Capítulo 2

1611 Words
Ravena Nunca fui uma menina de reclamar da vida, muito pelo contrário, sempre agradeci pelas coisas boas que me aconteceram. Perdi meus pais muito nova, mas Deus enviou um anjo em minha vida, ele me salvou e tem cuidado de mim com todo carinho até hoje. Tenho Thom como meu pai, embora nunca tenha falado isso para ele, mas sinto no meu coração um carinho enorme por tudo que ele fez por mim. Thom me deu casa, comida, amor, carinho, estudos e ainda me deixou estudar dança, que é uma coisa que eu gosto muito. Thom também sempre deixou claro que um dia eu teria que me casar, mas isso nunca me assustou, acho que é porque eu nunca pensei que esse dia chegaria. Há alguns meses fui informada que terei que me casar com um homem chamado Arian, não questionei, apenas aceitei e fui para o meu quarto, quando percebi que estava sozinha, chorei muito. A verdade é que eu não quero me casar com um homem que eu não conheço. Os dias foram se passando e eu finalmente conheci esse Arian. Confesso que fiquei um pouco assustada. Ele tem uma presença muito forte. É um homem muito bonito, mas muito assustador também. Nossa diferença de altura chega ser engraçado. Ele também é bem forte, tem braços enormes. Só que o que mais me assusta nele é a forma como olha para as pessoas, sei lá, é estranho, não consigo ver nada em seus olhos, é como se aquele homem não tivesse alma. Tivemos alguns pouquíssimos encontros e todos foram um fiasco, ele quase não fala nada. Antonella já ganhou bebê e logo irei me casar, já estou sofrendo por ter que abandonar tudo. Deixar Thom para trás, Luiza e o bebezinho deles que logo nascerá, a academia e minhas novas amigas, Antonella e Martina. Vai me doer muito deixar a dança para trás e sei que terei que abandonar porque em um dos nossos pouquíssimos encontros, Arian já deixou claro, mesmo que em poucas palavras, que não terei mais isso. Eu amo dançar ballet, eu amo a dança em geral. Aprendi muito com Antonella sobre outros ritmos além de músicas clássicas e me apaixonei por tudo. Os brasileiros têm uns passos muito sensual, gostei de tudo. Enfim, deixarei tudo para trás… Fecho a academia um pouco mais cedo hoje, mas não avisei para Thom, quero tomar um ar fresco, um pouco de liberdade enquanto ainda me resta. Nunca fui uma menina muito livre, Thom sempre teve medo, pude estudar, ele me levava para sair e tudo mais, mas não podia estar sozinha, nunca. Também nunca desobedeci uma ordem dele, mas hoje eu preciso sentir um pouquinho o gostinho da liberdade, só hoje… Vou caminhando pela calçada, olhando a cidade movimentada. Dou um passeio no parque e decido ir comer em uma doceria muito famosa por aqui. Thom costuma comprar doce para sobremesa sempre aqui aos domingos. Sentirei falta de todas essas coisas. Meu telefone começa a tocar e é Thom: — Oi. — atendo para não deixá-lo preocupado. — Vou me atrasar um pouco para te buscar, tem problema? Respiro aliviada, pois assim terei tempo de comer e voltar para a academia. — Não, tudo bem. — Tchau Ravena. — Tchau Thom. Peço um pedaço de bolo e um suco para acompanhar. Me assusto quando vejo alguém puxar a cadeira e se sentar à minha frente. É ele… — Perdida? — Arian pergunta, sério como sempre. Minha garganta fica seca, um arrepio percorre minha espinha e meu corpo treme diante desse homem. — Só vim comer um doce. — Mentirosa. Meu coração bate depressa. — Não estou mentindo. — Thom sabe? Detesto isso nele, nossa, eu detesto demais! Ele não sabe falar tudo em uma frase, fica poupando palavras. Ele não sabe que é gratuito? Pode usar a vontade! — Sabe sobre o que? — Do seu passeio. — Tá me vigiando?! — pergunto indignada. Ele simplesmente arqueia uma sobrancelha como resposta… É claro que está! — Só fui andar um pouco, não fiz nada demais. — me explico. — Foi bom? Monossilábico. — O que foi bom? Arian aperta os olhos. Ele já percebeu que eu detesto esse jeito de poucas palavras dele e sabe que mesmo sabendo o que ele quer dizer, fico perguntando, apenas para irritá-lo e fazê-lo falar mais. Estranhamente eu gosto da voz dele, talvez porque ele fala pouco, não sei. — O passeio. — Foi. A moça aparece trazendo o bolo e o suco que eu pedi, agradeço e ela sorri para mim, mas posso perceber que seu interesse maior está em Arian, por quem ela está babando e não faz nem questão de disfarçar. Ele, por outro lado, nem olha na cara dela. — Quer? — ofereço um pedaço do meu bolo e ele balança a cabeça em sinal negativo. — Pede alguma coisa para você me acompanhar já que está sentado aí. — Não. É tudo que ele responde e voltamos ao silêncio absoluto. É difícil comer com ele me olhando. — Vou indo, Thom daqui a pouco passa para me buscar. — aviso após terminar de comer e tomar o suco. — Vou levá-la. — Você contou para Thom que eu estou aqui? Fico preocupada que ele fique chateado comigo. — Não. — Hum… É, não precisa me levar. Por favor, não me leve, por favor… — Vamos. Arian se levanta, deixa uma nota sobre a mesa e eu fecho os olhos, respirando fundo. Terei que passar mais alguns minutos na presença dele, isso é h******l! Ele sai andando na frente e eu vou quase correndo tentando acompanhar os passos dele. Ele tem as pernas enormes. — Olá Ravena. — o segurança de Arian abre a porta para mim e me cumprimenta sorridente. — Olá Agon. — devolvo o cumprimento. Descobri o nome dele na outra vez que o conheci. Eu e Arian sentamos atrás do carro e Agon vai para o banco do motorista, entre os bancos de trás e o da frente tem uma espécie de porta, Agon a fecha para nos dar privacidade e eu tenho vontade de rir, porque Arian nem fala nada, ou seja, não tem nada que Agon não possa ouvir. — Comecei a ajeitar as coisas do casamento, tem alguma preferência? Assusto-me com uma frase tão longa. — Não. O vestido ficará à minha escolha? — Sim. — Então tudo bem. Ele balança a cabeça concordando e começa a mexer no celular. — Arian? — tento puxar conversa, ele me encara. — Você tem família? Conheço tão pouco do homem com quem vou me casar. Arian arqueia as sobrancelhas diante da minha pergunta e fica em silêncio. Decido explicar: — Só estou querendo te conhecer um pouco. — Por que? Por que? Como assim porque? Será que é porque vamos nos casar?! — Vamos nos casar — respondo o óbvio. — E? Ai Jesus, ainda bem que o senhor me deu bastante paciência. — Arian, geralmente as pessoas se conhecem antes de casar. — Não. Não?! — Não? — Não tenho família. Responde e volta a mexer no celular. Olho pela janela, respiro fundo e tento novamente. — Já percebi que não gosta de conversar, sempre foi assim? Dessa vez Arian não olha para mim, mas vejo um aceno de cabeça. — Você quer falar um pouco sobre você? É que você já me conhece… Ele me interrompe. — Não! — responde firme. Decido não falar mais nada e fico olhando pela janela, em poucos minutos o carro para na frente da minha casa. — Tchau Arian, obrigada pela carona. — Tchau. Abro a porta do carro e entro na minha casa. Fecho a porta e vou olhar pela janela, o carro fica parado mais alguns segundos e logo vai embora. Não vejo nem Thom e nem Luiza, subo para o meu quarto desanimada. O cara é praticamente mudo, um grosso, eu mesma nunca o vi abrir um sorriso e pelo o que converso com as meninas, nem elas. Como poderia ser feliz nesse casamento? — Você não está se casando para ser feliz, Ravena. Uma voz deprimente grita em minha cabeça. Jogo minhas coisas em cima da cama, tiro minha roupa e vou tomar um banho quente para relaxar. Pelo menos o vestido ele não se importou que eu escolhesse, vou pedir Luiza para me ajudar com isso. — Ravena? — escuto a voz de Luiza do outro lado da porta. — Pode entrar. — aviso. Já estou de banho tomado, deitada na cama, lendo um livro. — Com fome? — pergunta assim que entra. — Ainda não. — fecho o livro e coloco ao meu lado na cama. — Thom pediu que eu viesse ver como você está. Luiza se senta na beirada da cama. — Se está falando sobre a visita do meu noivo, estou bem. — Progrediram? — Na conversa? — ela balança a cabeça confirmando. — Nadinha, ele é muito chato. Luiza ri e eu também. — Logo você que gosta tanto de conversar, que ironia do destino. — Acho que ele não sabe que é totalmente gratuito as palavras, ai fica com medo de ficar gastando. — Aí Ravena, vou sentir sua falta. — Luiza sorri carinhosamente. — Também sentirei falta de todos vocês, mas vou pedir para Arian me trazer quando o baby nascer. Aliás, ele disse que eu posso escolher o vestido. — Jura? Isso é muito legal. Fico impressionada como temos que nos contentar com tão pouco, mas amém. — Conto com você para isso, né? — Com toda certeza! Luiza responde animada. Bom, pelo menos alguém está animada com alguma coisa desse casamento.
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