Edson
Cheguei cedo à faculdade, pois tinha me comprometido com o reitor, que ajudaria no som e na iluminação do evento. Jair, Miguel e o Paçoca me ajudaram nas instalações, os três trabalhavam como DJ e nós quatros estudávamos jornalismo na mesma sala.
Estava quase no horário de começar a festa, quando finalizamos as instalações de todos os equipamentos, o reitor Mendonça apareceu para fiscalizar o nosso trabalho.
— Está tudo pronto?
Ele carregava nas mãos uma prancheta com a programação da noite.
— Os microfones estão conectados, os instrumentos estão afinados, os canhões de luzes estão, perfeitamente, posicionados para o palco e o globo de luz já está no centro do salão. Está tudo pronto, reitor. — O Paçoca era detalhista.
— Só precisava falar a última frase, que estava tudo pronto — disse o reitor olhando para o Pacoça, com uma sobrancelha levantada — Quem será o DJ essa noite? Sei que o Edson vai tocar.
— Esse ano será a vez do Paçoca, ele já está trabalhando com isso — digo ansioso para começa a festa e pegar a mulherada.
— Perfeito! Segunda-feira quero vocês cedo na faculdade, para me ajudar com o som. Terei um comunicado importante a fazer.
— Pode contar com a gente — disse Miguel.
— Reitor...? — Um garoto com cara de garota f**a, chamou-o. — Nossa banda vai entrar que horas?
— Vocês são os novatos, não é isso?
— Sim — respondeu a criatura.
— Vocês são os primeiros a tocar. Já estão todos prontos?
— Só falta duas garotas chegarem.
— Com licença, reitor — Jair interrompeu a conversa. — Tem certeza que é uma boa ideia, um grupo de novatos abrirem o evento?
— Você tem algum problema com isso? — peitou o garoto.
Ele tinha coragem para enfrentar o Jair. Meu amigo era parrudo e dava dois dele. Entrei no meio dos dois para mantê-los em uma distância segura.
— Ok, pessoal! Não vamos estragar a nossa noite.
— Ah, falou o Don Juan. Mais uma loira sem cérebro na sua mira esta noite?
Parecia que ele tinha perdido a noção do perigo.
— Se você não percebeu? Estou evitando que você saia daqui sem os dentes, mas como você está tão engraçadinho, acho que eu posso abrir uma exceção.
— Garotos, parem! Não esqueçam da política de tolerância zero, não é porque ainda não começou as aulas que vocês podem fazer o que quiserem. — Foi a vez do reitor ficar no nosso meio, para que eu não quebrasse essa cara de princesa que ele tinha. — Alex, vai procurar o resto da sua banda, para que vocês não fiquem atrasados.
O garoto me encarou com a cara fechada.
— Vai lá, princesa — provoquei.
O garoto saiu andando mostrando o dedo do meio. Ah, que vontade de quebrar aquele dedo!
O reitor Mendonça, verificou se estava tudo nos conformes e combinou o p*******o com o Paçoca. Olhamos a programação que estava na prancheta e vi que cantarei logo após a banda daquele novato. Pelo menos, teremos música de qualidade, já que a banda iniciante tocará rock.
Enquanto, o restante da banda daquele garoto não chegava, Miguel, Jair e eu, resolvemos esperar no lado de fora da faculdade. Talvez ficaremos por aqui, até que a banda daquele moleque terminasse as músicas. Não querendo me gabar, mas eu era o mais esperado a subir no palco.
Do lado de fora da faculdade, encostado no muro, estava o novato e um amigo dele, que estava na discussão, mas não falou nada. Pelo menos, esse outro garoto era mais inteligente que o Alex e não se intrometeu no assunto que não lhe dizia respeito.
Atravessamos a rua, para observar melhor a mulherada e escolher quem passaria a noite, com cada um de nós. Pessoas entravam e saiam da faculdade, mas até o momento nenhuma garota tinha me interessado.
— Eu já escolhi a minha.
Pela primeira vez, o Jair foi mais rápido do que eu.
— Quem? — perguntei incrédulo que o Jair conseguisse alguém para passar essa noite.
Geralmente, ele só conseguia dar alguns amassos na mulherada e só transava mesmo, com os restos que indicava ser fácil para ele.
— Aquela loira, ali.
Apontou para uma garota.
— Hum, ela é linda — falei desinteressado.
— Tira o olho, porque ela já é minha.
— Pode ficar, eu quero algo diferente.
— Vai me dizer que virou bicha? — perguntou Miguel zoando comigo.
— Sai pra lá, eu quis dizer que eu quero um desafio.
— Isso será difícil, tudo quanto é mulher sabe da sua fama e espera só um chamado seu, para deitar na sua cama. As que não te conhecem, vão para sua cama da mesma forma, por causa do seu sorriso cheio de dentes. Acho que essa mulher que você está procurando não existe — zombou Miguel
Pensando no que ele falou, será que existe uma mulher assim, capaz de me desafiar? Bem, até agora, não encontrei nenhuma. Tinha até pensado nisso, logo de manhã e ainda estava com aquela sensação de que tinha esquecido de alguma coisa no evento de exposição de carros antigos.
— E você, Miguel, já tem a sua vítima — perguntei curioso.
— Só estou esperando ela chegar — respondeu ansioso.
— d***a, só eu que não tenho um plano? — Fiquei indignado.
— Talvez você esteja exigindo demais, um desafio? É sério, cara? Não existe esse tipo de mulher. — Talvez o Miguel tenha razão. — Você disse que ia sair com a Amanda e aí? Como foi?
— Caramba! Esqueci completamente da Amanda. Eu a levei para exposição de carros antigos e a deixei lá.
O Miguel e o Jair caíram na gargalhada.
— Só você mesmo para fazer esse tipo de coisa — disse Jair.
— Por que você não liga para ela e fica com ela esta noite? — perguntou Miguel.
Ele sempre me incentiva a ficar com uma garota só.
— Vocês sabem que não sou de repetir mulher.
Apesar de ter pensado em pedi-la em namoro no final da festa, mas queria ver se aparecia alguém mais interessante.
— Mas, você já ficou com ela uma outra vez.
— Foi diferente, ela tinha topado um Ménage.
— Cara, eu queria ter sua sorte de pegar duas de uma vez — falou Jair empolgado.
— Na verdade, foram três!
— Caracas! — os dois falaram ao mesmo tempo.
— Talvez, eu ligue para ela, se não encontrar o meu desafio. — Nesse momento, meu celular tocou. — Falando na diaba. — Eu atendi. — Oi, querida!
— Não me venha com essa de “oi, querida”. Você me abandonou naquela maldita exposição. Sabia que você iria me descartar como todas as outras.
Será que encontrei o meu desafio da noite? Tentar fazê-la sair comigo, depois de tê-la largado na exposição de carros?
— Toparia dormir comigo esta noite de novo?
Eu não era repetir mulher, mas como eu tinha dito... ela era boa de cama.
— Não sei se você merece.
Ela estava fazendo charme, dando uma de difícil, mas darei um ultimato, se ela não quiser cairei fora.
— Bom, é você quem sabe, mulher para mim, é o que não falta.
De fato!
— Tudo bem, você já está na faculdade? — Foi mais fácil do que eu pensei. De repente, ouvi um barulho de motor de fusca conhecido se aproximando. Sim, era ele! Se o meu fusca estava aqui, isso quer dizer... — Edson? Você ainda está aí? Alô?
— Desculpe, mas o baile foi cancelado.
— Mas...
Desliguei o celular antes que ela terminasse a frase, meu foco agora era outro. A ruivinha tentou estacionar o meu fusca, entre dois carros, ela entrou e saiu da vaga até que, finalmente, conseguiu estacionar. Não era à toa que ela bateu no meu carro. Por que ela não usava os retrovisores?
— Carne nova no pedaço — falei me referindo a ela.
— Conheço as duas, a ruivinha é metida e a branquinha é doida — disse Jair.
Olhei para o Jair curioso. De onde ele a conhece? Será que ela bateu no carro dele também?
— Como você sabe? — perguntei curioso.
— Eu as vi no Mc Chico outro dia e fiz o que você costuma fazer. Sentei à mesa delas para conversar com a ruivinha, meu foco era ela. — Não gostei de ouvir isso. — A ruivinha me esnobou e a doida jogou uma coxinha em mim, ainda me obrigou pagar pela comida, dizendo que a fiz desperdiçar.
— E o que você fez? — perguntou Miguel.
— Paguei a coxinha, ora.
— Por que você fez isso?
— A doidinha ameaçou colocar em um lugar onde eu não pudesse pegar. E a ruiva ficou dando risada. — O Miguel e eu caímos na gargalhada. — Acho que a ruivinha é mina do Alex.
— A partir de hoje, não será mais. Ela será minha! — falei convicto.
Os dois me olharam surpresos.
— Se eu não conseguir pegar a ruivinha, você conseguirá?
Não acredito que eu acabei de ouvi. Até parecia que ele não sabia com quem estava falando.
— Você está falando sério? É você quem pega as minhas sobras e não ao contrário.
— Sua preferência não eram as loiras?
— Mas pelo nosso amigo Alex, posso abrir uma exceção. — Vi-os entrando na universidade, Alex abraçado com a ruivinha. — Meninos, vamos à caça!