No shopping Juliana ficou na fila com o dinheiro e a conta para pagar, enquanto as outras foram até um mercado próximo comprar algumas coisas que faltavam.
- Lá em Porto tem mercado dentro do shopping. – Conversava ela com uma moça na fila.
- Pois é, aqui não tem nada. – Dito isto a moça saiu correndo da fila para alcançar uma menininha que estava quase entrando em uma loja.
Quando a mulher retornou à fila, Juliana perguntou se a menina era sua filha, ao que a mulher respondeu que sim.
- Você parece jovem pra ser mãe.
- Tenho 20 anos. Ela tem dois e meio.
- Ganhou com 18?
- 17. Eu não sou daqui, sou de Charqueadas. E você?
- Sou daqui mesmo. Nasci e cresci aqui.
De repente a mulher foi chamada num guichê e Juliana em outro. Ela pagou a conta e não viu mais a mulher para se despedir. Seu celular tocou e do outro lado da linha sua dinda mandou que ela fosse até o mercado encontrá-las.
Juliana saiu do shopping e foi andando até o fim da quadra onde ficava o mercado, e encontrou as meninas lá.
- Vai querer alguma coisa querida? Pode pegar.
De repente a menina se lembrou que não estava tomando seu anticoncepcional e que ele havia acabado faziam três dias.
- O que foi filha? – Perguntou Marcelina ao ver a sobrinha de olhos arregalados.
Ela falou baixinho.
- Dinda. Eu tô sem absorvente e anticoncepcional. Acabou faz dias e eu esqueci de pedir pra mãe comprar.
- Meu Deus! – Disse Marcela.
- Tem que comprar, não pode esquecer de jeito nenhum. Na sétima o professor vivia falando. – Disse Vitória.
- É. E agora no segundo ano também. Vi ano passado e tô vendo de novo. – Disse Juliana.
- Viu duas vezes e esqueceu Ju? Anticoncepcional é o remédio mais importante que a gente toma. Se errar nele ou não tomar, tem a consequência mais séria. – Disse a madrinha.
- Eu sei dinda. – Disse Juliana já bastante nervosa.
Elas foram em direção ao caixa e pagaram as compras. Saindo dali foram até uma farmácia e compraram o remédio.
- Viu o que a farmacêutica falou né Ju? Recomeça a tomar agora, toma direitinho e nos primeiros dias tem que usar camisinha. – Continuou Marcelina. – Eu pensei em pedir pra ela já te dar injeção, mas não falei com a tua mãe e ela pode não gostar. Mas pede pra médico mudar, injeção é melhor. Dura um mês ou três meses e não tem aquele compromisso de tomar sempre. Pra vocês jovens é melhor.
- Vou ver com a mãe tia.
No caminho para casa Juliana continuava tensa. O fim de tarde já estava chegando e o ar ficava mais frio. Ela e as primas estavam de short e blusas de verão, e já começavam a reclamar da temperatura.
Chegando em casa Juliana saiu do carro e foi abrir o portão. Estava tão nervosa desde o mercado que simplesmente saiu do carro, esquecendo que Ciro devia fazer aquilo.
Ao ouvir o barulho do portão sendo puxado o rapaz saiu de dentro de casa. Juliana estava parada já dentro do pátio e a madrinha entrou com o carro.
- Oi Ciro! Eu ia te chamar mas a Ju abriu o portão antes! Não precisou! – Disse a madrinha saindo do carro com as filhas.
Ciro estava usando uma calça jeans que parecia nova. De cabelo molhado e sem camisa, parecia estar se arrumando para ir à algum lugar.
- Onde vais moço?
- Na festa dona Marcelina. Vocês não vão?
- Festa de quem?
- Festa lá da igreja. Não sei de que santo é, mas tô indo! – Disse o rapaz com uma risada marota. – Afinal, se não for isso, como a gente se diverte né?
Ele voltou pra dentro de casa sob os olhares quase famintos de Marcela. Juliana ficou desconcertada demais para pensar em qualquer coisa, e fechou o portão para expulsar os pensamentos que lhe ocorreram.
- Tenho que ligar pro pai de vocês. Já vão vendo roupa e se arrumando. Na certa ele esqueceu da festa de hoje. Meu Deus! Devíamos ter esperado até as cinco e já trazido ele! Que cabeça oca!
- Bah é verdade mãe. Com o negócio do remédio da Ju até esquecemos.
- Vão tomando banho e vendo roupa que eu vou lá buscar o pai de vocês. Volto voando, se comportem.
A mãe pegou as chaves do carro e foi em direção ao pátio. As meninas fecharam a porta e Juliana foi novamente abrir o portão para a madrinha sair. Olhou em direção à casa ao lado, mas aparentemente o rapaz ainda estava se arrumando.
- AAAAAAHHH!
- Que isso ?
- Aquele homem meu Deus!
Marcela estava escorada na parede se abanando com a roupa que tinha na mão.
- Eu vou acabar fazendo besteira!
- Vai fazer bastante besteira até o pai chegar e te ver falando assim. Vai fazer besteira é com a cinta dele.
Marcela encarou Vitória quase com ódio.
As primas tomaram banho e Juliana foi por último. Não conseguia tirar da cabeça a imagem de Ciro. De fato, Marcela tinha razão. Era de esquentar até nevando. Ela só não era tão escandalosa como a prima, a ponto de deixar transparecer com tanta avidez o que sentia. Mas que ele era um colírio para os olhos, isso era.
Durante toda a missa Juliana procurava com os olhos pelo rapaz de olhos azuis, não o encontrando ali. Mas onde ele podia ter ido?
Depois da missa todos se dirigiram ao salão comunitário que ficava ao lado da igreja. Seus tios eram romeiros e haviam comprado uma das mesas. Juliana e Marcela foram até a cantina buscar a janta e as bebidas. Quando voltaram o pai de Juliana havia chegado e estava sentado à mesa também.
Ao ver as roupas da filha, Marcos a olhou de cima abaixo.
- Juliana, isso é roupa de vir numa missa?
A menina vestia uma saia curta e uma camisa folgada e comprida porém transparente, que deixava o sutiã à mostra.
- Ai pai, eu não trouxe roupa por que esqueci da festa. A Marcela que me emprestou.
- É tio. Ela não tem culpa de ter cabeça de vento.
Foi a vez de Juliana encarar a prima com olhar mortal enquanto todos riram.
- A gente ri mas o caso é sério. Existe roupa para cada lugar e essa aí não é pra se vir numa missa.
- Mas pai, a gente vem pra missa e já fica pra festa. Daí eu tenho que vir com uma roupa e trazer outra pra trocar?
- Tem gente que faz isso. Já vi algumas indo no banheiro se trocar. – Disse a madrinha.
- Olha aí ó! Não discute com teu pai Juliana. A casa de Deus é lugar sagrado.
- E cadê a mãe? – Perguntou Juliana procurando a mãe pelo salão.
- Pois é, não vi ela na missa. Agora que me lembrei.
- Bom, se eu quisesse saber onde está a Malú eu não tinha me separado dela. – Disse Marcos dando uma sonora gargalhada.
- Esse meu irmão.- Disse Marcelina não contendo a risada.
Jantaram e algumas mesas foram retiradas para dar lugar à pista para os casais dançarem. Juliana se levantou e foi procurar pela mãe. Encontrou-a sentada numa mesa lá no canto quase junto à parede conversando vorazmente com algumas amigas.
- Mãe?
Ao ver a filha, Maria Luísa teve a mesma reação do ex marido: encarou a filha dos pés à cabeça e censurou sua roupa.
- Juliana! Mas isso é roupa de vir na igreja?
- Deixa ela Malú. É jovem e bonita tem que mostrar! Tá linda minha filha! - Falou uma das amigas de sua mãe que também estava sentada na mesa.
- Obrigada tia.- Disse ela já desconcertada.
Notou que haviam latinhas de bebida vazias sobre a mesa e uma na mão de sua mãe. Pelo tom de voz exaltado e pelos assuntos da rodinha, Juliana percebeu que a cerveja já começava à subir por ali.
- Mãe por que não me procurou?
- Teu pai tá lá. Não quero nem olhar pra cara daquele imprestável.
Juliana suspirou. Seus pais no mesmo ambiente geralmente não era boa coisa.
- Eu vou dançar um pouco. Qualquer coisa eu tô na pista.
- Tá vai!
Guido e Marcelina foram dançar e as meninas ficaram na beira da pista junto à outras pessoas sem par.
Alguns minutos depois uma música bem conhecida começou tocar, e Juliana percebeu que Marcela dançava insinuante olhando para o outro lado. Seguiu com olhos na direção em que a prima olhava e enxergou Ciro parado um pouco adiante junto à vários rapazes.
Seu coração deu um salto e ela sentiu corar até a alma de vergonha. Olhou na pista e viu seus tios dançando distraídos sem perceber o que a filha estava fazendo.
- Ela é louca. Vai levar uma tunda do pai ainda! – Disse Vitória olhando na mesma direção.
- É. É isso que ela quer.
Juliana percebeu que Ciro revezava o olhar entre a prima e ela, e que os rapazes olhavam para Marcela e faziam comentários seguidos de risadas maldosas. Aquela situação a deixava muito desconfortável,e mesmo olhando para a pista percebia que ele não tirava os olhos dela. Um rapaz veio e a chamou pra dançar. Buscou se distrair, sem sucesso.
No outro dia, quase perto da hora do almoço, Vitória e Juliana estavam sentadas no pátio conversando. Ficaram até o fim da festa e viram Ciro ir com os amigos na direção de outra cidade. Até o momento ele não havia voltado pra casa e Marcela estava atirada na cama dormindo como se tivesse voltado de uma guerra.
- Mas ficou com o cara?
- Fiquei. Só de beijo né? Não dava pra ir muito mais longe por que o pai tava ali perto. Já foi difícil fugir dele.
- E a Marcela? Mais um pouquinho tinha strip ali. Deu sorte do pai e da mãe estarem distraídos.
- Ah e também o cara deve ter uns 25,30 anos. Capaz que ele vai querer ficar com ela.
- E por que não?
- Ah Vi, é que esses caras mais velhos tem muito mais experiência que a gente. Eles tão acostumados à ficar com mulher. Perder a virgindade já com mulher adulta. O que vai acrescentar pra eles ficar com a gente? A gente é nenê perto das que eles pegam.
- Eu vejo minhas colegas se gabando do que fazem, de que ficaram com cara mais velho e tal. Achei que fosse legal.
- Eles pegam elas por que elas se oferecem. Depois saem rindo. A gente tá estudando eles já tem doutorado.
- Eu hein.
Um carro parou em frente ao portão e Ciro desceu. Camisa aberta, rosto de quem havia bebido mais do que podia e cabelo bagunçado. Alguns dos rapazes que estavam com ele na noite anterior lhe deram tchau.
Juliana encarou o peitoral dele pela a******a da camisa e de novo sentiu calor. Sua boca salivou e seu coração deu um súbito aceleramento, chegava até a doer.
Ele parou com a mão na fechadura e olhou incisivamente para Juliana erguendo uma sobrancelha. O olhar maroto da festa de novo se fazia presente.
As duas se entreolhavam e Juliana foi quase com medo puxar o portão.
- Oi. – Disse ele com uma voz grave.
- Oi. Meus tios tão dormindo. Pode entrar. – Falou a menina, se atropelando.
Ele entrou cambaleante e acenou para Vitória, andando com dificuldade até a casa.