Capítulo 5

2094 Words
Isabella — Bonequinha? - o apelido carinhoso e sua voz suave indicava que ele não estava tão chateado quanto eu pensei. Me permitir respirar um pouco aliviada com aquilo. Charlie era meu pai e melhor amigo, eu não queria discutir com ele, não por causa de Samuel Mason. Embora eu soubesse que não deveria, eu esperava que ele me apoiasse, como sempre fez. Lhe ofereci um pequeno sorriso em resposta e bati em meu lado na cama, lhe convidando a entrar em meu quarto. Eu podia ver que seu rosto estava vermelho por debaixo de sua barba. Charlie estava tão confortável quanto eu para iniciar a “Conversa”. — Se não quiser falar, tudo bem. - comecei, e escorreguei meu corpo pela cama, deitando minha cabeça em suas coxas, assim que ele se sentou ao meu lado na cama. Logo suas mãos macias foram para meus cabelos, como ele fazia ao me colocar para dormir antigamente. Sorri apreciando aquele carinho e me lembrando dos velhos tempos. Dos tempos em que eu o tinha como meu super pai e achava que ele tinha o poder de espantar todos os bichos papões do meu quarto em somente olhar embaixo da cama. Hoje em dia eu não era mais criança e sabia que os bichos papões que ele fingia espantar, nunca existiram de verdade, porém ele nunca deixou de ser o meu super pai. Charlie sempre me protegeu e no fundo eu sabia que ele estava ali para continuar o seu trabalho de super pai e continuar me protegendo. Só que agora ele queria me proteger do Sr. Mason e nesse caso, eu estava disposta a enfrenta-lo eu mesma. — Sei que você percebeu. - senti o meu rosto esquentar e deixei que voz saísse baixinho. Eu também estava envergonhada de falar sobre isso com ele, mas estava disposta a enfrentar. — Ele é bem mais velho do que você. - rolei os olhos para aquela tentativa falha dele. Qual é? Eu já tinha quase vinte! — E você é a minha garotinha. - não consegui segurar o riso ao escutar sua voz cheia de pesar. Em todos esses quase vinte anos, Charlie nunca teve que se preocupar em ter “a conversa” comigo. Nenhum pretendente, nenhum ficante, nenhuma conversa sobre se.xo. Ele sondava sempre, é claro, mas eu mantinha minha vida pessoal... bem pessoal. Uma garota precisa manter alguns segredos, afinal. Eu nunca fui santa, mas também não era nenhuma menina atirada. E eu tinha certeza de que Charlie não aprovaria saber que sua menininha já tinha matado aula para ficar com Bryan Lycon no primeiro ano. Ou que a sua garotinha deixou Dylan Jhonson passar as mãos em seu se.io atrás da arquibancada da escola, no baile de formatura. Como eu disse, eu não era nenhuma santa. Embora eu soubesse em meu coração e corpo a quem eu gostaria de me entregar pela primeira vez, eu não me privava de alguns amassos. No final, eu ainda era uma adolescente com os hormônios a flor da pele. — Você parece uma criança fazendo birra, Charlie. - brinquei, beliscando sua coxa coberta pela calça que ele usava. Vi quando meu pai semicerrou os olhos e lhe lancei um sorriso divertido. — Okay, okay... Pai. - ri quando ele rolou seus olhos em minha direção, mania essa que ele adquiriu comigo e adorava me dizer que era muito feio o fazer. — Eu gostei do Samuel. Muito. - no final acabei confessando baixinho, enquanto encarava seus olhos verdes, tão iguais aos meus. — Percebi. - preferi ignorar o fato de que aquilo saiu como um resmungo. — Ele falou algo? - a esperança era visível no tom da minha voz. Era meio patético, eu sei, mas eu não conseguia evitar. Charlie somente deu de ombros, desviando o olhar e se concentrando em algo na ponta da minha cama. — Paaai... - belisquei sua barriga, chamando sua atenção e sorri quando ele bufou contrariado e voltou a me olhar. A cumplicidade que tínhamos estava a meu favor naquele momento. Eu já estava mais a vontade para conversar com ele, o único desagrado que pairava no ar, era de sua parte. Charlie ainda se mostrava relutante em se abrir comigo, eu só não sabia se era por conta do assunto ser Samuel ou se era porque finalmente ele percebeu que sua “bonequinha” tinha crescido e estava interessada em um homem e não um desses moleques a quem se pode assustar. — Eu realmente não sei. Não conversamos sobre você. - meus olhos vasculharam seu rosto atentamente em busca de qualquer coisa que indicasse que ele estaria mentindo. E se o seu rosto vermelho não o denunciasse, seus olhos fugindo dos meus o entregaria. Ele estava mentindo na minha cara! Semicerrei os olhos em sua direção e aguardei impassível, até que o ouvi bufar contrariado. Um sorriso vitorioso nasceu em meus lábios ao ver que ele tinha dado o braço a torcer. A coisa de encara-lo atentamente sempre funcionava. — Eu posso ter dito algo sobre ele se manter longe de você... — Pai! Não acredito nisso... - levantei o corpo da cama, me sentando e o olhando. Eu podia sentir minha testa se franzir, enquanto eu o encarava sem realmente vê-lo. Minha mente estava trabalhando rápido naquele momento, nas possibilidades de Charlie ter estragado o plano que eu nem tinha tido a chance de colocar em ação ainda. — Você é a minha única filha! Lógico que eu vou querer manter os marmanjos longe. Ainda mais o Samuel... Querida, ele não é bom para você... - uma de minhas sobrancelha se arqueou em sua direção e eu soube que estava fazendo uma expressão debochada para ele, no exato momento em que o vi revirar os olhos novamente e ficar com a cara vermelha. Ele sabia o que eu estava pensando naquele momento. Não era ele que só tinha elogios ao seu sócio e amigo? — Você não entende... Ele é um ótimo sócio na empesa, como amigo, é melhor ainda. É trabalhador e honesto. Mas não é a melhor opção como genro! Eu me recuso a dizer que ele somente usa as mulheres, pois cada uma delas sabe onde está se metendo... Mas você me entendeu. Ele não quer compromisso e eu não quero que você saia magoada disso tudo depois. — As vezes ele só não conheceu a pessoa certa. - okay, aquilo soava bem e******o e sonhador da minha parte. Por que, de repente, Samuel Mason iria mudar? O que eu tinha de diferente das outras? Ao mesmo tempo em que eu achava a ideia idio.ta, eu não conseguia deixar de ter esperança. O “E se...” martelava incessantemente em minha cabeça e eu tinha certeza de que me arrependeria amargamente se deixasse a chance passar. — Querida... - eu me sentia ainda mais estupida ao escutar o tom de voz de Charlie. Aquilo era ridículo! Eu sabia quem era Samuel Mason, antes mesmo de finalmente ficar cara a cara com ele. Eu não deveria me importar quando Charlie finalmente abriu o jogo e esclareceu que ele não era homem de se apaixonar. Mas porque eu me importava tanto? A sensação de ter algo que eu desejava muito e que, de repente, me foi tirado das mãos, não passava de jeito nenhum. — Não chora, princesa. - eu nem tinha percebido que estava chorando, até sentir que meu pai passava os dedos embaixo dos meus olhos, secando-os. — Eu não estou chorando, Charlie. - resmunguei me afastando e limpando eu mesma os olhos marejados. Ouvi quando ele deu uma risada baixa e respirei fundo, voltando a colocar minha cabeça em seu colo. — Acha que eu tenho alguma chance? - ouvir o som do seu gemido agoniado ecoando por todo o meu quarto, poderia até ser engraçado se eu não estivesse tão aflita por sua resposta. — Querida... Você é linda... — Você só fala isso, porque é o meu pai. E é sua obrigação. - resmunguei mais uma vez, não me contendo e ouvi sua risada baixa em resposta. — Se você fosse uma garota feia, acredite, eu falaria. Acho que iria até ser melhor, sabe... Menos marmanjos para assustar. - rolei os olhos com aquilo, pois eu nunca tinha trazido um namoradinho sequer para casa. Charlie não tinha que se preocupar com isso, até agora. — Como eu vou espantar o Samuel? Ele é bem mais alto que eu. E o filho da pu.ta ainda sabe brigar! Todo metido a bes.ta com essas mer.das treino de boxe... — Qualquer um é mais alto que você. - debochei, chamando sua atenção e recebendo um peteleco na testa por conta da minha gracinha. Charlie não era lá muito alto e ele passou muito tempo incomodado com esse fato, porém hoje em dia a gente dava risada juntos sobre o assunto. Afinal, eu era tão alta quanto ele e podia fazer esse tipo de piada sem que ele levasse para o coração. — Ele luta, é? - não consegui deixar aquele fato passar e a careta que meu pai fez foi impagável. Ele esperou que eu caísse na gargalhada, para enfim, respirar aliviado e eu esperei que seu rosto voltasse ao tom normal para continuarmos a conversa. — Agora é sério, pai. Você realmente acha que eu tenho alguma chance? Encarei seu rosto atentamente, para que ele não pudesse fugir da pergunta. Ele fez uma careta, rolou os olhos – novamente – mas por fim, se rendeu e assentiu com a cabeça. — Você é uma mulher linda, incrível e maravilhosa. E eu vi o clima que rolou entre vocês na boate. - não consegui segurar o enorme sorriso que estampou meu rosto, mesmo a sua voz saindo com pesar. Charlie suspirou profundamente, antes de desfazer a careta e me encarar com uma expressão séria em seu rosto. — Eu amo você, Isabella. E eu confio em você. Sempre foi assim. Somos amigos, conversamos sobre... essas coisas. - seus olhos se desviaram rapidamente dos meus nessa ultima parte, mas depois ele voltou a me encarar. — E eu nunca te proibi de nada e também não pretendo começar a proibir agora. Você é a minha filha, a minha princesa... Não quero que saia machucada nessa história. Mas se você quer tentar... - ele fechou os olhos respirando fundo e balançando a cabeça. Não consegui evitar que um sorriso se formasse em meus lábios, ao mesmo tempo em que eu agradecia a Deus por ter me dado um pai maravilhoso e amigo. — Não deixe de conversar comigo sobre o que estiver sentindo. Eu sempre vou ser o seu amigo e não vou te julgar. — Obrigada. - me sentei e o puxei para um abraço. Agora eu estava consciente das lágrimas em meus olhos, mas diferente de antes, agora era de felicidade. Charlie era simplesmente incrível. — Você sempre vai ser o meu super pai. - falei assim que nos afastamos e vi seu bigode se levantar quando ele deu um sorriso. — Quero que você seja feliz. - mais uma vez ele secou embaixo dos meus olhos e logo depois se levantou. — Infelizmente você está crescendo. Só... só me poupe dos detalhes sórdidos. - percebi o quão difícil foi para ele colocar aquela ultima parte para fora. Assenti, corando furiosamente, pois eu sabia ao que ele estava se referindo. — Eu te amo, pai. - me despedi, dando um fim naquele silencio constrangedor e sorrindo para ele. Charlie era a pessoa mais importante na minha vida e era crucial para mim que ele ficasse bem com tudo isso. Eu queria Samuel Mason para mim, mas eu não iria continuar com isso se Charlie não fosse a favor. Eu nunca poderia decepciona-lo. — Eu te amo, querida. - eu ainda estava sorrindo quando ele se despediu e apagou a luz, saindo do quarto e fechando a porta atrás de si. Meu coração batia descontrolado dentro do peito, embora eu estivesse leve naquele momento. Eu não conseguiria seguir em frente se estivesse com a consciência pesada sobre Charlie não saber sobre o que eu estava pretendendo. Mas agora nada me impedia de tentar conquistar Samuel Mason. Bom... Exceto a minha inexperiência e percebi que de repente eu não estava mais tão confiante assim. Decidi empurrar esses pensamentos para o fundo da minha mente. Por hora, eu me contentaria em dormir profundamente e esperar que eu sonhasse com Samuel, pois em meus sonhos eu era confiante o suficiente para tê-lo para mim por completo.
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