Capítulo 3-2

1394 Words
March observou seu irmão. Era difícil acreditar que tinha chegado a esse ponto. Assim como Julius, ele cresceu com Macey e a considerava sua irmãzinha. Ele não conseguia se lembrar exatamente quando percebeu que Macey estava apaixonada por Julius, mas ele viu como ela lutava para manter seus sentimentos em segredo enquanto Julius permanecia alheio. Como qualquer adolescente, Julius namorou várias garotas, e a dor no olhar de Macey quando ele a ignorava era palpável para aqueles que percebiam a verdade.   Quando Augustus propôs o casamento deles, March apoiou a ideia, esperando que o tempo juntos ajudasse Julius a finalmente perceber os verdadeiros sentimentos de Macey, mas tudo desmoronou. Somente agora, na ausência dela, Julius percebia o quanto ela significava para ele, mas era tarde demais. Se March pudesse voltar no tempo, ele sabia que teria feito mais para ajudar seu irmão. Em vez de esperar que Julius descobrisse a verdade, ele deveria simplesmente tê-la contado.   "Finalmente você apareceu, pai!" Katherine exclamou quando o patriarca DaLair finalmente fez sua aparição. "Feliz aniversário!"   Augustus franziu a testa para a mulher que ele só se referia como a Harpia. Como seu filho suportava alguém tão superficial e enganadora era um mistério para ele. Em voz alta, ele declarou: "E o que exatamente há de feliz nisso? A última coisa que quero ver é você!"   "Agora, pai", Rose disse se aproximando dele para apaziguar, um papel com o qual ela estava muito familiarizada. "Este é um dia feliz."   Ela era uma mulher pequena. Baixa e quase magra demais. Sua falta de peso sempre foi motivo de preocupação com sua saúde, mas não importava o que ela comesse, ela m*l ganhava um quilo. Apesar disso, ela era uma corretora de imóveis bem-sucedida, muito procurada pela atenção que dedicava aos seus clientes, assim como pela reputação de seu sogro.   "Sim, minha querida", Augustus sorriu para sua nora, abraçando-a apertado. "Você está certa. Perdoe este velho rabugento."   "Claro.", Rose sorriu ternamente.   "Feliz aniversário, vovô.", Jude disse se juntando a eles para tentar amenizar a tensão.   "Jude! Meu garoto!" Augustus recebeu seu neto com um abraço caloroso, esquecendo completamente a mulher que constantemente o irritava.   O sorriso forçado de Katherine desapareceu. Durante dois anos, ela tentou conquistar o favor do patriarca DaLair e nunca recebeu nem mesmo um sorriso dele. Ele era implacável em sua rejeição, e sem Julius para contradizê-lo ou apoiá-la, ninguém mais ousava enfrentar Augustus.   Augustus era um homem de lealdade intensa e amor filial. Ele valorizava sua família e estava pronto para defendê-los até a morte. Era bem conhecido que ele sempre quis uma família grande, e se não tivesse perdido sua esposa tão cedo, poderia ter tido dez filhos e ainda não estaria satisfeito. Após sua perda, ele dedicou seu tempo a seus filhos e mais tarde ao seu neto. Rose facilmente conquistou o favor de seu sogro, e era sabido que ele a tratava como uma filha querida.   Isso não foi algo que Katherine conseguiu alcançar com sucesso. Seu ciúme em relação a Rose frequentemente a fazia explodir com esta última. Se ela tivesse percebido que suas birras eram bem conhecidas pelo patriarca, ela poderia ter reduzido seu comportamento infantil, embora isso não garantisse seu lugar na família DaLair. Augustus não tinha interesse algum nela.   A multidão reunida murmurava baixinho entre si. Alguns lançavam olhares simpáticos a Katherine, mas a maioria desviava o olhar. Ninguém ousava defendê-la com medo de provocar a ira dele. Augustus não era um homem para ser desprezado. Ele poderia, sozinho, fazer ou quebrar a carreira de alguém, e não seria vantajoso se aproximar de alguém que claramente não tinha seu favor.   Enquanto a multidão se movimentava desconfortavelmente, um cavalheiro alto em um simples terno preto aproximou-se do patriarca DaLair. Seus cabelos escuros e olhos, assim como sua impressionante altura de um metro e noventa e cinco, o tornavam instantaneamente reconhecível: Stephen Hugo, assistente pessoal de Augustus, além de secretário, mordomo, motorista e, diziam alguns, guarda-costas. Embora o último título fosse uma piada, a verdade era que Stephen também era um veterano altamente treinado, caso contrário não teria chamado a atenção de Augustus. Não era exagero dizer que nenhum homem estava mais próximo do patriarca do que Stephen, exceto seus filhos.   Inclinando-se próximo ao ouvido de seu empregador, Stephen sussurrou baixo. A expressão de Augustus suavizou imediatamente e ele se voltou ansiosamente para seu assistente, dizendo: "Eles realmente estão?"   Stephen assentiu. Dando um beijo na testa de Rose, Augustus se desculpou, alegando ter um assunto urgente de negócios para resolver, antes de se retirar para dentro com Stephen logo atrás. Rose o deixou ir com uma expressão conflituosa no rosto. Não era típico de Augustus interromper uma reunião daquela forma, mas, visando reduzir a tensão dos convidados, ela o deixou partir.   Augustus apressou-se pelo corredor, sua bengala rangendo ruidosamente em sua pressa. Ao chegar em seu escritório, ele desapareceu lá dentro. Stephen fechou as portas e permaneceu do lado de fora, guardando-as contra a entrada.   Sentado à mesa, Augustus dirigiu sua atenção ao laptop aberto. A visão que o aguardava tirou-lhe o fôlego e fez com que ele sorrisse amplamente.   "Feliz aniversário, Vovô Gus!" declararam animadamente duas crianças de cinco anos assim que o viram através da conexão do Skype.   "Olá, seus pestinhas!" ele riu.   O menino e a menina na tela riram. O menino tinha uma expressão bastante séria apesar de seus olhos verdes brilhantes. Seus cabelos loiros tinham um tom avermelhado. Enquanto seus traços eram quase idênticos aos do pai, sua irmã tinha traços mais suaves herdados da mãe. A menina possuía os cabelos ruivos vibrantes e cachos abundantes da mãe, mas seus olhos cinzentos definitivamente pertenciam ao pai.   "Você está tendo um bom aniversário?" perguntou a menina.   "Claro. E agora está ainda melhor", sorriu Augustus. "Tenho sentido muita falta de vocês dois!"   "Nós também sentimos sua falta!" declararam as crianças.   Eles não estavam juntos desde que o avô voou para Paris no aniversário deles. Embora eles fizessem chamadas pelo Skype pelo menos uma vez por mês, não era a mesma coisa que se verem pessoalmente. Todas as chamadas tinham que ser cuidadosamente planejadas, pois Paris estava seis horas à frente, então enquanto a festa dele começava às uma hora, em Paris já era noite e quase hora de dormir dos gêmeos. Estar tão longe de seus netos era uma irritação constante para Augustus, que era tão dedicado à sua família.   "Onde está sua mãe?" perguntou Augustus.   "Mamãe teve que trabalhar", disse o menino. "Há muito a fazer antes do grande show dela."   "Ah, é verdade. Falta apenas uma semana.", assentiu Augustus.   "Temos um presente especial para você, vovô.", disse a menina.   "Oh, têm mesmo?"   Ela se afastou da tela enquanto seu irmão configurava cuidadosamente seu teclado. Colocando as mãos nas teclas, ele tocou a Ode à Alegria de Beethoven. Augustus recostou-se enquanto os acordes tão familiares ecoavam ao seu redor. Seu sorriso se alargou quando os dedos do menino se moviam habilmente pelo teclado com destreza praticada.   A melodia mudou inesperadamente para uma muito mais simples, com um ritmo animado, e logo a voz da menina soou: "Joyeux anniversaire! Joyeux anniversaire! Joyeux anniversaire grand-père Gus! Joyeux anniversaire à toi."   Augustus riu da adorável dupla. A única coisa que poderia tornar aquilo melhor era se eles pudessem apresentar a música pessoalmente. Como ele teria amado ver seus netos cantando e tocando sua música na frente da plateia surpresa.   "Joyeux anniversaire, Grand-pére!" disseram os dois juntos.   "Obrigado, meus passarinhos.", sorriu Augustus.   "Mamãe diz que vamos visitar você em breve."   "Isso mesmo. Vou te ver muito em breve", prometeu Augustus. "Sejam bons para sua mãe agora. Não quero ouvir falar de travessuras."   "Ok, vovô. Vamos ser bons! Você também seja bom! Te amamos!"   Em pouco tempo, a chamada terminou e ele fechou lentamente o laptop. Augustus recostou-se, saboreando a lembrança da habilidade do seu neto ao tocar piano e da voz clara e doce da sua neta. Levou cinco anos, mas ele finalmente convenceu sua nora desgarrada a voltar para casa. Ele só podia imaginar as faíscas que começariam assim que eles pisassem nos Estados Unidos.   Ele já sabia que seus filhos nunca o perdoariam quando a verdade fosse revelada, mas Augustus estava preparado para isso. Era hora de Julius receber o que merecia e, se tivesse algum senso, ele aproveitaria essa oportunidade. As coisas estavam prestes a ficar muito interessantes.
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