O dia estava sombrio e cinzento, como se o próprio céu chorasse pela tragédia que se abateu sobre a vida de Ellis Smith. Vestida de preto, ela caminhava com passos pesados pela sala, cumprimentando os convidados que haviam vindo prestar suas condolências. Ao seu lado, segurando sua mão com firmeza, estava sua filha, Donna, cujos olhos tristes refletiam a dor que ambas compartilhavam.
Ellis dirigiu seu olhar para a enorme foto de John Smith, que fora estrategicamente posicionada na entrada da casa. "Marido leal, pai maravilhoso. Deixará saudades." Lia-se a inscrição sob a imagem. No entanto, aquelas palavras eram mentiras, começando pelo próprio John Smith, que na verdade era Jácomo Grecco, o irmão do homem a quem Ellis havia matado há seis anos, como vingança pela morte de seu próprio irmão, Jason.
Jácomo mentiu para Ellis desde o início, usando a identidade de John Smith enquanto esperava o momento certo para se vingar. Ele havia sequestrado tanto Ellis quanto Donna, ameaçando tirar suas vidas. As ameaças eram reais, mas o que aconteceu naquela noite no armazém permanecia um mistério que somente Deus conhecia.
Tudo isso havia começado por causa do desejo de Jácomo de vingança contra Vittorio Amorielle, o verdadeiro pai de Donna e o grande amor da vida de Ellis. As linhas que separavam a lealdade e a traição, o amor e o ódio, estavam borradas e confusas naquele momento sombrio.
Ellis continuou a receber os condolentes, mantendo uma expressão serena apesar da tempestade de emoções que rugia dentro dela. Os rostos familiares e desconhecidos se fundiam em uma massa indistinta, e ela m*l conseguia ouvir as palavras de consolo que lhe eram dirigidas.
Olhou novamente para a foto de John Smith, com um sorriso irônico brincando em seus lábios. Aquela imagem era uma farsa, uma representação de uma vida que nunca existiu. Por trás da fachada de um marido dedicado e pai amoroso, estava o verdadeiro Jácomo Grecco, um homem sedento por vingança.
O olhar de Ellis se perdeu no vazio enquanto sua mente revisitava os eventos daquela fatídica noite no armazém. Chamas, gritos, caos. As lembranças eram fragmentadas, distorcidas pelo trauma. Ela sabia que Jácomo estava lá, assim como Vittorio, o homem a quem ela amava e que também era o pai de sua filha. Mas o que exatamente aconteceu, e quem era o corpo carbonizado encontrado entre as cinzas?
A família Amorielle havia levado o corpo para identificação, mas a incerteza pairava sobre todos. Seria Jácomo ou Vittorio? Essa dúvida a assombrava, porque significava que ela não podia ter certeza de que seu grande amor havia realmente partido.
Enquanto os convidados continuavam a chegar e oferecer palavras de conforto, Ellis sentiu uma mão suave apertando a sua. Era Donna, sua filha, que lhe ofereceu um olhar solidário. Ellis olhou para Donna, preocupada com como a menina estava lidando com toda aquela situação.
"Você está bem, querida?", Ellis perguntou suavemente, seus olhos fixos na pequena figura de cabelos negros ao seu lado. Donna sorriu para sua mãe, um sorriso frágil, mas sincero.
"Estou um pouco cansada, mamãe", disse Donna, sua voz suave carregada de tristeza. "Mas estou bem."
Ellis acariciou gentilmente os cabelos de Donna, sentindo-se grata por ter sua filha ao seu lado, apesar de todas as reviravoltas que suas vidas haviam enfrentado. "Daqui a pouco você poderá descansar, está bem?"
Donna assentiu e apertou a mão de sua mãe, encontrando conforto na presença dela. Ellis sorriu ternamente para a filha e então se virou quando a porta da sala se abriu novamente.
Rang Bone, o senhor das armas e um leal amigo de Vittorio Amorielle, entrou pela porta. Seu olhar era sério, e ele imediatamente se aproximou de Ellis, sussurrando em voz baixa. "Ellis, está tudo bem?"
Ellis olhou nos olhos de Rang, sentindo a tensão no ar. "Diga-me que tudo deu certo," ela respondeu em um tom igualmente discreto.
Rang assentiu com a cabeça, aliviado. "Sim, tudo correu conforme o planejado."
Ellis sentiu um peso sair de seus ombros ao ouvir as palavras de Rang. Ela sabia que havia muito em jogo, e qualquer deslize poderia expor a verdade que ela lutava para manter escondida. Ela assentiu em agradecimento a Rang e então foi nesse momento que a porta se abriu novamente, revelando Peter e Ava, os pais de John Smith, ou pelo menos era assim que todos acreditavam que eles fossem.
Ava dirigiu-se a Ellis com olhos cheios de pesar e se aproximou, abraçando-a com sinceridade. "Sinto muito pela morte de John, Ellis. Ele era nosso filho, e você sempre foi parte de nossa família."
Ellis aceitou o abraço com gratidão, escondendo as verdadeiras emoções que se agitavam dentro dela. Era estranho ver Ava e Peter, a quem havia conhecido como seus sogros por tanto tempo, sabendo que suas vidas eram baseadas em uma teia de mentiras.
Peter se aproximou de Donna e a abraçou gentilmente, murmurando palavras reconfortantes para a menina. Ellis observou a cena, sentindo uma mistura de emoções. Por um lado, estava grata pelo apoio que os dois haviam dado à sua família durante todos aqueles anos, mas, por outro lado, sabia que era hora de enfrentar a verdade.
Ela se afastou do abraço de Ava e Peter, mantendo a compostura. "Ava, Peter, poderiam me acompanhar até o quarto? Há algumas coisas de John que gostaria de entregar a vocês."
Ava assentiu, ainda mantendo um olhar triste em seus olhos, enquanto Peter acenou com a cabeça, agradecendo a Ellis. Juntos, eles seguiram Ellis até o quarto, onde uma série de segredos e revelações esperavam ser desvendados.
Enquanto subiam as escadas, Ellis sentiu o peso de todas as mentiras que haviam mantido por tanto tempo. Ela sabia que a revelação da verdade era inevitável, e agora, mais do que nunca, ela estava determinada a desvendar todos os segredos que envolviam aquela complicada teia de relações e traições.
***
Ellis Smith estava em seu quarto, onde a atmosfera do funeral de John Smith, ou Jácomo Grecco, parecia ainda mais distante. Ela sabia que precisava agir rapidamente antes que sua fachada fosse desmascarada de uma vez por todas. Com um gesto discreto, ela se dirigiu até a gaveta de sua cômoda, onde estava guardada uma revelação que poderia mudar o rumo de tudo.
No momento em que Ava e Peter entraram no quarto, a tensão no ar era quase palpável. Ava tomou a iniciativa e falou, sua voz trêmula de tristeza. "Ellis, você não precisa nos dar nada. Estamos aqui para..."
Ellis sorriu, interrompendo-a gentilmente. "Você tem razão, Ava. Na verdade, eu não quero dar nada a vocês. Nada que vocês não mereçam."
Os olhos de Ava se arregalaram em surpresa enquanto Peter a olhava com curiosidade. Antes que eles pudessem entender o que estava acontecendo, Ellis se virou com uma arma nas mãos. O choque tomou conta de Ava e Peter, e eles levantaram as mãos em rendição.
Então, de repente, Ellis se virou, e nas mãos dela reluzia uma arma. Peter, surpreso, perguntou alarmado: "Ellis, o que você está fazendo?"
Ellis não perdeu tempo. Ela estava decidida a obter respostas, não importava o custo. "Ava, feche a porta ", ordenou ela, com a arma apontada em direção à sogra.
Ava, agora em pânico, balbuciou: "Ellis, você está louca?"
Ellis apontou a arma para Ava com determinação. "Eu sou louca, Ava. E sou louca o suficiente para atirar assim como estou."
Ela ajustou o silenciador na arma e apontou novamente, desta vez com mais firmeza, ela repetiu a ordem com uma voz firme, "Feche a porta, Ava."
Peter, ainda incrédulo, tentou apelar para a razão. "Ellis, você não vai atirar. Isso só vai piorar as coisas."
Ellis sorriu de maneira gélida. "Vai piorar apenas para vocês se não cooperarem. Agora, fechem a porta."
Ava, percebendo que Ellis estava disposta a ir até o fim, fechou a porta do quarto. Peter estava visivelmente nervoso, suando frio, enquanto ambos se sentavam na cama, sob a mira da arma.
Ellis, com a arma ainda apontada, quebrou o silêncio tenso. "Agora, vamos começar do começo. Quem são vocês? E por que fingiram ser os pais de John Smith por todos esses anos?"
Ava respirou fundo, tentando manter a calma. “Você sabe quem nós somos, querida."
Ellis deu um tiro no pé de Ava, fazendo-a gritar de dor. Em seguida, ela mirou a arma em direção a Peter, cujo rosto estava contorcido de agonia. "É bom vocês começarem a se comunicar direito comigo."
Peter, ofegante de dor, finalmente falou. "Nossos nomes são Dmitry Nikolaevich e Maria Petrova."
Ellis encarou Ava, repetindo o nome "Maria Petrova" e então perguntou, com os olhos fixos nela: "Qual é a sua relação com Laura e Olga?"
Ava encarou Ellis com uma expressão séria e respondeu com determinação: "Sou tia delas. E se você pensa que sairá viva daqui..."
Antes que ela pudesse terminar a ameaça, Ellis atirou novamente, desta vez em Ava, e depois em Peter. Os dois caíram na cama, mortos.
Ellis respirou fundo, seu coração batendo forte, e então saiu do quarto, deixando para trás Ava e Peter mortos em sua cama. A verdade estava emergindo, e a jornada de vingança de Ellis ainda estava longe de terminar.
***
Ellis Smith desceu as escadas da sua casa, a atmosfera pesada do funeral ainda pairando no ar. Seus passos eram decididos, e ela logo viu Rang Bone se aproximando dela com uma expressão séria.
"Onde estão Ava e Peter?", perguntou Rang, com uma voz preocupada.
Ellis encarou Rang com determinação e respondeu: "Dmitry Nikolaevich e Maria Petrova estão deitados em minha cama, em um sono eterno."
Os olhos de Rang se arregalaram de surpresa. "Você conseguiu alguma informação deles?"
Ellis balançou a cabeça, frustrada. "Apenas seus nomes, Rang. Não tive tempo para mais nada."
Rang franziu a testa, preocupado. "Como assim não teve tempo?"
Ellis suspirou e explicou: "Eu os eliminei antes de fazer mais perguntas. Mas pelo menos descobri que Maria Petrova é tia de Laura e Olga."
Rang soltou um suspiro pesado. "Ellis, você precisa aprender a se controlar mais. Não pode sair atirando nas pessoas assim."
Ellis deu de ombros, aparentemente indiferente às palavras de Rang. "Tanto faz. Eles não iam render muita coisa mesmo."
Ela continuou descendo as escadas e finalmente chegou à sala, onde os convidados estavam reunidos em silêncio. Ellis dirigiu-se a eles, sua voz firme e determinada.
"Quero agradecer a todos pela presença aqui hoje", começou ela, seus olhos passando pelos rostos de todos os presentes. "Em breve, enviarei os valores prometidos para cada um de vocês. Um ótimo trabalho pessoal."
Os convidados assentiram, alguns com expressões sérias e outros fingindo tristeza, como bons atores naquela elaborada encenação criada por Ellis para atrair Dmitry Nikolaevich e Maria Petrova, os falsos pais de John Smith, para sua armadilha. Ela estava determinada a descobrir a verdade sobre Jácomo Grecco, não importasse o custo.
Enquanto os atores se retiravam, Ellis estava pronta para o próximo passo de seu plano. Ela sabia que a jornada ainda estava longe de terminar, e que mais revelações e desafios a aguardavam no futuro. Mas, no momento, ela estava disposta a fazer o que fosse necessário para chegar mais perto da verdade que tanto buscava.