Eu imagino uma vida de romance em todos os momentos. Gosto de ler histórias de romance b***a, a menina se apaixona pelo carinha malvado com vida turbulenta e no final ele larga tudo para casar com ela. Eu sempre fui sonhadora, sempre quis uma vida assim. Como em uma história de filme, que no final sempre dá tudo certo.
Eu acabei de fazer 23 anos e um único relacionamento na vida. Uma relação que não deu certo. Não consigo investir no amor porque estou sem tempo, essa é a verdade.
A faculdade e o trabalho estão me consumindo. E já cansei de investidas idiotas de caras idiotas para me levar pra cama. Eu sou muito diferente da minha amiga Regina, ela costuma ter um namorado diferente por semana.
- Lisa, eu pretendo cometer todos os erros com caras que não são o cara certo, assim evito estragar a perfeição do amor que irá me encontrar.
- Re, você sonha muito alto, acho que você não está dando chance para ninguém tá?
- Não sou eu que preciso de chances, eu dou as chances, e nenhum cara até hoje foi merecedor disso. - Falou e voltou a tomar seu chá gelado de toda sexta-feira.
Essa era uma conversa mais que frequente que eu tinha com ela, a verdade é que ela nunca se envolvia demais e tinha medo de se magoar, e eu acabava nem tentando me envolver por medo de me magoar. As marcas que eu tinha da minha única relação já eram o suficiente.
Só que o destino gosta de confundir a vida, e a minha vida já era uma confusão completa.
E então, em uma sexta como outra qualquer, tudo mudou.
Todos os dias fazíamos o mesmo caminho depois da faculdade, eram 6 quadras até em casa. Faltava apenas atravessar a rua para chegar em casa e começou a chover, alguns pingos apenas e não tinha nenhum carro à vista. Regina puxou a Lisa pela mão e disse:
- Vamos!
Senti meus pés escorregarem dentro do sapato, a chuva já estava ficando mais forte.
- Malditos sapatos. - Eu gritei assim que senti que ia cair no chão. Sentiu a pancada na b***a antes de conseguir fazer qualquer coisa. E então tudo foi muito rápido. Ouvi uma freada brusca, a Regina gritando e tudo escureceu.
A sensação era boa, de aconchego. Senti uma paz profunda, eu estava praticamente relaxando em uma rede. Não sei dizer quanto tempo essa sensação durou, pareceu uma vida inteira. Eu não queria que acabasse. E então os gritos começaram:
- LISA! LISA! MEU DEUS LISA! VOCÊ A MATOU!
- Vou chamar uma ambulância, eu não a vi. Tenta mantê-la imovel. - Eu não conheço essa voz.
- Ela está imovel seu i****a! - Regina estava com muita raiva, parecia a ponto de agredir o rapaz.
- Eva. Aqui é o Martins, envie uma ambulância para a Avenida Paulista, em frente ao parque do povo imediatamente. - Outro homem? Que voz séria e gostosa.
Eu então abri os olhos, e minha cabeça parecia que ia explodir. Estava com uma dor de cabeça agoniante. O que aconteceu? Não me lembro de nada. Lembro do farol aberto e Regina me puxando pela mão, e gritos.
- Re, estou bem. - Falei mais para acalmar ela.
- Li, graças a Deus, eu estava desesperada. Não se mexe por favor, o carro te acertou. Esse i****a quase te matou. - Atrás dela tinha um rapaz bem bonito de terno que estava olhando diretamente para a situação com cara de assustado.
- Moça, você está se sentindo bem? Eu não te vi, me desculpa. Freei o mais rápido que pude e não sei se te acertei. - Nem tive tempo de responder
- Acertou a cabeça dela seu i****a. Lisa, vamos te levar para o Hospital.
- Não precisa, eu estou bem. - Era mentira, eu estava com muita dor na cabeça, nada bem, só queria que a Regina parasse de gritar. Ouvi sirenes de longe.
- A ambulância está chegando. - Eu procurei por aquela voz, era como um ímã me puxando para aquele som, uma voz de comando, um tom quase bravo, quase…
Ele era lindo. Primeiro achei que tinha batido a cabeça muito forte. Pisquei pra visão focar. E ele ficou mais lindo. Ele era alto, e estava com os cabelos molhados da chuva. Ele tinha cabelos escuros, talvez pretos. O tipo de cabelo que eu puxaria beijando-o. O rosto era perfeito, tudo do jeito certo. O queixo forte, a boca carnuda, o nariz fino e do tamanho certo. E os olhos, ele tinha olhos que pareciam ler sua alma. Estava com uma roupa casual, e ainda assim parecia rico. Lisa entendia de qualidade de roupa, e aquelas eram muito caras. Ele chegou mais perto e falou com ela diretamente:
- Lisa, certo? - Só confirmei com a cabeça, parecia que eu ia desmaiar de novo.
- Lisa, a ambulância chegou, você irá ao Hospital mais próximo e será examinada para termos certeza que nada de grave aconteceu. Eu arcarei com qualquer custo necessário. O Júnior não teve intenção, ele trabalha para mim faz faz bastante tempo e sempre foi um motorista muito responsável. Caso você queira uma quantia de indenização, podemos negociar também, claro, para possíveis gastos futuros. -
Eu esqueci o meu nome naquele momento, aquele olhar dele, ele me olhava direto nos olhos, e falava sério e sem emoções na voz. Ele era mandão. Tudo o que ele falou eu esqueci imediatamente, ele era lindo e tinha cheiro de chuva e perfume. Eu faria o que ele mandasse.
- Você entendeu tudo Lisa? - Confirmei com a cabeça. O que ele falou mesmo? Eu não conseguia lembrar. Eu estava hipnotizada. E então ele sumiu da minha vista.
Depois disso eu estava cercada de paramédicos, me examinaram e me colocaram em uma maca. E eu nem questionei, parece que combinei isso com o cara dos olhos hipnotizantes.
Regina entrou comigo na ambulância, estava mais calma, e ficou em silêncio o tempo todo.
- Re, você está bem? - Eu estava com medo de uma crise de desespero dela.
- Eu achei que você tinha morrido. Preciso de um tempo. - Ela parecia que ia chorar.
- Eu estou bem, não deve ter sido nada grave. - Eu não me sentia bem, só não queria lidar com ela chorando.
- O i****a que te atropelou está indo para o hospital, farei ele pagar tudo. - E então não consegui pensar em mais nada além de que iria vê-lo de novo.
No Hospital fiz um monte de exames, incluindo uma ressonância. Foi uma concussão leve. O médico ressaltou que eu tive sorte, que o carro realmente me acertou, só que já deveria estar para parar e por isso os ferimentos não foram mais graves. Eu ficaria aquela noite para observação e teria alta pela manhã. Ia ficar 3 dias de repouso, e se não tivesse nenhum sintoma mais forte poderia voltar a trabalhar na terça seguinte.
Eu sou gerente de uma loja de alto padrão em São Paulo, ia ter o lançamento da coleção do verão na segunda. Eu estava perdida.
Me levaram para um quarto no hospital que fez eu me sentir em um hotel. A cama era maior que uma cama comum, haviam quadros e móveis que não faziam parte do que se espera de um quarto de hospital. A TV era enorme, o banheiro tinha ducha dupla e a pia era melhor do que muitos hotéis que eu já fui.
Enquanto eu estava ali revivi o que tinha acontecido. As emoções finalmente me atingiram. Eu poderia ter morrido. Aquilo era um fato. E com tudo isso eu não conseguia parar de pensar nele. Em meio ao caos, ele foi o meu abrigo. Ele era lindo e eu sentia o magnetismo da energia dele. Ele era perigoso, e eu não deveria me envolver, só que agora, deitada ali sozinha, tudo o que eu queria era que ele entrasse pela porta para que eu pudesse vê-lo novamente.