De volta a oficina.

1309 Words
Andréia Fui a última a descer as escadas da lateral do palco, percebi que o Edson subia, com um violão nas costas e um chapéu de cowboy. — Olha só, o passarinho também canta... — zombei dele. Ele deu um daqueles sorrisos encantadores, passando a língua pelos lábios, fez até covinha em suas bochechas. Meu coração perdeu uma batida, isso estava ficando perigoso. Só falta eu terminar a minha noite, em um hospital. Tentei passar por ele, mas ele colocou o braço na minha frente, apoiando na parede lateral do palco, impedindo minha passagem. Nos encaramos, senti um calafrio na espinha, minha respiração ficou ofegante e me perdi no azul dos seus olhos. Ele tirou sua mão da parede, colocou no meu rosto, sem tirar os olhos de mim, fez carinho na minha bochecha e tirou a rosa detrás da minha orelha. Nesta altura, meu cérebro estava conectado diretamente no meu coração, pois, podia senti-lo batendo dentro da minha cabeça. Pensei que me beijaria, não sabia qual seria a minha reação se isso acontecesse. Mas somente pegou a rosa e subiu os restantes dos degraus. O Reitor chamou a sua atenção. — Vem cantar. Oh, Don Juan. É a sua vez... Ele entrou no palco, me olhando abalado. Já eu... demorei um pouco para reagir, desci a escada um pouco atordoada e vi a Tati. — Amiga, o que foi que acabou de acontecer? Que clima foi aquele? — O que? Ainda não entendia o que estava sentindo. — Nada, não precisa responder. Sua cara já diz tudo. Ela passou por mim, sem esperar que eu falasse. — Diz o que? Nós voltamos para nossa mesa, eu ainda estava um pouco abalada, pelo acontecido, não conseguia pensar direito. Procurei pelos meninos da banda e não os vi em lugar algum, Alex disse que queria falar comigo depois da apresentação. Talvez ele tenha mudado de ideia. Agora fiquei curiosa para saber o que ele queria. Só esperava que ele não insistisse para sair comigo, estava ficando sem graça, eu sempre dando fora nele. Parecia que ele não entendia que eu não estava a fim. Edson começou a cantar Country. Percebi surpresa, que era a mesma voz da fita que ouvi no fusca. Ele cantava e várias meninas gritavam histéricas. Bandas de histéricas, não viam que passavam vergonha, correndo atrás de um cara que só as usariam. Coitadas! — Que partidão você arrumou, hein? Estava demorando de a Tati, vir perturbar o meu juízo. — Esse é o cara do fusca. Ela ficou surpresa. — Você está brincando? Esse é o Homem de Ferro? — Ele só se acha, mas não é tudo isso... Minha boca falava uma coisa, mais meu coração seguia outra frequência cardíaca. — Você pirou? Ele é tudo isso e mais um pouco. Balancei a cabeça, rindo da cara que ela fez. Não saía da minha cabeça, o clima que preencheu aquela escada. Nem conseguia prestar a atenção no show. Depois de várias músicas... — Por favor, senhoritas. Sentem-se. Farei algo, que nenhum veterano fez, até hoje. Como é tradição, nós os veteranos, damos uma rosa, para as calouras. Porém, a caloura que eu entreguei essa rosa, não a quis. O que ele pensa vai fazer? Ele entregará a rosa para outra? Devia ter aceitado quando me ofereceu. O que eu estou pensando? — Então, após essa música, descerei do palco e a caloura que eu entregar essa rosa, subirá no palco comigo e eu cantarei uma música, especialmente, para ela. Ai que ódio, não acreditava que ele faria isso. Se ele achava que ganharia o desafio, me provocando ciúme, ele acertou. Já estava com vontade de subir naquele palco e pegar a rosa de volta. Se ele der para outra garota, eu pegarei de volta. O que está acontecendo comigo? Lógico que não farei isso, eu pegarei as minhas coisas e irei embora. Mas primeiro, queria ver se ele teria coragem de fazer isso. Ele começou a dedilhar o violão, olhando fixamente para mim. — "O cara que pensa em você toda hora...” “Esse cara sou eu...”(Roberto Carlos) Por incrível que parecesse, essa música era a cara dele. Convencido e cavalheiro. As meninas gritavam, mas ele não tirava os olhos de mim. Sentia meu ego massageado, o que era bem perigoso. Não podia desviar do meu objetivo, que era não ceder. Porém, não consegui evitar de sorrir para ele. No fundo, queria que eu fosse a sua escolha para entregar a rosa. d***a, não podia desejar isso, para dar certo o meu plano, teria que partir dele querer. Eu já nem sabia mais do que eu estava falando, precisava voltar ao meu foco. Em certo ponto da música, ele apontou para mim e cantou. — "Eu sou o cara certo para você...”(Roberto Carlos) Que m***a! Ele estava pegando pesado, estava começando a me desesperar, fiquei com medo de perder esse desafio, de jeito nenhum podia perder. Minha amiga olhou para mim e cantou sorrindo... — "O cara que eu bato o meu carro e ele paga o conserto...” "esse cara é ele..." “Que empresta o fusca para não ficar a pé...” “Esse cara é ele...” — Que m***a! Cala a boca, Tati...! Ele finalizou e todos aplaudiram... — Agora vou descer e entregar a rosa. — É você, amiga. É você! — Tati falou toda empolgada. — Não, eu recusei a rosa que ele me deu, com certeza, ele entregará para outra garota. — Eu o vi pegando atrás da sua orelha, que bela recusada. "O cara que alisa meu rosto e deixa um clima...” "esse cara é ele.” — Cala a boca, m***a! Ele desceu as escadas, dedilhando o violão, eu continuava sentada, enquanto as garotas gritavam e a Tati continuava me zoando. As meninas estendiam as mãos, na tentativa de pegar a rosa que estava entre seus dentes. Evitei olhar diretamente para ele, fingindo que não estava ligando, mas a verdade era que estava odiando, vendo-as gritaram pela a atenção dela. Edson não se deteve com elas, ele parou na minha frente, flexionou um joelho no chão e todos começam a gritar. Eu não conseguia me mexer, eu era a escolha dele. Dentre todas, fui a escolhida, só não sabia se aquilo era bom ou era r**m. Toda a atenção se voltavam para mim, era pressão demais e não podia ceder só por causa dessa pressão. Ele estendeu a mão com a rosa e eu não reagia. Ele se aproximou e colocou a rosa atrás da minha orelha. — Todo seu! Ele falou da rosa ou dele. O pessoal gritou: — Aceita, aceita... — “Esse cara é ele.” — Tati cantarolou. Edson pegou minha mão e me conduziu ao palco. E começou a dedilhar o violão sem tirar os olhos de mim. Cantou “Pássaro de fogo” em inglês. — “You will give yourself to me...” Todos começaram a gritar. Ele estava pegando muito, muito pesado comigo. Em certa parte da música, deram-me outro microfone e comecei a cantar em português, com os olhos fixos em seus olhos e os batimentos cardíacos acelerados. — "Vai sem entregar pra mim." No refrão, ele me acompanhou fazendo a segunda voz. Quando a música terminou, ele me puxou e me beijou intensamente, na frente de todos. Senti meu corpo flutuar, meus lábios imitavam os dele, não sabia o que fazer com os braços e as mãos, não sentia o chão sob os meus pés, podia ver a música. Quando o beijo parou e ele me largou, tive a sensação que tinha sido usada, acertei um t**a nele. O reitor entrou no palco e pegou o meu microfone. — É gente! Esse cara é ele. Percebi que era o centro do espetáculo e desci as escadas correndo, saindo da festa.
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