eu não pude deixar de falar no ouvido dela. — Ainda bem que sua madrasta não veio, né?
Ela também falou no meu. — Eu já ía te falar isso. Parece que ela torceu o pé descendo as escadas. Depois me lembre de agradecer as escadas.
Que maldosa.
A gente riu.
— Filha, eu trouxe uma coisa pra você. — ele colocou a mão no bolso e tirou uma caixa retangular, preta de veludo.
Jóia. Aposto.
— É bem simples, mas para você marcar suas conquistas. — ele entregou a ela.
— Ai, tô nervosa. — ela tirou o laço animada. Era um colar prateado, com 6 pedras verde e espaço para mais outras. — Que lindo!
Parecia bem caro.
— Essas pedras simbolizam as suas formaturas, e já que você não vai parar por aqui, a cada jantar desses você pode colocar mais uma pedra.
— Que legal! — comentei admirado.
— Sim. — Manu se levantou muito feliz e foi abraçar o pai. — Obrigada, Pai. É um presente muito significativo, eu amei.
— Eu sei que um bem material não compensa o tempo que eu te negligenciei, mas espero que seja como um símbolo desse novo momento da nossa relação. — ele acariciou o rosto dela e se abraçaram de novo.
Eu achei essa cena a melhor de todas desse jantar. Apesar do pai da Manu não ser casado com a mãe dela, o clima a mesa não estava estranho. Todos estávamos rindo e comemorando a conquista da Manu.
Será que se eu tivesse um pai, seria assim também?
Será que meu pai ficaria feliz em saber da minha existência?
Essas perguntas ficaram na minha cabeça o resto da noite e depois da nossa f**a elas começaram a atrapalhar meu sono.
— Algum problema, amor? — Manu me abraçou nua e deitou sua cabeça em meu peito nu.
Eu estava encarando o teto e projetando um encontro entre mim e um homem sem rosto mas com cabelos parecidos com os meus.
— Desde o jantar eu tô pensando em como seria se eu conhecesse o meu pai.
— Achei que você não se importava com isso.
— E não me importava mesmo. Mas acho que... Vendo a boa relação que você tá tendo com seu pai eu fiquei com uma certa invejinha, sabe? — olhei pra ela e ri envergonhado.
Ela ficou sorrindo também. — A gente podia descobri isso.
— Como?
— A gente poderia procurar o seu pai e ver no que vai dar.
— Se ele morasse no morro seria mais fácil, né. Mas ele nem mora no Brasil.
— E o que importa? A gente tem dinheiro e sabemos falar inglês, espanhol e podemos aprender qualquer outra língua se for preciso.
— Você não estaria disposta a me ajudar nisso mesmo, né?
— É só você dizer que quer. Eu vou entrar de férias semana que vem. A gente pode viajar pelo mundo. Seria uma aventura. — ficou animada.
— Eu não sei não... — tentei manter os pés no chão. — E se a gente não encontrar? Não for ao lugar certo? Pior, e se ele não quiser me conhecer?
— A gente não vai às cegas, né. Vamos descobrir aonde ele mora e vamos parar lá. E se ele não quiser te ver, não gostar da gente, se ele for um bosta, a gente manda ele tomar no cu e volta pra casa.
Eu amo essa minha namorada.
— Tá bom. Bora encontrar meu pai.